quarta-feira, 17 de abril de 2019

Nasci

Sempre desejei nascer.

Antes de ser, já queria ser.

Apesar dos anticoncepcionais da auto-censura, nasci.

Sou um pensamento-neném, precocemente envelhecido.

Sinto-me umedecido pelo líquido amniótico que me envolvia
no ventre cefálico que me gerou.

Nasci mutilado, revoltado. Rebelde, contraditório.

Rebelde, cortei a linha que me amarrava ao útero materno,
na escuridão indecisa e morna de uma eterna e segura dependência, e rumei para a insegurança, para o mistério, para a dúvida.

Nasci. Mas tive vergonha de ser um pensamento nu.

Procurei vestir-me com a roupagem fosforescente da palavra.

Passei do mundo incolor da abstração ao mundo acariciante do som e da cor. Por fatalidade fui um mal nascido.

Nasci plebeu, sem genealogia histórica e sem linha.

Nasci rebelde.

Detesto linhas que prendem.

Odeio qualquer palavra que destile opressão e limite.

Há linhas que prendem, oprimem e escravizam.

Odeio a linha que prende o peixe livre das grandes águas.

A linha que amarra a pipa livre no vasto céu.

A linha fria de aço que segura o trem
e o submete a um destino marcado e sem opções.
A linha que amarra o navio ao cais
e lhe nega o perigo da viagem.

A linha gráfica que encurrala o espaço indefinido na dimensão
da figura. A linha mentirosamente azul
que fecha o horizonte, num círculo. A linha luminosamente reta
que prende a estrela a meus olhos e a torna meu objeto.

Odeio linhas moralísticas que cindem dogmaticamente o certo
e o errado.

As linhas friamente lógicas
que dividem a verdade e o erro. As linhas freneticamente
subjetivas que separam o belo e o feio.

Tenho nojo das linhas que escravizam o homem livre
aos padrões ideológicos ou sociais.

Detesto linhas. Odeio limites.

Adoro o infinito, o intangível, o inacessível, o inefável.

Nasci rebelde e iconoclasta. Meu prazer é quebrar ídolos.

Gosto de estuprar virgens tradicionais. Violentar certezas absolutas. Amo as defenestrações. Adoro engravidar formas novas.

O novo me fascina.

Por fatalidade nasci precocemente envelhecido.

Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.

Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas e envelhecidas.

Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.

Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.

Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a aurora
e pare apenas uma candeia bruxuleante.

A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.

"Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.

Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.

A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.

Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.

Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.

Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.
Quero-me livre mas sinto-me algemado.

Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.

Sou eu, e não sou eu.

Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.

Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.

Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.

Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.


( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)


Cidade de Uberaba

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Luiz Gonzaga Oliveira, sinônimo de conhecimento e amor por Uberaba

Oi turma! 

Sabe quero agora render as minhas homenagens a um senhor, no alto dos seus 80 anos, de sabedoria e história de amor a Uberaba... Estou falando do jornalista Luiz Gonzaga Oliveira. Há pouco li um texto seu, que na minha opinião, é um dos que mais conhecem a história dessa cidade, declarando todo seu amor pela nossa terrinha.

Luiz Gonzaga de Oliveira

Belo texto, por sinal... Como sempre... E Gonzaga, como outros da terrinha que não se venderam para elite da cidade, nunca virou “nome de praça e nem ficou recebendo homenagens em praças públicas”, como adoram fazer os incompetentes políticos de Uberaba com quem tem “indicação zebuína”.
Gonzaga, pelo seu conhecimento que tem da história dessa cidade, tinha que ser, no mínimo, conselheiro de quem fosse o prefeito da cidade. E aqui, pelo contrário, pelo atual foi até perseguido e “tirado do ar”...

Mas Uberaba é assim mesmo, reconhece quem não merece, desdenha de quem merece. E toda vez que falo de Gonzaga, lembro-me de um de seus melhores amigos, com quem tive a honra de trabalhar, o saudoso Valdemar Hial.

E não esqueço o que este mesmo doutor, junto com advogado Walter Bruce, teve que fazer. em passado recente. para que Gonzaga ser “reconhecido” pelo ex-prefeito Anderson Adauto...
Meus aplausos sempre Gonzaga, você sim me dá orgulho de dizer que sou uberabense!


Jornalista Racib Idaló


Cidade de Uberaba

MEUS CABELOS COR DE PRATA

Abro a “ caixa dos Correios” e deparo com uma mensagem a mim dirigida. Aliás, depois que a nuvem passa, não trocaria meus amigos de fé, irmãos camaradas, minha vida maravilhosa, minha amada família, minha terrinha sagrada , por nada, nada desse mundo, imundo ... Muito menos por uma vasta cabeleira loira, uma barriga de “ tanquinho”, saliente e lisa...Enquanto envelheço, torno-me mais amável comigo mesmo, menos crítico de mim mesmo...

Acabei tornando-me meu melhor amigo. Não avexo-me de comer biscoito de polvilho na padaria do Xisto Arduini, de bebericar minha saborosa cachacinha no bar do Filó, a cervejinha gelada do “bar cotovelo” do Luizinho, na agradável companhia do Zé Roberto. Não dispenso de ir prá chácara , com o Juca Tomé e o Sabino, degustar a costelinha de porco, caprichada, feita pelo Arnaldo. 

Acostumei-me a arrumar a minha cama, comprar “boboseiras” quando vou ao centro da cidade. Sei que apesar das broncas da Wania, ao meu lado, vigiando o tempo todo, quase há 60 anos, continuo roncando em sono profundo, meio “ lambão”, confesso. Extravagante ? sei lá... Assistí, com lágrimas nos olhos, a “partida” cedo demais, de amigos fraternos, antes que conhecessem o que é uma boa velhice...

Ninguém à censurar,depois de velho, ficar “ grudado” no computador, horas e horas, querendo saber coisas que não sabia e só ouvia dizer...Lembrar dos idos tempos que dancei ao som das lembradas orquestras da terrinha e muitas outras famosas de todo o Brasil e, digo-lhes, sem ter chorado nenhum amor perdido...Se nas férias, ia à praia , calção comprido, esticado sobre um corpo quase decadente, “ furando ondas de araque”, sob olhares complacentes de jovens de corpos sarados, “ vocês vão também envelhecer, seus putos! “... conversava eu com meus botões... 

A memória ainda é boa; a vista? Nem tanto. Sou péssimo fisionomista, confundo ”Zé” com “Mané”. Recordo coisas importantes e as” desinportantes” também. O coração enternece quando lembro-me dos “ meus” que já se foram. Coração que nunca sofreu, não conhece a alegria de ser imperfeito. Sou abençoado por isso. Vivo o suficiente por meus cabelos brancos e o riso da juventude que, nas rugas, navegam nas avenidas do meu rosto...

Quanto mais se envelhece, mais fácil é ser autêntico. Nem para peidar, peço licença. Preocupo-me pouco com que os outros (adversários, sempre inimigos, nunca) pensam a meu respeito . Enquanto viver, não vou perder tempo, lamentar o que poderia ter mais feito . Aos jovens, que tem a paciência e a delicadeza de lerem os meus humildes textos, histórias e pensamentos, deixo um recado que aprendi com o excepcional Nelson Rodrigues:

Quando um grupo de universitários cariocas, ao visitá-lo para uma longa entrevista sobre a sua atividade na crônica brasileira, abordando os mais variados temas,o inquiriram que mensagem deixava aos estudantes brasileiros, Nelson, era míope, fumante inveterado, ajeitou-se na poltrona, olhos esbugalhados, cigarro no canto da boca, óculos com lentes parecendo vidro, na ponta do nariz, respirou fundo e soltando uma enorme baforada, disse apenas :- “ Jovens ! Sabeis envelhecer ! “ Marquez do Cassú “. 


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba

TELEVISÃO


Em meados da década de 60, a Escola de Engenharia e Eletrônica de Itajubá (MG) , desenvolveu um projeto e construiu equipamentos para instalar emissoras de televisão , sem incluir, inicialmente, o transmissor. Uberaba, foi escolhida para o grande teste. Durante 30 dias, os poucos televisores da cidade puderam captar imagens locais, do Jockey, UTC e Sirio Libanesa e “ shows” com artistas locais. Raul Jardim, Netinho, Xuxu, o lançamento de uma menina que, mais tarde, tornou-se famosa, Vanusa Flores e o “palhaço” Xuxu, além de desfiles das moças bonitas da terrinha, ao som do piano de Rosseti, fizeram a festa na cidade.

A família Jardim, dona do “Lavoura” e da PRE-5, escolhida para adquirir o equipamento e “montar” a TV. Raul, topou! Os irmãos, demais sócios, “afinaram”. Edson Garcia Nunes, que tinha sido meu colega na Faculdade de Direito, empresário de sucesso em Uberlândia, estava, por acaso, na cidade. Viu e gostou da “ novidade”. Levou a idéia e os equipamentos para a sua cidade. Surgiu então a TV-Triângulo, tendo como sócio, um uberabense, Luiz Humberto Dorça. Um dia, talvez quem sabe, possa contar um pouco dessa história....

Anos depois, final da mesma década (60), um grupo de uberabenses fundou a rádio “7 Colinas”, a terceira da terrinha. O projeto era audacioso : além da rádio, desejava instalar uma TV local. A esse período, a Embratel inaugurava o seu arrojado prédio na Fidélis Reis, com Quintiliano Jardim , à sediar a regional da estatal para a região setentrional do Brasil. À comandá-la,depois de um breve período em que esteve à frente, um engenheiro uberabense da família Guaritá , para sucedê-lo um carioca, engenheiro Arolde de Oliveira, especialista em telecomunicações.

Era o que o “ grupo 7 Colinas” procurava. Realizados os estudos técnicos exigidos pelo Ministério das Comunicações, foi dada a entrada do “ pedido de abertura para licitação de uma transmissora de televisão na cidade Uberaba (MG)”. Registre-se: o trabalho de Arolde de Oiveira ( hoje deputado federal (PSD-RJ) e dono no Rio de Janeiro, de uma emissora de rádio, gospel, foi irretocável ! Nada faltou no estudo da viabilidade técnica para que a licitação fosse aberta, pois que, inicialmente, não havia mais interessados no projeto.

Ledo (Ivo) engano. Passados alguns meses, eis a decepção ! Aproveitando todo o trabalho técnico proposto pelo grupo uberabense, com “olheiros” em todos os Ministérios em Brasilia, a turma das “Associadas”, de B,H., é declarada vencedora da concorrência ... Com a solerte “inteligência” mineira, o grupo belorizontino, rapidamente, registra a firma “ Rádio e Televisão Uberaba Ltda”, tendo como componentes, os uberabenses Ranulfo Borges do Nascimento, João Laterza, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Álvaro Barra Pontes, todos falecidos e um remanescente vivo, o professor José Thomaz da Silva Sobrinho...

Era a turma do “PSD véio de guerra”, aliada às “Associadas” de BH, tendo à frente, Camilo Teixeira da Costa, Hélios, Adami e Amoni e supervisão de José de Oliveira Vaz...Arnaldo Rosa Prata, entusiasmado com a construção do “Uberabão”, canalização do córrego das Lages e o novo terminal rodoviário, com o beneplácito dos vereadores, desapropria um bom pedaço da fazenda do “Rezendão”, no bairro EE,UU, e doa aos “Associados” para a construção da sede da TV-Uberaba. Ação, diga-se, muito rápida. Ações da TV-Uberaba ,foram colocadas à venda na cidade. E como o uberabense aderiu!... Um senão: até hoje, as “cautelas” das ações não foram entregues aos seus legítimos donos...A turma de BH, escolheu o presidente da nova empresa : o saudoso e memorável médico e homem de negócios, dr.Renê Barsam. 

Quando percebeu “ outras intenções” dos comandantes, entregou o cargo. Dia 9 de junho passado, a TV-Uberaba, “completaria” 46 anos... Hoje, nem “arquivo” tem mais. Infelizmente! 
A memória de Uberaba se esvai, sem que ninguém tome um “ tiquinho” de providência ...
Se houver alguma dúvida do que contei, estou à disposição . “ Marquez do Cassú “.


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade Uberaba

Os atletas do Judô Oriente de Uberaba exibem medalhas conquistadas após competição mineira em 1980

Atletas do Judô Oriente de Uberaba - Foto: Autoria desconhecida.
Foto: Tranquilo Baliana, Dr. Mauro Guerra, Nilo Martins, Otavio Lamartine (Sansão), Douglas, Sérgio Leite, Irineu Leite, Valdir Machado, José Dos Reis, Cláudio Custódio, Cláudio Berto, Robson Pinti, (,,,), Rene, Anísio Modesto, Públio, (,,,,), Luiz Roberto, Francisco Sales, Cesar, Vitor Caetano, Rogério Guerra, Isídio, Mauro Guerra, Ronald Pinheiro , José Mauro.

(Foto do acervo pessoal de Tranquilo Baliana)

Cidade de Uberaba

domingo, 7 de abril de 2019

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino - Uberaba-MG
Carmen Gimenez, Antonio Carlos Marques, Maurílio Modesto, Carolina Cançado Ratto Mendonça, Dedê Melo Prais, Vera Lúcia Rezende Cunha, Ana Teresa Rodrigues Nascimento, Mario Salvador, Virgínia Borges Palmerston e Paulo Lemos de Oliveira.  (Foto do acervo da jornalista Ana Luíza Brasil.)

Relembrando a comemoração dos nossos 10 anos de formados, em julho de 1989, acompanhados de alguns dos nossos queridos professores e homenageados. Estamos na mira dos nossos 40 Anos em Julho de 2019...

(Jornalista Ana Luíza Brasil)


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Padre Prata morre aos 96 anos em Uberaba

Dedicamos ao Padre Prata,todo nosso carinho e gratidão.
 Conheça um pouco da história do saudoso Thomas de Aquino Prata
 no Programa História Viva, projeto da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI)(Uniube) (Universidade de Uberaba) Vídeo créditos: Uniube. 

Cartão créditos:  Uniube - Universidade de Uberaba.
Padre Prata

Com profundo pesar e consternação que comunicamos a triste notícia do falecimento do Padre Prata

Seu passamento ocorreu hoje, 04 de abril de 2019 no período da manhã.

De acordo com a Arquidiocese de Uberaba, velório será na Catedral Metropolitana. Haverá missa às 9h de sexta (5), também na Catedral, presidida por Dom Paulo.

Uberaba em Fotos presta suas condolências à família e amigos.

Thomaz de Aquino Prata - Arquidiocese de Uberaba.




“Em nome da Arquidiocese de Uberaba venho manifestar os sentimentos pelo falecimento do Pe. Prata. Já com 96 anos de idade, lúcido, inclusive escrevendo uma coluna semanal no Jornal, revelando seu perfeito vigor. 

Pe. Prata vai para a casa do Pai consciente de ter cumprido sua missão. Louvamos a Deus pela sua vida e agradecemos pelos trabalhos prestados na Igreja, especialmente na Arquidiocese de Uberaba. 


Pe. Prata, vai com Deus e interceda por nós, para que enfrentemos com coragem a pastoral dos novos tempos. Obrigado por tudo!”


_*Dom Paulo Mendes Peixoto*_


_Arcebispo Metropolitano de Uberaba_


*Nota à imprensa*:


É com grande pesar, que a Arquidiocese de Uberaba comunica o falecimento do Pe. Thomaz de Aquino Prata, mais conhecido como Padre Prata.

Pe. Prata faleceu na tarde desta quinta-feira, 4 de abril, às 13h30, no Hospital São Marcos, para onde foi encaminhado depois de ter uma parada cardíaca durante consulta médica. Seu velório será na Catedral Metropolitana de Uberaba, com início às 18h. Haverá uma primeira missa de corpo presente neste dia 4 de abril, às 19h, na Catedral. 

Amanhã às 9h será realizada missa de corpo presente, presidida pelo arcebispo metropolitano de Uberaba, Dom Paulo Mendes Peixoto, também na Catedral Metropolitana. 

O sepultamento ocorrerá às 11h, do dia 5 de abril, no cemitério São João Batista. Contamos com as orações de todos! 


_*Pe. Thomaz de Aquino Prata*_

Nascimento: 22/12/1922

Ordenação: 08/12/1946

Falecimento: 04/04/2019


Cidade de Uberaba

sexta-feira, 29 de março de 2019

O Relógio Japonês

Mais uma vez escrevo sobre ele nesses 39 anos. A primeira o fiz no artigo “O povo pede uma praça”, em jornal editado pelo Clube de Engenheiros no ano de 1978. Ganhou o apelido carinhoso de Relógio Japonês por ter sido doado a Uberaba pelas colônias japonesas daqui e de Igarapava/SP, quando equivocadamente festejamos 100 anos de fundação no dia 3 de maio de 1956. Está localizado na Praça Dr. Jorge Frange, próximo ao edifício São João.

Memória: demoliu-se a velha rodoviária e a reinauguração da praça seria no dia 28/01/1983. Os táxis ficariam colocados de forma oblíqua diante do relógio. Estreitariam muito o passeio, além de causar transtornos entre os táxis e os veículos da via descendente. Jesus Prata, o vereador Arly Coelho e eu reivindicamos ao prefeito Silvério Cartafina Filho e ele, com seu estilo, ordenou: “Coloque-se o ponto de táxis na parte baixa da praça”. E colocaram.

O único sino daquele obelisco aguça os meus tímpanos ao bater horas inteiras e meias com precisão britânica. Na madrugada, num raio médio de 300 metros, é ouvido com nitidez. No mundo dos digitais não há quem, com uma ponta de insônia, ouça as suas badaladas e se feche para a nostalgia. “Detén el tiempo en tus manos. Haz de esta noche perpetua” (compôs Roberto Cantoral).

Dentre os cartões de visita que habitam o coração do uberabense, o Relógio Japonês, com certeza, é um deles, mesmo estando tão relegado.

Sempre o tivemos como referência, embora seus ponteiros tenham ficado inertes por incontáveis períodos. Sebastião José Polveiro, aos domingos, galga mais de 12 metros de altura, renova a corda, faz manutenções no bruto e assegura que suas peças estão nos trinques. Luiz Ricardo Rodrigues, o Branco da banca de jornais, custeia as despesas e cuida do arvoredo ali existente.

Volto ao passado e me lembro que Odettes Tiveron leu as horas nos algarismos romanos daquele “mastodonte” durante décadas. No dia 21/04/15 cessaram essa feliz convivência quando ela partiu para a eternidade.

O tempo não passou devagar e nem fluiu rapidamente; eu, é que não o vi passar. O Relógio Japonês sim, sempre foi a fiel testemunha.



João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 


Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas. 



Cidade de Uberaba

Parabéns, tio Mário!

“O eterno Tio Mário, comunicador infantil que fez sucesso nas décadas de 70 e 80 na cidade, quando comandava um programa de televisão na extinta TV Uberaba, será homenageado pelo Shopping Uberaba nesta sexta-feira, 26, às 17h, no encerramento das gincanas infantis que fazem parte da programação de férias”. Eis aí parte do convite que recebemos para estarmos no instante da homenagem que o acadêmico Mário Salvador receberia. Lá fomos para viver emoção única e imperdível. 

Este espaço é pequeno para descrever a transcendência do momento decorado por crianças que, apesar de não terem vivido o tempo de Tio Mário, lhe acercaram com afeto demonstrando estar diante de um ícone imortal.

Difícil foi segurar as lágrimas no momento em que Tio Mário, em meio à criançada, reeditou seu programa Hora do Recreio, com um número de gincana. Crianças tomaram suco na colher como vimos há décadas. E ele, Tio Mário, visivelmente emocionado, conduziu os trabalhos como se estivesse no estúdio da TV Uberaba.



Tio Mário - Foto: Francis Prado

Presença da família e amigos do homenageado, placa de prata, plantio de palmeira, declamação de poesia, manifestação afetiva das crianças, palavras dos coordenadores, som, fotos, filmagens e expressões de carinho, etc., formataram aquele cenário que vai para a história, essa jamais será escrita sem o nome de Mário Salvador. A Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ali representada por vários confrades, absorveu parte da justa homenagem recebida pelo seu ex-presidente.

Ao declamar o poema “Ser criança”, Tio Mário polarizou as atenções com versos sensíveis e acessíveis, principalmente pelas crianças. Perfeitamente encaixável no CD que Fausto Reis gravará com músicas compostas pelos acadêmicos da ALTM. Arahilda Alves, com sua maestria cantou o jingle do programa, então cantado pelos Sobrinhos de Tio Mário. 

A relatividade do tempo ficou ali estampada: todos voltamos a ser crianças, junto às crianças, tendo a sensação de que ele não passa, nós sim, é que passamos. E o nome fica. Parabéns, Tio Mário Salvador!


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Cem anos de José Bilharinho

Hoje, cedo o meu espaço ao acadêmico Guido Bilharinho para que nos brinde com a síntese curricular do irrepreensível aniversariante que, ontem, completaria cem anos de meritória existência. Ei-la:

“José Soares Bilharinho nasceu em Uberaba, no dia 13 de dezembro de 1918. Formou-se em Medicina, em Belo Horizonte, em 1943, e clinicou em Uberaba, a partir de 1945, na Casa de Saúde e Maternidade São Lucas, na avenida Presidente Vargas, posteriormente transferida a outros médicos. Militando na política, nas fileiras do antigo Partido Social Democrático (PSD), foi eleito vereador, compondo a legislatura de 1951/1954. Participou e atuou no Rotary Club de Uberaba, do qual foi presidente no biênio 1960/1961 e governador do antigo Distrito 453. Exerceu durante alguns anos o magistério médico, lecionando Fisiologia, na Escola de Enfermagem Frei Eugênio e na Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, e Farmacologia, na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, da qual foi um dos fundadores. Integrou, também, a Comissão Fundadora da Unimed/Uberaba, sendo seu primeiro presidente.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, nela exerceu os cargos de tesoureiro, por quatro anos; secretário, por seis anos, e presidente, em três mandatos consecutivos, de fevereiro/1981 a fevereiro/1987.

Participou, ainda, do Conselho Administrativo e Fiscal da entidade mantenedora do Colégio Dr. José Ferreira, do Conselho Superior do Jockey Clube de Uberaba e do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Uberaba.

Atinentes a quatro dessas áreas de atuação, escreveu os livros: Planejamento Geral dos Serviços Administrativos Municipais (1954), O Rotary em Ação (1967), Elogio de Clementino Fraga (1971), ampliação de seu discurso de posse na Academia de Letras, e a monumental História da Medicina em Uberaba em nove volumes, cinco dos quais editados a partir de 1980.

Além disso, editou e dirigiu no decorrer de 1952, juntamente com o então diretor-geral da Prefeitura de Uberaba, Iguatimosi Cataldi de Sousa, o periódico mensal Legislação, Organização, Orientação e Planejamento Municipal, distribuído a todas as câmaras municipais do país e o único no gênero editado nas Américas”.

Registro aqui ao aniversariante e a seus familiares as homenagens da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que o teve como Membro Efetivo e presidente. Na imortalidade, José Bilharinho é para nós, seus confrades, fonte de inspiração e perene referência.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.



Cidade de Uberaba

Histórico Patrimônio meu

Inicio o meu texto de hoje em tom melancólico apresentando o poema que um dia lavrei para datas especiais como a de ontem.

Eu sou a Memória / Hoje tão calada e esquecida / Que acaba sozinha em vida / Morre aos poucos com a história. Devagar vou sumindo / Dia a dia sendo apagada / Meu passado vai ao nada / E o presente pra lá está indo. Velhas casas e casarões demolidos / Relíquias escapam da mão / Cultura colide com a ambição / Valores de ontem agonizam feridos. Histórico Patrimônio meu / Não o protejo como deveria / Espero poder resgatá-lo um dia / E vê-lo no lugar que é todo seu. Quem não se liga ao passado / Expõe-se ao risco na certeza / De no futuro ser lembrado com frieza / Por ter sido um ser desnaturado.

Tristeza como a que ontem senti, só comparei quando uma voz ao telefone me anunciou que minha saudosa mãe havia deixado esse mundo. “Tenho uma notícia triste para lhe dar: a casa em que Zote nasceu está sendo demolida. Faça alguma coisa!”, disse-me uma voz amiga no meio da tarde. Fiquei perplexo depois de ter escrito um livro sobre a vida de José Formiga do Nascimento - o lendário Zote - e lançado a obra em 31/01/2015 no Cine Municipal Vera Cruz. Quase 1.000 pessoas estavam presentes e numa só tacada 270 livros foram vendidos, tendo em vista o interesse que o personagem despertou e continua despertando. Outras edições virão.

Fui ao local da demolição. Atônito, não tive outra alternativa senão dizer ao mundo em “NOTA HISTÓRICA LAMENTÁVEL: neste momento está sendo perpetrado um crime contra o patrimônio histórico de Uberaba: a casa onde nasceu José Formiga do Nascimento - o Zote - está sendo demolida. Não bastaram as gestões que fizemos junto ao CONPHAU e aos proprietários da casa. Ela está indo ao chão e junto vai uma parte da história. Ali nasceu o uberabense que Uberaba nunca esquecerá. Local da barbárie: rua José de Alencar, 376, antigo 68. Aos que primaram pela omissão os nossos ‘parabéns’”.

Não divulgarei aqui as manifestações da legião de amigos, residentes no Brasil e mundo afora, cujas raízes estão em Uberaba. São tantas que as guardarei como prova de que Zote habita a memória e o imaginário dos seus conterrâneos ou não. Naquela casa então de Bento Eduardo da Silva Polveiro e depois Osório Adriano da Silva, nasceu no dia 23/02/1923, há 95 anos, o menino que por ser meio parvo e genial, recebeu o apelido de Zote. Era a última casa daquele estilo no bairro São Benedito e uma das últimas de Uberaba (!!!) Para onde vamos senhoras autoridades responsáveis? A palavra não é mais minha.

Por que esse meu apego com algo material? É que a história não me perdoará, se de braços cruzados eu permanecer: “Quem não preserva o passado não terá futuro”. Eis a questão.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Por que Quintiliano?

No dia 08/11/2016, em Belo Horizonte, vivi a honra insigne de tomar posse na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, junto aos meus pares uberabenses: Ilcea Sônia Maria de Andrade Borba Marquez, José Humberto Silva Henriques e Luiz Gonzaga de Oliveira.

Dia memorável vivenciei na Casa de Cultura, presidida pelo também uberabense César Vanucci. Ali nos perfilamos junto a eminentes intelectuais mineiros e soubemos que por aquela egrégia confraria também passou Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Cada ingressando teve a prerrogativa de indicar o patrono de sua própria cadeira, esse nascido e com exercício literário neste município. Prestei homenagem ao acadêmico Quintiliano Jardim (09/02/1881-09/10/1966), Príncipe dos Jornalistas do Brasil Central. Enumerei suas atividades no mundo da imprensa, lutas essas vividas num tempo em que a condução era o lombo de burros e ele mesmo levava o jornal “Lavoura e Commércio” (iniciado em 1899) aos rincões de Goiás, na antiga capital goiana. Passei pelos anos trinta, quando Quintiliano fundou a pioneira PRE-5 – ZYV-37 – Rádio Sociedade do Triângulo Mineiro e a dirigiu por décadas. Seus filhos: George, Raul e Murilo Jardim prosseguiram com a obra de Quintiliano até 2003, quando o “Lavoura”, depois de 104 anos, encerrou suas atividades.

Quintiliano Jardim 

Do livro “Cinzas de sonhos”, escrito por Quintiliano com o pseudônimo de Flávio, extraí e declamei em plenário a trova que todo uberabense ama: “Uberaba de ontem, Uberaba de hoje! Das duas não sei qual quero mais; Se a Uberaba dos meus tempos de menino. Se a Uberaba dos meus dias outonais!”.

Dentre os dados que compilei sobre o meu combativo patrono, tenho as suas certidões de: Nascimento, Casamento e Óbito. Descobri que Quintiliano Jardim não nasceu em Ouro Preto ou Goiás Velha, como me afiançaram. Era uberabense nato e, não fosse a argúcia do colega jornalista João Camelo, teria perdido a vida num atentado. Como se constata, a missão de informar sempre custou caro.

Lembro-me de Quintiliano. Um homenzarrão elegante, que não desprezava o terno e sempre exalava o aroma do perfume Lancaster. Numa foto ilustrativa dos 60 anos do jornal (06/07/1959), cedida a mim pela amiga Dra. Ceres Mary Cunha, está ele com a postura do impecável jornalista, ciente de que os seus veículos informativos (rádio e jornal) cumpriam a missão importantíssima de ilustrar consciências no Brasil emergente, àquela época abarrotado de analfabetos. Sua luta foi árdua. Por que escolhi Quintiliano Jardim? Devemos-lhe gratidão.


João Eurípedes Sabino

Cidade de Uberaba

Noite histórica

E a casa esteve com sua lotação esgotada na noite da última terça-feira, 26/03/2019. O lugar é a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e as presenças foram de universitários representantes dos Diretórios Acadêmicos do IFTM, Fazu, Uniube, UFTM e seus renomados Mestres, além do Programa U+20 e da Diretoria de Turismo da Prefeitura Municipal de Uberaba. Soma-se o apoio do Museu do Zebu da ABCZ, representado por Thiago Ricioppo e Maria Goretti dos Santos, além da empresa Bela Vista Cultural, capitaneada pelo megaeditor Fábio Ávila. Foi uma noite histórica! 

Projetado para ser um evento simples por Carlos Mardegan, como deveras foi, algo beirou as raias do infinito, quando cada um dos presentes, todos amantes das letras, se identificaram com o pensamento do ambiente que era o de valorizar e oportunizar a afloração de suas escritas.

A Casa criada por José Mendonça, Edson Prata e Juvenal Arduini, lá nos idos de 1962, abre espaço para que a juventude se aproxime e almeje ocupar ali uma cadeira, quem sabe a minha (32), no momento oportuno. Em cada olhar, em cada semblante e postura vimos frente a frente jovens, cujas vidas e condutas diferem muito do que comumente assistimos. Usaram o coração e a sensibilidade quando Fábio Ávila chamou alguns deles à frente para declamarem poemas escritos por alunos do ensino médio. Vi lágrimas correrem naquelas faces.

O projeto de entrelaçar os Acadêmicos com estudantes de todos os níveis vem de longa data, porém, para levá-lo à materialização, reconheçamos, havia um caminho longo a percorrer. Com o advento da sede própria doada pela Universidade de Uberaba, esse caminho encurtou sobremaneira. E agora vamos percorrê-lo sempre, realizando eventos de natureza cultural.

A abordagem sobre o Arquivo Público de Uberaba, feita pela Superintendente Marta Zednik de Casanova, e os relatos de Paulo Fernando Silveira, em referência às suas obras, foram pontos de destaque com os quais a nossa Casa de Letras brindou os presentes. Ambos, na condição de Acadêmicos, enfocaram seus temas em nome da Academia.

Nosso Sodalício, como entidade cultural sem fins lucrativos, não tem muito a oferecer no campo material, entretanto, no imaterial seus alcances vão muito além do que as vistas alcançam. O que farão aqueles universitários com o que puderam interagir na data histórica de 26/03/2019 no seio da Academia de Letras do Triângulo Mineiro? Ali estavam vários “Machado de Assis”. Disso não tenho dúvidas. Basta que tenham “uma alavanca e um ponto de apoio”, segundo o sábio Arquimedes. A nossa ALTM sempre será essa alavanca e esse ponto de apoio.


João Eurípedes Sabino -Uberaba/MG/Brasil.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

terça-feira, 19 de março de 2019

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus

No dia 14 de março de 2019, foi celebrado o Dia Nacional da Poesia e, também, data de nascimento de Carolina Maria de Jesus, uma escritora brasileira, conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada que foi publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país.
A escritora nasceu no dia 14 de março de 1914, em Sacramento (MG) e morreu em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos.

"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago." (Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960)

 Carolina Maria de Jesus

A primeira grande escritora negra do país celebraria 105 anos em 2019.

“Eu vivo para o meu ideal”. Essa frase é da escritora Carolina Maria de Jesus e encaixa-se perfeitamente para descrevê-la. Natural de Sacramento (MG), Carolina amava as palavras e tinha certeza de quem era: mulher, preta e poetisa. Seu sonho e maior objetivo era ser publicada. Ela conseguiu. Foi publicada em português e outros 14 idiomas, em 40 países.

Catadora de papel e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, Carolina escreveu sobre suas vivências. A vida de catadora, as pessoas que moraram na favela, a fome, tristezas e, principalmente, a pobreza. Seu primeiro livro, Quarto de despejo, chegou a vender mil exemplares em um único dia. Um retumbante sucesso editorial e recorde para a época. Depois do bestseller, a autora produziu outras obras, mas sem igual sucesso. Entre elas, as publicações: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de 1961. Provérbios, e Pedaços da fome, de 1963. A última obra, Diário de Bitita: um Brasil para brasileiros, publicada primeiro na França pela Éditions Métailié, com o título de Journal de Bitita, só sairia no Brasil em 1986.

O dia do registro de nascimento de Carolina é o dia 14 de março. Mesma data de aniversário de Castro Alves e antigo Dia Nacional da Poesia no Brasil. No mês de seu aniversário, confira outras sete curiosidades sobre sua vida!

Segundo a historiadora, Elena Pajaro Peres, Carolina frequentou a escola durante apenas dois anos em sua cidade natal. Foi no Colégio Allan Kardec, que ela foi alfabetizada e já adulta dedicava grande parte de seu amor a literatura à sua professora.

Carolina adorava o Carnaval e chegou a gravar um álbum com sambas e marchinhas. As músicas, apesar de raras, estão disponíveis online na Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles (IMS).

Antes de conseguir publicar seus livros. Carolina bateu na porta de diversas redações e jornalistas para divulgar seus poemas e alguns foram publicados em duas reportagens na revista O Cruzeiro.

Carolina atuou no documentário alemão: Favela: a vida na pobreza, protagonizado por ela mesma, mas impedido de passar no Brasil durante a ditadura militar, por apresentar a miséria da favela do Canindé. Localizado e restaurado pelo IMS na Alemanha, o filme foi exibido pela primeira vez no Brasil, no centenário de nascimento da escritora, em 14 de março de 2014 e pode ser assistido na sede do instituto.

Em Sacramento (MG), Carolina foi criada em uma comunidade de forte tradição oral. Seu interesse pela literatura é despertado primeiro pelo oficial de justiça, Manoel Nogueira, que todas as tardes lia para os negros que não sabiam ler, o jornal, poemas ou pensamentos.

O primeiro romance lido por Carolina de Jesus foi A Escrava Izaura, emprestado por uma vizinha de sua mãe e a partir daí começou a ler tudo que chegava ao seu alcance.


 Carolina Maria de Jesus
Durante os anos em que Carolina vivia em São Paulo, a publicidade do governo para trazer novos imigrantes para a capital paulista era muito forte – a Nova York da América Latina. Mas pouco ou nada era dito sobre as recentes favelas instaladas na cidade. Carolina denunciou as condições de miséria, as quais vivia e a constante chegada de migrantes do campo fadados ao mesmo destino.

Cidade de Uberaba

domingo, 17 de março de 2019

Produtos Ceres e o empresário Edgar Rodrigues da Cunha

Nossa rica Uberaba


Louco. No fim da década de 1950, essa era a palavra que mais se ouvia entre os clientes da agência do Banco do Brasil (BB) na cidade quando deparavam com os folhetos de propaganda da empresa Produtos Ceres colados nas paredes. O objetivo era concitar os agricultores a plantar algodão com generosas ofertas de financiamentos a juros baixos e longos prazos.

Governador Juscelino Kubitschek e Edgar Rodrigues da Cunha.
(Foto do acervo pessoal da família)

Era mais uma ousadia do empresário Edgar Rodrigues da Cunha. Como não podia transportar sua fábrica para Ituverava, SP, um dos grandes centros de produção algodoeira do interior do Brasil, o mais econômico seria a introdução da nova cultura nas lavouras de Uberaba. Uma tentativa que contou com o apoio incondicional do BB. A economia prevista com o transporte dos caroços de algodão para a produção de óleo justificava a empreitada.
                                                                   
Juscelino Kubitschek inaugura a fábrica, em maio de 1956. (Foto do acervo pessoal da família)
Afinal, o Edgar que inicialmente participava de uma fábrica  de ração e derivados de milho (entre estes a famosa “Fubaína”) junto com o seu pai Gustavo Rodrigues da Cunha, aproveitou o terreno do bairro Boa Vista e, em 1952, iniciou-se a construção de um grande complexo industrial, captando recursos através da transformação da empresa em sociedade anônima, para a produção de óleos vegetais.

Edgar Rodrigues da Cunha e Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, bispo diocesano de Uberaba. (Foto do acervo pessoal da família)
Se atentar para o fato de que a economia da cidade era predominante de atividades voltadas para a agropecuária, precisava realmente de alguém com muita coragem para instalar uma fábrica de grande porte e ainda fabricar produtos para concorrer com os gigantes do mercado: Matarazzo, Anderson Clayton e Sanbra.

 Vultos históricos – Edgar Rodrigues da Cunha.
(Associação Cultural Casa do Folclore)

E Edgar conseguiu. Construiu a fábrica e obteve financiamento com o governo francês para aquisição de duas super prensas. Seus Produtos – Óleo Banquete de caroço de algodão e o Bem Bom de amendoim – fizeram sucesso. Foi a primeira empresa da América Latina a extrair óleo do farelinho de arroz. Dos resíduos se fazia o também famoso Sabão Brilhante.

Juscelino Kubitschek, ainda governador, foi o grande colaborador de Edgar para conseguir apoio do governo francês. Já eleito presidente da república. Juscelino veio em 1956 para prestigiar a inauguração da maior indústria de Uberaba, que já chegou a contar com 300 funcionários em sua folha de pagamento.

Vista aérea da Fábrica dos Produtos Ceres.  (Foto do acervo pessoal da família)
Seis anos após a inauguração de produtos Ceres, Edgar monta a TRILÃ – Indústria de Tecidos de Malhas e Confecções Ltda., importando máquinas de outras cidades brasileiras e da Itália, voltados para a confecção infantil.

A TRILÃ marcou época. Um novo nicho de mercado foi aberto e logo surgiram centenas de pequenas confecções que aquecem a economia de Uberaba até hoje.

O período revolucionário ocorrido em 1964 trouxe grandes desgostos para o arrojado empresário. Já com equipamentos adquiridos para a montagem de outra fábrica, dessa vez no Paraná, viu seus negócios frustrados pela recessão bancária. Foi necessário transferir o controle acionário da empresa Produtos Ceres S/A para Irmãos Pereira da cidade de Monte Alegre, MG.

O episódio não esmoreceu o empreendedor nato. Em 1980, Edgar Rodrigues da Cunha cria a TREBACE – Tecelagem Brasil Central Ltda. – Com máquinas importadas da Alemanha. Com apenas 10 meses de atividades, a empresa já havia conquistado uma significativa parcela do mercado de malhas.

Edgar nasceu em Uberaba em 18 de abril de 1911. Ele estudou no Colégio Diocesano e na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, de onde saiu diplomado em 1935.

De volta ao município, teve oportunidades de mostrar seu talento jurídico na defesa de pecuaristas vítimas da grande derrocada do Zebu, no final da década de 1940.

Foi um dos fundadores da Faculdade de Uberaba, local que foi professor por mais de 20 anos na disciplina de Direito Civil e sempre foi alvo de homenagens como patrono, paraninfo, entre outros. 

Além da família e o trabalho, sua paixão era o esporte. Foi eleito presidente do Uberaba Sport Club em 1959. Ele administrou o clube por quatro anos. Nesse período, reformou o estádio “Boulanger Pucci”, construindo o seu alambrado.

Edgar Rodrigues da Cunha, com engenheiros, operários nas obras do Uberabão na década de 1960. (Foto do acervo pessoal da família)
Proprietário da área onde está localizada a Vila Olímpica, Edgar idealizou e projetou a construção de um grande estádio que pudesse ser orgulho de Uberaba e região. O mesmo arquiteto do Mineirão foi encarregado do projeto.

Após seu mandato no USC em 1963, a obra do “Uberabão”, que já tinha iniciada em 1961, ficou paralisada. Na gestão do prefeito João Guido, (1967/1970) foi aceita a doação do terreno para a Prefeitura Municipal, que se encarregou de sua construção.

Inauguração em 1972 - “Uberabão” - Foto: Paulo Nogueira
Hoje “Engenheiro João Guido”, o estádio retratava no projeto a visão futurista do Edgar. Ele seria coberto e com capacidade para 45.000. Na administração pública, foi reduzido para 21.300 pessoas e inaugurado em 1972, na gestão de Arnaldo Rosa Prata.

Edgar Rodrigues da Cunha não contentou em ser apenas desportista, professor, advogado e industrial. Ele também participou ativamente no setor imobiliário. Ele loteou duas grandes áreas: a Vila Olímpica, no Fabrício, e Vila Ceres, no Boa Vista. Esses loteamentos tiveram significativas influências na expansão dos bairros e, consequentemente,, da cidade.

Empreendedor por natureza e empresário por vocação, Edgar atuou no ramo da agropecuária. Foi um primoroso cafeicultor e criador de gado leiteiro e pioneiro na implantação da ordenha mecânica alfa laval na região. Reconhecido pelo seu trabalho em prol do desenvolvimento de sua terra, Edgar foi alvo de inúmeras homenagens. Pela ACIU, recebeu o título de Industrial Modelo em 1964 e Industrial Tradição em 1991 Pela Assídua – Associaçao das Indústrias de Uberaba – recebeu o prêmio de Industrial do Ano também em 1991.

Edgar casou-se em 1942, aos 31 anos de idade, com Maria Júlia Junqueira,com a qual teve cinco filhos: Maria Carmelita, Claudio Marcelus, Elizabeth, Gustavo e Eduardo. Faleceu em 19 de maio de 2006, aos 95 anos de uma vida de trabalho e de uma dedicação sem limites em favor do desenvolvimento de Uberaba.

Que o seu exemplo possa servir de inspiração para todos os jovens empreendedores. A comunidade tem um dever de gratidão com o doutor Edgar Rodrigues da Cunha. É necessário preservar a memória de quem em toda sua vida carregou a bandeira do desenvolvimento. Que seu nome possa ser ostentado em monumentos para que possa ser sempre lembrado que foi um homem além do seu tempo.

Gilberto de Andrade Rezende

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente da ACIU e do CIGRA


Fontes: Maria Carmelita Rodrigues da Cunha e Jornal da Manhã.


Cidade de Uberaba

sábado, 16 de março de 2019

Família Vasques Molinar

Família Vasques Molinar - Rua Artur Machado
Por volta de 1955

Acervo de Emilinha Molinar

Foto de Zuza: Dínis,Emilinha,Aleixo,Mário,Marinho,Emília,Luiz e Fernando


Sapataria Molinar - Rua Arthur Machado,100 - Com Marinho - Década :1940



Cidade de Uberaba

Grêmio no Diocesano em meados de 70.

Grêmio no Diocesano em meados de 70.

Em pé: Márcio, Carlos Alberto Cardoso, Carlos Henrique, Macaco e Carlos Alberto Moura, agachados: Junin, Élcio, Cebolinha e Luiz Alberto Molinar.
(Foto do acervo pessoal de Luiz Alberto Molinar)


Cidade de Uberaba

Fu Manchu alegrou o centro anunciando jogos de Uberaba no anos 80

No Bico da Chanca

Toque de Primeira

 Fu Manchu /Coluna de Carlos Ticha - JM


Ele morou num corredor na r. Manoel Borges, próximo da esquina com a r. Major Eustáquio

(Luiz Alberto Molinar)

Cidade de Uberaba

Bons Tempos... reencontro dos atletas de futebol de salão do Colégio São Benedito

Reencontro dos atletas de futebol de salão do Colégio São Benedito - Foto: Waldir Kikuichi -
07 de setembro de 2017


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Uberaba está em festa. Da esquerda para a direita. Em pé: Bado, Washington Madeira. Boi e Ivo. 
Agachados: Waender. Cleverson Novais e Renatinho.

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Relembro com muito orgulho de conviver com esse timaço e ainda tocar na fanfarra e charanga do São Bené.

(Leonildo José Antonio da Cruz)


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Joguei muitas vezes contra o São Benedito pelo Jockey. Em 10 partidas ganhava apenas uma. Meu técnico foi o Dr. João Fatureto.

(Gastão Aristides Fontoura Borges)


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Grandes leões do Prof. Minervino !

(Durvalão Autoelétrica)


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Esse filhos do Minervino escondia a bola.Coordenado pelo maestro Washington Madeira.

(Wagner Cruz da Cruz)


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O Jogo da Final Sao Bene X São Judas foi 4 X 2 NA antiga Quadra de cimento do Jockey.

São Judas - Leo, Batata, Sete, Pepinho e Ademir.

São Bene- Edo, Ivo, Waender, Clevinho e Toinzinho.

O São Judas foi o primeiro campeão do Sergio Pacheco , intercolegiais, venceu o Diocesano.

(Paulo Pardi)

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TEMPO/TEMPO/TEMPO.....como passa o tempo e...rápido abraço

(Paulo Roberto Rodrigues)



Cidade de Uberaba

HISTÓRIA DE UBERABA

OS CIENTISTAS – I

ALUÍZIO PRATA.

Os pesquisadores são os heróis anônimos do ramo de saúde. São os epidemiologistas, sanitaristas, parasitologistas, imunologistas, biólogos, geneticistas, bioquímicos, clínicos, dentistas, enfermeiros e profissionais de outras especialidades, os responsáveis pela ampliação da expectativa de vida, permanente redução da mortalidade infantil e o bálsamo para a maioria dos tormentos provocados por doenças. 

Uberaba, centro médico reconhecido de alto nível, sempre teve médicos pesquisadores de renome internacional no campo das Doenças Tropicais. Neste aspecto, tanto no passado como no presente, tem do que se orgulhar.
Professor Aluízio Prata
Um dos maiores nomes brasileiros da pesquisa, reconhecido internacionalmente, é o do uberabense Professor Aluízio Prata, falecido em 2011 aos 91 anos de idade. 

Deixou sua marca na maioria dos Estados do Brasil desde que se formou em Medicina no Rio de Janeiro. De lá para Mato Grosso e depois para Bahia onde residiu por muitos anos e que a convite do governo da Bahia, dirigiu a “Fundação Gonçalo Muniz”. Mudou posteriormente para Brasília onde também permaneceu por um longo período até retornar à Uberaba.

Na FMTM era professor da área de Doenças Tropicais e Infecciosas. No setor de medicina Tropical, principalmente em relação à Doença de Chagas, Malária e Esquistossomose, sempre foi referência primeira no país.

Suas centenas de trabalho sobre profilaxia, clínica e tratamento da Malária, Doença de Chagas, Esquistossomose, Leishmanioses e outras endemias constituem ainda referências básicas para todos aqueles que se preocupam com estes temas.

Sempre manteve intercâmbio com pesquisadores internacionais na experimentação de vacinas. Seu prestigio trouxe para Uberaba o XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical o qual teve repercussão internacional.

O Seu reconhecimento foi atestado pelos cargos que ocupou no Organização Mundial de Saúde e na Organização Panamericana de Saúde.

Segundo o depoimento do também pesquisador José Rodrigues Coura na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em 2010, que entre os numerosos feitos do Professor Aluizio Prata podem ser destacados-

A - As Três Escolas de “Medicina Tropical” criadas na Bahia, Brasilia e Uberaba, povoando o Brasil inteiro de pesquisadores desta área.

B - Seu pioneirismo na criação das áreas de estudo de campo em Caatinga do Moura, São Felipe, Três Braços, Catolândia e Brejo do Espírito Santo, na Bahia, Mambaí, em Goiás, Água Cumprida em Minas, Lábrea e Costa Marques no Amazonas, entre outros estados brasileiros.

Há que se considerar ainda que o Professor Aluisio Prata escreveu 7 livros, publicou 289 artigos e 175 trabalhos científicos, tendo ainda participado de 75 eventos de caráter cientifico no exterior e 420 no Brasil.

E o que representou isto? Segundo o Ex- Ministro da Saúde, Adib Jatene, que já foi médico em Uberaba e professor da FMTM, o Brasil deu um exemplo ao mundo ao reduzir a incidência da Doença de Chagas de 100 mil casos existentes em 1981 para cerca de 5 a l0.000 casos em 1991. Uberaba teve participação expressiva na redução desta doença.

Pelo seu expressivo trabalho, Aluizio Prata recebeu em 1974 a “Comenda da Ordem do Rio Branco” ( Ministério das Relações Exteriores ), em 1980, o “Prêmio Alfred Jurzykovski” ( Academia Nacional da Medicina), em 2001, a “Medalha Capes 50 anos” e no mesmo ano, a “Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Cientifico” ( Presidência da República do Brasil ).

Em abril de 2002, em comemoração ao recebimento desta ultima Comenda, tivemos a oportunidade de prestar ao Professor Aluizio uma singela homenagem na presença de seus familiares, na Casa do Folclore.

Acredito que, por uma questão de justiça, o Poder Público, a Câmara Municipal e todas as Entidades de Uberaba, vinculadas ou não a Medicina, deveriam se unir para prestar uma homenagem imorredoura ao grande cientista de nossa cidade que é reconhecido pela comunidade cientifica de seu país e do exterior.

Chico Xavier, alvo de expressivas e merecidas homenagens, foi um grande consolador de almas sofridas. Aluisio Prata que foi um dos grandes responsáveis pela salvação de centenas de milhares de vidas tem direito ao mesmo reconhecimento.

Fontes; Revista Goiana de Medicina ( Edison Reis Lopes e Edmundo Chapadeiro ).
Revista Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. ( 2010 )
Proficiência – Academia Brasileira de Ciência.

J.M. – Artigo de Gilberto Rezende de 27-11-1992.


Postado pela Associação Cultural Casa do Folclore em 27 de abril de 2018



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