domingo, 28 de abril de 2019

INSTITUTO ZOOTÉCNICO, NOSSA PRIMEIRA FACULDADE

Em agosto de 1892, o governo de Minas Gerais aprovou na Câmara Legislativa uma ampla proposta de reforma no sistema público de ensino no estado. Nos debates desse projeto, o deputado uberabense Alexandre Barbosa e dois colegas incluíram no texto da “Lei nº 41” a sugestão de abertura de duas escolas de ensino superior no estado: um Instituto Zootécnico em Uberaba e um Instituto de Agronomia na cidade de Leopoldina.

A montagem de uma escola que formasse técnicos especialistas em atividades pastoris era um antigo anseio da população do Triângulo Mineiro, num momento em que as atividades agrícolas e a criação de gado zebu ganhava espaço. A criação desse instituto que, pela legislação da época, seria equivalente a um curso superior recebeu amplo apoio na imprensa local. Em 1892, o jornal Correio Católico explicava: “O Instituto Zootécnico viria a ser um abundante foco de luz que regenerará a industria pastoril nesta região. Nesse Instituto serão criados animais de raça, que irão melhorar a criação já existente: aí se estudarão as enfermidades do gado, o meio de curá-las. Aí se aplicarão os processos necessários para a utilização mais econômica e rendosa dos produtos da industria pastoril”.

Aprovada a Lei, era preciso que a cidade arranjasse um local para montar a escola. Decidiu-se que o Instituto Zootécnico seria montado na antiga Chácara Boa Vista, situada a pouco menos de três quilômetros do centro da cidade, próximo de onde o Córrego das Lages desagua no Rio Uberaba. Essa propriedade havia pertencido ao sargento mor (mais tarde promovido a major) Antônio Estáquio, o fundador de Uberaba, que lá morou antes de transferir-se para uma outra casa na atual praça Rui Barbosa. Tinha uma área com cerca de 100 alqueires onde, décadas mais tarde, funcionaram a Fazenda Modelo e a Epamig.

A fazenda foi desapropriada e o governo estadual indicou e contratou os professores – alguns dos quais trazidos do exterior. Um antigo casarão colonial que servia de sede (não se sabe se era a casa original do major Eustáquio) foi reformado para receber salas de aula e laboratórios. A direção ficou inicialmente a cargo do engenheiro agrônomo Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho, mais tarde sucedido pelo professor alemão Frederico Maurício Draenert, que fora trazido da Bahia para lecionar no Instituto.

No dia 5 de agosto de 1895, o Instituto abriu as portas para uma turma de 21 alunos. Uberaba, uma cidade que não tinha nem 10 mil habitantes na área urbana, estava orgulhosa de ter sua primeira faculdade. Por meio de provas escritas, foi feita a seleção dos candidatos às poucas vagas, entre jovens com mais de 15 anos que apresentassem “certidão de aprovação em português, francês, história e geografia geral e do Brasil, matemática elementar e noções de cosmografia”, conforme previam as regras do seu regulamento interno. O curso era ministrado em período integral: os alunos entravam às 9:00, tinham aulas teóricas de manhã e aulas práticas no turno da tarde até por volta das 16:00.

A escola era relativamente longe do centro, o que obrigava alunos e professores a longas caminhadas diárias – já que não havia muitas opções de transporte. Mas, pelo que se lê dos relatos da época, essa foi a menor das dificuldades enfrentada. Desde o início, o funcionamento da nova escola enfrentou percalços e dificuldades financeiras. Havia poucos animais disponíveis para os estudos e o governo atrasava frequentemente o pagamento dos fornecedores. Também aconteceram alguns problemas administrativos e divergências sérias entre alunos e professores.

Aos trancos e barrancos, três anos depois, o Instituto formou sua primeira – e única – turma de engenheiros agrônomos. Oito alunos concluíram o curso: os irmãos José Maria e Fidélis Gonçalves dos Reis, Militino Pinto de Carvalho, Hildebrando de Araújo Pontes, Delcides de Carvalho, Otávio Teixeira de Paiva, Luiz Ignácio de Sousa Lima e Gabriel Laurindo de Paiva. Segundo o jornal Gazeta de Uberaba, tratava-se de “uma plêiade de moços estudiosos, auxiliados por mestres dedicados da ciência agrícola”. Boa parte deles deixou seu nome imortalizado na história de Uberaba.

As dificuldades financeiras do Instituto decorriam de uma grave crise fiscal por que passava Minas Gerais. Em outubro de 1898, antes que houvesse uma segunda turma, o novo presidente do estado, Silviano Brandão, suspendeu por tempo indeterminado as atividades da escola. Que nunca mais reabriu, para o desalento dos habitantes de Uberaba.


(André Borges Lopes)


Cidade de Uberaba