sexta-feira, 29 de março de 2019

O Relógio Japonês

Mais uma vez escrevo sobre ele nesses 39 anos. A primeira o fiz no artigo “O povo pede uma praça”, em jornal editado pelo Clube de Engenheiros no ano de 1978. Ganhou o apelido carinhoso de Relógio Japonês por ter sido doado a Uberaba pelas colônias japonesas daqui e de Igarapava/SP, quando equivocadamente festejamos 100 anos de fundação no dia 3 de maio de 1956. Está localizado na Praça Dr. Jorge Frange, próximo ao edifício São João.

Memória: demoliu-se a velha rodoviária e a reinauguração da praça seria no dia 28/01/1983. Os táxis ficariam colocados de forma oblíqua diante do relógio. Estreitariam muito o passeio, além de causar transtornos entre os táxis e os veículos da via descendente. Jesus Prata, o vereador Arly Coelho e eu reivindicamos ao prefeito Silvério Cartafina Filho e ele, com seu estilo, ordenou: “Coloque-se o ponto de táxis na parte baixa da praça”. E colocaram.

O único sino daquele obelisco aguça os meus tímpanos ao bater horas inteiras e meias com precisão britânica. Na madrugada, num raio médio de 300 metros, é ouvido com nitidez. No mundo dos digitais não há quem, com uma ponta de insônia, ouça as suas badaladas e se feche para a nostalgia. “Detén el tiempo en tus manos. Haz de esta noche perpetua” (compôs Roberto Cantoral).

Dentre os cartões de visita que habitam o coração do uberabense, o Relógio Japonês, com certeza, é um deles, mesmo estando tão relegado.

Sempre o tivemos como referência, embora seus ponteiros tenham ficado inertes por incontáveis períodos. Sebastião José Polveiro, aos domingos, galga mais de 12 metros de altura, renova a corda, faz manutenções no bruto e assegura que suas peças estão nos trinques. Luiz Ricardo Rodrigues, o Branco da banca de jornais, custeia as despesas e cuida do arvoredo ali existente.

Volto ao passado e me lembro que Odettes Tiveron leu as horas nos algarismos romanos daquele “mastodonte” durante décadas. No dia 21/04/15 cessaram essa feliz convivência quando ela partiu para a eternidade.

O tempo não passou devagar e nem fluiu rapidamente; eu, é que não o vi passar. O Relógio Japonês sim, sempre foi a fiel testemunha.



João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 


Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas. 



Cidade de Uberaba