terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A PRAÇA ( E A RUA ) É DO POVO!

Estou a acompanhar essa celeuma do “ estacionamento pago” em ruas, praças e avenidas na terrinha do “Doca”. Então, veio à lembrança um episódio que tomou conta de Uberaba, em 1972/73 . Antes de deixar a Prefeitura, o prefeito Arnaldo Rosa Prata, embora com alguns senões, fizera uma louvável administração. A começar pela surpreendente vitória nas urnas, sobre imortal” Mário Palmério, com quem disputou a Prefeitura naquele “mandato tampão” . Arnaldo, inaugurou o , até hoje, inacabado “Uberabão”, construiu o novo terminal rodoviário, “cobriu” parte dos córregos centrais da terrinha, além de asfaltar ruas no centro e bairros da cidade.

Nas eleições municipais de 72, prestigio em alta, rádio,jornal e TV, recém inaugurada, às mãos, lançou, com a sua turma da Arena 1, o tabelião Fúlvio Fontoura, como candidato à sua sucessão. Pelas obras realizadas, o apoio recebido, a eleição do “pupilo”, era ‘fava contada” . Do outro lado, Arena 2, meio desorganizada, precisando de votos na convenção da escolha de candidato, lançou Hugo Rodrigues da Cunha, perdedor de uma disputa à deputado federal e ex-Presidente da ACIU, também um dos lideres do movimento separatista do Triângulo, de Minas Gerais, chamado UDET (União de Desenvolvimento do Estado do Triângulo).

Hugo, contava com um frágil apoio de empresários do setor automobilístico e reflorestamento. Não mais. “Boa pinta”, a “bola da vez” era Fúlvio. A “mulherada” morria de amores por ele. Hugo, feioso, bigodudo, era o “azarão”. (Sem contar com o João Pedro de Souza, coitado, do esfacelado MDB...).Máquina administrativa na mão, vereadores ao seu lado, deputado federal, imprensa quase unânime,Fúlvio, podia mandar fazer o “ terno de posse”...

Mas, como em “boca de urna” e “cabeça de Juiz”, ninguém sabe o que sai, Hugo, “deu um banho de votos no seu opositor”. A vitória dos“ reflorestadores”, deixou uma parte dos “donos da cidade”, na rua da amargura. Nesse ínterim, veio o “troco”. O grande “Jumbo Eletroradiobraz”, pesquisa Uberaba para instalar uma das suas espetaculares lojas ! Euforia do “grupo” derrotado. A empresa paulista, precisava de uma grande área para a sua instalação. O que fez Arnaldo ? Com a anuência, quase total, só Mário Guimarães, eleito vice prefeito na chapa de Hugo, votou contra, a Prefeitura, doou a praça Jorge Frange, a “antiga praça da rodoviária”, à empresa paulista... Seria a “consagração” de Arnaldo e da Arena 1 e a “oposição” teria de aceitar...

Hugo, “empinou o arreio”! Gilberto Rezende, “cabeça pensante” do grupo vitorioso, gritou:-“Doar praça pública à particular ? Jamais! A praça é do povo !”.Ação popular impetrada, a medida foi sustada. Quando tomou posse, uma das primeiras medidas de Hugo, foi anular o “decreto de doação” da praça. O “Lavoura” “caiu de páu” no novo Prefeito. As rádios também .A TV, ficou neutra. “Sapo de fora não ronca”, disse dr.Renê Barsam, presidente da emissora.

Hugo, ofereceu ao grupo, outras áreas. Por “pirraça” e orientada pela “oposição”, a empresa paulista não aceitava nenhuma outra localização. Queria a praça e pronto ! Só que a “praça é do povo”, diziam os uberabenses. O “castigo veio à cavalo”. Em pouco tempo, a gigante “Jumbo-Eletrorádio Braz”, faliu ! A “oposição” ficou caladinha e Uberaba ficou livre daquele abacaxi.

Conto-lhes essa história da vida política de Uberaba e essas pretensões absurdas, quando falam em “ progresso de Uberaba’, “democratização de espaços”...Não sei se o meu fraterno amigo, Gilberto Rezende, toparia encampar um trabalho comunitário e dizer aos atuais “donos” da terrinha, para ir devagar “com o andor”, nesse famigerado “estacionamento pago”.

Desculpem-me pela extensão do texto. Abraço uberabense do “Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira



Cidade de Uberaba

“DOCA” E UBERABA

Acordei, pensando em Você, minha doce e amada Uberaba ! Como estão judiando da nossa querida terrinha, meu Deus ! Logo me veio a mente, Orlando Ferreira, que conheci na minha infância na vila Maria Helena, onde éramos vizinhos. Lembrei do “Terra Madrasta”, o livro tão polêmico, proscrito pela Igreja Católica, objeto de estudos históricos até hoje. “Doca”, tinha acendrado amor por Você, Uberaba amada ! Ao elogiá-la, manifestou também o seu desagravo,com o que faziam com Você ! A classe política que dominava a terrinha e a chamavam de “ Princesa do Sertão”...

Hoje, Uberaba amada, colocaram na rua, as mazelas que apostavam em Você. No livro, segundo a sua dedicatória, “Doca” ,dizia” está podre, andrajosa e descalça”. Em outro trecho, terra querida, ele afirmava:- “ Estás infeliz, embora ofereça o meu trabalho, aprenda nele a odiar seus malfeitores”. “Doca”, Uberaba ,minha paixão, mais adiante no livro que chamou de “Terra Madrasta”, dá o seu testemunho a claríssima, deslumbrada e autêntica visão do futuro que te aguarda, Uberaba de todos nós. Foi assim que ele falou numa hora inspirada:

“Em ti, no teu solo estupendo, só existe a eterna beleza e ver-te é considerar-se acordado nas paragens dos sonhos. Por toda parte, poesia, encanto, paisagens maravilhosas, brilho, caridade, esplendor! Do teu solo ubérrimo, das suas árvores lindas, das tuas águas brilhantes, evola-se um murmúrio doce e harmonioso, apaixonado e indefinível, música sublime em concerto com o Sol que canta, nas alturas, a eterna canção da Luz e a Lua, as sonatas do amor! Tens tudo, Uberaba, mas, estás pobre, andrajosa e descalça. És honesta, mas estás amarrada, subjugada e assim seus malditos algozes ti prostituiram facilmente ! Estás em mesmo estado, sim ! Além disso, muito desprezada e injuriada”!. Contudo, te amo ! Apaixonadamente !”

Relembro, minha amada Uberaba, a lucidez e clarividência de Orlando Ferreira, o “Doca”, ao se referir a Você ! Ele descreve, com sabedoria invulgar, no livro que completou 90 anos, o quanto a amava, terra querida ! Enaltece , Você nem imagina, o que representa também áqueles que aqui aportaram , à busca de melhores dias...Uns,se sobressaíram com altivez e honra ! Outros, denegriram e denigrem a sua gloriosa imagem, Uberaba de todos nós...

“Doca”,é transparente quando afirma:- “As nossas maiores desgraças , devemo-las à maldita política uberabense. Politiqueiros sem escrúpulos , em ações descuidadas, se cercaram de maus elementos vindo de fora, aventureiros mortos de fome, que aqui aportaram com o fito único e exclusivo, ganhar a vida. Gente que não tem o menor amor a nossa amada terra, cujo principal desejo, é forrar o estômago. Assaltam, com facilidade e ganham posições de destaque, graças a imbecilidade dos nossos caricatos dirigentes. Uberaba amada, tem sido vítima desgraçada desses malditos aventureiros- todos mal intencionados -, desonestos, ladrões e muito ignorantes. Entretanto, nossa terra não se emenda, não se corrige”...

Amanhã, continuo com meus pensamentos voltados à memória de Orlando Ferreira, “Doca”, tão perseguido por dizer a verdade que, segundo o historiador, escritor e presidente da ALTM, João Euripedes Sabino, até o seu túmulo, não consta do cadastro do cemitério do “ brejinho” e muito menos nos arquivos públicos e historiadores da cidade. Uma outra história...
Grato pela atenção da leitura. Abraço fraterno do “ Marquez do Cassú”.



Luiz Gonzaga de Oliveira




Cidade de Uberaba

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Eterno referencial (*)

Meus amigos estão partindo / E eu na “sofrência” pensando / Qualquer dia estarei indo / Querendo ou não estarei viajando.

As palavras aí de cima enviei a alguns amigos ao cientificá-los da partida do amigo Jésus da Cunha Tormim no último dia 08/01/2019. Envolvido pela comoção de ver o grande combatente repousar quase que subitamente, não me restou outra alternativa senão a de escrever o que me pediu o coração. Não era para menos, posto que perdi três amigos e duas amigas em um mês. 

Recebi incontáveis respostas e dentre tantas, me permito transcrever algumas aqui, já que me valeram e poderão provocar extensas reflexões: “Deixe a barba de molho”. “Felizmente iremos conscientes do dever cumprido”. “Essa sua tristeza, ainda bem que extravasou na trova bastante realista”. “Esse é o final nosso e não tem jeito”. “Sua missão aqui ainda será longa...”. “E assim segue a vida”. “É a única certeza que temos”. “És jovem no modo que vives a vida”. “Verdade amigo. Deus tem o tempo certo para cada um de nós”. “Estamos no mesmo barco”. “A morte é apenas uma viagem”. “O dia da grande viagem é um botão on/off”. “Ainda vamos fazer muitas viagens juntos”. “Essa é a lei...”. “Terminada a missão aqui, começa a de lá”. “Não vamos pensar nisso não...”. 

E continuam outros amigos manifestando sobre o meu epitáfio: “Não pense, que é melhor”. “Sigamos com Deus rumo ao horizonte lá bem no infinito”. “Devemos viver o hoje como se fosse o último dia”. “Nós viajaremos querido amigo”. “Essa é a única certeza que temos, meu amigo”. “A fila anda e ninguém fura”. “Viver o hoje bem vivido, vale mais a pena”. “Enquanto tiver sonhos o corpo suporta muito bem”. “Estamos todos na fila”. “Precisamos de seus ensinamentos”. “Iremos todos...”. “Verdade. Tenho o mesmo sentimento”. “Compartilho o sentir”. “Amigos especiais são presentes de Deus”.

Os donos das frases mencionadas, aos quais sou imensamente grato, irão identifica-las, como o pai que reconhece a voz do filho estando ele entre mil crianças. Jamais imaginei que o falecimento do amigo Jésus da Cunha Tormim pudesse reverter a mim ensinamentos vindos de tantas pessoas em momento tão especial. Jésus era assim; tinha o poder de aglutinar pessoas. Usava frases diretas ou de efeito e, muitas vezes de “efeito retardado” para serem entendidas horas ou dias depois. Defendia sempre a verdade sem perder a ternura. Não sabia negar ajuda a ninguém. 

Amigo Jésus. Por onde você passou, o seu assento jamais terá um substituto e, na confraria Roda de Fogo, será nosso eterno referencial.



(*) - João Eurípedes Sabino-Uberaba /MG/ Brasil 








Cidade de Uberaba

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

André Borges Lopes

Há duas semanas, falei das uvas e vinhos do Padre Zeferino, destruídos pela repressão aos que apoiaram a Revolução Liberal mineira. Mas o movimento de 1842 também trouxe benefícios à região de Uberaba. Um dos mais duradouros foi a transferência do Colégio do Caraça que – para se afastar da agitação política – deixou às pressas as serras ao norte da antiga capital Ouro Preto e se instalou em uma fazenda em “Campo Belo da Farinha Podre”, atual cidade de Campina Verde.

Encravado nas montanhas da Serra do Espinhaço, o “Santuário do Caraça” é um ponto turístico histórico de Minas Gerais. Foi o primeiro grande empreendimento no Brasil da Congregação da Missão – ordem religiosa conhecida como ”lazaristas” ou “Irmão Vicentinos” – que, vinda de Portugal antes da independência, aqui chegou em 1818. Dois anos depois, receberam de Dom João VI as terras onde havia a “Ermida do Irmão Lourenço”, uma capela barroca e uma hospedaria para peregrinos que se aventuravam pela Serra do Caraça.

Em poucos anos, a ermida semiabandonada transformou-se num colégio interno e um seminário, inaugurados em 1921. Famoso pela seriedade e rigidez da disciplina, o Caraça tornou-se referência de ensino para a elite brasileira do século XIX. Ex-alunos fizeram carreira como governadores de estado, senadores, deputados, empresários e autoridades religiosas – entre eles dois presidentes da República: Afonso Pena e Artur Bernardes. Colégios particulares do Rio de Janeiro faziam anúncios destacando que seguiam o “método Caraça” de ensino científico, religioso e moral.

Nos anos após a independência, havia muita desconfiança política em relação a padres estrangeiros vinculados às ordens em que os superiores estavam na Europa. Mas não são claros os motivos que levaram à fuga dos lazaristas durante a Revolução que – por dois meses e dez dias – transformou Minas Gerais num campo de batalha entre liberais e conservadores do Império. Há versões que falam da adesão dos religiosos a um ou a outro lado do conflito, e do temor de retaliações. Fato é que, em 24 de agosto de 1842 – dias depois da derrota do rebelde Teófilo Otoni para forças comandadas pelo Duque de Caxias na batalha de Santa Luzia – o então diretor do colégio, Padre Antônio Viçoso (futuro Bispo de Mariana), transferiu-se para o Triângulo Mineiro carregando alunos, professores, escravos, livros e parte dos equipamentos. Uma viagem de 700 km em carroças e tropas de mulas, pelas estradas precárias da Província.

O colégio instalou-se em três grandes fazendas – Campo Belo, Fortaleza e Paraíso – na região de Campina Verde. Terras que haviam sido doadas aos Vicentinos em 1830 pelo fazendeiro João Batista de Sequeira e sua mulher Bárbara – descendente de índios Caiapós – que não tinham filhos nem herdeiros. Os doadores pediram em troca a construção de uma capela para celebração de missas aos domingos e dias santos, a construção de uma escola de “primeiras letras” e , quando houvesse condições, que fossem ministradas aulas de gramática latina e outros estudos “que o reverendíssimo superior julgar que se estabeleçam”.

A transferência do Caraça cumpriu por algum tempo as promessas. O “Colégio e Seminário de Campo Belo” foi pioneiro na difusão de cultura, educação e religião no Sertão da Farinha Podre – região esquecida do Império, de escassas escolas. Cumpriu também missões de catequese dos índios Caiapós, que ainda habitavam grandes áreas do Triângulo, e ofereceu uma alternativa de educação formal para os filhos dos donos de fazendas agrícolas e de criação de gado de Minas, Goiás e Mato Grosso. Relatos da época dizem que um terço dos alunos estudava gratuitamente, ou “pelo amor de Deus” nos termos de então.

O mais ilustre dos alunos dessa escola foi o escritor Bernardo Guimarães – autor dos romances “Escrava Isaura” e “O Seminarista” – que ambientou em Campo Belo um de seus contos: “Jupira”, história de amor e tragédia entre uma índia Caiapó e um português, publicada em 1872. Também foram alunos do colégio em Campina Verde o político Eduardo Montandom, futuro presidente da Província de Goiás, o advogado e compositor Antônio Cesário de Oliveira Filho (Major Cesário) e diversos intelectuais que fariam carreira como professores e profissionais liberais em Uberaba.

Em 1856, o Caraça retornou definitivamente à sede original, agora tendo à frente padres Vicentinos vindos da França. Foi o início de sua época de ouro como centro de formação da intelectualidade brasileira.



Cidade de Uberaba

O SAMBA UBERABENSE DE IBRAHIM SUED

No início dos anos 1950, despontou na imprensa carioca um novo colunista social, que iria fazer grande sucesso nas décadas seguintes. Descendente de árabes, de uma família pobre, Ibrahim Sued iniciou a carreira nos jornais como repórter fotográfico, ainda nos anos 1940. Nesse trabalho, revelou raro talento para infiltrar-se em locais restritos e obter boas informações, além da uma capacidade admirável de relacionamento com a fina flor da alta sociedade da então Capital Federal.

Trabalhou com grandes jornalistas, como Joel Silveira na revista “Diretrizes” e Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa”, onde começou a escrever os primeiros textos. O sucesso viria a partir de 1954, quando foi contratado pelo jornal “O Globo” para assinar uma coluna social informal e inovadora para a época, com a qual fez fama e fortuna. Criou “bordões” que se tornaram célebres como “De leve”, “Sorry periferia”, “Ademã que eu vou em frente”, “Os cães ladram e a caravana passa”, dentre outros.

Curiosamente, Sued nunca foi escritor talentoso e – segundo seus detratores – tinha dificuldades com a gramática. Além disso, fazia amigos com a mesma velocidade com que colecionava desafetos. Causou surpresa quando, no início de 1956, revelou que estava dando início à carreira de letrista. Sua primeira música era o samba-canção romântico “Decepção”, composto em parceria com um músico também estreante, de família uberabense: Mário Jardim, neto de Quintiliano Jardim – jornalista e diretor do jornal “Lavoura e Comércio”. Mariozinho, como era conhecido, morava no Rio de Janeiro, onde trabalhava no Tribunal de Contas.

Em fevereiro daquele ano, a música foi lançada pela gravadora Sinter, interpretada por Neusa Maria, uma bela e jovem cantora que despontava nos programas de rádio da Capital. Em parte graças à curiosidade e à promoção dada por Ibrahim, o samba fez sucesso e foi incluído no primeiro LP da cantora, lançado meses depois. Uma busca no YouTube nos permite ouvir a gravação original: uma história triste de uma moça apaixonada, traída por falsas promessas de amor, bem ao gosto da época.

No mês de abril Ibrahim e Mário já anunciavam nova parceria no samba “Amor não é brinquedo”, quando uma revelação caiu como um bomba: a jornalista uberabense Iná de Souza reivindicava a autoria da letra e acusava o colunista de plágio. Não faltavam inimigos de Ibrahim na imprensa e a denúncia teve repercussão em diversos jornais e revistas. Iná foi entrevistada e contou sua história: a pedido de Mário, havia escrito a letra no inicio de 1954. O samba, gravado por uma cantora uberabense com arranjo do maestro Alberto Frateschi, teria feito sucesso no carnaval daquele ano. A letra supostamente escrita por Ibrahim tinha poucas palavras modificadas, a maior parte era rigorosamente igual, inclusive o título.

Desconhecida no Rio, Iná de Souza tinha certo prestígio em Uberaba. Filha de uma família de jornalistas que editava o jornal “O Triângulo”, Iná escrevia crônicas e poemas desde a década de 1940. Era também uma das responsáveis pela revista “Graça e Beleza”, de moda e comportamento. Durante a gestão de Antônio Próspero havia trabalhado por alguns anos na Prefeitura, como bibliotecária, diretora do serviço de estatística e chefe de gabinete do prefeito. Nos últimos anos, havia se licenciado do cargo e estava morando com uma irmã na capital de São Paulo – onde foi surpreendida ao ouvir na voz de Neusa Maria o samba que havia composto.

Questionado pela imprensa, a primeira explicação de Mario Jardim tinha cara de confissão de culpa: alegava que, na realidade, a letra era dele e Ibrahim Sued – que não sabia nem batucar em caixa de fósforo – havia composto a música. O próprio Ibrahim, então passando uma temporada na Europa, preferiu não se manifestar. Enquanto isso, Iná de Souza chegava ao Rio disposta a contratar um advogado para processar a dupla e garantir seus direitos. Dizia que tinha inúmeras provas e testemunhos do que afirmava. Mas que, infelizmente, a única gravação em acetato da música feita em 1954 havia sido subtraída de uma rádio uberabense pelo poderoso avô jornalista do coautor.

O que se seguiu nunca ficou muito claro. Aparentemente, a gravadora Sinter intermediou um acordo entre as partes. O fato é que assunto sumiu da imprensa, e ninguém tocou mais no assunto. Mário e Ibrahim continuaram a compor em parceria e Iná voltou a Uberaba, onde tornou-se uma conhecida agitadora cultural. Mas isso já é uma outra história.


(André Borges Lopes)



Cidade de Uberaba

CAPINÓPOLIS: UM MONSTRO E SEUS MISTÉRIOS

Em fevereiro de 1972, o norte do Triângulo Mineiro foi assombrado pelo medo. Assassinatos inexplicáveis em fazendas do entorno da cidade de Ituiutaba deixaram em pânico os moradores da zona rural. Cadáveres de homens e mulheres eram encontrados em fazendas, mortos por tiros de espingarda ou desfigurados por golpes de facão. Bezerros apareciam degolados nos pastos, sem que a polícia encontrasse qualquer pista dos autores dos crimes.

O pânico se espalhou pela região. Levantamentos da polícia davam indícios de uma trilha de mortes misteriosas, começando na região de Paracatu e descendo pelo vale do Rio Paranaíba até a cidade de Capinópolis, na época com cerca de 14 mil habitantes, a maioria na zona rural. Os pequenos destacamentos policiais eram impotentes para garantir a segurança da população e para encontrar os rastros dos assassinos.

O pânico logo se transformou em terror, com boatos correndo de boca em boca. Pessoas da região contavam ter avistado o “monstro” caminhando pelos campos e brejos: era descrito como um homem negro, alto e forte, de olhos vermelhos como o fogo. Sua habilidade de se esconder e fugir da polícia foi atribuída a poderes mágicos. O “monstro” teria um pacto com o diabo e se alimentaria do sangue dos bezerros. Disfarçava-se durante o dia na forma de um boi preto ou de um ninho de cupins. Podia virar fumaça e deslocar-se na velocidade do vento para cometer crimes que aconteciam no mesmo dia a dezenas de quilômetros de distância.

Notícias de mais de 12 mortes chamaram a atenção da grande imprensa, que enviou jornalistas. Jornais, rádio e televisão falavam sobre o “louco do Pantanal” ou “monstro de Capinópolis”, cobrando respostas. O governo de Minas Gerais montou uma operação de guerra, sob comando da Polícia Militar. Cerca de 200 homens do 4º Batalhão de Uberaba foram deslocados para a região sob comando do tenente-coronel Newton de Oliveira, que recebeu reforços de Uberlândia e Belo Horizonte. Caminhões com militares armados de fuzis e metralhadoras, acompanhados de cães rastreadores, cruzavam as estradas do Vale do Paranaíba, uma verdadeira caçada humana.

Nas pequenas cidades, o clima de suspense era ampliado pela chegada de moradores do campo, que fugiam em busca de segurança. Ninguém ousava dormir nas fazendas, as aulas foram suspensas nas escolas e as portas e janelas das casas passaram a ser trancadas a ferrolho e chave. Ruas ficavam desertas à noite mas, durante o dia, curiosos reuniam-se nas praças e bares para saber das novidades. Militares e policiais de passagem eram cercados por repórteres e moradores em busca de informações.

Em 3 de março, uma notícia na capa do jornal Correio Brasiliense contava que o “louco-assassino” havia escapado de um cerco formado por mais de 400 homens. Havia a suspeita de que se tratasse de um ou mais detentos, recentemente fugidos de uma penitenciária em Goiás. Cinco dias depois, o jornal contava que o “monstro” dera um drible nas forças policiais, dessa vez “conseguindo escapar de tiros de revolveres, metralhadoras e granadas de gás lacrimogênio”, reaparecendo logo depois em lugar muito distante.

Orlando Sabino Camargo.

Finalmente, em 10 de março, o maníaco acabou sendo encontrado e preso por 60 soldados da PM mineira, às margens do Rio Tijuco, em Ipiaçu. Identificado como Orlando Sabino Camargo, natural de Arapongas, no Paraná, foi levado ao centro de operações em Capinópolis, para ser apresentado a jornalistas e autoridades, que se amontoavam em torno da delegacia. Ao entrar na sala, causou enorme decepção. Orlando era um homem negro de idade indefinida, cabelos desgrenhados, magro e franzino, com pouco mais de 1,60 de altura. Descalço, vestia roupas surradas e tinha um ar assustado, que lembrava um adolescente com evidentes distúrbios mentais. Respondia com frases curtas às perguntas dos jornalistas e dos policiais. Segundo a polícia, havia assumindo a autoria de ao menos cinco dos crimes investigados. No interrogatório, era premiado com lascas de rapadura a cada resposta que dava. Levado ao Instituto de Medicina Legal de Uberaba, foi diagnosticado com oligofrenia, o que lhe rendeu mais de 38 anos de internação num manicômio judiciário. Libertado em 2011, viveu mais dois anos em uma casa de repouso, antes de morrer de infarto. 

Na época, pouca gente acreditou que um andarilho miserável com problemas mentais tivesse mesmo cometido todas aquelas atrocidades, mas a sua prisão encerrou a série de crimes. O Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar de 1964. Órgãos de repressão do governo combatiam os grupos de oposição armada ao regime, entre eles os que tentavam montar um foco guerrilheiro na região do Rio Araguaia. Com a imprensa sob censura e a oposição mantida sob controle, questionar versões oficiais da polícia e de militares representava um sério risco, inclusive de vida. Só recentemente, a história oficial do “monstro de Capinópolis” passou a ser contestada. Falaremos disso na próxima semana.


(André Borges Lopes)




Cidade de Uberaba

ERAM OS UBERLANDENSES ASTRONAUTAS?

Uma das mais antigas frustrações dos brasileiros vem da falta de exuberância visual das descobertas arqueológicas nacionais. Nos países da América espanhola, sobram pirâmides, cidades e palácios de pedra, com histórias de salas cheias de ouro e prata. Aqui nos restaram pinturas rupestres, sambaquis de conchas e cacos de cerâmica de tribos extintas. Por vezes, mais antigas e tão importantes quanto palácios, mas nada que renda filmes de mistério e aventura ao estilo Indiana Jones.
Por isso, desde os tempos coloniais, sempre foram populares no Brasil as lendas arqueológicas. Histórias fantásticas de cidades perdidas nas serras do Planalto Central, montanhas cobertas de cristais brilhantes, o fantástico Eldorado na imensidão da selva amazônica. Um desses mitos ficou famoso: em 1839, o naturalista Manuel Lagos encontrou na Livraria Pública da Corte (atual Biblioteca Nacional) um manuscrito antigo e carcomido intitulado “Relação histórica de uma occulta, e grande povoação antiquíssima sem moradores”.

Tratava-se do relato de uma expedição de bandeirantes que, após vagar por anos pelos sertões da Bahia, chegara às ruínas de uma cidade abandonada, cheia de praças, palacetes e estátuas. Publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o texto ganhou fumos de seriedade. Nas décadas seguintes, expedições buscaram sem sucesso essa “Cidade Perdida da Bahia”, vagamente localizada entre a Chapada Diamantina e as Serras do Sincorá.

Anos antes dos fósseis de dinossauro começarem a revelar nossos reais tesouros paleontológicos, o Triângulo Mineiro teve um breve momento de glória no terreno das fábulas de civilizações perdidas. Graças ao jornal “O Estado de São Paulo” que, na edição do dia 09 de dezembro de 1916, publicou uma carta enviada à redação por um uberabense de nome Marçal Ferri. Na carta, Ferri contava ter recebido do Dr. José Camin, engenheiro e vereador na vizinha Uberabinha (atual Uberlândia), o relato de uma descoberta fantástica.

O “raizeiro” José Gomes da Fonseca, apelidado “Zé Creca”, buscava raízes nas terras de uma fazenda a seis léguas do centro da cidade, quando topou com uma gruta escondida, cuja entrada estava obstruída por espinheiros e infestada de marimbondos. Com ajuda de seu irmão, espantou os insetos, abriram a entrada e, munidos de tochas, adentraram num túnel com cem braças (180 metros) de extensão. No final, encontraram uma habitação abandonada com 14 cômodos. Havia mobília variada, feita em aroeira e “pintada com gosto”, além de “pratos de barro claro trazendo pinturas esquisitas”. Pelo estilo, os objetos “demonstravam ser do período pré-histórico, talvez até do período anti-diluviano”(sic).

O relato não parava ai: das paredes “pendiam, imitadas em massa duríssima, cabeças humanas e felinas ricamente enfeitadas com ornamentações em ouro”. Por fim, a cereja do bolo: descobriram 17 “cadáveres mumificados muito bem conservados (…) que, pelo que se pode concluir da sua extraordinária estatura, pertencem a um tipo de índios até hoje desconhecido”. Dr. Camin concluía dizendo que, na sua opinião, “o presente achado constitui para nossos historiadores e arqueólogos um fato de grande importância” a merecer uma investigação por cientistas competentes.

A carta saiu sem qualquer destaque ou comentário no matutino paulista, mas não passou batida pelos demais órgãos da imprensa. Nos dias seguintes, jornais do Rio de Janeiro e de várias cidades do País deram espaço, por vezes até na capa, para a assombrosa descoberta do raizeiro Zé Creca, citando como fonte o respeitável Estadão. Logo, o jornal foi inundado por mensagens em busca de informações. A notícia se espalhou pelo Triângulo e muitos curiosos foram atrás do Dr. Camin, querendo conhecer a tal gruta.

Pressionado, o Estadão mandou um correspondente à região apurar melhor a história. No dia 15 de dezembro, teve de publicar um desmentido. Nas fazendas do entorno, ninguém ouvira falar da gruta. O raizeiro Zé Gomes (que não era Fonseca e nem tinha o apelido Zé Creca) de fato existia, mas não fazia idéia do que se tratava. O Dr. José Camin negou a autoria do relato e garantiu que jamais havia escrito a carta para o tal Marçal Ferri de Uberaba, do qual ninguém dava notícia. Em resumo, algum gaiato havia “trollado” o Estadão em grande estilo – e o estrago já estava feito.

(André Borges Lopes)



Cidade de Uberaba

domingo, 30 de dezembro de 2018

CAPINÓPOLIS: UM MONSTRO E SEUS MISTÉRIOS (II)

Há duas semanas, contei a história do “monstro de Capinópolis que assombrou o Triângulo Mineiro nos primeiros meses de 1972. Depois de um cerco policial que durou semanas e eletrizou a população do país – o caso chegou a ser relatado no Jornal Nacional e nas páginas de revista Veja – a polícia prendeu Orlando Sabino Camargo, um andarilho negro e franzino de 25 anos de idade com problemas mentais evidentes, que teria confessado a autoria de alguns dos crimes.

No final das contas, Orlando foi responsabilizado por um total de 25 assassinatos, sendo 13 em Minas Gerais e 12 em Goiás, além da morte de 19 bezerros. A maioria dos homicídios aconteceu na zona rural, sem presença de testemunhas, e nunca foi apresentada uma lista formal, com os nomes de todas as vítimas e as circunstâncias de cada morte. Examinado por uma junta médica, Orlando foi diagnosticado com oligofrenia e considerado inimputável. Acabou condenado pela Justiça a internação compulsória por tempo indeterminado em um manicômio judiciário na cidade de Barbacena, onde ficou detido por mais de 38 anos, até ser transferido para um lar de idosos, onde faleceu em 2013.

A prisão do “Monstro” colocou um fim nas mortes misteriosas no vale do Rio Paranaíba e deu resposta às cobranças da população. Mas muita gente não ficou convencida de que Orlando teria sido o responsável por todos os crimes. Interrogado pela polícia e por jornalistas, o suposto “assassino serial” limitava-se a confirmar a autoria das mortes com monossílabos e frases simples. Perguntado sobre sua motivação, dizia que “matava para comer”. Além disso, sua compleição física estava distante das fantasias criadas pela imprensa nos dias em que a região viveu a caçada humana: uma fera assustadora, com força e velocidade assombrosas, além de poderes fantásticos de dissimulação.
A morte dos bezerros e alguns dos homicídios se encaixam na narrativa de crimes praticados por alguém mentalmente perturbado. Mas houve casos de pessoas abatidas a tiros, em circunstâncias mal esclarecidas. Em ao menos um dos assassinatos, o do fazendeiro Oprínio do Nascimento, foi possível identificar o projétil responsável pela morte: uma bala .44, de uso exclusivo das forças de segurança, incompatível com a espingarda enferrujada que a polícia alegou ter apreendido com Orlando. Havia na sequência dos crimes a ele atribuídos alguns acontecidos com pouca diferença de tempo em lugares distantes, algo impossível para alguém que andava a pé vagando pelos campos, evitando estradas e já procurado pela polícia.

O Brasil vivia o período mais duro da ditadura de 1964, com a imprensa sob censura prévia, e ninguém ousava questionar versões oficiais. Mas um dos motivos da desconfiança era o tamanho do aparato mobilizado para capturar um criminoso tão singelo. O então governador mineiro Rondon Pacheco, natural de Uberlândia, envolveu-se diretamente na coordenação da buscas. No auge da perseguição, alguns relatos falam da participação de mais de mil agentes, entre soldados da Polícia Militar e investigadores da Civil, contando com o apoio do Exército, de aviões, helicópteros, cães rastreadores e de algumas dezenas de voluntários.

No final dos anos 1970, com a abertura política, alguns jornalistas começaram a questionar a história oficial. Em 1979, o uberabense Joaquim Borges divulgou a versão de que a perseguição a Orlando Sabino teria sido uma cortina de fumaça para encobrir as buscas por guerrilheiros de esquerda que estariam se escondendo na região do Pontal do Triângulo. Em 2011, Pedro Popó lançou o livro-reportagem “Monstro de Capinópolis” onde joga luz sobre a fragilidade das acusações. Em 2014, o jornalismo da rede de televisão SBT produziu uma reportagem sobre o caso, que pode ser encontrada no YouTube.

Orlando Sabino “ Monstro de Capinópolis”

Publicado em 2016 pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia, o segundo tomo do “Relatório da Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba” traz os resultados das investigações sobre o assunto, sem que tenham sido encontradas respostas definitivas. Alguns pesquisadores consideram que a sequência de assassinatos possa ter servido para ocultar ajustes de contas pessoais e crimes por outras motivações, que ao final foram atribuídos a Orlando Sabino – deixando os verdadeiros autores impunes.

A tese da perseguição a guerrilheiros nunca foi devidamente comprovada. Mas há ao menos um indício bastante curioso. No meio da caçada ao “Monstro de Capinópolis”, as autoridades relataram à imprensa a prisão de um cidadão paraguaio de nome Gerardo Martinez Herrera, que despertou suspeitas ao procurar trabalho numa fazenda da região. Investigado, descobriu-se que o homem teria curso superior e havia sido militar no país vizinho. Tão rápido como surgiu, o tal Herrera desapareceu dos noticiários. Até hoje, a sua prisão é um mistério absoluto.


André Borges Lopes








Cidade de Uberaba

OS MENINOS DE SAIOTE DO IÊ-IÊ-IÊ

No ano de 1968 – aquele “que não terminou” no livro do jornalista Zuenir Ventura – a ditadura militar fechava cada vez mais os espaços de manifestação política. Mas por outro lado, a cultura brasileira vivia um dos seus grandes momentos. A cena musical se agitava com a disputa entre os jovens irreverentes da Jovem Guarda e os engajados da MPB, que dividiam corações e mentes nos grandes festivais. No cinema, Roberto Carlos em ritmo de aventura alternava as salas com o francês A Bela da Tarde, estreado por Catherine Deneuve.

Uma das principais palcos da capital carioca era o Canecão, misto de restaurante e casa de shows no bairro de Botafogo. Em março de 1968, a sensação da casa era um show que misturava bandas de rock & roll com malabaristas e dançarinas. Uma das bandas fazia furor, com rapazes tocando de saia uma música de alta qualidade. O nome dessa banda era Mugstones, e sua origem a pacata cidade mineira de Uberaba.

A roupa não era exatamente uma saia, mas sim um “kilt”, saiote escocês em pano xadrez vermelho. Os sete jovens eram José Raul Parada (saxofone), Luiz Humberto “Luizinho” Silveira (guitarra), Luiz “Luizão” Motta (baixo), Laerte de Oliveira (piston), Eurípedes “Pardal” de Oliveira (bateria), Braz “Bazzani” Lamboglia Júnior (guitarra), Márcio Antônio Vieira “Marc Antonov” (guitarra). Todos então na faixa dos vinte e poucos anos, colegas de infância e adolescência vivida no Triângulo Mineiro,

O conjunto surgira como as bandas de garagem dos anos 1960: um grupo de amigos com talento que se reunia para tocar os sucessos da época: o rock & roll e músicas da Jovem Guarda que bombava nas rádios e nas TVs. Conhecido como “Os Poligonais”, se apresentava nas praças da cidade e no clube da Associação Comercial. Chegaram a gravar um primeiro disco compacto. Em pouco tempo, ficou claro que Uberaba era pequena para o talento da banda. No comecinho de 1967, fizeram um grande show de despedida na praça Rui Barbosa e se mandaram para São Paulo.

As emissoras de televisão das capitais brigavam pela audiência entre os jovens com programas musicais de auditório. Na capital paulista, os Poligonais encantaram o produtor musical Glauco Ferreira que gostou do embalo do grupo, mas achou o visual pouco arrojado. O nome também tinha problemas: era usado por um outro conjunto de bossa nova.

Foi quando surgiu o “Mugstones”. No ano anterior, um boneco de pano vestido de saiote escocês, tornou-se uma febre ao ser adotado como mascote por celebridades como Wilson Simonal e Chico Buarque. O simpático “MUG” e um alfaiate talentoso deram origem ao uniforme do grupo. Em fevereiro de 1967, já com os saiotes e o novo nome, a banda estreou no Rio de Janeiro em grande estilo: fizeram um dos shows de abertura do cantor francês Johnny Halliday no ginásio do Maracanãzinho, ao lado de astros nacionais como o cantor Ronnie Von

A ousadia de um bando de marmanjos usando saias deu ao grupo destaque na mídia. Em abril, participaram do programa humorístico “Riso 40 graus” da TV Tupi. A qualidade musical e o repertório – do samba ao iê-iê-iê, com algumas pitadas de jazz – animou a gravadora Polydor a incluí-los no elenco. Em maio, chegou às lojas um compacto simples da banda, com duas músicas: A grande parada e Sozinho eu seguirei. Meses depois, foram incluídos num LP da coleção “Os novos reis do Yê Yê Yê”. O sucesso dos discos convenceu dono da boate “Candelabre” de Copacabana a contratar os moços para uma temporada.

No final de 1967 foi lançado o primeiro LP dos Mugstones, com uma foto da banda na capa. Segundo o livro Jovem Guarda em ritmo de aventura, o disco destacava-se pela originalidade: trazia covers de sucessos e de músicas originais do grupo, além arranjos muito bonitos para canções como Upa negrinho (de Edu Lobo e Guarnieri) e o clássico O sole mio. No ano seguinte, estrelas do espetáculo no Canecão, apareceram em reportagens em jornais e revistas. Viajaram pelo Brasil apresentando-se em Salvador, Recife, Belém do Pará e Porto Alegre. Morando no Rio, os jovens compraram uma grande caminhonete, que os transportava para shows na cidades do interior – uma das poucas bandas nacionais a contar com esse recurso.

Em 1969, em paralelo aos shows, o grupo fez uma participação o especial num dos episódios do filme “Como vai, vai bem?” do cineasta Alberto Salvá, contracenando com os atores Flavio Migliacio e Paulo José. Pouco tempo depois, com o fim da febre do Iê-Iê-Iê , o grupo se separou e cada um foi para o seu lado. Pardal e Luizinho continuaram ligados à música: o primeiro faleceu em Uberaba em 2015. Luizinho vive em Goiânia, mas às vezes aparece na nossa cidade com seu acordeon.

(André Borges Lopes)




Cidade de Uberaba

OS AGRADINHOS DE DONA CHIQUINHA

Em 1º de abril de 1964, um golpe militar depôs o presidente João Goulart, dando início a uma ditadura de duas décadas. Mas nos primeiros meses que se seguiram ao golpe, os uberabenses tiveram algo mais com o que se preocupar além da conturbada política nacional. Enquanto nas capitais sucediam-se cassações de mandato e prisões de opositores, a polícia de Uberaba estava preocupada em desbaratar uma história pavorosa: o caso dos “agradinhos” envenenados de Dona Chiquinha, que supostamente haviam deixado um rastro de doze mortos no bairro da Abadia.

A história tinha começado em fevereiro, quando uma moradora do bairro procurou a polícia para contar uma história assustadora. Maria Eduarda Costa, de 46 anos, era vizinha de Francisca Coelho do Nascimento, uma conhecida benzedeira do alto da Abadia. Na sua casa na rua Campos Sales, Dona Chiquinha, de 52 anos, fazia rezas, magias e ritos aparentemente ligados à umbanda. Dava conselhos amorosos e encomendava trabalhos para reunir amantes e espantar rivais no amor e nos negócios. Maria Eduarda acusava a vizinha de acelerar os resultados das mandingas mandando guloseimas temperadas com veneno de rato às vítimas de seus trabalhos: os “agradinhos”. Nessa toada, seria autora de meia dúzia de assassinatos.

Os policiais custaram a acreditar na história de Mariinha, moça um tanto confusa e perturbada. Mas ela tanto insistiu que o delegado José Geraldo decidiu colocar investigadores para esclarecer o caso. Dona Chiquinha, trazida para depor, surpreendentemente confirmou parte das acusações. Havia envenenado cinco pessoas: um marido, um amante, uma sogra, uma cunhada e a filha de uma rival. Para piorar a história, devolvia acusações e dizia que o total de mortos chegava a doze. Os outros sete por conta de Mariinha e de duas outras mulheres: Francisca Ferreira e Maria Helena, que haviam requisitado seus serviços. Os crimes teriam começado em 1957, envolvendo pessoas humildes dos bairros populares da cidade.

A notícia caiu como uma bomba. Jornais e os radialistas não falavam de outra coisa. Todo mundo correndo atrás das histórias das vítimas e questionando as autoridades: como uma série tão longa de crimes não despertou suspeitas da polícia? As quatro mulheres tiveram a prisão preventiva decretada por um juiz local e foram isoladas numa cela da cadeia local. Presas, Dona Chiquinha e Mariinha não se negaram a dar entrevistas à imprensa, na qual trocavam acusações e alimentavam os noticiários com detalhes picantes das histórias, que envolviam violência doméstica, triângulos amorosos, ciúmes e intrigas familiares.

A confissão das acusadas não bastava para embasar o processo, e a polícia teve que ir em busca de provas. Foi quando ficou evidente a confusão e a falta de cuidado das autoridades com os casos de mortes entre a população mais pobre. Das doze mortes confessadas, a polícia só encontrou registro oficial de oito, das demais não se tinha notícia. Os atestados de óbito de sete das oito vítimas nada diziam quanto a suspeitas de envenenamento, apontando outras causas da morte. Em apenas um caso, uma moça de 20 anos morta em 1962, o médico legista Dr. Jorge Furtado (então prefeito da cidade) havia solicitado exame das vísceras em Belo Horizonte. Dois anos depois, ninguém havia se preocupado em pedir de volta o resultado dessa análise que, descobriu-se então, confirmava a presença de arsênico.

Para complicar, uma revista na casa de dona Chiquinha não encontrou amostras do veneno. As tentativas de exumar os cadáveres revelaram uma enorme confusão no cemitério local: dos oito mortos, só foi possível localizar com segurança os restos mortais de um e a análise de laboratório foi inconclusiva. Exames médicos em pessoas que teriam supostamente sobrevivido às tentativas de envenenamento não revelaram muita coisa. E uma análise psiquiátrica feita por médicos da Faculdade de Medicina comprovou transtornos mentais na delatora Mariinha. Com evidências tão frágeis, não foi difícil aos advogados de defesa conseguir revogar a prisão no Tribunal de Justiça. Liberadas, as mulheres acusadas – com exceção da delatora – mudaram-se da cidade.

Dois anos depois, o repórter José Hamilton Ribeiro fez na Revista Realidade uma matéria sobre o caso. Segundo ele, o processo ainda se arrastava na Justiça e a promotoria tinha dúvidas se conseguiria reunir provas para levar o caso a júri popular. Como de costume, a historia dos agradinhos já havia sumido do noticiário para dar lugar a crimes mais recentes.

(André Borges Lopes)






Cidade de Uberaba

PEDRAS QUE CAEM DO CÉU

No início da noite do dia 7 de maio desse ano, um clarão riscou os céus da nossa cidade e chamou a atenção dos uberabenses. Avistado e fotografado também em outras localidades do Triângulo Mineiro e do Noroeste Paulista, os técnicos estimam que o fenômeno tenha sido causado por uma pequena rocha espacial de menos de um quilo, que entrou na atmosfera terrestre a cerca de 100 mil km/h de velocidade nas imediações da cidade paulista de Jaborandi. Atravessou a divisa com Minas Gerais e cruzou o firmamento a grande altitude, queimando pelo atrito com o ar por mais de 120 km até desaparecer sobre a cidade de Campo Florido. Várias pessoas registraram esse evento em fotos e vídeos, que podem ser vistos na Internet.

Dezenas de milhares de objetos entram na atmosfera terrestre todos os anos causando esses fenômenos, conhecidos como “queda de meteoro” ou ainda “estrela cadente”. Desses, somente pouco mais de uma centena atingem a superfície do planeta e ganham a denominação de “meteorito”. O mais famoso meteorito brasileiro é o Bedengó, que ganhou fama nos últimos dias por ter resistido à tragédia que se abateu sobre o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Rocha metálica formada por 5,3 toneladas de ferro e níquel, foi descoberto em 1784 no sertão da Bahia, e transportado um século depois – a duras penas – para a antiga capital do Império.

O Bedengó é ainda hoje um dos maiores meteorito em exposição no mundo. No Brasil, só foi superado em tamanho por um gigantesco objeto metálico encontrado em 1875 na região de São Francisco do Sul, estado de Santa Catarina. Rico em níquel, a pedra foi quebrada em pedaços e vendida como minério para a Inglaterra. Pesquisadores estimam seu tamanho entre 7 e 25 toneladas.

Bem mais modesto é o meteorito “Uberaba”, que também fazia parte da coleção do museu incendiado, e ainda não sabemos se sobreviveu ao incêndio. Formado por 40 kg de rocha, caiu no dia 29 de junho de 1903 próximo à sede de uma fazenda nas imediações de nossa cidade, assustando muita gente e destelhando algumas casas. Apavorado com o fenômeno, o proprietário vendeu a fazenda. Antes de ser recolhido por cientistas, foi cultuado como uma pedra mística: conta-se que muitas pessoas rezavam no local da queda e quebravam pedaços para fazer chás com supostos poderes medicinais.

Outro meteorito que causou comoção em nossa cidade foi “Santa Luzia”, que caiu em 1919 próximo à pequena cidade goiana de mesmo nome (atual Luziânia, DF). O objeto metálico de quase duas toneladas causou um pequeno terremoto ao bater no solo e abrir uma cratera, mas o local da queda só foi descoberto alguns anos depois. Conta-se que o dono das terras vendeu o meteorito a um interessado que, sem conseguir carregá-lo, começou a vendê-lo em pedaços. Um desses fragmentos foi enviado para análise na Escola de Minas de Ouro Preto, onde constatou-se que era um objeto espacial do tipo ferroso. Diante disso, o governador goiano decidiu doá-lo ao Museu Nacional.

O transporte também foi penoso, e enfrentou alguma resistência da população local, que tinha o costume de fazer amuletos com fragmentos da “pedra que caiu do céu”. No dia 30 de agosto de 1928, ele começou a ser retirado da cratera e para ser levado em carro de boi até a estação de trem de mais próxima, na cidade de Vianópolis – onde só chegou em 17 de outubro. Nos dias seguintes, foi colocado em um trem especial que rumou para São Paulo parando nas principais cidades do caminho. No dia 23 de outubro de 1928 a pedra passou por Uberaba e o povo fez fila junto a estação da Mogiana para ter uma chance de ver o estranho objeto sideral – que também resistiu ao incêndio no Museu carioca.

Mas o evento mais famoso aconteceu no dia 3 de junho de 1956. Eram 17:30 de uma tarde fria de outono quando um estrondo e um clarão repentino aterrorizaram a população de Uberaba. Um objeto luminoso atravessou o céu da cidade de leste para oeste, em altíssima velocidade até sumir no horizonte, deixando uma impressionante trilha de vapores e fumaça. Minutos depois, o fotógrafo Wagner Schroden Jr. registrou o rastro no céu, iluminado pela luz do por do sol. A foto ganhou destaque no jornal Lavoura e Comércio do dia seguinte e correu o mundo. A revista “A Cigarra” fez uma matéria de três páginas sobre o evento.

A rocha seguiu se despedaçando em explosões sucessivas sobre o Pontal do Triângulo, e seu maior fragmento, com cerca de 100 kg, caiu a cerca de 70 km a noroeste da cidade de Paranaíba, no atual Mato Grosso do Sul. O meteorito “Paranaíba” também foi recolhido ao Museu Nacional, mas antes o padre da cidade mandou erigir uma cruz, marcando o local da queda.


(André Borges Lopes)



Cidade de Uberaba

O TURISMO DE NEGÓCIOS DO ZEBU

Até as últimas décadas do século XIX, a criação de gado no Brasil dependia quase exclusivamente de bovinos do tipo europeu (“bos taurus”) introduzidos no país pelos portugueses na colonização. Era gado nativo das regiões temperadas do globo, variedades de raças europeias postas à prova nas duras condições climáticas e ambientais da América. Se adaptaram bem aos pastos dos estados do sul, assim como na Argentina e no Uruguai, onde a indústria da carne prosperou. Mas o gado europeu não tinha bom rendimento nas áreas quentes do cerrado e da caatinga: as reses eram atacadas por infestações de parasitas, não se davam bem com a alimentação disponível e sofriam ao percorrer caminhando as longas distâncias de um país imenso e sem meios de transporte modernos.

Na região do Triângulo Mineiro, segundo relatos dos pecuaristas da época, os criadores tinham que escolher entre quatro variedades: Crioula, Curraleira, Caracu e Mestiça. As três primeiras eram resultado de séculos de seleção natural e de cruzamentos pouco controlados entre raças de gado europeu, na busca de bovinos melhor adaptados. A última resultava da mestiçagem entre gado Caracu e Crioulo com alguns exemplares de bovinos do tipo conhecido como “Nilo” ou “China” – trazidos da África pelos portugueses. Era um tipo de boi diferente, mestiços do “bos indicus” nativo das regiões quentes da Índia e do Paquistão, raça que se espalhava lentamente pelo mundo e começava a despertar a atenção de alguns criadores.

Não há registros precisos da entrada desse gado “Nilo” no Brasil. Mas sabemos que, em meados do século XIX, alguns exemplares de gado indiano chegaram ao Rio de Janeiro. Inicialmente, esses bois diferentes, de proeminente cupim e barbela, eram tratados como bichos de zoológico. O “Zebu” era uma curiosidade do oriente, trazida ao país por importadores de animais exóticos como elefantes, zebras e avestruzes. Mas despertou a atenção de pecuaristas do interior do Rio, que experimentaram o seu cruzamento com o gado europeu, surpreendendo-se com os bons resultados. Pouco tempo depois, a novidade chegou ao Triângulo: alguns criadores locais compraram reprodutores no Rio e se encantaram com a rusticidade e resistência da nova raça. Começava a saga do zebu nas terras mineiras.

A medida em que prosperava na região a criação do gado indiano, ganhava corpo a ideia de não depender dos criadores fluminenses, buscando exemplares da raça diretamente na Índia. No início de 1983, Theophilo de Godoy deixou a cidade de Araguari rumo a Mumbai (Bombaim, na época) com a missão de trazer para diversos pecuaristas locais um lote de reprodutores puro-sangue. Theophilo era um personagem talhado para a tarefa: negociante, fazendeiro e então capitão da Guarda Nacional do Império, reunia a rusticidade de homem do sertão com uma incomum erudição. Embora nunca tivesse saído do Brasil, era dono de um texto elegante, colaborava com jornais de Araguari e de Uberaba, dominava razoavelmente o francês e o inglês, e conhecia o mundo pelos livros e revistas.

No dia 23 de janeiro, deixou para trás mulher, filhos e negócios e partiu para sua aventura. Viajou por terra até São João del Rey, de onde tomou um trem para o Rio. Em 24 de abril, partiu sozinho de navio para Bordéus, na França. Fez uma breve estada em Paris, onde conheceu os Zebus criados no Jardim da Aclimação. Atravessou Suíça e a Itália para tomar outro navio no porto de Gênova. A caminho da Índia, deixou o barco em Alexandria e visitou as pirâmides e museus do Cairo, retornando a bordo no porto de Suez, já no mar Vermelho. Chegou em Mumbai no dia 11 de julho, onde fez amizade com famílias abastadas da comunidade portuguesa local.

Suas aventuras de viagem e sua estada no Oriente ficaram registradas em uma série de artigos que publicou nos jornais de Araguari e Uberaba, posteriormente reunidos num livreto de 36 páginas: “Do Brasil à Índia”, disponível no acervo digital do Museu do Zebu. Mais que um documento de época, trata-se praticamente de um guia de turismo do século XIX, com descrições detalhadas das cidades, dos templos, dos costumes e da exótica vida cotidiana nas diversas cidades do sul e do norte da Índia que Theophilo visitou. Um país, na época, dividido entre o pujante Império Britânico e as decadentes possessões portuguesas.

Em 10 de janeiro de 1894, Theophilo de Godoy finalmente desembarcou de volta no Rio de Janeiro. Em outro barco, vindo de Marselha – o vapor “Aquitane” da Société Générale des Transports Maritimes – chegaram 13 touros e vacas zebus cuidadosamente escolhidos por ele nas fazendas da Índia, aos quais se somaram dois bezerros nascidos durante a viagem. Embarcados de trem para o Triângulo Mineiro, trouxeram sangue novo para aprimorar a raça que, em pouco tempo, iria dominar a pecuária da região.


Andre Borges Lopes






Cidade de Uberaba

O VINHO UBERABENSE DO PADRE ZEFERINO

Há duas semanas, falei das uvas e vinhos do Padre Zeferino, destruídos pela repressão aos que apoiaram a Revolução Liberal mineira. Mas o movimento de 1842 também trouxe benefícios à região de Uberaba. Um dos mais duradouros foi a transferência do Colégio do Caraça que – para se afastar da agitação política – deixou às pressas as serras ao norte da antiga capital Ouro Preto e se instalou em uma fazenda em “Campo Belo da Farinha Podre”, atual cidade de Campina Verde.

Encravado nas montanhas da Serra do Espinhaço, o “Santuário do Caraça” é um ponto turístico histórico de Minas Gerais. Foi o primeiro grande empreendimento no Brasil da Congregação da Missão – ordem religiosa conhecida como ”lazaristas” ou “Irmão Vicentinos” – que, vinda de Portugal antes da independência, aqui chegou em 1818. Dois anos depois, receberam de Dom João VI as terras onde havia a “Ermida do Irmão Lourenço”, uma capela barroca e uma hospedaria para peregrinos que se aventuravam pela Serra do Caraça.

Em poucos anos, a ermida semiabandonada transformou-se num colégio interno e um seminário, inaugurados em 1921. Famoso pela seriedade e rigidez da disciplina, o Caraça tornou-se referência de ensino para a elite brasileira do século XIX. Ex-alunos fizeram carreira como governadores de estado, senadores, deputados, empresários e autoridades religiosas – entre eles dois presidentes da República: Afonso Pena e Artur Bernardes. Colégios particulares do Rio de Janeiro faziam anúncios destacando que seguiam o “método Caraça” de ensino científico, religioso e moral.

Nos anos após a independência, havia muita desconfiança política em relação a padres estrangeiros vinculados às ordens em que os superiores estavam na Europa. Mas não são claros os motivos que levaram à fuga dos lazaristas durante a Revolução que – por dois meses e dez dias – transformou Minas Gerais num campo de batalha entre liberais e conservadores do Império. Há versões que falam da adesão dos religiosos a um ou a outro lado do conflito, e do temor de retaliações. Fato é que, em 24 de agosto de 1842 – dias depois da derrota do rebelde Teófilo Otoni para forças comandadas pelo Duque de Caxias na batalha de Santa Luzia – o então diretor do colégio, Padre Antônio Viçoso (futuro Bispo de Mariana), transferiu-se para o Triângulo Mineiro carregando alunos, professores, escravos, livros e parte dos equipamentos. Uma viagem de 700 km em carroças e tropas de mulas, pelas estradas precárias da Província.

O colégio instalou-se em três grandes fazendas – Campo Belo, Fortaleza e Paraíso – na região de Campina Verde. Terras que haviam sido doadas aos Vicentinos em 1830 pelo fazendeiro João Batista de Sequeira e sua mulher Bárbara – descendente de índios Caiapós – que não tinham filhos nem herdeiros. Os doadores pediram em troca a construção de uma capela para celebração de missas aos domingos e dias santos, a construção de uma escola de “primeiras letras” e , quando houvesse condições, que fossem ministradas aulas de gramática latina e outros estudos “que o reverendíssimo superior julgar que se estabeleçam”.

A transferência do Caraça cumpriu por algum tempo as promessas. O “Colégio e Seminário de Campo Belo” foi pioneiro na difusão de cultura, educação e religião no Sertão da Farinha Podre – região esquecida do Império, de escassas escolas. Cumpriu também missões de catequese dos índios Caiapós, que ainda habitavam grandes áreas do Triângulo, e ofereceu uma alternativa de educação formal para os filhos dos donos de fazendas agrícolas e de criação de gado de Minas, Goiás e Mato Grosso. Relatos da época dizem que um terço dos alunos estudava gratuitamente, ou “pelo amor de Deus” nos termos de então.

O mais ilustre dos alunos dessa escola foi o escritor Bernardo Guimarães – autor dos romances “Escrava Isaura” e “O Seminarista” – que ambientou em Campo Belo um de seus contos: “Jupira”, história de amor e tragédia entre uma índia Caiapó e um português, publicada em 1872. Também foram alunos do colégio em Campina Verde o político Eduardo Montandom, futuro presidente da Província de Goiás, o advogado e compositor Antônio Cesário de Oliveira Filho (Major Cesário) e diversos intelectuais que fariam carreira como professores e profissionais liberais em Uberaba.
Em 1856, o Caraça retornou definitivamente à sede original, agora tendo à frente padres Vicentinos vindos da França. Foi o início de sua época de ouro como centro de formação da intelectualidade brasileira. 



(André Borges Lopes)



Cidade de Uberaba

A história do "Edifício A Equitativa"

Na história de Uberaba, houve momentos em que algumas coisas deram tão errado que chegou-se a suspeitar que havia alguma praga ou maldição atrapalhando o progresso local. Um dos casos emblemáticos foi o do edifício “A Equitativa”: aquele que deveria ter sido um dos primeiros – e o mais moderno – arranha-céu do interior de Minas Gerais, transformou-se de sonho em pavoroso esqueleto que, por décadas, assombrou o centro da cidade.

Fundada em 1896, a sociedade mútua de seguros gerais “A Equitativa dos Estados Unidos do Brasil” foi uma das maiores companhias seguradoras nacionais na primeira metade do século passado – chegando a contar com mais de dois milhões de clientes em sua carteira. A empresa tinha como sócio o governo federal e vendia seguros de vida individuais, imobiliários e para empresas. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, seus escritórios ocupavam edifícios imponentes nos centros das cidades.

Não se sabe exatamente quando “A Equitativa” começou a atuar em Uberaba, mas no início dos anos 1930 encontramos na imprensa anúncios e notícias sobre representantes na região. Os negócios prosperaram durante os anos da ditadura de Getúlio Vargas, e a empresa tinha o costume de sortear prêmios em dinheiro aos segurados, publicando nos jornais grandes anúncios com o nome dos contemplados. Os representantes regionais Joaquim Cunha Campos e Fernando Sabino Júnior eram figuras de destaque na cidade e participavam ativamente na Associação Comercial.

A Equitativa dos Estados Unidos do Brasil.

Por conta disso, foi grande o entusiasmo quando, em junho de 1942, a Equitativa realizou um grande evento para anunciar que pretendia construir um “majestoso edifício” para seus escritórios regionais no centro de Uberaba. O terreno ficava nos fundos da Companhia Telefônica local, bem ao lado de onde estavam sendo canalizados os córregos e pavimentadas as futuras avenidas Leopoldino de Oliveira e Fidélis Reis. O prédio, com mais de 10 andares em concreto armado, iria se juntar ao do Grande Hotel – inaugurado na ano anterior – dando impulso à verticalização e ao progresso da cidade, que vivia um dos apogeus da pecuária do Zebu.

O coquetel de lançamento contou com a presença de René Cassinelli, gerente geral da companhia, que veio do Rio para a ocasião. Uma caixa de aço contendo os jornais do dia e cartões de visita de todos os participantes foi concretada dentro da pedra fundamental do edifício, no meio do terreno. Matérias de página inteira, com fotos dos eventos, estamparam os jornais nos dias seguintes. Muita fumaça para pouco fogo: a construção prometida não começou. A entrada no Brasil na 2ª Guerra e a crise do Zebu em 1944 e o fim do governo Vargas congelaram o projeto.

Nova tentativa foi feita dez anos depois. Em maio de 1952, Getúlio era novamente Presidente, dessa vez pelo voto. Ele o governador Juscelino Kubitscheck vieram à cidade para inaugurar a Exposição e aproveitaram para relançar em grande estilo o prédio, rebatizado como “Edifício Getúlio Vargas”. Dessa vez, havia plantas, desenhos e maquetes do arranha-céu, que apresentava linhas modernas e conceitos sofisticados para a época: lojas no térreo com pé direito duplo, dois andares de escritórios – onde ficaria a sede da seguradora – e três apartamentos residenciais em cada um dos andares superiores. No 11º piso, um amplo salão com uma marquise de formato irregular, rodeada por um terraço jardim, semelhante aos projetos de Artacho Jurado, que faziam sucesso em São Paulo no início dos anos 1950.

De novo, muito barulho e pouca ação. Vargas suicidou-se dois anos depois, sem que as obras do prédio que levava seu nome tivessem começado: somente em 1955 foram concluídas as fundações. Nos dois anos seguintes, os andares foram sendo erguidos e, no final de 1957 a Equitativa instalou-se provisoriamente no andar térreo e colocou à venda os primeiros apartamentos. Por fim, parecia que a obra ia sair.

Uma nova decepção: a seguradora entrou em uma crise financeira e não concluiu as obras. Em 1966, o governo militar encerrou as atividades da empresa, dando início a uma longa liquidação judicial, atrasada por processos trabalhistas. O prédio inacabado passou as décadas seguintes em abandono, servindo de outdoor para anúncios de uma marca de televisores. Só em 1977 as obras foram retomadas. Dois anos depois, os apartamentos foram colocados à venda, no rebatizado “Edifício Everest”. O prédio arrojado dos anos 1950 já estava obsoleto: não tinha garagens para os moradores, o “terraço jardim” fora suprimido e o centro da cidade começava a perder a atração como lugar residencial.


Andre Borges Lopes





Cidade de Uberaba

PROCLAMAÇÃO

A Proclamação da República, não foi só uma vontade popular. Foi um golpe de Estado político-militar acontecido num 15 de novembro do longínquo ano de 1889 e que acabou instalando a forma republicana presidencialista de governo no Brasil, que vigora até hoje, embora interrompida por ações ditatoriais. Ela encerrou a fase de monarquia institucional, destituindo o então Chefe de Estado, o Imperador D. Pedro II.

O ato se deu na praça da Aclamação, hoje, Praça da República, no Rio de Janeiro, então Capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares , liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca, destronou o Imperador e assumiu o poder, formando um governo provisório republicano. Conta a História que o escritor Eça de Queiroz, escreveu “ o Império está fracionado e sua importância é apenas relativa”. A profecia realizou por ter faltado consistência política –ideológica e mais arrojo dos seguidores da monarquia”. 

O coração do brasileiro, norte a sul, leste a oeste, clamava pela unidade nacional na forma republicana, nas crenças, costumes e até nas brincadeiras infantis. A formação patriarcal, religiosa, predominava e ansiava por mudanças do regime político, conjunto de valores morais do povo e que não desmanchava com facilidade. 

O golpe militar estava previsto para o dia 20 de novembro, daquele ano. Teve que ser antecipado por uma onda de boatos que grassou na Corte. Falava-se nas prisões dos conspiradores Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca. Foi o estopim para antecipar a eclosão do movimento. Deodoro, apesar de estar muito doente, liderou o movimento que redundou na queda da monarquia. 

Múltiplos fatores levaram a queda do Império. Foram perdidos os apoios econômicos, sociais e militares, tanto por parte dos conservadores e as sérias divergências de setores da Igreja Católica, principalmente a elite rural, inconformada com a Abolição da Escravatura no País, sem a indenização aos “ donos dos escravos”. A pressão, então, chegava às alturas. As criticas, se acumulando, o caos econômico, os atritos políticos, a instabilidade social, a manutenção do voto censitário ( o famoso “cabresto”), o ensino falho, a miséria batendo à porta , culminando com o afastamento do Brasil, com os demais parceiros do Continente, pois que, éramos, doravante, republicanos. 

No momento em que a credibilidade imperial decaía, a proposta republicana ganhava contornos, rumo ao progresso econômico social. A população carioca gostava e respeitava D.Pedro II. Quando da sua morte, o Principe consorte, marido da Princeza Isabel, o francês Conde d’Eu,passou a “mandar”, era antipatizado. Tido como mal educado, arrogante, não ouvia e nem pedia conselhos a ninguém. Diziam ser carrasco, dono dos “cortiços” no Rio de Janeiro, cobrava altos aluguéis dos moradores de baixa renda, dos casebres onde residiam. 

O Brasil assistiu, com surpresa esperada, a queda da monarquia e a implantação e proclamação da República e a aceitado, sem restrições. Antes e depois da Proclamação da República, a instalação do regime político, trouxe o desenvolvimento ao País. Deus nos proteja e que a liberdade republicana dure para sempre ! 

Bom feriado. Abraço fraterno do “! Marquez do Cassú”. 












Cidade de Uberaba

O BUSTO DE PALMÉRIO

Assistí o descerramento do busto de Mário Palmério, homenagem ao imortal, pela Academia de Letras Triângulo Mineiro prá lá de merecida. Parabéns, presidente João Euripedes Sabino. Lembranças como essa, devem ser preservadas. A gratidão e o reconhecimento não são comuns entre os homens. Mas que deveriam erguer uma baita estátua de Palmério na praça principal da terrinha...ah! deixa prá lá... a cegueira dos uberabenses postiços e natalinos, por aqui, fez “rancho”...

A visão cosmopolita de Palmério, seu espírito educador, obstinado por conquistas, deputado federal em várias legislaturas, escritor, embaixador, músico, letrista e compositor, ”meetingueiro” inigualável, imortal, tanto aqui, quanto no mundo dos contos, Palmério, foi o maior líder que a terrinha conheceu...Contudo, falta-lhe o diploma de “Doutor Honoris causa” da cidade que ele tanto amou !.

A larguesa de seus horizontes, a missão visionária, sacerdotal das metas que queria alcançar e alcançou, a concretização de seus ideais, fizeram dele, a voz maior da terrinha .Confesso- lhes, é o meu ídolo. Ao dotar Uberaba, a saga do ensino superior, abrindo o leque de oportunidades para os jovens da terra e circunvizinhas, especialmente à pobreza estudantil que ansiava por crescimento cultural e profissional, arejando o desejo de um futuro promissor que só aos ricos e potentados eram permitidos, mudou a face da cidade.

Até a metade do século XX, esse privilégio estava reservado aos filhos dos ricos “coronéis” da terrinha. Iam estudar nos grandes centros e, no retorno, recebidos com banda de música, espocar de fogos e desfile em carro aberto.. .Era o “aviso” à população, que o “filho do coronel fulano de tal”, havia se formado e voltava para atender a pobreza da santa terrinha...

Mário Palmério, quebrou, esparramou pelo nosso chão, essa odiosa diferença. “Maomé não podia alcançar a montanha; a montanha veio a Maomé”... Uberaba, , escrevo sem medo de cometer injustiça, ainda hoje, 70 anos depois da primeira Faculdade (Odontologia) , graças ao ensino superior trazido por ele, suporta a carga de desenvolvimento cultural que perdura. Do engraxate, frentista de posto de gasolina, filho de motorista, pedreiro, pintor de paredes, barzinhos, restaurantes, boemias, puteiros, motéis quetais, vivem em função da nossa trepidante vida estudantil.

Outras escolas superiores vieram no rastro das “escolas do Mário”. Se isso na tivesse acontecido, Uberaba seria um “fazendão”, bem ao gosto da nossa elite rural, até então, dominante na cidade. Ao Rio Grande, nosso eterno agradecimento pela “participação”... Palmério, o benfeitor mor da terrinha, morreu com uma dorzinha no coração. De tudo que trouxe para Uberaba, a cidade lhe negou uma vontade não realizada: ser o nosso Prefeito!

O uberabense não entendeu, nas eleições de 1970, o “alerta”que, em praça pública, mostrava em “slides”, o que o nefasto Rondon Pacheco, fazia por Uberlândia. Não deu outra... Infelizmente, o seu vaticínio se confirmou. Hoje, a população de Uberaba é a metade da vizinha... O busto de Palmério na sede da ALTM, é bonito. Convenhamos, Uberaba ainda lhe é devedora. À reflexão dos amáveis leitores, Rui Barbosa, nem sabia onde ficava Uberaba, ganhou nome de praça. O fabuloso complexo da UNIUBE, a avenida que por ela passa, não poderia ter, pelo menos, um “ pedaço” do nome do nosso inesquecível benfeitor? É pedir muito ?

Bom inicio de semana e afetuoso abraço do “ Marquez do Cassú”







Cidade de Uberaba

PALMARES E A CONSCIÊNCIA NEGRA

Quilombo dos Palmares fez história na era colonial brasileira. Instalado na serra da Barriga, Pernambuco, hoje, pertence ao município de União dos Palmares, em Alagoas. O quilombo foi o mais emblemático refúgio dos negros no período colonial e resistiu, mais de um século, às perseguições dos “senhores do Engenho”. Transformou-se em mito, símbolo da resistência africana à escravatura brasileira. Palmares, rebelou-se contra a condição de escravos trazidos, homens e mulheres da África, para trabalhos forçados, sem remuneração, forma desumana a que os negros eram obrigados a realizarem , sujeitos a todas as intempéries.

Esse tratamento inóspito, resultou na reação dos escravos quando “Ganga Zumba”, acompanhado de outros escravos, formou o “Quilombo dos Palmares”. Atacado por umas 20 vezes, o quilombo, sempre muito bem organizado, política e militarmente, resistia. Embora sem precisar números, a população que ali habitava, chegou a atingir 20.000 moradores . Eles viviam da pesca, caça, plantação de frutas e produziam na roça, feijão, milho, mandioca e etc., responsáveis pela sua sobrevivência.

Com a expulsão dos holandeses de Mauricio de Nassau, em Pernambuco, os “ senhores de Engenho”, tiveram escasseada a mão de nas usinas de açúcar. Daí, a elevação do “ preço dos escravos” que originou os constantes ataques ao “Quilombo dos Palmares”. “Ganga Zumba”, conhecendo métodos de guerrilha e seduzido pelo “branco” Fernão Castilho, ofereceu liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis, no local chamado “Cocaú”. Veio a tragédia.”Ganga Zumba” ,morre envenenado. Seu posto, ocupado pelo irmão, “Ganga Zona”, aliado dos portugueses ricos, fazendeiros donos das terras.

Foi então que surgiu ,chefiando a desistência do acordo, “Zumbí”. O quilombo passou a sofrer terríveis ataques dos “senhores de Engenho” e ordem expressa para matar todos os escravos ali residentes. Em janeiro de 1694, um quilombola, foi preso. Com a promessa de ser solto, delatou o esconderijo de “Zumbi”. Encurralado, morto. Teve a cabeça decepada, enviada para Recife e exposta em praça pública, à servir de “ exemplo a outros escravos”. Sem liderança, o quilombo foi extinto...
20 de novembro, dia da Consciência Negra, é comemorado nacionalmente. A escolha, homenagem ao líder “Zumbi”, baluarte na luta contra a escravidão no nordeste do País. Dia que se celebra a importância da reflexão do negro na sociedade brasileira. A data, a maneira de lembrar a importância de valorizar um povo que teve e tem, alto grau de contribuição do desenvolvimento da cultura brasileira. Oportunidade também de conscientizar a população, na formação social, histórica, costumes e tradição da gente brasileira.

O movimento negro, em diferentes etapas, organizado em reivindicar direitos à população negra que ainda sofre com o preconceito e racismo na sociedade. É um movimento plural. Reúne, além do combate ao racismo, vertentes diferentes como feminismo, a luta pelos direitos LGBT e tolerância religiosa. Na questão do racismo, outras discussões como o preconceito à mulher negra, a apropriação cultural, o “ embranquecimento cutâneo”, a cristianização de tradições afro-brasileiras , como o “acarajé” e a “capoeira” e a “marcação”aos jovens negros, alvo preferido das batidas policiais, são debatidas.

Racismo no Brasil, é fruto da era colonial e escravocrata. Embora haja liberdade jurídica, as dificuldades persistem. Ao branco, tudo é permitido. Desde as fortunas mal explicadas , aos roubos e falcatruas do dinheiro público. Do negro, tudo é cobrado em dobro. Ele tem que “matar um leão por dia” para provar que é bom. A covardia e o cinismo do branco racista , não tem limite. – “Que é isso ?” Não tenho preconceito. Somos todos irmãos! “...
Cinismo e mentira deslavada! Nenhum “branco” tem preconceito racial até que um negro peça sua filha em casamento ...

Bom feriado. Respeitoso e solidário abraço aos negros e “negas” da minha Terrinha. “Marquez do Cassú “.




Cidade de Uberaba

DESCENDO A LADEIRA...

É deveras preocupante o atual estágio que atravessa nossa mui amada terrinha. Nem nos longínquos e pouco saudosos tempos da “quebradeira do zebu” (1944 e seguintes...) Uberaba não vive momentos tão desgastantes como nos dias de hoje. Cansei de ouvir “ a crise é nacional. Não é só na cidade que estamos sofrendo tropeços”... Concordo. Acontece que não resido no “ restante do Brasil”. Moro, vivo, luto, sofro, “brigo”, ganho, perco, em Uberaba ! É aqui que está a minha família, meus amigos e inimigos ( se é que os tenho)...
A mim não importa se a prefeitura das “ candongas”, está devendo os “ olhos da cara’, por má gestão, apinhada de “apadrinhados” políticos. Sei que a “ coisa tá preta” na terra de Major Eustáquio, onde nasci e quero que me enterrem os ossos. Na administração municipal, nem nos tempos em que NÃO se recebia ICMS, IPM, IPVA e um “ montão” de dinheiro federal e estadual, a Prefeitura vivia na “ pitimba” dos dias atuais. Os prefeitos, tinham parcimônia nos gastos. Só gastava aquilo que recebia. Não tinha funcionário dando “ encontrão” nos outros, nos corredores municipais. Eram, antes de mais nada, uberabenses que , aqui na terrinha, enterram os seus umbigos.

Nunca se soube que no exercício do cargo, Boulanger Pucci, Antônio Próspero, José Pedro Fernandes ( interino ), Artur Teixeira, Jorge Furtado, Randolfo Borges Júnior, João Guido, Hugo Rodrigues da Cunha, tivessem adquirido fazendas , com milhares de cabeças nos pastos. Não é do conhecimento dos uberabenses que, “ malandros” amigos dos Prefeitos, tivessem se enriquecido, beneficiados com os “ favores do cargos de confiança” que ocuparam. Nunca, em tempo algum, se soube noticias que secretários, “ cantassem” moças que pretendiam entrar no serviço público. Não se tem noticia que Prefeito tinha ficha policial...

Foi-se o tempo que vereadores da estirpe moral de um Roberval Alcebíades Ferreira, Chico Veludo, Ivo Monti, Zé Humberto Rodrigues da Cunha, Bilula Pagliaro, José Soares Bilharinho, Marcus Cherém, Nagib Cecilio, Ataliba Guaritá Neto, Joanico Rodrigues da Cunha, lembrando os da “velha guarda”, ganhavam dinheiro para legislar. Até o inicio da década de 80, reverencio, Valdir Vilela, Reynildo Chaves Mendes, João Adalberto Andrade, Paulo Afonso Silveira, Álvaro Diniz de Deus, Arly Coelho , Baldomero Franco, João Fatureto Jr., dentre outros; vereadores de têmpera que nada recebiam para trabalhar pelo povo. Todos eles, tinham suas atividades profissionais e mais ! Sem assessores....

Não custa lembrar que Calixto Bunazar e 2 secretárias, davam “ cabal desempenho de todo o expediente da Câmara municipal. Saudade eu tenho do CODAU, dirigido por homens sérios, do “naipe” de Mário Grande Pousa, Geraldo Barbosa, Vicente Marino Jr. Lembrar-me de secretários municipais da postura moral e “mãos limpas” de um Álvaro Vasques, Armando Silva, José Pinot Clavis, Wilson Nassif, Heraldo Toti, Coronel Vicente Bracarense, Elmo Fantato, dignificaram os cargos de confiança que ocuparam na administração municipal. Bons tempos... E dos servidores que deram “ a vida “na Prefeitura ? “Sossego”, Cação, Adroaldo Spiridião, João Batista Giraud, Anisio Curi, Ítalo de Martino, Selma Tomain, que se aposentaram, sem manchas, no seus prontuários municipais ?

Hoje, a tristeza, a” cabeça baixa”, a insatisfação, fazem morada no Legislativo e Executivo. Nesse, mais ainda. Salários atrasados, “ticket” alimentação que não chega, chefias que deixam a desejar, “puxa-sacos” de todos os lados, “apadrinhados” que recebem sem trabalhar, inclusive residindo fora do Brasil. Cortam-se pequenas despesas. Cadê a coragem de “enxugar” “a máquina administrativa? Joga-se apenas para a” arquibancada"...”Corte” mesmo...

Se não aparecer um uberabense de “culhão” para consertar a cidade, Uberaba vai disparar “ladeira abaixo”. Ne (Marques do Cassu)







Cidade de Uberaba

CODAU E SUAS ORIGENS

O CODAU ( Centro Operacional de Desenvolvimento e Saneamento) já foi “mulher “...Era Companhia de águas de Uberaba). Acharam feio e mudaram seu “sexo”... A autarquia municipal foi criada em 1966, no governo de Artur Teixeira, um dos prefeitos honestos de Uberaba. Veio para substituir o Departamento municipal de água e energia (esgoto, não...) .Constava do estatuto da entidade” é sua responsabilidade os serviços de captação, tratamento, reservação, distribuição de água potável à população, coleta e neutralização de esgotos sanitários “. Mais tarde, mediante uma “jogadinha”, o esgoto acoplou-se à autarquia...

Se o uberabense quiser saber a origem de sua fundação, não vai encontrar nos “Google” da vida nenhuma referência. O registro é apenas das “coisas atuais”, delongas e outras informações inúteis. Ao curioso, resta recorrer aos jornais da época.. A administração atual não se deu ao “luxo” de contar sobre a sua criação. Reavivo a memória dos interessados em saber. Seguinte: O estupendo trabalho do saudoso prefeito Artur Teixeira, do empresário Léo Derenusson, Mário Grande Pousa, jornalista Geraldo Barbosa dos Santos, Francisco Lopes Veludo, Vicente Marino Júnior, efetivamente batalharam pela concretização da grande conquista. “Esqueceram” também de contar aos uberabenses e à “jovem guarda” da imprensa e os jovens vereadores, citar um grande uberabense, recentemente falecido, engenheiro Pedro Pontes Silva ,diretor do CEDAE, do Rio de Janeiro, impecável serviço de água e esgoto na capital fluminense, ter sido o grande responsável por todo conhecimento e estrutura fornecidos para que fosse implantado esse importante melhoramento em Uberaba.

Uberabenses honestos, políticos e técnicos de têmpera, formaram toda a estrutura que hoje ostenta o CODAU. Pesarosamente, esses nomes não são citados e muito menos lembrados pelos atuais “donos” do CODAU. Como também nunca foi explicada a verdadeira razão da fusão do setor “esgoto” que era da Prefeitura, para a autarquia, na década de 80. O que se noticiou na época é que muita gente “ graúda”, saiu-se “muito bem” com a mudança...

2018, fim de ano, nova “jogada” foi perpetrada. Majoração de taxas, contrato milionário e um verdadeiro “cabide de emprego”. Vereadores alertados, abriram os olhos .A autarquia recuou no aumento, sem contudo, justificar a adesão da gestão da coleta de lixo, doravante em gestão do CODAU. O “esquema está armado”. Uberabenses da “velha guarda” lembram-se de um dos maiores escândalos administrativos, o super faturamento do lixo, balanças de pesagem “viciadas”, aconteceu no governo Luiz Neto, atual presidente do CODAU...E não é que a tal coleta, volta às suas mãos ???...

A “coisa’ não para aí. A taxa de resíduos sólidos, a partir de 2019, não mais será cobrada com o IPTU. Deverá estar ao lado da conta de água...Sem contar o “ desvio “de função do CODAU . A autarquia administrará, além do que a ela é pertinente, R$ 83.000.000,oo(oitenta e três milhões de reais ), contrato firmado com a nova empreiteira do lixo, Lara Central De Tratamento de Resíduos. Mais: A transferência da coleta de lixo dos “ serviços Urbanos”,passa ao CODAU que prevê a criação de novos departamentos com novos cargos. (Deus queira que não seja para “abrigar” os recentemente dispensados da Prefeitura...). Uma pergunta que inquieta: O CODAU, já foi companhia. Virou autarquia. Voltará a ser Companhia ?

O ex-Prefeito, aquele do “escândalo do lixo”, vai gerir novamente tal serviço? Dizem as más línguas que é o mesmo que “ colocar a raposa vigiando o galinheiro”...Tomara que nada aconteça. Nem por isso, esqueço Orlando Ferreira, o “Doca”, quando escreveu sobre a malsinada Uberaba – “Terra Madrasta”...

Tem mais, amanhã. Conto com a sua leitura e comentários. Abraço do “ Marquez do Cassu”.







Cidade de Uberaba

EU PENSO...

Conclusão de que não me arrependo. Envelhecí. Não tão rápido assim. Lutei cada dia de minha vida. Juro! E não é que valeu a pena? Sofrí desilusões, amarguras. Sonhos desfeitos. Porém, nada foi melhor que os gestos de carinho e amor recebidos. Sei que não alcancei tudo aquilo que planejei, embora meus ideais não fossem em vão . Confesso-lhes, nunca me vi derrotado. Escorregões, “bola pelas costas”, aconteceram. Levantei-me sem olhar para o chão. Sei que algum dia, o sol deixará de brilhar , sem que eu o contemple. Não tem importância. Vou banhar-me na chuva miúda... Injustiças ? Muitas ! Contudo, jamais admiti o papel de vítima . Enfrentei adversários. Inimigos? Talvez... Humildemente, aceitei abraço de reconciliação... Mãos estendidas, muitas vezes. Lágrimas em profusão derramei. Nunca tive vergonha dos meus gestos e atitudes. Admito, por boa fé, fui várias vezes enganado. Não aprendo, sempre acreditei nas pessoas que me rodeiam. Já cometi, uma “jamanta” de erros, não posso negar. 

Mas, nunca deixei de trilhar minha “estrada”. Talvez por intempestividade minha, maldade deles, perdi alguma amizades diletas. Afirmo: os verdadeiros amigos nunca me abandonaram.. .Os que “ já se foram para o plano superior”, rezo, todo dia, por eles. Sei também que os invejosos torcem pelo meu fracasso. Para que nada que faço, obtenha êxito . Fazer o quê ? Não me abala na minha caminhada. Escrevo e falo o que penso. Há mal nisso ? Autêntico, procuro ser. Continuo plantando a semente do amor e da fraternidade no caminho por onde passo. Combato o que sinto estar errado. Critico atos, não pessoas, até que provem o contrário. É o meu jeito de comunicar. Nascí com essa missão ? Não me atrevo a pensar... Sei que nem sempre “ danço a música que ouço tocar”. Faço enorme esforço e me lembro de um ex-ídolo, Gilberto Gil, quando cantou “ que a regra e o compasso, guiam os meus passos”. Vejo o “arco-íris”. Desenhá-lo no meu coração são “outros quinhentos”. Muito difícil. Perdoem-me o desabafo. Tenho mais opiniões pessoais a relatar-lhe. Chama-se desnudar a “dupla” coração e pensamento. Peço-lhes a permissão para terminar amanhã. “Marquez do Cassú”.

Cidade de Uberaba