Mostrando postagens com marcador FISTA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador FISTA. Mostrar todas as postagens

domingo, 19 de janeiro de 2020

MÉDICOS NA CADEIA



Nos últimos dias de novembro de 2019, reuniu-se em Uberaba um pequeno grupo de médicas e médicos veteranos. Alguns são da região, outros vieram de longe especialmente para o evento: Arlindo Pardini (de Belo Horizonte), Benito Ruy Meneghello, Hiroji Okano e Nilza Martinelli (de Uberaba), Honório Gomes de Mello (de Goiânia), José Ernesto Teixeira (de Brumadinho) e Zoé Sellmer (de São Paulo). Tinham em comum – além dos cabelos brancos, da longa experiência e da consagração na profissão que escolheram – a emoção de um reencontro: comemoravam os 60 anos de sua formatura na então Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. No final do distante ano de 1959, a FMTM concretizou a ousadia de um antigo sonho ao entregar os diplomas para sua primeira turma de doutorandos. E Minas Gerais passou a ter, de fato, mais uma faculdade de medicina.

Década de 1920 – a recém inaugurada Penitenciária de Uberaba, prédio construído pelos arquitetos italianos Luigi Dorça e Miguel Laterza. Foto do acervo do Arquivo Mineiro
Desde o início do século XX, Uberaba era um centro médico importante. Viajantes chegavam todos os dias das imensidões do sertão brasileiro em busca de atendimento. Com o tempo, multiplicaram-se os consultórios médicos, as clínicas, casas de saúde e hospitais. Era comum que os filhos dos pecuaristas e das demais famílias abastadas da cidade fossem estudar medicina fora – em geral no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas por vezes até no exterior. Formados e especializados, retornavam a cidade para exercer a profissão. A eles se juntavam médicos de vindos de outras partes do Brasil, atraídos pela promessa de uma clínica farta. Muitos conciliavam a prática médica com as atividades rurais – uma combinação que se tornou usual na região.

1953 (circa) – Prédio da penitenciária em obras para receber a Faculdade de Medicina. Fotógrafo não identificado.
Minas Gerais já era o terceiro estado mais populoso do Brasil, mas contava somente com a Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Fundada em 1911 e mais tarde incorporada à Universidade Federal (UFMG), foi lá que formou-se médico o futuro presidente da república Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em janeiro de 1951, JK elegeu-se governador de Minas Gerais pelo PSD, com apoio de diversos partidos e a promessa de dar uma cara nova ao estado. Além do binômio “Energia e Transporte”, Juscelino queria aumentar o número de médicos. Decidiu apoiar duas iniciativas de abrir novas faculdades: uma em Juiz de Fora e outra no Triângulo Mineiro.

23 de março de 1954 – No Palácio Rio Negro (Petrópolis, RJ), o presidente Getúlio Vargas entrega ao deputado Mário Palmério a autorização de funcionamento da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Foto do acervo do Arquivo Nacional.
Na época, Uberaba dava mostras de que estava vencendo uma antiga maldição: desde a fugaz experiência com o Instituto Agrotécnico (que entre 1895 e 1899 formou uma única turma de engenheiros agrônomos) a cidade colecionava fracassos nas tentativas de montar escolas de ensino superior. Até que, em 1947, o professor Mário Palmério – já dono do Colégio Triângulo e da Escola Técnica de Comércio – colocou em funcionamento uma Faculdade de Odontologia e, quatro anos mais tarde, um curso de Direito. Paralelamente, as Irmãs Dominicanas davam início à montagem do que se tornaria a FISTA – Faculdades Integradas São Tomás de Aquino. Mas com JK à frente do governo mineiro, Palmério – que havia sido eleito deputado federal pelo PTB – resolveu dobrar a aposta e buscou seu apoio para abrir na cidade uma faculdade de medicina,

1955 (circa) – Praça do Mercado e o prédio da Faculdade de Medicina, ainda em obras. Ainda não haviam sido erguidos os pavilhões nos fundos do prédio original. No canto direito, a Faculdade de Odontologia. Foto Postal Colombo.

        04 de maio de 1957 – Juscelino Kubitschek vem a Uberaba para a inauguração da Exposição de Gado Zebu. Estudantes se manifestam, pedindo a federalização da Faculdade de Medicina. Foto do acervo do Arquivo Nacional.

03 de maio de 1956 – Já como Presidente da República, Juscelino Kubitschek visita Uberaba e inaugura oficialmente o prédio da FMTM. Foto do acervo do Arquivo Nacional.
1960c – Prédio da FMTM nos primeiros anos de funcionamento da faculdade. Foto do acervo do IBGE.

Junho de 1968 – Alunos e professores da UFTM defronte ao prédio da faculdade. Foto publicada em matéria da revista semanal Manchete, do Rio de Janeiro.

Julho de 2013 – Prédio da Faculdade de Medicina da UFTM ao cair da noite. Foto de André Lopes.

Embora não fosse da região, Juscelino tinha um histórico de proximidade com Uberaba. Em 1934, acompanhou o interventor Benedito Valadares na visita a Exposição Agropecuária e deu início ao hábito de frequentar as feiras de gado zebu. Isso não impediu que, em abril de 1952, a cidade fosse palco de uma assombrosa revolta popular contra um aumento de impostos estaduais promovida por seu governo, que só foi contida por tropas enviadas da capital e resultou em dezenas de uberabenses presos. O motim deixou claro que crescia a força do movimento separatista do Triângulo Mineiro, que tinha em Palmério um dos seus entusiastas.

Velha raposa política, JK aproveitou a oportunidade para estreitar os laços com a região. Poucos dias depois da revolta, desembarcou na cidade em companhia do presidente Getúlio Vargas, de quem era fiel aliado. Reza a lenda que teria prometido transformar o belo prédio da praça do Mercado – construído em estilo eclético na década de 1910, por Luigi Dorça e Miguel Laterza, para sediar uma penitenciária estadual – em uma faculdade de medicina. No ano seguinte, um projeto de lei foi aprovado pela Assembleia Legislativa mineira cedendo o prédio e fornecendo apoio financeiro estadual ao projeto. Coube ao presidente Vargas autorizar o funcionamento do curso em 23 de março de 1954. O médico Mozart Furtado Nunes foi escolhido como o primeiro diretor, à frente de um grupo inicial de 18 professores. No mês seguinte, JK veio a Uberaba para dar pessoalmente a aula inaugural para os alunos aprovados no primeiro vestibular.

Estudar medicina deixava de ser um privilégio das famílias muito ricas da região mas, por alguns meses, os calouros da nova faculdade dividiram o grande prédio, ainda em obras, com algumas dezenas de detentos, que continuavam encarcerados no andar superior. “Eles gostavam da nossa presença: nos pediam cigarros, comida e conselhos médicos”, contou no evento o Dr. Hiroji Okano. Parte das aulas eram ministradas nas salas e laboratórios da Faculdade de Odontologia.

Eleito Presidente da República em 1955, JK relutou, mas acabou cedendo à pressão dos estudantes e da comunidade uberabense que pediam a federalização da escola, Em 1960, Uberaba passou a contar com seu primeiro curso superior público e gratuito. Com o passar dos anos, a FMTM ganhou cursos de pós graduação, programas de pesquisa e residência médica, angrariando respeito e prestígio dentro da comunidade científica brasileira e internacional. A partir do final dos anos 1980, novos cursos de graduação e pós graduação foram abertos na área de saúde. Em 2005, durante o governo do presidente Lula, a FMTM foi enfim transformada em uma Universidade Federal.

(André Borges Lopes / Uma primeira versão desse texto foi publicada na coluna Binóculo Reverso do Jornal de Uberaba em 08/12/2019)


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Nasci

Sempre desejei nascer.

Antes de ser, já queria ser.

Apesar dos anticoncepcionais da auto-censura, nasci.

Sou um pensamento-neném, precocemente envelhecido.

Sinto-me umedecido pelo líquido amniótico que me envolvia
no ventre cefálico que me gerou.

Nasci mutilado, revoltado. Rebelde, contraditório.

Rebelde, cortei a linha que me amarrava ao útero materno,
na escuridão indecisa e morna de uma eterna e segura dependência, e rumei para a insegurança, para o mistério, para a dúvida.

Nasci. Mas tive vergonha de ser um pensamento nu.

Procurei vestir-me com a roupagem fosforescente da palavra.

Passei do mundo incolor da abstração ao mundo acariciante do som e da cor. Por fatalidade fui um mal nascido.

Nasci plebeu, sem genealogia histórica e sem linha.

Nasci rebelde.

Detesto linhas que prendem.

Odeio qualquer palavra que destile opressão e limite.

Há linhas que prendem, oprimem e escravizam.

Odeio a linha que prende o peixe livre das grandes águas.

A linha que amarra a pipa livre no vasto céu.

A linha fria de aço que segura o trem
e o submete a um destino marcado e sem opções.
A linha que amarra o navio ao cais
e lhe nega o perigo da viagem.

A linha gráfica que encurrala o espaço indefinido na dimensão
da figura. A linha mentirosamente azul
que fecha o horizonte, num círculo. A linha luminosamente reta
que prende a estrela a meus olhos e a torna meu objeto.

Odeio linhas moralísticas que cindem dogmaticamente o certo
e o errado.

As linhas friamente lógicas
que dividem a verdade e o erro. As linhas freneticamente
subjetivas que separam o belo e o feio.

Tenho nojo das linhas que escravizam o homem livre
aos padrões ideológicos ou sociais.

Detesto linhas. Odeio limites.

Adoro o infinito, o intangível, o inacessível, o inefável.

Nasci rebelde e iconoclasta. Meu prazer é quebrar ídolos.

Gosto de estuprar virgens tradicionais. Violentar certezas absolutas. Amo as defenestrações. Adoro engravidar formas novas.

O novo me fascina.

Por fatalidade nasci precocemente envelhecido.

Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.

Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas e envelhecidas.

Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.

Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.

Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a aurora
e pare apenas uma candeia bruxuleante.

A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.

"Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.

Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.

A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.

Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.

Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.

Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.
Quero-me livre mas sinto-me algemado.

Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.

Sou eu, e não sou eu.

Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.

Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.

Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.

Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.


( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)


Cidade de Uberaba

domingo, 7 de abril de 2019

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino

Turma de Jornalismo, Julho 1979, pela FISTA - Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino - Uberaba-MG
Carmen Gimenez, Antonio Carlos Marques, Maurílio Modesto, Carolina Cançado Ratto Mendonça, Dedê Melo Prais, Vera Lúcia Rezende Cunha, Ana Teresa Rodrigues Nascimento, Mario Salvador, Virgínia Borges Palmerston e Paulo Lemos de Oliveira.  (Foto do acervo da jornalista Ana Luíza Brasil.)

Relembrando a comemoração dos nossos 10 anos de formados, em julho de 1989, acompanhados de alguns dos nossos queridos professores e homenageados. Estamos na mira dos nossos 40 Anos em Julho de 2019...

(Jornalista Ana Luíza Brasil)


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE UBERABA (UNIUBE)

Conheça a história
A história da Universidade de Uberaba, Instituição sem fins lucrativos, mantida pela Sociedade Educacional Uberabense, remonta ao ano de 1940, quando Mário Palmério funda o Lyceu do Triângulo Mineiro, com sede, inicialmente, na Rua Manoel Borges. Com essa iniciativa, o educador dava os primeiros passos na direção de um projeto muito mais ousado: dotar a pacata Uberaba da época, de uma escola voltada para a oferta do ensino superior.
Até que a ideia se transformasse em realidade, Mário Palmério pôs em prática outras duas ações. Transferiu a sede do Lyceu, mais tarde chamado de Colégio Triângulo Mineiro, para um conjunto de edifícios onde, hoje, funciona o Campus Centro e criou a Escola Técnica de Comércio do Triângulo Mineiro.
Em 1947 o governo federal autorizou a abertura da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro. Em menos de dez anos, outras duas escolas entraram em funcionamento: a Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, em 1951, e a escola de Engenharia do Triângulo Mineiro, em 1956. Uberaba, então, passa a se projetar também em razão de sua importante estrutura, voltada para o ensino superior, privilégio de poucas cidades mineiras, no início dos anos 50. Junto com essas importantes conquistas, veio a necessidade de expansão da estrutura física. Por isso, em 1976, começou a funcionar o Campus Aeroporto, instalado na Avenida Nenê Sabino.
NOVA ESTRUTURA
No ano de 1972, as faculdades isoladas se uniram em uma única sigla, FIUBE, Faculdades Integradas de Uberaba, essa mudança possibilitou no ano seguinte a criação dos cursos de Educação Física, Psicologia, Pedagogia, Estudos Sociais e Comunicação Social. A então FIUBE, concretizou uma parceria no ano de 1981 com a FISTA, Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino, a partir dessa união foram incorporados os cursos de Letras, Filosofia, História, Geografia, Estudos Sociais, Ciências (Química, Matemática e Biologia), Pedagogia (Supervisão Escolar nas escolas de 1º e 2º graus, Orientação Educacional, Administração Escolar) e a habilitação em Jornalismo, do curso de Comunicação Social.
O reconhecimento como Universidade de Uberaba veio em 1988, pelo Ministério da Educação, isso deu a instituição autonomia para a criação de novos cursos e a Universidade de Uberaba pode então oferecer as graduações em Engenharia Agrícola, Tecnologia em Processamento de Dados, Administração, Engenharia Elétrica, Arquitetura e Urbanismo e o de Ciências Econômicas, além de mais duas habilitações no curso de Pedagogia: Magistério das séries iniciais do 1º grau e Pré-Escolar.
No ano de 1997 a Uniube deu um importante passo para a área da saúde. Por decisão do Conselho Universitário, foram criados os cursos de Medicina, Farmácia Industrial, Biomedicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Terapia Ocupacional e Medicina Veterinária. A implantação desse último é resultado de uma parceria com a ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e a FAZU – Faculdade de Agronomia e Zootecnia de Uberaba, onde funciona o Hospital Veterinário. Um ano depois, o Conselho autorizou a abertura do curso de Enfermagem.
PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
Em 1997 a Universidade passou a ofertar o programa de pós-graduação, o Mestrado em Ciências de Valores Humanos e o Mestrado em Educação e especializações em diversas áreas. A Universidade de Uberaba está credenciada como Instituição de pesquisa junto ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e possui projetos aprovados pela Fapemig – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais e pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, além de outros organismos de fomento.
NOVA ESTRUTURA
Mudanças estruturais físicas e humanas foram colocadas em prática no ano de 1997, dentre elas, atualização de currículos, qualificação do corpo docente, contratação de mestres e doutores, qualificação dos profissionais da casa, construção de novos prédios, uma moderna biblioteca e a implantação de laboratórios de vanguarda que dão, até hoje, suporte ao aprendizado prático dos alunos. Em 2000, a Universidade de Uberaba colocou em funcionamento o seu Programa de Educação a Distância – EAD integrado ao Instituto de Formação de Educadores, oferecendo, inicialmente, especialização em Cafeicultura Irrigada.
PROGRAMAS DE APOIO
A comunidade acadêmica da Universidade de Uberaba conta com vários programas de apoio, criados para dar suporte as atividades de docentes e discentes. Funcionam os programas de Tutoria, Iniciação Científica, Apoio à Pesquisa, Monitoria e o PAE -Plano de Atenção ao Estudante – que oferece ao universitário, assistência jurídica, atendimentos nas áreas de Odontologia, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Biomedicina, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Farmácia Industrial.
Fonte:Universidade de Uberaba (UNIUBE)