domingo, 19 de maio de 2019

A primeira Escola Normal (1881-1928)

A Escola Normal Oficial de Uberaba, como foi chamada inicialmente a Escola Castelo Branco, foi criada pela lei mineira nº 2.783, de 22 de setembro de 1881, e instalada em 12 de julho de 1882. Na época, era dirigida pelo Major Joaquim de Oliveira Pena (o Senador Pena).

A Escola resistiu à transição entre o Regime Monárquico e a República no Brasil, mas foi fechada no ano de 1905.

A segunda escola normal passou a funcionar no prédio do Lyceu de Artes e Ofícios, durante o ano de 1928. A escola cresceu, mas foi suprimida em 1938 “por motivos de economia”, durante o governo do Sr. Benedito Valadares, quando já contava com centenas de alunos.

Os esforços pela volta da única instituição normalista da cidade resultaram dez anos mais tarde, em 1948, nas gestões do governador Milton Campos, e do prefeito de Uberaba Boulanger Pucci, quando, finalmente, em 31 de agosto, é reinaugurada a Escola Normal e Ginásio Estadual de Uberaba. A partir daí, a Escola segue uma trajetória de sucessos que se segue até os dias atuais.

Inaugura-se a nova sede da Escola, à rua Coronel Manoel Borges, 35 (Centro). Sua inauguração foi marcada pela presença do Secretário de Educação, Dr. Abgar Renaut. Nesta época, a escola foi dirigida pelo Professor Leôncio Ferreira do Amaral, um conceituado e exemplar técnico em educação do estado de Minas Gerais.

1952-1959: Os problemas estruturais, a nova sede e o atraso nas construções

Até o final da década de 40, a escola crescia e o prédio em que estava instalada já não mais comportava a grande quantidade de alunos.

No início da década de 50, a Escola sofreu risco de ser fechada devido à superlotação. O então governador Juscelino Kubitschek, em visita a cidade de Uberaba, conhece a Escola Normal e face à situação que presenciou naquele local e perante à solicitações do diretor e um grupo de alunas, determinou que fosse arrendado um terreno para a construção da nova sede.

Os moradores do bairro Estados Unidos manifestaram-se publicamente várias vezes (inclusive criando abaixo-assinados) pela construção da nova sede na confluência entre as ruas Padre Leandro, Padre Zeferino e XV de Novembro. Esta área arborizada de 6.800 m² foi comprada pelo governo estadual para a construção da sede. Ficou encarregado o arquiteto Oscar Niemeyer do projeto arquitetônico do prédio. A obra iniciava-se em 1952, mas acabara paralisada no ano seguinte, por falta de recursos. A planta seguia o projeto de várias outras escolas que haviam sido instaladas no país anteriormente.

Enquanto isto, os discentes e docentes da Escola continuavam a ter aulas no prédio antigo, que estava condenado, cientes do início iminente da obra. No ano de 1958, o telhado de algumas salas instaladas no fundo daquele prédio cedeu, quase atingindo um professor que por lá passava. A situação alarmante em que se encontrava a sede antiga exigiu medidas rápidas: o governador Bias Fortes ordenou a continuação imediata da construção poucos dias depois.

Houve, no entanto, uma fuga do projeto original. Dado o reinício das obras, a perda de contato com Niemeyer, engajado na obra de construção da cidade de Brasília, a necessidade de se terminar rapidamente as obras e o aumento rápido de alunos na Escola contribuíram para a decisão de não seguir o projeto original. Espaços do projeto original (anfiteatros e laboratórios) foram convertidos em salas de aula. Posteriormente, foram repartidos para outros usos. O segundo bloco do projeto, um grande auditório, foi deixado para trás. No seu lugar foi construído outro bloco de salas de aula e outras dependências. Os demais espaços da Escola foram posteriormente repartidos ou passaram a ter outras finalidades. O segundo pavilhão só seria realmente edificado e entregue na década de 70.

Finalmente, em 12 de março de 1959, a Escola se transferia para o novo prédio (ainda inacabado), situado à Rua Padre Leandro, nº 121, Bairro Estados Unidos, onde está instalada até os dias atuais. O significado final do projeto, da forma com a qual ficou reconhecido baseia-se na ideia de que a estrutura do primeiro pavilhão simboliza um quadro-negro; a rampa que dá acesso ao segundo pavimento, representando um apagador. A cobertura de carros, na entrada da escola, um mata-borrão; e a caixa d'água, aos fundos da escola, um giz (apesar de ela ter sido construída décadas depois).

 Formatura da 4º ano, na Escola Normal em 1958, com o professor Leôncio, diretor. Foto do acervo pessoal de Rose Mesquita.

O Professor Leôncio fora destacado, em 1958, à dirigir o Instituto de Educação de Minas Gerais, sediado em Belo Horizonte. Em seu lugar assume o Dr. Paulo Pontes. Em 1 de maio de 1959, a população uberabense quis homenagear o ex-diretor pela expansão da instituição e seu método de educação, acrescendo ao nome da escola, o seu nome: Escola Normal Oficial Professor Leôncio Ferreira do Amaral. No ano seguinte e a seu pedido, a Secretaria de Educação a exoneração do cargo de diretor do IEMG, voltando a fazer suas funções antigas como diretor da Escola Normal.

Foto da Escola Normal - Rampa do prédio novo, década de 1950. Foto do acervo pessoal de Rose Mesquita.

O significado do projeto, que ficou marcado na história da escola, foi como o primeiro pavilhão original, representando o quadro negro; a rampa, que dá acesso ao segundo andar, representa o apagador; O arco na portaria da escola, o mata-borrão; e a caixa d’água, nos fundos da escola, o giz (apesar de ela ter sido construída décadas depois).

1968-1973: Crise na Administração

O Professor Leôncio teve sua identidade abalada nesta década. Ele fora acusado de envolvimento na falsificação de diplomas, adulteração de notas, desvio de verbas da instituição e atentados ao pudor. A Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais afastou-o do seu cargo, o que o fez, além de perder o emprego e remuneração, também recebesse a humilhação da população uberabense. Alguns alunos e comunidade continuaram a visitá-lo e apoiá-lo no processo contra o estado. Delegados, juízes, padres e membros do exército saíram em sua defesa. 

Nesta época ocorre mais uma alteração no nome da Escola: A portaria nº 340, de 10 de outubro de 1968, eleva a instituição à Colégio Estadual Professor Leôncio Ferreira do Amaral.

Em 12 de maio de 1970, o Professor Leôncio era demitido do cargo na direção da Escola, mesmo recorrendo de tal. No dia seguinte, nomeado no Diário Oficial de Minas Gerais, assumia a direção da escola o Professor José Thomaz da Silva Sobrinho. Somente em 1973, a justiça determinou que a acusação contra o diretor era falsa. O professor Leôncio fora ressarcido por danos morais, reintegrado nas suas funções e imediatamente aposentado por idade.

1970: O novo nome e a nova gestão

Conjuntamente à mudança definitiva no Corpo Dirigente da Escola, seu nome também foi mudado: O decreto estadual nº 12.866 mudava, em 31 de julho de 1970, o nome da instituição, de Colégio Estadual Professor Leôncio Ferreira do Amaral, para “Colégio Estadual Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco” , em homenagem ao presidente da República. Logo depois, 1974, em virtude da abolição dos colégios no estado de Minas Gerais, o nome é alterado para Escola Estadual Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, vigente até os dias atuais.

Ainda no início da administração do Professor José Thomaz, foi desapropriada uma área de 1707 m², situado à Rua Padre Zeferino, s/nº, para futuras ampliações da escola. A área hoje compreende um grande ginásio, quadras esportivas, vestiários e local de armazenamento de itens para Educação Física.

Dias atuais: Uma trilha contínua de sucessos

Nos dias atuais, a Escola Castelo Branco posiciona-se entre as mais conceituadas e qualitativas escolas públicas de Uberaba. Apesar de dificuldades sofridas, a escola mantém uma categoria de destaque.

Em 1992 foi desenhado o primeiro molde do logotipo da Escola, no formato de triângulo de Penrose.

Em 1998, a Escola Castelo Branco completava 50 anos de vida, com uma homenagem muito especial de alunos e professores.

No ano de 2005, era lançado o Tecendo a Palavra: o Tecendo desta vez era anual, diferentemente do antigo O Estadual, é feito em colaboração com professores de Português, professores do Uso da Biblioteca e outros docentes das demais áreas, incluindo a Equipe Dirigente da escola. O jornal tem como intenção mostrar todas as atividades e projetos desenvolvidos pelos professores e alunos durante o ano letivo.

Em 2013, os alunos Nícolas de Oliveira e Julia Campos são reconhecidos internacionalmente com o prêmio NASA/Cassini Cientista por um dia(Scientist for a day)

Nosso compromisso com o futuro nos torna gigantes para dar cada vez mais passos adiante, procurando uma educação inovadora e qualitativa, para formar adultos civilizados, inteligentes e preparados.



Hino da Escola


Hino da Escola Castelo Branco

Caminheiros da nobre jornada
Das conquistas em prol do saber,
Pouco importam espinhos na estrada
Se sabemos cumprir o dever.

Contra o erro que a treva acorberta
Se levante o farol da instrução.
Numa esteira de luz sempre aberta
Aos que cegos, sem rumo, se vão.

Seja, assim, nesta casa querida
Que se forme nossa alma inda em flor,
Pra batalha incessante, renhida,
Na missão de ensinar com amor.

Combatentes do santo combate,
Sempre viva tenhamos a fé
Do heroísmo que nunca se abate,
Pela Pátria lutando, de pé!


Música: Maestro Renato Frateschi
Letra: Prof. Santino Gomes de Mattos




Endereço: R. Padre Leandro, 121 - Estados Unidos, Uberaba - MG, 38015-340

Fundação: 7 de setembro de 1992

Diretor(a): José Augusto da Silva Queiroz

Vice-diretor(a): Marcia (matutino) Maria de Lourdes Leandro Rocha (vespertino)

Lema: Educar é um ato de coragem, esperança e amor



Fonte: Escola Estadual Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco


Cidade de Uberaba

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Resenha esportiva no Restaurante Bons Tempos

 Restaurante Bons Tempos. Foto: Waldir Kikuichi.

Nesta segunda-feira (13) de maio de 2019. Sob o comando de Manuel Zaidan O Audaz. Os craques de futebol do passado se reúnem para falarem do atual... que tristeza. Carlinhos Babão, Tinoco, Saraiva, Luiz Cecilio, João Carlos Sapucaia e Normandes Lima sob a análise de Claudio Zaidan, Carlos Ticha e David Augusto.

(Waldir Kikuichi)


Diversos pratos caseiros, além de cervejas e música, em casinha com varanda e decoração que remete ao passado.

Telefone: (34) 3316-1513


Cardápio: restaurantebonstempos.com.br

Pedido: ifood.com.br

Endereço: Av. Alberto Martins Fontoura Borges, 164 - São Benedito, Uberaba - MG, 38022-070



Cidade de Uberaba


PRIMEIROS PROFESSORES DO GRUPO ESCOLAR DE UBERABA 1909 – 1918

Francisco de Mello Franco, diretor, casado com dona Marcilieta Campos,também
 professora no GEU – Grupo Estadual de Uberaba, Maria Julieta, Maria Carmilieta.
São meus tios-avós. As professoras eram irmãs de minha avó, Marieta Campos Bicalho, mãe de minha mãe, Adalgisa Bicalho de Abreu Chagas.

 (Foto do acervo pessoal de Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas)


Hoje, Escola Estadual Brasil, na Praça. Comendador Quintino. Foto/reprodução.



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Cidade de Uberaba





RELEASE - LANÇAMENTO DE LIVROS.

A Academia de Letras do Triângulo Mineiro informa que no dia 07/06 - 19:30h - em Uberaba ocorrerá o lançamento simultâneo de duas obras literárias voltadas ao público infantil, escritas pelos autores: Hildebrando Pontes Neto. Título: "O velho carrossel" e Alessandra Pontes Roscoe. Título: "A árvore voadora".

Ambos os escritores, ele advogado e ela jornalista, têm na bagagem a publicação de vários livros infantis, além de proferir palestras pelo Brasil afora.

Será um evento histórico porque, ele é neto e ela bisneta do nosso ícone historiador Hildebrando Pontes (1879-1940).

Data:07/06/2019.

Horário: 19:30h

Local: Centro Cultural Cecília Palmério - Av. Guilherme Ferreira, 217-Uberaba/MG.

OBS: entrada franca.

Hildebrando Neto e Alessandra cumprirão extensa programação em Uberaba, culminando com uma palestra no dia 08/06 - 9:30h na Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Dentre as atividades dos nobres escritores em Uberaba, constarão:

- Visita ao Arquivo Público, onde deverá ocorrer a designação do nome daquela instituição - "Arquivo Público Municipal Hildebrando Pontes"

- Visita à Escola Estadual Hildebrando Pontes.

- Visita ao Sr. Prefeito Municipal.

- Visitas a jornais, rádios e TV.


João Eurípedes Sabino
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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Cidade de Uberaba

MORTE POR ASSALTO.

Infelizmente minha querida Uberaba tem se projetado no cenário nacional e mundial devido à ausência de alguns fatores que a colocam em evidência. A falta de segurança é um deles valendo dizer que o Triângulo Mineiro não é tratado pelo poder central com a importância que merece. Estamos numa região entre São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais propriamente dita. Tudo que é escória entrante Brasil afora, primeiro passa por Uberaba e depois dissemina para as demais regiões Brasil acima. Até quando Minas Gerais? Até quando Brasil?

José Guillermo Hetnández Aponte. Foto/reprodução.
A morte por assalto do colombiano e pecuarista José Guillermo Hetnández Aponte é mais do que eloquente para exigirmos das autoridades da Segurança Pública; municipais, estatuais e federais, providências preventivas em Uberaba e região! Nos 100 anos da ABCZ ela ganha três “presentes”: ausência do Presidente da República, descaso do Governador e a morte por assalto de um ilustre visitante. Você, ABCZ e Uberaba, não mereciam um presente “melhor”? 

Envergonhado peço desculpas pela parte que me toca como uberabense. O presidente da ABCZ Arnaldo Manoel de Sousa Machado Borges, escorreito por excelência, e sua dedicada 
diretoria não merecem esse infausto acontecimento. Todavia, solidarizamos com eles nesse momento de luto. 

João Eurípedes Sabino-Uberaba/Minas Gerais/Brasil. 
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.Escritor.



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Cidade de Uberaba

domingo, 28 de abril de 2019

INSTITUTO ZOOTÉCNICO, NOSSA PRIMEIRA FACULDADE

Em agosto de 1892, o governo de Minas Gerais aprovou na Câmara Legislativa uma ampla proposta de reforma no sistema público de ensino no estado. Nos debates desse projeto, o deputado uberabense Alexandre Barbosa e dois colegas incluíram no texto da “Lei nº 41” a sugestão de abertura de duas escolas de ensino superior no estado: um Instituto Zootécnico em Uberaba e um Instituto de Agronomia na cidade de Leopoldina.

A montagem de uma escola que formasse técnicos especialistas em atividades pastoris era um antigo anseio da população do Triângulo Mineiro, num momento em que as atividades agrícolas e a criação de gado zebu ganhava espaço. A criação desse instituto que, pela legislação da época, seria equivalente a um curso superior recebeu amplo apoio na imprensa local. Em 1892, o jornal Correio Católico explicava: “O Instituto Zootécnico viria a ser um abundante foco de luz que regenerará a industria pastoril nesta região. Nesse Instituto serão criados animais de raça, que irão melhorar a criação já existente: aí se estudarão as enfermidades do gado, o meio de curá-las. Aí se aplicarão os processos necessários para a utilização mais econômica e rendosa dos produtos da industria pastoril”.

Aprovada a Lei, era preciso que a cidade arranjasse um local para montar a escola. Decidiu-se que o Instituto Zootécnico seria montado na antiga Chácara Boa Vista, situada a pouco menos de três quilômetros do centro da cidade, próximo de onde o Córrego das Lages desagua no Rio Uberaba. Essa propriedade havia pertencido ao sargento mor (mais tarde promovido a major) Antônio Estáquio, o fundador de Uberaba, que lá morou antes de transferir-se para uma outra casa na atual praça Rui Barbosa. Tinha uma área com cerca de 100 alqueires onde, décadas mais tarde, funcionaram a Fazenda Modelo e a Epamig.

A fazenda foi desapropriada e o governo estadual indicou e contratou os professores – alguns dos quais trazidos do exterior. Um antigo casarão colonial que servia de sede (não se sabe se era a casa original do major Eustáquio) foi reformado para receber salas de aula e laboratórios. A direção ficou inicialmente a cargo do engenheiro agrônomo Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho, mais tarde sucedido pelo professor alemão Frederico Maurício Draenert, que fora trazido da Bahia para lecionar no Instituto.

No dia 5 de agosto de 1895, o Instituto abriu as portas para uma turma de 21 alunos. Uberaba, uma cidade que não tinha nem 10 mil habitantes na área urbana, estava orgulhosa de ter sua primeira faculdade. Por meio de provas escritas, foi feita a seleção dos candidatos às poucas vagas, entre jovens com mais de 15 anos que apresentassem “certidão de aprovação em português, francês, história e geografia geral e do Brasil, matemática elementar e noções de cosmografia”, conforme previam as regras do seu regulamento interno. O curso era ministrado em período integral: os alunos entravam às 9:00, tinham aulas teóricas de manhã e aulas práticas no turno da tarde até por volta das 16:00.

A escola era relativamente longe do centro, o que obrigava alunos e professores a longas caminhadas diárias – já que não havia muitas opções de transporte. Mas, pelo que se lê dos relatos da época, essa foi a menor das dificuldades enfrentada. Desde o início, o funcionamento da nova escola enfrentou percalços e dificuldades financeiras. Havia poucos animais disponíveis para os estudos e o governo atrasava frequentemente o pagamento dos fornecedores. Também aconteceram alguns problemas administrativos e divergências sérias entre alunos e professores.

Aos trancos e barrancos, três anos depois, o Instituto formou sua primeira – e única – turma de engenheiros agrônomos. Oito alunos concluíram o curso: os irmãos José Maria e Fidélis Gonçalves dos Reis, Militino Pinto de Carvalho, Hildebrando de Araújo Pontes, Delcides de Carvalho, Otávio Teixeira de Paiva, Luiz Ignácio de Sousa Lima e Gabriel Laurindo de Paiva. Segundo o jornal Gazeta de Uberaba, tratava-se de “uma plêiade de moços estudiosos, auxiliados por mestres dedicados da ciência agrícola”. Boa parte deles deixou seu nome imortalizado na história de Uberaba.

As dificuldades financeiras do Instituto decorriam de uma grave crise fiscal por que passava Minas Gerais. Em outubro de 1898, antes que houvesse uma segunda turma, o novo presidente do estado, Silviano Brandão, suspendeu por tempo indeterminado as atividades da escola. Que nunca mais reabriu, para o desalento dos habitantes de Uberaba.


(André Borges Lopes)


Cidade de Uberaba

O RUMOROSO CASO DE UM MÉDICO


Há quase um século, no dia 6 de junho de 1919, a cidade de Uberaba aparecia em alguns jornais do Rio de Janeiro – entre eles o prestigioso diário “A Noite” – trazendo uma notícia escabrosa: “Um médico conhecido maltrata horrivelmente uma mulher”. Segundo as publicações, um respeitado médico da cidade mineira havia cometido barbaridades contra uma mulher, com a qual teria uma relação não oficial: uma “amásia” no jargão da época. Dizia o texto que o médico “levou a amásia para o campo onde, depois de mandar espancá-la pelo seu camarada, lhe cortou os cabelos jogando-lhe piche sobre a cabeça. Abandonou-a em seguida. A vítima arrastou-se desse lugar ermo até a cidade, em mísero estado, apresentando-se às autoridades policiais, que lavraram auto de corpo de delito”.

A terrível acusação recaia sobre um cidadão respeitável e famoso: Dr. João Teixeira Álvares, natural de Goiás, formado em medicina no Rio de Janeiro em 1885 e, na época do escândalo, já por volta dos seus 60 anos de idade. Dr. João Teixeira tinha um histórico de trabalho em pediatria e puericultura na capital federal, e clinicava em Uberaba desde o final do século XIX. Em 1905, aproveitando-se da inauguração da luz elétrica na cidade, havia aberto uma avançada clínica de “Hidroterapia, Eletricidade e Massagem”. Um depoimento seu era usado para ilustrar em jornais do país anúncios publicitários do remédio “Fluxosedatina”, produzido por uma farmácia carioca, empregado no tratamento de problemas menstruais. Segundo o Almanack Laemert, residia em um palacete na rua Artur Machado nº 47 e possuía a Casa de Saúde Nossa Senhora de Lourdes, na rua João Pinheiro.

Mas o Dr. Teixeira não era apenas médico, também era escritor e jornalista. Editava, desde o início da década de 1910, a revista católica “Jesus Cristo”. Por volta de 1911, montara um jornal de nome “Aiglon” junto com Antônio Batalha. Dois anos depois, lançou uma revista semanal em grande formato – a “Brasil Central” – feita em parceria com o jornalista Moyses Santana e o monsenhor Inácio Xavier da Silva. Também escrevera livros: a tragédia “Eleusa” e o romance histórico “Montezuma”, além de dramas bíblicos e trabalhos científicos na área de medicina. Ostentando esses predicados, em janeiro de 1914, Dr. João Teixeira arriscou sem sucesso uma candidatura à Academia Brasileira de Letras – escrevendo pessoalmente uma carta aos demais imortais, onde sugeria seu próprio nome para uma vaga recém aberta.

Outra área onde o médico se destacava era a religião. Católico fervoroso e admirador de Nossa Senhora de Lourdes, tinha em seu palacete uberabense uma capela dedicada à sua santa de devoção. Proferia também palestras sobre os milagrosos poderes curativos das águas de Lourdes e era figura conhecida nos congressos eucarísticos. Em 1915, foi fundador e passou a presidir o Círculo Católico Uberabense. Montou em seu casarão um cinema particular, no qual exibia para os jovens películas sacras, como forma de livrá-los do vício e das influências perniciosas do cinema comercial.

No terreno da religião, comprou brigas com os kardecistas, acusando os médiuns de serem portadores de severos transtornos mentais, postulação que contava com o apoio do famoso psiquiatra paulista Dr. Franco da Rocha. Investiu também contra os protestantes e não poupou sequer os irmãos dominicanos franceses de Uberaba, a quem acusava de indisciplina e de ter uma influência perniciosa nos destinos da cidade. Nessa briga, teve ao seu lado o primeiro bispo uberabense, Dom Eduardo Duarte e Silva.

Não era o a primeira polêmica envolvendo o médico mas, com tanto renome, títulos, amigos influentes e aliados poderosos, não surpreende que a acusação da amásia agredida – de quem não sabemos sequer o nome – tenha sumido sem maiores repercussões ou consequências legais, além do escândalo momentâneo. Não encontramos uma única notícia de decorrências do fato na imprensa local ou em jornais de fora. Não há sinal de que o rumoroso caso tenha gerado um processo ou ido a julgamento. Dr. João Teixeira seguiu inabalável em sua carreira de sucesso e manteve-se na presidência do Círculo Católico de Uberaba. Na década de 1930, foi fundador e e presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Uberaba. 

A “amásia agredida” e suas terríveis acusações – verdadeiras ou falsas – sumiu na poeira do tempo, como era usual ocorrer naqueles tempos com mulheres que ousavam afrontar homens poderosos acima de qualquer suspeita.


(André Borges Lopes)


Cidade de Uberaba

ZEBUS NO QUINTAL DO BISPO

Dentro de um mês, Uberaba estará novamente às voltas com o seu grande evento anual. No dia 27 de abril será aberta a 85ª ExpoZebu que, este ano, tem uma atração extra: os criadores de gado indiano comemoram o centenário da fundação da “Herd Book Zebu”, a primeira associação fundada no País para apoiar o trabalho de seleção genética dos bovinos que foram buscados no outro lado do mundo para revolucionar a pecuária brasileira.

Funcionando desde 1941 no Parque Fernando Costa, pouca gente têm conhecimento de que a que os primeiras feiras de gado realizadas em Uberaba nem de longe dispunham de instalações adequadas. Em 1911, a exposição pioneira foi montada em pavilhões temporários, construídos pelo engenheiro Francisco Palmério (pai do escritor Mário Palmério) no antigo “Prado de São Benedito”, uma pista de corridas de cavalos que existiu até a década de 1950 num terreno entre a atual Estação Rodoviária e a avenida Fernando Costa.

Nas décadas seguintes, aconteceram exposições esporádicas, sem local fixo. Algumas foram feitas no Prado, outras no antigo “Largo da Misericórdia: um descampado que havia entre o Colégio N. Senhora das Dores e o antigo prédio do hospital Santa Casa de Misericórdia – onde mais tarde foi feito o Uberaba Tênis Clube. Em 1934, a grande “Exposição-Feira Agro Pecuária do Triângulo Mineiro”, realizada com apoio da prefeitura, ocupou o novo prédio (ainda em obras) da Santa Casa e seu quintal, onde hoje existe o Hospital Escola da UFTM.

Primeira sede da Sociedade Rural de Uberaba do Triângulo Mineiro. Rua: São Sebastião,259 - Década:1930. Foto/Acervo: Museu do Zebu.
Foi durante a exposição de 1934 que os pecuaristas da região decidiram montar uma nova associação para substituir a Herd Book Zebu. Sob a liderança do agrônomo Fidélis Reis, foi fundada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro que, três décadas mais tarde, daria origem à ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Conhecida pela população como “a Rural”, a SRTM assumiu o compromisso de realizar todos os anos uma exposição de gado na nossa cidade. Começou aí a tradição dos certames anuais, que logo se transformaram em um dos mais importantes eventos do sector agropecuário brasileiro.

Tendo que montar uma exposição por ano, a SRTM cuidou de arranjar um local apropriado, que acomodasse as feiras de modo permanente. Como a entidade não tinha sede própria, a diretoria conseguiu um terreno na Rua São Sebastião, a menos de dois quarteirões da catedral, onde ergueu provisoriamente um galpão com uma portaria em traços “art déco”, estilo em moda na época. Esse terreno (onde hoje está o edifício São Gerônimo) tinha uma vantagem: a parte traseira se comunicava com uma chácara, que se estendia por todo o terreno entre a rua Major Eustáquio e o córrego da Manteiga, sobre o qual surgiu mais tarde a Av. Santos Dumont. Uma inusitada área rural, a poucos metros da praça da Matriz, loteada a partir dos anos 1950 para dar origem às ruas Antônio Carlos e Getúlio Guaritá.

Nessa chácara, a SRTM mandou construir dez currais cobertos, que abrigavam os animais durante as exposições. Ficavam logo atrás do grande palacete que, poucos anos antes, havia sido comprado pela Cúria Metropolitana para servir de residência ao Bispo de Uberaba. Dai surgiu a expressão de que as exposições eram realizadas “no quintal do bispo”. Há uma foto, feita dos fundos da SRTM, onde se vê os currais quadrados – feitos de madeira, cobertos com telhas francesas – e, no alto do morro do outro lado do córrego da Manteiga, os antigos prédios do Colégio Diocesano.

O local acomodou seis exposições entre 1935 e 1940 era muito limitado para as pretensões de um evento, que crescia ano após ano. Ao final de cada dia, os animais precisavam ser retirados dos currais e levados para fazendas nas imediações da cidade, retornando na manhã seguinte. Pode-se imaginar o transtorno das boiadas cruzando a área central da cidade. Além do mais, faltava espaço para os estandes comerciais e de diversões, que haviam deixado boas lembranças nas exposições de 1911 e 1934. Por isso, todos se animaram quando o Fernando Costa – então ministro da Agricultura do governo Getúlio Vargas – sugeriu que fosse construído um novo parque de exposições em Uberaba, que acabou ganhando seu nome. Essa e outras curiosidades estarão no livro “ABCZ – 100 anos de história”, de autoria de Maria Antonieta Borges Lopes e Eliane Marquez de Rezende, que será lançado no dia 25 de abril, dentro das comemorações do centenário.


(André Borges Lopes) 

Cidade de Uberaba

Edgard Rodrigues da Cunha. O Advogado e o Mestre do Direito

A tecnologia atual, avançada, amenizou a importância da memória, mas certa desconfiança do que foi escrito ainda permanece. Entretanto, podemos afirmar que o que sobrou do passado foi a memória. A sua reabilitação como fonte parece ser a tônica da cultura historiográfica (cotidiano, realizações, construções, mentalidades inovadoras, crenças e outros). Segundo um autor, quando “o futuro frustra, o passado reconforta”. Neste cenário a preocupação da sociedade atual em pesquisar, procurar, reativar, revitalizar e recompor as origens, as raízes e as realizações de seus antepassados tem enriquecido a nossa história da formação e da nossa estruturação”

ELIANE MENDONÇA MARQUEZ DE RESENDE

Formação e Exercício Profissional

Edgard Rodrigues da Cunha nasceu na fazenda Cruz, situada no município de Uberaba, em 28 de abril de 1911, filho de Gustavo Rodrigues da Cunha e Maria Carmelita de Castro Cunha.

A primeira parte de sua infância transcorreu em Uberaba, indo posteriormente, com a separação dos pais e acompanhando sua mãe, residir na fazenda dos avós maternos, no município de Uberlândia.

Em 1924, com a reconciliação dos pais, voltou a Uberaba, residindo onde é hoje o Manhattan Shopping.

Realizou os cursos Primário e Ginasial no Colégio Marista Diocesano de Uberaba, finalizados, sendo coroado como orador da turma de 1930.

Formou-se em Direito, no Rio de Janeiro, em 1935, sendo contemporâneo e convivendo na então capital da República com os primos Afrânio e José Humberto Rodrigues da Cunha.

Edgar Rodrigues da Cunha

Formado, voltou a Uberaba, lançando-se no exercício profissional em época em que advogavam na cidade grandes nomes das Ciências Jurídicas, como José Mendonça, Aristides Cunha Campos, Lauro Fontoura, José de Sousa Prata e outros.

Por coincidência, instalou sua residência e escritório em frente à casa de José Mendonça, na rua Segismundo Mendes.

Paralelamente ao exercício da advocacia, dedicou-se ao Magistério, lecionando na hoje legendária Escola Normal Oficial de Uberaba, instalada na cidade em 1882.

Destacou-se na advocacia na segunda metade da década de 1940, em defesa de dezenas de pecuaristas vitimados pela queda dos preços do gado zebu, em 1945.

Durante 20 (vinte) anos lecionou uma das disciplinas de Direito Civil na Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, fundada por Mário Palmério em 1952, colhendo, por seu desempenho magisterial e científico, homenagens como paraninfo, patrono e homenageado especial por diversas turmas de formandos.

Casou-se em 1942 com Maria Júlia Junqueira, que havia cursado até o terceiro ano de Direito e lhe deu valioso apoio. Tiveram cinco filhos.

Pai e Companheiro

Falar de um pai tão presente, de um homem de múltiplas facetas, não é tarefa fácil! Relembrar uma vida tão intensa em atividades e tão densa em realizações!

Pai atuante na sociedade, mas nem por isto distante! Enérgico sim, mas carinhoso à sua maneira. Pai presente em todos os momentos bons ou ruins de nossas vidas! 

Pai orgulhoso de nossos feitos e das conquistas da cidade que tanto amou! Um homem à frente de seu tempo!

Sua visão de mundo nos deixava admirados. Com ele aprendemos a enxergar fronteiras distantes, a desvendar e conhecer o mundo. Aprendemos que o conhecimento é indispensável para se obter o sucesso!

Aprendemos com ele a ter medo do medo.

Ele nos ensinou que a audácia é necessária para vencer barreiras e atingir objetivos. Que a honestidade não é qualidade, mas obrigação!

Dizia-nos que é preciso pensar grande e que as desventuras que porventura vierem devem ser enfrentadas de cabeça 
erguida! Que a vida tem que ser vivida com alegria e que o homem quando para começa a morrer![....] Este homem com certeza, pela lição de vida que deixou, merece ser lembrado por ocasião de seu centenário.

Maria Carmelita R. Cunha


Pensamentos e Conceitos

Em notável discurso como paraninfo da turma da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro de 1971, que teve como orador dos formandos o futuro juiz de Direito em Goiás, Murilo Amado Cardoso Maciel, afirmou a respeito da advocacia:

“Ingressais, certamente já ouvistes estas palavras, agora, na mais bela das profissões liberais que o homem pode escolher.

A mais bela porque, defensores da honra, da liberdade e dos bens de vossos semelhantes, tereis, muitas vezes, que enxugar as lágrimas dos oprimidos, conter as injustiças do opressor e a contumélia dos arrogantes e descer ao calabouço em que se encontram os encarcerados.

Já disse alguém que a advocacia supera todas as outras profissões em requintes de beleza, finura de espírito e prazer. Voltaire chegou a dizer: eu desejaria ser advogado; é a mais bela profissão do mundo.”

Contudo, advertiu, após esplêndida citação de Fiot de la Marche atinente à profissão:

“Para ser advogado, não basta receber o diploma.

É preciso algo mais. É necessário integrar-se na profissão. É preciso amá-la e vivê-la.

Para bem desempenhá-la é preciso, conforme disse o insigne mestre do Direito, Mendes Pimentel, ter talento, trabalho, fé e coragem.”

E ponderou, lúcido:

“Já dizia Von Ihering que o escopo do Direito é a paz, mas o meio de consegui-la é a luta. O Direito é luta. Luta incansável em defesa do interesse material e moral do homem.

Isto não quer dizer que se deva levar a luta aos extremos da incompreensão e do fanatismo. Muitas vezes se ganha mais transigindo do que permanecendo irredutível em posições.

Lembrai-vos que ainda vale o velho e sábio adágio popular – “é preferível uma ruim composição a uma boa demanda.”

Já sobre o Direito, parafraseando José Higino, intérprete de Ihering, ensinou:

“A medida do Direito não é o absoluto da verdade, mas o relativo do fim.

Um mundo novo abre-se diante dos olhos maravilhados dos homens.

Os satélites artificiais, fabuloso instrumento de aproximação dos homens, as naves interplanetárias que já vão à Lua e a Marte, estão a exigir a criação de um novíssimo Direito [....] Uma nova roupagem é unanimemente reclamada para o Código Civil, Código Penal e Direito Comercial.”

Antevendo o futuro do país, proclamou:

“O Brasil deixou de ser uma nação deitada eternamente em berço esplêndido. É um país que caminha conscientemente para os seus altos destinos no seio das demais nações. 

É agora um país que inicia a sua grande decolagem para entrar no rol das grandes potências.

Urge, portanto, que nos preparemos devidamente para que esta nossa entrada seja devidamente observada, comentada e aplaudida.”

Em outra ocasião, como paraninfo de nova turma de bacharelandos em Direito, sintetizou de maneira categórica e absoluta:

“Jamais devereis esquecer que o essencial na profissão não é ganhar a vida, mas construir uma vida.”

DR. EDGARD, O PROFESSOR

O professor Edgard lecionava Direito das Sucessões no curso de Direito da então Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, hoje UNIUBE. Era professor dedicado, exigente, ao mesmo tempo, atencioso e amigo de seus alunos. Suas aulas tinham grande conteúdo e seu autor de referência era Carvalho Santos. Nelas caminhava com voz firme e com fichas nas mãos por onde se orientava. Foi, sem dúvida, um professor marcante que seus discípulos jamais esquecerão.

Nas agradáveis conversas, quando já no final da vida, repleta de vitórias, contou-me as dificuldades pelas quais passou como estudante no Rio de Janeiro, onde aprendeu alemão com pessoas que residiam na mesma pensão e que haviam refugiado da Guerra, e sua opção por advogar em Uberaba, onde só existiam profissionais consagrados. 

O professor Edgar, que tanto ensinou, lembra sempre a famosa frase de Horácio “Não morrerei por inteiro”.

Claudiovir Delfino

A Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, à avenida Guilherme Ferreira, hoje 
Uniube campus I, tinha as grandes e arejadas salas de aula no primeiro andar: primeira sala, 1º ano; segunda sala, 2º ano, e assim até a quinta sala, a última, com suas janelas para a rua Carlos Rodrigues da Cunha. Já na virada da esquina, começávamos a tremer, pois, em breve, enfrentaríamos o Robespierre, o temido e exigente professor 
dr. Edgard Rodrigues da Cunha, que ministrava o 
Direito de Família, encerrando todos os volumes que havíamos estudado do dr. Washington de Barros Monteiro.

Ali, na sala de aula, na cátedra, estava ele, prestando aos seus alunos o concurso da sua inteligência viva, seu raciocínio rápido e o brilho da sua cultura. As questões do Direito em geral, especialmente da sua área, as questões econômicas, os problemas do ensino, as falhas da nossa legislação, todas as controvérsias, ideias e iniciativas, porque homem pluridimensional, nele encontravam um batalhador persistente e esclarecido, revelando sua visão de futuro, seu constante trato com os livros e com os estudos, o que resultava na análise conscienciosa das questões que debatia e elucidava.

Liana Mendonça

Edição do Jornal da Manhã do dia 18/04/2011



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Cidade de Uberaba

Gilberto Rezende resgata fotografia antiga de ex-prefeitos juntos

Foto:Jornal da Manhã - 11 de agosto de 1988.
Uma foto histórica do JM. Paulo Piau, Hugo Rodrigues da Cunha, Luiz Neto e Marcos Montes. Todos se elegeram prefeitos de Uberaba. Vinte anos após, pode-se constatar que esses homens de bem, unidos pelos mesmos ideais, foram reconhecidos pela comunidade que os credenciaram para novos desafios em sua carreira política. Hugo Rodrigues da Cunha, deputado federal; Marcos Montes, secretário no governo de Luiz Neto; deputado estadual e federal Paulo Piau, também secretário de Luiz Neto, passou pela Assembleia Legislativa, Câmara Federal e é hoje o prefeito de Uberaba.

Foi através do governo de Hugo Rodrigues da Cunha que se criou em Uberaba o espírito de industrialização, sem prejuízo dos outros pilares que sustentam nossa economia. Não se admite mais a ausência de uma Secretaria de Indústria e Comércio em qualquer plataforma de Partidos Políticos que aspiram o governo municipal.

Há que se fazer justiça e ressaltar que o programa de Industrialização nasceu na diretoria da Aciu na gestão de Jorge Dib Neto, em 1972, e teve a participação de todas as Entidades de Uberaba, Classistas, Sociais, Políticas, Culturais e do Jornal da Manhã.

E de justiça também reconhecer que a força do Jornal da Manhã é que tornou possível a eleição de Hugo Rodrigues da Cunha em sua primeira eleição em 1972. Aliás, há de ser destacado que esse Jornal, em sua fase inicial, teve o exclusivo propósito de participar dos processos de política municipal, nas palavras do seu fundador e diretor Edson Prata, em seu Edital de 18 de janeiro de 1983.

Um fato que completa 46 anos e mostra que Uberaba ganhou. Valeu!


Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA



Cidade de Uberaba

Renê Barsan – Um legado de realizações

Em plena madrugada de uma segunda-feira de outubro de 1982, recebo um telefonema de um amigo solicitando minha presença na residência de Renê Barsan para tratar de um assunto confidencial e urgente. 

O tema era política, pois estávamos a um mês das eleições municipais e Renê era um forte candidato a prefeito, pelo PMDB. Seus amigos diziam que já poderia mandar confeccionar o terno da posse.

De início, estranhei a solicitação, pois era então presidente do PDS. Partidarismo à parte, fui ouvir as razões desse inusitado convite.

Pelas suas pesquisas, era certa a vitória de Wagner do Nascimento. Renê, em segunda colocação, sugeriu que a única forma de modificar o resultado seria através da renúncia de Hugo, da qual seria o herdeiro natural, mesmo pertencendo a outro partido.

Quem conhecia Hugo Rodrigues da Cunha já sabia da impossibilidade dessa pretensão ser acolhida. Para não deixar dúvidas, ele declarou ao Jornal da Manhã que jamais renunciaria e que acreditava em sua vitória.

Na apuração dos votos, as previsões de Renê se confirmaram: o PMDB teve a preferência de 70% dos eleitores. Wagner, 37,37%; Renê, 22,66%; e Arnaldo, 10,07%. Já o PDS ficou com 29%; Hugo, 15,27%, e João Junqueira, 13,32%. Pouco mais de 1% tiveram os candidatos Henry e Victor.

Foi a primeira e última vez que Renê Barsan participou de um processo político partidário. Foi muito traumatizante o seu desapontamento. Ele se desencantou da política.

Família Taso ou Dasho em Harput: Elias Taso, Meryem Naman, Helani, Melek, Rahel, Aznif, Feride, Samuel e Sake.— Tradução: Rima Dilmener, Lisa Tigno, Nafi Donat,Maria Alice Barsam, Rene Barsam Júnior, Mark Willmann, Fabiana Barsam, Jen Siegelman eJoshua Crandall. Foto: Acervo da família.

Renê Barsan nasceu em 14 de junho de 1930 na cidade de Elasik, na Armênia, com o nome de Henna Barsamian. Fugindo do genocídio provocado pelos turcos e que dizimou mais de 70% da população, ele veio ainda criança com sua mãe, Aznif (Alice) Barsan, para Uberaba, onde, além de existir uma comunidade armênia, seu pai, Kavme Barsan, que já havia antecipado sua viagem, morava nas redondezas, em Uberlândia. Com a chegada da família, Kavme veio também para Uberaba e aqui se estabeleceu com o comércio de calçados e máquina de beneficiamento de arroz.

A família de Kavme residia à rua João Pinheiro, no bairro Boa Vista, e era constituída de cinco filhos: Renê, Henry, Ulisses, Nelson e Ailda (casada com José Bichuetti).

Ulisses, Nelson e Renê se formaram em Medicina. A formatura de Renê foi no início da década de 1950 e em 1956 graduou-se em ortopedia infantil na Europa. Ficou tentado a trabalhar na Legião Estrangeira, na África, mas foi demovido pelo pai. Dominava seis idiomas e fez inúmeros trabalhos acadêmicos publicados em vários países.

Médico por vocação, Renê instalou sua clínica na rua Olegário Maciel, no Centro, era exemplo de cidadão por devoção à cidade que o acolheu. Dedicava parte de seu tempo ao Hospital da Criança, ao lado dos médicos Humberto Ferreira e Ézio De Martino.

Dotado de espírito associativista, Renê se juntou com De Martino para criar a Sociedade de Medicina do Triângulo Mineiro (SMTM). Revezando-se na presidência e contando com o apoio de toda a classe, os dois conseguiram em quatro gestões entregar a sede própria da entidade.

Seu empenho em trabalhar por Uberaba não tinha limites. Desde 1966, a cidade tinha o sinal da TV Tupi. Todavia, não tinha emissora. Renê arregaçou as mangas para suprir essa lacuna. Como a concessão era dos Diários Associados, Renê, com captação de recursos junto à comunidade, criou uma empresa local para, em sociedade com a concessionária, implantar a emissora.

Em junho de 1972, em área doada pelo governo municipal Arnaldo Rosa Prata, foi inaugurada a TV Uberaba, com a presidência de Renê Barsan.

Renê nutria também um grande amor pelo Uberaba Sport Clube, no qual começou como assistente de jogadores com fraturas e acabou como presidente em 1978. Para dar sustentabilidade ao USC, criou o Cascata Club. Em sua gestão ficou registrada a façanha de ter sido o primeiro e único presidente do USC a vender um jogador para o exterior, Henrique Pires de Barros, que foi transferido para o Canadá.

Não era menor seu amor pelas crianças. Participou ativamente do Conselho do Bem-estar do Menor (Conbem), no qual os meninos trabalhavam fardados, por meio período, dedicando o outro intervalo para o estudo.

Sempre repetia que toda pessoa precisava exercer uma profissão, independentemente de sua renda. Sabendo das dificuldades de grande parte da população mais carente de ingressar nas poucas faculdades existentes, Renê estimulou o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha a criar, em 1975, a FETI – Fundação de Ensino Técnico Intensivo. Ele abriu um espaço na área pública para formação de profissionais técnicos em variadas atividades. Quando assumiu a sua presidência, fez toda uma reorganização, que provocou uma grande expansão da entidade, dentro dos moldes que preconizava.

Além de atuar na Medicina, ele também agiu no setor empresarial. Tinha expressiva participação nas empresas de ônibus Líder e São Geraldo. Criou também a Itemel, uma fábrica de para-raios que concorria com a Eletrotécnica.

Foi presidente da ACIU no período de 1980/1981. Conseguiu, em sua gestão, a aprovação do curso de Ciências Contábeis para a FCETM – Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Promoveu diversos cursos, seminários e palestras visando aquisição de novos conhecimentos técnicos para os associados. Participou da elaboração do projeto municipal de consolidação do novo Código Tributário. Informatizou o SPC para agilizar o atendimento. É também em sua gestão que a diretoria da entidade fez campanha para a instalação de um centro coletor para tancagem de álcool.

Renê, falecido em 22 de setembro de 1988, era casado com Maria Beatriz Furtado e teve 3 filhos - Marcelo, médico, casado com Fabiana; Renê Júnior, administrador, casado com Ana Lúcia; e Maria Alice, odontóloga.

Em suas declarações, o filho Marcelo disse que seu pai não admitia intolerância. “Na minha casa não tem isso, porque sofremos isso fora”, explica.

Intérprete fiel do que pensava a comunidade, Luiz Gonzaga de Oliveira, que o assessorou na TV e na ACIU, disse que Renê era, além da elegância e educação, um homem decente, um líder de caráter, de dignidade e de seriedade absoluta.

“Dr. Renê Barsam” é o nome da FETI (Fundação de Ensino Técnico Intensivo) e da Unidade Básica de Saúde instalada no bairro Santa Marta. 



Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA
Fontes: ACIU, Marcelo Barsan e Luiz Gonzaga de Oliveira
Os dados eleitorais são de Tião Silva




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Cidade de Uberaba


sábado, 20 de abril de 2019

Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães

Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães. Foto: Autoria desconhecida/década de 1970.
Localizada na Rua Alaor Prata, no centro da cidade. Seu acervo foi se constituindo ao longo de seus 104 anos, com a efetiva contribuição dos cidadãos uberabenses, e ela conta com um pátio cultural. Além da recepção e sala de multimeios, no térreo, os setores da Biblioteca se organizam por cinco pavimentos, cujo acesso se faz por escadas e elevador.

Arquivo Público de Uberaba


Cidade de Uberaba

OLAVO SABINO JÚNIOR.

Conheci Olavo Sabino, filho do seu Lavico, no início da década de sessenta, quando ele ainda disk jockey da Rádio Difusora.

Olavo Sabino de Freitas Jr.

Lá aquele jovem já era irreverente, sagaz, isento, incisivo e tudo mais que um bom profissional do rádio precisava e precisa ter. 

Olavo não nunca usou meias palavras e não cortava volta com o seu pensamento. Era direto!

Foi mestre ao fazer: rádio, jornal escrito, televisão, assessoria, administrar jornal, rádio e TV, com um detalhe: não guardava consigo o que sabia e ensinava com prazer aos que queriam aprender a arte da comunicação. 

Os que com ele conviveram sabe do que estou falando.

Apesar de não parecer, Olavo tinha um coração generoso, tanto que nunca negava ajuda às pessoas, 
principalmente aos colegas de profissão. “Ajuda não precisa ser divulgada” disse-me ele certa vez. 

Uberaba perde um dos maiores comunicadores da sua história. 

Saudade...Olavo . 

João Eurípedes Sabino.
Uberaba/MG/Brasil.

Cidade de Uberaba

ADEUS OLAVO

Tem pessoas que marcam nossa vida de maneira especial. Na história de meus 50 anos no rádio Olavo Sabino de Freitas Jr. Tem um capítulo especial. No meu primeiro dia de Uberaba ele se fez presente de uma maneira curiosa. Fui para o Uberabão para transmitir o que seria o meu primeiro jogo na Rádio Sete Colinas e acabou sendo o único que transmiti na Rádio Sociedade. Na verdade só meio jogo entre Uberaba e União Tijucana. Sem seu narrador, Farah Zaidan que não pode trabalhar o Olavo resolveu ser narrador. Só deu conta de um tempo. No intervalo impediu que transmitisse pela Sete me entregando o microfone da Sociedade sem nunca ter me visto na vida e entimando: se vira garoto e depois passa na redação do Jornal da Manhã, onde era diretor, para conversarmos. Foi assim que Uberaba tomou conhecimento da minha voz em um trabalho ao lado de José Vieira do Nascimento, Wellington Cardoso Ramos e Ernani Dias Duarte. Pena que o Olavo não esperou para ler esta e outras várias passagens que vivemos juntos. Descanse em paz meu Mestre e amigo. 
Em tempo: Vi uma postagem de uma jovem jornalista afirmando que Uberaba perdeu um grande homem da televisão .Pena que ela não tenha conhecido o Olavo do radio-manivela e do jornal do chumbão. Televisão é coisa fácil.

Moura Miranda


Cidade de Uberaba

quarta-feira, 17 de abril de 2019

O silêncio de Aldo

Nas minhas andanças a trabalho pela cidade, ainda adolescente, eu tinha o hábito de parar em alguns locais para disfarçar o cansaço. Montado em minha Göricke, eu varava Uberaba de ponta a ponta. O mural do jornal Lavoura e Comércio, os mostruários das fotos Shroden e Prieto, as vitrines da Notre Dame de Paris e o pão de queijo da Padaria Brasil faziam parte do meu trajeto. Na banca de jornais do Sr. Wilmondes Bastos, da Rua Artur Machado, eu parava para ver a programação dos teatros amadores TEU e NATA.

Aldo Roberto Silva - "Salsichachau"
Ali, pela primeira vez, num cartaz, vi a foto do ator, radialista e dublador Aldo Roberto Silva e pude conhecê-lo pessoalmente. A sua espontaneidade foi tanta que me fiz seu amigo e cultuamos a nossa amizade por mais de 50 anos. Tivemos vidas diversas, mas com um ponto em comum: gostamos da cultura e lutamos pela sua preservação. Vi Aldo em cena várias vezes, sempre com atuação impecável, aliás, esse era o seu padrão. 

Nos aniversários de nossos filhos o palhaço Salsichachau se apresentou como emissário do riso, levando-o a sério enquanto todos riam. Ficará na história de tantas e tantas crianças de Uberaba. 

Três episódios entre Aldo e eu me marcaram para sempre: quando lancei o livro “O andarilho”, em 2006, ganhei dele uma tela de Ovídio Fernandes retratando a figura do andarilho São Bento. Graças a Aldo Roberto, tenho uma viola que ele ganhou em 12/04/2008 no 50° Encontro de Folias de Reis, realizado no Cine Municipal Vera Cruz. Quando lhe ocorreu um acidente, o visitei algumas vezes e, mesmo imobilizado, me permitia, ao sair, estar melhor do que cheguei. Aldo Roberto não deixava a dor interferir no humor. 

Na TV e Rádio, no programa Se Liga, Aldo fazia o gênero que o diferenciava. Haja talento para criar situações e sacadas originais! Perspicácia, tirocínio e irreverência vieram com Aldo para lhe permitir estar antes do lance. Quando se expressava, o fazia trazendo a piada pronta. Não é meu exagero afirmar que ele não perdia para um Ronald Golias, um Jô Soares e até um Chico Anysio. 

No dia 16/12/2017, Aldo Roberto, aos 78 anos e sem saber dizer não, nos deixou para sempre. Nossa cultura, em especial as artes cênicas, está de luto. O silêncio de Aldo será o de sua querida Uberaba diante do seu nome, que, na saudade, jamais será esquecido.


João Eurípedes Sabino

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Cronista do Jornal da Manhã e Rádio Sete Colinas.


Cidade de Uberaba

Zebus de Sombrero

Vem chegando a Exposição e, com ela, os visitantes do exterior. Dentro de alguns dias, os “gringos” já estarão pela nossa cidade. Nas últimas décadas, o gado Zebu de Uberaba tornou-se famoso por todo o mundo, seja pela qualidade da sua genética, seja pela excelência do controle sanitário. Se a gente pouco vê boiada embarcando em avião rumo ao estrangeiro, não é porque nosso Zebu não emigre. Mas porque novas tecnologias dispensam os animais do incômodo transporte: no lugar vão botijões de sêmen e embriões congelados, levando o DNA do zebu triangulino para povoar pastos de outras terras.

De início, as coisas não eram tão fáceis. Sempre que a situação econômica apertava no Brasil, os criadores de Zebu fino tentavam recorrer à exportação de touros e matrizes para não ficar no prejuízo. E um dos locais mais sonhados era o México. Em parte porque o país asteca tem uma grande tradição em pecuária e condições ambientais semelhantes às que há no Brasil. Em parte porque sua enorme fronteira com os Estados Unidos sempre serviu de passagem para gado contrabandeado ao país vizinho – driblando a rígida vigilância sanitária dos EUA.

A primeira vez que uberabenses tentaram vender gado na América do Norte as coisas não correram nada bem. Era o ano de 1922 e os pecuaristas brasileiros estavam desesperados pela crise dos negócios no País – fruto do final da 1ª Guerra na Europa e de uma epidemia de peste bovina que obrigou o governo a proibir o tráfego de gado. Dois grupos de zebuzeiros (um de Uberaba outro do Rio de Janeiro) colocaram centenas de cabeças de zebu em navios e foram tentar vendê-los no sul dos EUA, onde os criadores estavam começando a formar os rebanhos de zebus Brahman. Foram impedidos pelas autoridades de desembarcar em Saint Louis, no Missouri, e desviaram o rumo a Vera Cruz, no México. Tiveram o azar de chegar bem no meio de uma guerra civil entre o presidente Álvaro Obregon e o caudilho Adolfo de la Huerta. Boa parte das reses finas foi confiscada pelas tropas em conflito para servir de churrasco. Só algumas poucas, talvez 20 ou 30, conseguiram entrar nos EUA pela fronteira. Os prejuízos para os uberabenses foram monumentais.

Em 1945 houve uma nova crise da pecuária no Brasil e uma nova oportunidade de exportação. No México havia interessados em comprar gado indiano para melhoramento da pecuária, entre eles o poderoso ex-presidente Lázaro Cárdenas. Mas a Secretaria de Agricultura do México impunha feroz resistência a esse negócio, alegando o risco de que o gado trouxesse ao país o vírus da febre aftosa. Contava com apoio dos EUA – na época o maior comprador de gado mexicano e interessado em vender aos vizinhos seus reprodutores Brahman. 

Em Uberaba, alguns grandes criadores de Zebu montaram a “Sociedade Exportadora Brasil-América” para cuidar dessa transação. Por fim, com o apoio de Cárdenas, os uberabenses ganharam a queda-de-braço. Mas, para cumprir as exigências sanitárias, o rebanho foi levado para a Ilha do Sacrifício, no Caribe, onde ficou estabulado em longa quarentena, durante a qual foram submetidos a rigorosos testes por veterinários e zootecnistas. Finalmente, o rebanho – já todo vendido – foi considerado sadio e liberado para ir para as fazendas.

Poucas semanas depois explodiu a bomba: em abril de 1946, apareceram no México alguns casos isolados de aftosa, dando início a uma epidemia que se espalhou rapidamente. Imediatamente, os EUA suspenderam as importações de gado – jogando a pecuária mexicana em uma longa e profunda crise. Pesadas acusações foram lançadas sobre os zebus brasileiros e os defensores da importação, inclusive Cárdenas, politizando a discussão. 

Nunca chegou a ser comprovado que os zebus uberabenses tenham sido os responsáveis pela essa epidemia. Mas o estrago estava feito. O combate à febre aftosa no México levou quase uma década para ser concluído e causou prejuízos incalculáveis à economia do país. Houve até algumas dezenas de mortes de fiscais sanitários, camponeses e soldados em revoltas de pequenos criadores que não se conformavam com o abate obrigatório dos seus rebanhos sob suspeita. O trauma demorou a ser superado e, por 50 anos, nenhum zebu brasileiro pode entrar no México. Somente em 1997 um acordo sanitário reabriu as negociações.

Esse e muitos outros causos, estão no livro “ABCZ 100 anos: história e histórias”, que será lançado na próxima Expozebu.


(André Borges Lopes)


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Amigo Padre Prata

A vontade de todos era que Padre Prata, tão estimado, permanecesse entre nós. Porém, apesar de ser um imortal da Academia, isso não aconteceu. E, para sempre, ele foi colher os frutos de sua abençoada e proveitosa existência. Quem teve o prazer de desfrutar do convívio com Padre Prata tem muita história para contar. E tenho a felicidade de ser um desses privilegiados. 

Tive a satisfação de manter cordial contato com Padre Prata quando estive na Direção do Jornal da Manhã, de 1972 a 1984. Ele era colunista do Correio Católico e se rendeu ao nosso apelo de continuar colaborando, semanalmente, com suas crônicas geniais no novo jornal.

Com o Jornal da Manhã já em nova sede, Edson Prata me convidou a integrar a Academia de Letras do Triângulo Mineiro e providenciou o documento de minha nomeação assinado por vinte e um acadêmicos, dentre eles, Padre Prata.

Na Academia, minha amizade com Padre Prata se intensificou. Ele e os demais fundadores compareciam a todas as reuniões mensais e isso o deixava animado. Quando estive à frente da Academia, a meu pedido ele me orientava, agraciando-me com generosa atenção: “Precisando, estamos aqui.” E reiteradamente ele me entusiasmava: “Foi uma bela reunião!”.

Ao final de cada gestão minha, requisitei ao Padre Juvenal Arduini que me apontasse um sucessor. E só ao final do meu sexto mandato, ele mencionou Padre Prata como uma possibilidade. Fiquei feliz. Mas por pouco tempo. Tivemos que aguardar, pois Padre Prata estava numa pescaria e, ao retornar, garantiu que nunca pensou nisso. Uma pena. Teria sido formidável!

Foi a convite do nosso Presidente da Academia, o amigo João Eurípedes Sabino, que ele, Padre Prata e eu apreciamos a cidade num circuito de carro, numa prosa animada. Talvez fosse uma despedida, mas Sabino e eu não havíamos imaginado isso.

Depois de minha esposa Carmen e eu sermos atropelados por uma moto, nós nos recuperávamos em casa quando recebemos a visita do amigo Padre Prata - visita que ficou em nossa história: a conversa na sala de visita, o cafezinho e minha chamada para vermos o quintal. Ali, Padre Prata se transformou, revivendo o tempo de menino criado em fazenda, apaixonado pelo que encontrava: a jabuticabeira florida como noiva, pés de canela, camélia, hibisco, manga, urucum, pitanga, pau-brasil, abacaxis ornamentais, orquídeas, e os vasos – renda-portuguesa, alecrim, arruda, jasmim, lírio, azaleia, rosas, miosótis, violetas, picão, erva-cidreira, capim-cidreira, manjericão, hortelã... Ele sabia algo singular sobre cada planta. Era mesmo outra pessoa... Nós o ouvimos extasiados! Ele finalizou instruindo a este leigo cultivador: “Corte o pé de mamão; não dará mais frutos.” Depois desse dia, invariavelmente quando nos víamos, ele perguntava pelas plantinhas e prometia voltar para vê-las.

Sou grato também ao Padre Prata por ele ter feito as últimas orações junto à minha esposa, quando ela faleceu. E a morte de ambos me faz crer que Deus anuncia aos bons, com certa antecedência, quando deixarão esta vida. Ambos sabiam sua hora e estavam preparados. Hoje estão junto de Deus. 

São essas apenas algumas das tantas recordações que tenho do colega Padre Prata, amigo ilustre e imortal na memória de todos nós.

Mário Salvador
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.


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Vista parcial do centro de Uberaba

Vista parcial do centro de Uberaba 


Década de 1930

Foto: Autoria desconhecida

Foto: Arquivo Público de Uberaba


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...O novo me fascina.

Por fatalidade nasci precocemente envelhecido.

Tremendamente velho. Incapaz de fecundar.

Sinto-me enjaulado no sudário escuro de palavras gastas
e envelhecidas.

Esclerosadas. Algemadas à linha etimológica da origem.

Quero falar a língua virgem das palavras inexistentes,
mas as vestes macias e empoeiradas dos vocábulos desgastados efeminam minha força, castram minha masculinidade.

Sinto as dores do parto da noite que tenta dar à luz a
aurora e pare apenas uma candeia bruxuleante.

A fosforescência da palavra gasta dissolve em estilhaços
a força luminosa do relâmpago. Queria falar a língua do raio
e da borrasca e apenas balbucio a linguagem medrosa da brisa.

" Novo-velho, velho-novo", aspirando ao futuro mas algemado ao passado, garanhão castrado, viril efeminado, vivo a contradição e o absurdo.

Quero ser a verdade e dissolvo-me na mentira.

A austeridade é meu programa, mas o luxo me fascina.

Fiz da liberdade a minha deusa, mas a escravidão cômoda me alicia.

Quero assumir mas a responsabilidade me amedronta.

Quero viver perigosamente mas o risco me apavora.

Quero-me livre mas sinto-me algemado.

Sado-masoquista, quero perfurar e ser perfurado.
Sou eu, e não sou eu.

Sinto-me singular e múltiplo, uno e dividido, inteiro e fraturado.

Não me auto-identifico. Já sou, já não sou. Apenas existo.

Eu sou a ideia-contradição. A lógica. A irrealidade do real,
sou apenas o dever de pensar.

Sou o paradoxo - Sou o HOMEM.


( Poeminha do saudoso prof. Paulo Rodrigues, da antiga Fista, em plena crise existencialista, em 1979)


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