sexta-feira, 23 de outubro de 2020

“COCOZINHO”

Uma outra passagem do meu falecido pai:

Já no seu leito de morte, minha mãe, dona Mariita (com dois “is” mesmo) se revezava com uma cuidadora nos cuidados do meu pai, que sendo acometido pela diabete, teve, além de um AVC, os rins e a visão comprometidos, ficando acamado permanentemente no último ano de sua vida, porém sem perder nunca a lucidez.

A cuidadora que atendia por Marlene, entrava às sete da manhã e ficava até às cinco da tarde e uma das tarefas que ela executava assim que chegava, consistia em trocar meu pai, já que ele foi obrigado a usar fraldas geriátricas, dada a sua total impossibilidade de locomoção.

A Marlene, assim como a maioria das cuidadoras e enfermeiras em geral, tinha a tendência de infantilizar o paciente, usando e abusando dos diminutivos com expressões do tipo: “a comidinha tá pronta”; “quer um leitinho?” “tá na hora do seu banhozinho” e assim por diante.

Meu pai não falava nada, mas acho que ele não gostava muito daquilo, até que um dia, a Marlene, chegando em casa, encontrou, como sempre, meu pai já acordado e, de praxe, começou com o martírio, tentando puxar conversa com ele:

- Bom dia “seu” Armando, passou bem a noite?

E ele, mentindo, porem altivo e resignado manteve o diálogo
- Muito bem Marlene...sonhei que estava pescando com o Tufizinho (pai do Cássio Facure) e o Ari (Ari Rossi, irmão de maçonaria e companheiro de pescarias).

- Que gracinha, seu Armando, continuou ela, sem prestar atenção na pescaria dele e já cortando a sua fala, quase que maquinalmente lascou duas perguntas absolutamente impertinentes e constrangedoras:

-Fez cocozinho, seu Armando?

- Fiz sim, respondeu ele, já meio sem paciência.

- Fez muito, “seu Armando?

Eu não presenciei a cena, mas minha mãe contava que riu o dia todo da resposta do Kappa e da perplexidade com que a Marlene recebeu a resposta:
- Não sei, não pesei!!!


Marcelo Caparelli


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O filante

Pelo caso das Bananadas vocês tiveram uma ideia da presença de espírito do meu pai, que para quem não sabe era o saudoso José Armando Caparelli, exemplo de caráter, honradez, honestidade e dedicação à família.

Essa passagem diz respeito ao Sebastião Carlos da Silva, vulgo Tião, morador do bairro EEUU que contava com a mesma idade do meu pai e os dois foram convocados para a guerra na mesma época.
O Tião, ao que parece, veio de fora para jogar futebol no time do independente e foi alocado nos correios, pois como salário de jogador era curto na época, tornava-se necessário arranjar alguma atividade complementar e remunerada para as contratações dos clubes.

Meu pai e o Tião eram amigos e serviram juntos em Juiz de Fora onde aguardavam ser chamados para compor as tropas brasileiras na Itália. A companhia do Tião foi embarcada no final de agosto de 1945 no Rio de Janeiro, enquanto a companhia do meu pai embarcaria cinco dias depois, ficando aguardando em Juiz de Fora.

Foi quando a guerra acabou (2/10/45), com o Tião no navio e meu pai em terra.
Parece a mesma coisa, pois nenhum deu um tiro sequer e nem ao menos pisaram em solo italiano. Mas para o governo da época não, pois o Tião deu baixa recebendo soldo de ex-pracinha e meu pai ficou “a ver navios’.

Tenho a suspeita que a expressão nasceu aí.

Contam que ele era um tanto quanto “controlado” em questões financeiras e não gastava um centavo com supérfluos, e acho que nem com os “principais”; em suma, era um belo de um “pão duro”.
O Tião que depois de dar baixa no exército nunca pegou no batente, passava todos os dias de manhã na lotérica e convidava meu pai para tomar café e comer uns biscoitinhos, coisa que meu pai às vezes ia, às vezes não, dependendo do movimento na loja. Só que o lugar desse pequeno lanche matinal, não era em lanchonete alguma; o destino do sovina, pasmem vocês, era a funerária Pagliaro onde, quando tinha velório, tinha sempre uma mesa com quitandas, café, leite e chá para os presentes.

Nessa época, meu pai praticava o tabagismo, bem como o Tião e numa dessas incursões funerárias, depois de cumprimentar os parentes do defunto, e depois de fazer a devida “boquinha”, saem os dois e meu pai saca um “minister“ do bolso, acende e dá uma bela tragada, já esperando o Tião tentar filar um cigarro dele.

Antes de voltar o cigarro à boca para a segunda tragada o Tião, seguindo seu mau hábito de filante inveterado, pediu um cigarro para meu pai, que já esperando, ironizou:
- Tião, você tá fumando muito!

Mas pão duro tem sempre uma resposta pronta:

- Caparelli, eu fumo, mas não trago...

Num átimo a resposta veio definitiva:

- Pois devia trazer, Tião!


Marcelo Caparelli


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Cidade de Uberaba

UMA FOTO RARA E UMA CADEIA QUE DESAPARECEU

No dia 27 janeiro de 2015, essa foto histórica apareceu pela primeira vez na página "Uberaba em Fotos". Ela havia sido enviada para nós por Maria Regina Vieira Teixeira, que informou que se tratava de uma foto feita por José Severino Soares, sem anotação de data. Trata-se do famoso fotógrafo “Juca Severino”, que teve um estúdio em Uberaba entre o final do século 19 e inicio do século 20. São de sua autoria alguns dos registros fotográficos mais antigos da nossa cidade. 



O local retratado é facilmente identificável: a foto foi feita da porta da Igreja de Santa Rita, em direção ao Colégio Nossa Senhora das Dores. O prédio original do colégio das Dominicanas (inaugurado em 1895) aparece ao fundo, bem no meio da imagem. O prédio da penitenciária, atual Faculdade de Medicina da UFTM e do Mercado Municipal ainda não estavam construídos. Esses trabalhadores que vemos no primeiro plano provavelmente estão consertando o gramado (ou a escadaria) que dá acesso à Santa Rita. Assim, é possível estimar a data aproximada do registro da foto como sendo por volta do ano 1900.

A publicação original, de janeiro de 2015.


Trata-se de uma imagem era muito rara e, na ocasião, inédita. Fez bastante sucesso na página: teve mais de 300 curtidas, 160 compartilhamentos e cerca de 20 comentários. Por conta dos algoritmos automáticos do Facebook, a foto voltou a aparecer na página duas outras vezes naquele mesmo ano: em maio e em dezembro. Nessa última aparição, eu incluí junto aos comentários uma versão com algumas legendas, mostrando o que eram cada um dos prédios retratados e levantando uma dúvida: o que seria esse grande sobrado que aparece com destaque do lado direito da imagem, mais ou menos no local onde (em 1924) foi inaugurado o Mercado Municipal?

A foto com legendas, incluída nos comentários em 2015.


Comparação dos dois prédios. Notem a posição, o número e o formato das portas e janelas, além da guarita na lateral.

Foram quase seis anos para solucionar o mistério. Vários pesquisadores foram consultados na época e ninguém soube afirmar com certeza o que seria esse sobrado que, por volta de 1900, certamente estava entre os mais imponentes da cidade. Tampouco havia informação clara a respeito dele nos dois livros clássicos que norteiam a pesquisa histórica desse período em Uberaba (escritos pelos memorialistas Borges Sampaio e Hidelbrando Pontes). Várias hipóteses foram levantadas e descartadas. Estranhamente, o prédio havia desaparecido não apenas da história oficial, mas também da memória coletiva da comunidade. Foi preciso garimpar pequenos fragmentos de informação em jornais antigos, diários oficiais e atas da Câmara Municipal de Uberaba para enfim chegarmos a uma conclusão.


CADEIA E TRIBUNAL

Hoje, podemos afirmar com razoável certeza que esse prédio foi construído entre março de 1886 e dezembro de 1887, e teve as obras encomendadas e pagas pelo governo da então Província de Minas Gerais, para funcionar como a nova Cadeia Pública de Uberaba. Provavelmente, foi inaugurado no primeiro semestre de 1888. Também sabemos que, no seu piso superior, funcionou por longo tempo o Tribunal do Júri da comarca. Com a inauguração dessa “cadeia nova”, desativou-se a “cadeia velha” que funcionava até então no piso térreo do prédio da Câmara Municipal, na esquina do Largo da Matriz (atual Praça Rui Barbosa) com a Rua Municipal (atual Manoel Borges). O memorialista Borges Sampaio, que morava defronte a essa cadeia velha (no casarão onde depois foi a loja Notre Dame de Paris) foi um dos que batalhou, desde o final dos anos 1870, para que a cadeia fosse transferida da praça central da cidade para um prédio mais adequado. No antigo sobrado da Câmara não havia fornecimento de água e nem sistema de esgoto. Todos os dias, um preso saia do prédio sob escolta, com os pés acorrentados, levando um tonel cheio de excrementos dos detentos e dos carcereiros até a ponte da Rua do Comércio (atual Artur Machado), onde eram atirados no Córrego das Lages. Pelo caminho, os presos e sua carga passavam defronte aos palacetes que ladeavam o primeiro quarteirão da que era então a mais sofisticada das ruas de Uberaba.

No prédio da Cadeia Nova, que foi construído onde hoje é o Mercado Municipal, havia água corrente, trazida por um rego d’água que descia do alto da Santa Casa. E tinha logo ao fundo o córrego, para onde escoavam seus esgotos. Temos notícia de que, em 1896, foram construídos o pátio murado e as pequenas guaritas laterais do lado de fora do prédio, que podem ser vistos nessa foto. A cadeia e o tribunal funcionaram nesse sobrado por quase três décadas e, por isso, a atual praça Manoel Terra passou a ser conhecida por “Largo da Cadeia Nova”, desde muito antes da inauguração do prédio da Penitenciária (atual Faculdade de Medicina). 

Os presos foram transferidos da cadeia velha e, em 1889, a Câmara contratou uma grande reforma no prédio do Paço Municipal. As obras se estenderam até 1903, mas temos notícia de que em 1894 os Correios foram autorizados a usar o piso térreo do prédio. Há uma foto bem conhecida desse novo Paço Municipal (datada de 1900) que recebeu decoração do arquiteto italiano Luis Dorça (Luigi d’Orsa, na grafia original). Em 1921 esse prédio antigo foi demolido e a Câmara abriu uma concorrência para o projeto e as obras de um novo prédio, que foi vencida pelo construtor Santos Guido. O novo Paço Municipal, erguido em concreto armado, foi inaugurado em 1922 e é o mesmo que segue sendo usado até hoje.

DEMOLIÇÃO E NOVA PENITENCIÁRIA

No final da primeira década do século passado (1901-1910), o prédio da “Cadeia Nova” já estava velho e em precário estado de conservação. As condições de higiene eram péssimas e as fugas de presos muito frequentes. Após muita pressão local, o governo de Minas Gerais ordenou a demolição do prédio para que se construísse uma nova cadeia – mais moderna e mais segura – no mesmo local da antiga. Aparentemente, os presos foram provisoriamente alojados, em algumas salas emprestadas, no antigo prédio da Santa Casa. As obras da nova cadeia ficaram a cargo do construtor Jesuíno Felicíssimo, que iniciou a demolição do prédio antigo em abril de 1909. Mas, no mês seguinte, as obras foram suspensas. O governo de Minas havia decidido que não iria mais reconstruir uma cadeia no mesmo lugar da antiga. Iria erguer em Uberaba uma nova “Penitenciária Modelo”, nos moldes das que então se construíam nas principais cidades do Brasil.

O prédio da Penitenciária, inaugurado em agosto de 1912.


As datas de conclusão das obras e do início da demolição, em recortes dos jornais da época.


O engenheiro Nicodemos de Macedo, funcionário do governo estadual, veio a Uberaba preparar o projeto. Chegou a ser cogitada a construção dessa nova Penitenciária no bairro do Fabrício, mas a ideia foi abandonada em função das dificuldades para o abastecimento de água. Decidiu-se, por fim, construir a nova Penitenciária no mesmo largo da cadeia antiga, porém num terreno mais acima, cedido pela Prefeitura, ao lado do colégio das Dominicanas. A obra, orçada em 73 contos de reis, teve o início autorizado em agosto de 1909. Ficou a cargo dos italianos Luis Dorça e Miguel Laterza, e só foi inaugurada em agosto de 1912.

O antigo prédio do Paço Municipal em foto de 1900,
após a saída da cadeia e a longa reforma, que seria concluída em 1903




O prédio do Fórum, construído na Rua Lauro Borges e inaugurado em 1916.


Eu ainda não encontrei a data em que a demolição da antiga cadeia foi retomada e concluída. Aparentemente, o município recebeu o terreno onde ficava cadeia velha em troca daquele que cedeu para a Penitenciária. Dez anos mais tarde, a prefeitura usou esse terreno para erguer o Mercado Municipal (construído entre 1922 e 1924 pela firma paulista Salles Oliveira & Valle). O antigo mercado da cidade ficava na Ladeira do Mercado (atual Rua Lauro Borges) e seu terreno foi cedido ao governo do estado para a construção de um novo Fórum (inaugurado em 1916), já que o Tribunal do Júri também havia ficado sem sede após a demolição da cadeia.

CÂMARA OU CADEIA?

Por fim, uma surpresa. Existe no Arquivo Público Municipal de Uberaba uma foto bem conhecida de um prédio de dois pavimentos, com uma cadeia no piso inferior. Há anos, essa imagem é identificada como sendo do prédio original do Paço Municipal (aquele que, até 1888, abrigou no térreo a cadeia da cidade). É assim que essa foto aparece em inúmeras publicações. Mas ao fazermos uma comparação entre o estilo desse prédio e o da cadeia que vemos na foto do Juca Severino, surgem fortes indícios de que essa identificação está equivocada. A foto divulgada como sendo da Câmara seria, na realidade, dessa Cadeia Nova inaugurada em 1888. Fotografada pelo lado oposto, com o fotógrafo posicionado nas proximidades da esquina onde há hoje o Bar do Mil Reis. Reforça essa conclusão o número, a disposição e o formato – exatamente iguais – das portas e janelas nas duas imagens. Além disso, constata-se a presença nas duas fotografias da pequena guarita posicionada a pequena distância, na lateral externa. E há ainda a questão da declividade do terreno, mais semelhante à da Praça Manoel Terra do que à da esquina da Praça Rui Barbosa com Rua Manoel Borges. Caso seja confirmada essa hipótese, a identificação dessa imagem terá de ser retificada.

O novo Paço Municipal, inaugurado em 1922.


Infelizmente, ainda não temos uma cópia física em papel dessa fotografia original feita por Juca Severino. Segundo nos informou a advogada Maria Regina Ferreira Teixeira – a quem registramos nosso agradecimento pela ajuda – essa foto pertenceu a um professor residente em Campinas, que lhe mostrou a ampliação há mais de dez anos. Na ocasião, ela fez uma cópia digital e devolveu o original ao professor, com quem não tem contato já há algum tempo. Foi esse arquivo digital que ela nos enviou em 2015 que serviu de base para a produção dessa imagem restaurada, e também para todo o trabalho de pesquisa. É possível que haja outras cópias de época dessa fotografia guardadas em coleções particulares, porém o Arquivo Público de Uberaba não a possui. Se algum dos leitores da página souber da existência de uma cópia física, pedimos a gentileza de nos informar.

André Borges Lopes


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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Citar falecido...

Bastidores forenses -  03/12/2003  

O juiz da 4ª Vara Cível da Comarca de Uberaba, ao apreciar pedido de reconhecimento de sociedade de fato, formulado pela concubina diante da morte do companheiro, atendendo o pedido do advogado, proferiu o seguinte despacho:

“Cite-se o falecido para os termos da presente ação”. Ao devolver o mandado de citação, o oficial de Justiça, afirmou que, depois de várias diligências, recebeu informação de que o citando, “desde o dia 5 de setembro de 1997, está residindo no Cemitério São João Batista, nesta cidade, à quadra 1, sepultura nº 142”. O oficial certificou que, “prosseguindo as diligências, bati, por inúmeras vezes, à porta da citada sepultura no sentido de proceder à citação determinada, mas nunca fui atendido. Certifico, ainda, que entrei em contato com os coveiros e com o administrador do citado cemitério, sendo informado por todos que tinham a certeza de que o citando se encontrava em sua sepultura porque viram-no entrar e não o viram sair”. 

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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

CINTURA FINA, personagem do Livro de Roberto Drummond HILDA FURAÇÃO.

José Arimatéia Carvalho era mulato, baixo e auto intitulou-se de Cintura Fina. Auto intitulou porque ninguém se atreveria a caçoar de Cintura Fina. Ele famoso pelas brigas e temido pela destreza com que manejava a navalha, sempre amarrada a um cordão. Fez muitas vítimas, foi preso inúmeras vezes era inimigo declarado da Polícia e também temido por eles.

José Arimatéia Carvalho

Além da habilidade com a navalha era também muito hábil com a costura. Excelente alfaiate e melhor ainda como costureiro. Sempre que uma mulher da vida saia da Guaycurus para contrair matrimônio era ele o eleito para costurar o Vestido de Noiva. Cintura Fina também fazia a vida trabalhando em um Hotel chamado de Monte Carlo localizado na antiga Praça Vaz de Melo. O temido Cintura Fina também era um boêmio que todos as noites tomava cerveja no Bar Maracanã ou qualquer outro Bar do Mercado Mauá. O último endereço de Cintura Fina em Belo Horizonte foi na favela São Jose local hoje ocupado pela Avenida Tancredo Neves. Apesar de quase todos os lugares em que Cintura Fina fez história terem sido destruídos, desapropriados ou não existirem mais sua fama permanece e acabou por ser imortalizado no romance de Roberto Drummond " HILDA FURACÃO". Cintura Fina morreu no presídio da cidade de Uberaba em 1972.

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Cidade de Uberaba

100 anos de Hélvio Fantato

Hélvio Fantato nasceu em Uberaba em 1920, tendo falecido em 1997.

Iniciou seus estudos na escola infantil ou jardim da infância, como se denominava, dirigida pela célebre professora Edite Novais França, cursando posteriormente a Escola de Comércio José Bonifácio, onde foi aluno dos renomados professores Amadeu Pascoalini, José Maciotti e Raul de Melo Resende, de quem, então, fez inúmeras caricaturas.

Hélvio Fantato - Foto/Divulgação


Em 1935 iniciou suas atividades comerciais, trabalhando com João Laterza, seu tio e pai do filósofo Moacir Laterza.

No decorrer de toda sua vida exerceu a profissão de comerciante, tendo montado em sociedade com seu primo Mozart Laterza e outros importante loja de material elétrico no quinto quarteirão da rua Artur Machado, na qual sempre atendeu no balcão.

Em 1942 iniciou, nas horas vagas, suas atividades de pintor, que daí em diante exerceu no decorrer de sua existência, legando considerável obra pictórica, posteriormente acrescida com trabalhos de escultura.

Destituído totalmente das excentridades e idiossincrasias de grande número de artistas, que se julgam acima de seus semelhantes, Hélvio Fantato caracterizou-se pela simplicidade de viver e afabilidade no trato pessoal.

A respeito, o arquiteto Demilton Dib, afirmou: “o que mais me fascina e alcança grande importância, além da obra em si, é a pessoa de Hélvio Fantato [...] Sua simplicidade, seu despojamento, o ‘fazer’ sem o menor conhecimento técnico, esse autodidata” (depoimento à Marisa Dexheimer, in “Hélvio Fantato Mostra Sua Obra Recente Amanhã”, Jornal de Uberaba, 25 abril 1990).

Por necessitar de espaço, tanto para exercitar sua arte quanto para acomodar e guardar o crescente número de quadros e esculturas, montou estúdio em imóvel situado na saída de Uberaba, nas proximidades da antiga estação ferroviária de Amoroso Costa, onde, entre outras, recebeu a visita do pintor Israel Pedrosa.

Aí, nesse refúgio artístico, cultivou sua arte pictórica e, à certa altura da vida, expandiu-a consideravelmente com a dedicação à escultura.

Exposições Individuais

Na sua modéstia e nenhuma pretensão de publicidade e de aplausos, contentando-se e atendo-se tão somente às imposições vocacionais e ao prazer da criação artística, Hélvio nunca se propôs a expor seus quadros e, muito menos, a organizar exposições para essa finalidade, aptidão que, de resto, não tinha.

Contudo, conhecedores e admiradores do valor de sua obra se propuseram a esse cometimento, promovendo dela algumas marcantes e significativas exposições.

Jóquei Clube de Uberaba - 1964

Promovida principalmente por Paulo Sousa Lima e José Sexto Batista de Andrade, este então vice-presidente do Clube, grandes animadores das artes em Uberaba.

Nessa mostra, segundo Jorge Alberto Nabut, “vende o primeiro quadro [.... o que] veio modificar um pouco o seu modo de encarar sua obra, mesmo não tendo abandonado o hábito de doá-las” (“Hélvio Fantato: A Arte de Fazer Arte Sem Nunca Ter Estudado Arte”, Jornal da Manhã, 18 abril 1976).

Nessa exposição vende nada menos de 15 (quinze) quadros dos 25 (vinte e cinco) expostos.

Livraria Ponto de Encontro - 1968

Nessa livraria foram expostas 13 (treze) quadros.

Folha de S. Paulo – Novembro 1968

Na galeria desse jornal paulistano realizou-se exposição de seus quadros.

Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1969

Outra exposição de sua obra no Jóquei Clube de Uberaba.

Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1974

Nova exposição de quadros de Hélvio, com grande afluência de público, foi idealizada por Jorge Alberto Nabut, então coordenador de cultura do Clube, e organizada por ele e Demilton Dib, com apoio de Lincoln Borges de Carvalho, Salvador Cicci Neto, Cecílio de Castro Silva e outros.

Jóquei Clube de Uberaba – Junho 1980

Em comemoração aos 80 (oitenta) anos do Clube, foi idealizada e organizada por Jorge Alberto Nabut a primeira retrospectiva das obras de Hélvio, reunindo 90 (noventa) peças entre quadros e esculturas sobre estruturas metálicas concebidas por Demilton Dib e executadas por Vandir Laterza.

Galeria de Arte Reis Júnior / Fiube – Junho 1982

Nova mostra retrospectiva de Fantato, pinturas e esculturas, foi realizada na referida galeria, inaugurada na oportunidade, sob a curadoria do professor e crítico de artes Marco Antônio Escobar.

Fantato Atelier – Abril 1990

Nesse atelier, Fantato expôs na ocasião pinturas e esculturas recentes.

Fundação Cultural de Uberaba – Agosto 1993

Quando funcionando no prédio situado no pátio da igreja São Domingos, a Fundação Cultural promoveu nova exposição de pinturas e esculturas de Fantato.

Exposições Coletivas

Em diversas mostras coletivas realizadas em Uberaba, geralmente promovidas pela Fundação Cultural de Uberaba, também foram expostas pinturas e esculturas de Fantato, salientando-se, todavia, entre elas, por sua realização no exterior, a efetuada na

Galeira Debret – Paris/França – Setembro 1996

Idealizada, promovida e organizada por Jorge Alberto Nabut, foi realizada na mencionada galeria a exposição Triangle des Arts composta de quadros de 10 (dez) pintores uberabenses, entre eles Fantato.

Outras Mostras

Obras de Fantato ainda integraram outras mostras e exposições coletivas, a exemplo das que se seguem.

Galeria Municipal de Arte instituída pela Prefeitura na praça Rui Barbosa em abril de 1971; Exposições Coletivas da Feira de Arte/Participação organizadas, feira e mostras, por Hélio Siqueira em 1981, 82, 83, 84 e 90; 2ª Mostra de Arte Uberabense, promovida por Maison Interiores em abril/maio de 1983; Panorama da Pintura Uberabense na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em abril/maio de 1984; 1º Salão de Artes Plásticas Cidade de Uberaba promovido pela Fundação Cultural de Uberaba no pavilhão Henry Ford em abril/maio de 1995; Acervo da Fundação Cultural de Uberaba, mostra realizada na galeria de arte da Oficina Cultural de Uberlândia em fevereiro de 1998; A Pintura Brasileira nas Coleções em Uberaba, módulo I, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em fevereiro/março de 2000; 1º Panorama das Artes Plásticas de Uberaba, como um dos homenageados, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em setembro/outubro de 2001.

Catálogo e Vídeo

Fantato integra o importante catálogo Uberaba Mostra Seus Artistas, às p. 21 e 22, editado em 1996 pela Fundação Cultural de Uberaba.

Em 2010 André Laterza montou vídeo de 15 (quinze) minutos referente à obra de Fantato, num “filme de poucas palavras [....] mas um registro sensível de um artista que merece sempre voltar à tona, pois que foi um divisor de águas nas artes plásticas uberabenses” (Jorge Alberto Nabut, “Adágio da Dor nas Telas de Fantato”, Jornal da Manhã, 16 janeiro 2011).

Literatura

Não se sabe quando Fantato iniciou sua produção literária, mas o fato é que escreveu diversos contos – os dois ou três datados são de 1992 – dos quais pelo menos um, “Dedão”, foi publicado numa das duas ou três únicas edições do Caderno de Cultura editado pelo poeta Tony Gray Cavalheiro no Jornal Jumbinho de 25 de novembro de 2000.

Crítica

No ensejo de cada exposição surgiram análises, comentários e críticas atinentes à obra de Fantato, expendidas por Paulo Sousa Lima, Jorge Alberto Nabut, Marco Antônio Escobar, Marisa Dexheimer e Moacir Laterza.

(do livro Personalidades Uberabenses)

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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

O menino que esqueceu o duplo

Esse caso vai para meus companheiros de loteria.

Antes de contar esse caso, cabe uma explicação para quem não sabe como funcionava a loteria esportiva na época:

O jogo custava CR$2,00 e o apostador marcava o resultado de treze jogos e se acertasse os treze palpites ganhava o prêmio. Além dessas marcações, na cartelinha de marcação (volante) deveria constar obrigatoriamente um palpite DUPLO que nada mais era do que duas marcações em um único jogo, por exemplo: digamos que um dos treze jogos constasse Bahia X Náutico e o apostador resolvesse colocar o duplo nele; então ele escolheria dois resultados possíveis (por exemplo: vitória do Bahia e empate) e se acontecesse um desses dois resultados, ele garantiria o ponto desse jogo.

Isso posto, vamos aos fatos: Já de tardezinha, depois de passar a tarde toda no caixa, me surge um senhor já entrado na casa dos setenta, acompanhado de um garoto, ao que tudo indicava, seu neto. Me entregou um punhado de “volantes” e eu, antes de perfurar os cartões na máquina, conferi os jogos para ver se estava certo, que era o procedimento para não fazer jogo errado.

Notando que um dos volantes faltava o palpite duplo alertei o senhor mostrando o volante:
- Senhor, esse volante tá faltando o duplo, o senhor esqueceu.
Uma fração de segundo e ele responde:

- Não taí não?

- Não.

Ele pensa um pouquinho e fala para o menino: - Dito, cadê o duplo?

- Uai, não sei, diz o menino, acho que esqueci em casa...

- Ô menino esquecido, puxou a mãe, né? Já te falei prá prestar atenção nas coisas.

Antes que a bronca aumentasse e me segurando para não rir, chamo o idoso:

- Senhor, eu tenho um duplo aqui de reserva e coloco para o senhor.

Dito isso fiz a marcação, registrei a aposta desejei boa sorte e ele saiu ainda ralhando com o menino.


(Marcelo Caparelli)

O ESPÍRITO PÚBLICO

Moeda rara, cada vez mais rara, raríssima, vem sendo o espírito público.

Tal “espírito” implica em se sobrepor aos interesses particulares (pessoais e corporativos) o interesse coletivo, respeitados, porém, aqueles, desde que exercidos dentro dos limites da lei visando objetivos legítimos.

A liberdade individual, em todas suas manifestações e áreas de atuação, pensamento, ação e organização é bem supremo, que deve ser alcançado, mantido e defendido. Contudo, quando exercitada legal e legitimamente, sob legislação colhida e implementada por órgãos legislativos livres e independentes, eleitos seus componentes diretamente pela população votante.

O espírito público, de que o Brasil anda tão carente e cujas escassas manifestações passam quase despercebidas justamente por serem raríssimas, dispõe que a sociedade como um todo e cada cidadão em particular respeite e objetive atingir e manter o primado do coletivo, do geral, sobre o particular.

Todo candidato a qualquer cargo público, em todos os níveis, deveria (ou deverá) pretender trabalhar, primeiro, pelo bem comum e só depois por suas pretensões eleitorais, desde que, é claro, estas não entrem em conflito com aquele.

Todavia, o que observamos e o que se tem, é justamente o oposto, circunstância que não outorga a essa realidade foros de legitimidade e, muito menos, de permanência e aceitação. É propósito inatingível? Mesmo se fosse, como diz o poeta espanhol Antônio Porchia, “cuando no se quiere lo imposible, no se quiere”. Todo cidadão digno e responsável, para sê-lo efetivamente, tem de querer e de agir em consonância, sem o que o país nunca emergirá da precariedade e do desequilíbrio humano e social que o caracterizam, não obstante os avanços e progressos havidos em alguns setores.

Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

Professor Santino Gomes de Matos

Santino Gomes de Matos - Cadeira 2

Patrono: Hildebrando de Araújo Pontes

Posição: Fundador

Sucedido por: Agenor Gonzaga dos Santos


Santino Gomes de Matos nasceu na cidade de Icó, CE, em 1908.

Estudou em seminário e lecionou português, francês, inglês e latim nas cidades de Crato, Batatais e Orlândia.

Em 1935 transferiu sua residência para Uberaba, onde se dedicou intensamente ao jornalismo e ao magistério.

Foi redator e depois diretor da Gazeta de Uberaba e, posteriormente, por muitos anos, reda-tor-secretário do Lavoura e Comércio.

Após deixar a militância diária em jor-naíTcontinuou a colaborar na imprensa, onde manteve seção de filologia.

Foi professor de língua portuguesa na Escola Normal e Oficial de Uberaba, de filologia romântica e de língua portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, de português e literatura no Colégio Triângulo Mineiro. Exerceu as funções de chefe da Agência Municipal de Estatística e de vereador à Câmara Municipal de Uberaba. Pertenceu à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, sediada em Belo Horizonte.

Era membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, na qual ocupou a Cadeira n9 2, que tem como patrono Hildebrando Pontes.
Faleceu em 1975.

Obras publicadas:
Flagrantes ao Sol do Norte: contos
Oração dos Humildes: poesias
Porque Maquinaria e Nunca Maquinário, filologia
Inferno Divertido da Análise Sintática, filologia

Bibliografia:

Paolinelli, Sônia Maria Rezende. Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses. Uberaba (MG): Sociedade Amigos da Biblioteca Pública Municipal “Bernardo Guimarães”, 2009. 171 p (Academia de Letras do Triângulo Mineiro)

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Professor Santino Gomes de Matos

Aqui está uma homenagem a ele no Lavoura e Comércio, no dia 1 de março de 1940, por ocasião de seu aniversário.

Ou mato ou morro!

Essa história minha mãe adorava e foi contada pelo meu folclórico amigo Aluísio ex-combatente da grande guerra e que se casou em segundas núpcias com minha gerente à época (ele já com mais de 80 anos).

Conheci alguns ex-combatentes, entre eles o Mario Daher, que mancava um pouco, segundo ele devido a um tiro em batalha; o Sr. José Rodrigues, freguês da loteria; o Pororoca, que foi sócio do Finado Pantaleão e o impossível Aluísio.

Para se ter uma ideia desse personagem, reza a lenda que dentre os “pracinhas” da região que combateram na Itália, ele foi o único que se apresentou voluntariamente. Contava-se também, nas nossas rodas de conversas algumas peripécias dele depois da guerra, entre elas o assalto ao banco do Brasil em plena manhã e de cara limpa.

Como na época estava muito em moda os assaltos a banco praticado por terroristas, resolveu ele que seria muito engraçado passar um susto nas pessoas e assaltou o banco com uma pistola de brinquedo. Depois de colocar todos deitados no chão, rumou para a mesa do gerente, colocou a arma ali e começou a rir.

Outra foi com um desafeto dos correios (me dou o direito de não mencionar o nome) que andou espalhando o boato que ele não teria participado de combate algum.

Pois bem, certo dia nosso personagem invadiu o escritório do Zez... (ops, quase saiu o nome), parou em frente à sua mesa, sacou o trabuco e anunciou a menos de um metro de distância:
- É hoje que te mato, vagabundo!

Ato contínuo, mirou o peito do servidor que paralisado pelo medo, balbuciava qualquer coisa ininteligível e “pregou fogo”. Sorte que a bala era de festim, só fez barulho.

Contava-se que o fofoqueiro desmaiou, isso não sei, o que sei é que calça e cueca ficaram imprestáveis.
Depois dessa apresentação, vamos à história, que é curtinha:
Estavam eles em uma caminhada por uma estrada na região de Pistóia, durante uma das tentativas de tomar o Monte Castelo quando um batedor alertou esbaforido:

- Sargento, os alemães nos viram! Estão chegando pela retaguarda!

O sargento, com aquele garbo nato de comandante de homens chamou seus homens aos brios:
- Soldados, é chegada a hora! E soltou o lema bem alto:
- Ou mato ou morro!

E todos em uníssono: Ou mato ou morro!

Lá de trás, um soldado franzino comunica ao superior:

- Sargento, não tem mato!

Responde o sargento: - Então corre pro morro!

Os.: Trata-se evidente de mais uma piada do Aluísio, pois nossos pracinhas souberam dignificar o nome do Brasil perante o mundo, conquistando o morro de Monte Castelo depois de cinco tentativas. Fizeram mais de 20000 prisioneiros e dos 25 mil componentes da Força, 450 soldados, 13 oficiais e oito pilotos morreram e cerca de 12 mil ficaram feridos. Em tempo, quem comandou a “tomada” foi o tenente coronel Humberto de Alencar Castello Branco (ele mesmo, o primeiro presidente da revolução).

(Marcelo Caparelli)

TODO UBERABENSE PRECISA LER ESTE LIVRO!

A Metrópole Imaginária, meu próximo livro, a ser lançado pela Editora UFPR, conta um período da história de Uberaba (MG), quando os grupos que frequentavam as colunas sociais do Lavoura e Comércio aprenderam a encenar uma espécie de sociedade aristocrática para conquistar o privilégio de exercer a violência sobre os demais cidadãos. Resultado de dez anos de pesquisa, depois de meu doutorado em História na Unesp, o livro explica os artifícios para obtenção de prestígio, o comércio simbólico de autoelogios circulares e a criação de mitos que supervalorizavam personagens inexpressivos e estigmatizavam os uberabenses "indesejáveis". Um estudo indispensável para compreender o bairrismo, o provincianismo, os delírios de grandeza e o domínio histórico de um punhado de famílias tradicionais.

A Metrópole Imaginária

Veja como garantir o seu exemplar na pré-venda. A tiragem é limitada. O livro pode ser encomendado nesta plataforma de financiamento coletivo. Como não faremos lançamento presencial, a única forma de obter um exemplar com dedicatória é através do financiamento coletivo.

O financiamento coletivo se encerra em 9 dias,


(André Azevedo da Fonseca)

TIÃO MEDONHO X JOSÉ HUMBERTO

Oi, turma !

(O povão quando decide ir para um lado, é água de morro abaixo e fogo de morro acima ...)

O médico, José Humberto Rodrigues da Cunha, uma das mais expressivas figuras da sociedade uberabense, além de um profissional humanitário, salvou muitas vidas, dedicou-se à política partidária. Vereador e depois Deputado Federal, por 2 legislaturas, era o principal nome da região na legenda de União Democrática Nacional, UDN, a “ eterna vigilância”. Teve uma excelente passagem no Congresso Nacional. No consultório médico, atendia, com zelo e probidade, a todos que o procuravam. Adib Jatene, depois nome internacional na cardiologia, trabalhou cinco anos com ele, onde realizou as primeiras experiências extracorpóreas. Dr. José Humberto, sempre pautou por mérito, atendendo a todos com expressivo carinho e dedicação. Segundo me contou o amigo, professor Décio Bragança, ele saiu triste da política quando não conseguiu a segunda reeleição.

Ele disputava com o famoso ricaço, Sebastião Paes de Almeida, o “Tião Medonho”, os votos dos uberabenses e triângulinos, a uma cadeira à Câmara Federal. Infelizmente, perdeu para o “ rei do vidro” do Brasil. Décio, contava:- “Tião Medonho, estava em plena campanha na região. Carros enfeitados com bandeirolas, cartazes, “santinhos”, som; e viajava de Uberaba rumo a Araxá . Ao cruzar o rio Araguarí, deparou com 3 homens às margens do rio, prontos para a pescaria. “Tião”, pediu ao motorista, parasse o carro. Desceu e logo “puxando o papo” com os pescadores à procura de votos com os possíveis eleitores.

-“Vida boa, hein? Enquanto a gente trabalha, ’ceis tão aí na maior folga do mundo, pescando, né ?. Um pescador, “de cara” reconheceu:-“O senhor não é Tião Medonho?”, perguntou. “O senhor num percisa trabaiá muito não. Já ganhou. Tá eleito”... “Tião Medonho”, estufou o peito e retrucou:- “’oceis acham mesmo?. Então me façam algum pedido”, disse, sorrindo . O primeiro pescador, rápido no gatilho;-“ Manda prá mim, uma coleção de anzóis, tá”. Daí, o segundo:- “Se o sinhô pudé, eu queria ganhá uma coleção de linha de pesca. De aço e nylon”.

O terceiro, tinha tomado “ umas e outras”, foi taxativo:-“Queria muito uma enxada!”. “Tião”, cochichou ao ouvido do motorista:- “Chico, prá esse aí, manda um trator. É o único que quer trabalhar”. Ouvindo aquela ordem, o pescador “lascou” prá cima do candidato:- “Uai, “seo” Tião, ganhar um trator prá arrancar minhoca?. Precisa não, a enxada resolve”..

Dr. José Humberto, não foi reeleito. Sebastião Paes de Almeida, o lendário, eleito com expressiva votação. Com a eclosão do movimento civil- militar de 64, ele foi cassado pelo abuso de “grana” na campanha. Bom fim de semana. Abraços do “Marquez do Cassú”.

A Cia. Cinematografia São Luiz Ltda institue interessantíssimo concurso

Há exatos 80 anos, em outubro de 1940, a Cia Cinematográfica São Luiz realizou um concurso para que a população de Uberaba escolhesse o nome do novo cinema da cidade.

Recorte do jornal Lavoura e Comércio:
 Terça-feira, 01 de outubro 1940.


Recorte do jornal Lavoura e Comércio 

Eu conto essa história no meu novo livro: A Metrópole Imaginária". Reproduzo aqui um trecho:

"Diversos nomes “excêntricos” foram sugeridos, tal como “Cine Árvore da Ciência”, “Cine Divina Pastora”, “Cine Cabana do Sul América”, “Cine Paraíso Terrestre”, “Cine Sinagoga Terrestre”, “Cine Assistência e Orgulho”, “Cine Boitatá” e “Cine André Jorge”. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, ficaram os nomes “Cine Atalaia” e “Cine Vera Cruz”. Mas naquela cidade com sua incorrigível obsessão pelos ares de grandeza, é claro que o nome escolhido para o majestoso cine-hotel na Avenida Leopoldino de Oliveira não poderia ser outro, que não: “Cine Metrópole”."

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O livro está em fase de pré-lançamento. Ele será lançado em breve pela editora da UFPR, com tiragem limitada. Se quiser garantir um exemplar, você pode participar do financiamento coletivo até o dia 19 de outubro de 2020. Assim, você recebe o livro em sua casa, antes do lançamento.


(André Azevedo da Fonseca)

Par e Liga

Éramos um grupo de devotos de São Cono, que, como todos sabem, é o santo protetor dos jogadores. Como bons devotos, nos reuníamos toda segunda feira no templo erigido nos fundos da minha casa, onde realizávamos o nosso culto.

Havia ali, e há até hoje, um fogão à lenha, pilotado por mim e de onde saía um frango caipira, um arroz carreteiro, uma costelinha com canjiquinha, etc.

Ao contrário de outros cultos, o nosso era acompanhado de muita cerveja, uma cachacinha de “guia” e qualquer bebida alcoólica que algum fiel levasse.

Para quem não é familiarizado com esse importante santo da igreja católica, transcrevo aqui a oração de São Cono:

Senhor, eu não quero pecar te pedindo sorte no azar, mas quando você quer pode nos atender através de São Cono uma mão para ganhar uma aposta: se é dia 3 porque é o dia da sua morte; se é 7 e no 07 porque é o número que somam as letras do nome de São Cono; se é 18 é pela idade em que faleceu; se é 11 porque é o número da sua Igreja na Flórida (Uruguai); se é 60 é porque quando trouxeram sua imagem da Itália numa das suas sandálias estava esse número; se é 72 é porque é o final do ano em que foi canonizado em Roma; se é 85 é o final do ano em que se inaugurou sua Igreja.

Senhor, se sou merecedor da sua graça, através de São Cono conceda-me. Amém”
O “altar” que foi confeccionado pelo artista Oripinho, vulgo “bicudinho”, em razão do seu mau humor constante, consistia em uma mesa redonda que abrigava com folga doze fiéis que das 20h até por volta da meia noite, rendiam homenagens ao já citado santo.

É claro que estamos falando do jogo de Cacheta onde os amigos, muito fraternalmente, tentavam tomar o dinheiro uns dos outros.

Os mais assíduos eram: Vandinho; Carijó; Marcão; Brás; Oripim, já citado; esse que vos relata, Simeão; Márcio; Furiati, Godoy; Sakamoto; Adalberto Namura e outros que me escapa os nomes agora.

Entre os eventuais tinha o Moura Miranda, que já estava se tornando habituée das reuniões.

Mas o Moura, apesar de cartear como um príncipe, tinha um azar danado. Parece que o Santo não lhe escutava as preces, ou achava que outros eram mais merecedores que ele, (vai entender esses santos).

Juntava-se a isso as imprecações que o Moura não parava de proferir e estava formada a “tempestade perfeita”.

Numa segunda feira, o jogo seria pif-paf (uma variação da cacheta) e logo na primeira mão, o nosso glorioso Moura sai com dois jogos prontos e um par-e-liga, ou seja, estava “na boa”. Como o pif paf não tem curinga, esse é uma grande mão e vence na maioria das vezes. Para melhorar, cinco jogadores entram na aposta e a mesa fica coalhada de fichas.

Infelizmente, para ele e felizmente para o Zé Coquim, que tinha acompanhado com dois pares e uma “gaveta”, faz boa justamente na gaveta e para o desespero do Moura, depois de muitos descartes, bate com uma dama de copas que dobrou no par do Moura.

Foi a gota d’agua. O Moura, muito bravo, chinga o santo, chinga o Zé coco, maldiz a sua sorte, e, cúmulo da indignação, taca (essa é a melhor expressão que retrata o feito) o baralho na mesa, se levanta e dispara:

-Nunca mais jogo essa merda, que me dê uma doença ruim na mão se eu jogar de novo!

Disse isso e foi embora pisando duro, sem comer e sem dar ouvidos aos amigos que tentavam dissuadi-lo.

Retomada a normalidade do jogo, foi instituído um ”bolão” para saber se o Moura cumpriria a promessa. Opiniões dividas, eu apostei e fui acompanhado por mais cinco de que ele não voltaria mais.

Na semana seguinte, seguindo o protocolo, liguei chamando e laconicamente, recusou. Na outra semana a mesma coisa, bem como na seguinte.

Foi estabelecido então, para os efeitos do bolão, que o prazo seria semana seguinte. Se ele não voltasse, seria decretado a vacância da vaga e outro jogador seria colocado no lugar dele.

Na segunda liguei e ele nem atendeu o telefone!

-Ganhei o bolão, pensei com meus botões.

O menu daquela segunda era costelinha de porco e para surpresa geral, lá pelas 21:00h (que era mais ou menos a hora que saía o rango) surge o Moura, meio que desconfiado, meio que sem graça, parecendo cachorro que peidou na igreja.

-Noite!

- Baum? Respondemos.

O Moura rodeou a mesa, foi nas panelas e antes que alguém perguntasse, disse:

- Passei só prá comer essa costelinha. Disse isso e se serviu antes de todos.

O jogo pausou e todos fomos comer.

Finda a refeição, o jogo retomou e o Carijó que havia apostado que ele voltaria ao jogo começou a pressionar o Moura para ele jogar.

O Moura bisbilhotando (sapeando) o jogo, resistia heroicamente. Porem a resistência foi esmorecendo e o Carijó percebendo que ele precisava de um empurrãozinho sai com essa:

- Ô Godoy, tá sabendo do tratamento novo no Hélio Angotti?

- Sei não, responde o Godoy

- Bomba de cobalto! Cura qualquer doença ruim que der nas mãos.

O Moura, prestando atenção na conversa e já com coceira na mão de vontade de cartear, puxa uma cadeira e fala pra mim que distribuía as cartas:

-Que se dane (a palavra foi outra)! Me dá as cartas!

Parece que o santo não cobrou a promessa do Moura, que continuou com seu azar e jogando como um príncipe.  

(Marcelo Caparelli)

Lei de Murphy

Se algo puder dar errado, dará.

No dia-a-dia da lotérica, sempre acontecia de um cliente vendo o resultado, dizer que aqueles eram os seus números, mas que esquecera de jogar; que a mulher não o deixou jogar; que trocou os números na última hora; que jogava aqueles números toda semana e parou exatamente naquele sorteio; enfim, o repertório de lamúrias era grande.

Eu particularmente não acreditava em nada daquilo, mas como um bom vendedor de ilusões (como o amigo Tharsis me chama), lamuriava junto com o cliente, lamentava a sua (dele) má sorte e tascava sempre o bordão dos tempos do meu pai: “Quem não arrisca, não petisca, galinha morta não belisca, quem não morre não vê Deus!”

Parênteses para esse bordão: meu pai escutava isso na praça da Sé em São Paulo lá pelos idos de 1960 quando o comércio de bilhetes de tiras era o “Ó do borogodó” e a praça da Sé funcionava como uma bolsa de bilhetes onde o Brasil inteiro ia buscá-los para revender nas suas cidades. Para se ter uma ideia do quanto era concorrido esse tipo de sorteio, meu pai colocava um rádio de válvulas (que era ligado bem antes, dando tempo para que as válvulas esquentassem) na porta da loteria onde os apostadores acompanhavam em “ondas curtas” o resultado que era transmitido ao vivo das dependências da CAIXA.

A frente da loteria ficava lotada de apostadores, ganhando de longe da aglomeração diária na frente do saudoso Lavoura e Comércio onde os transeuntes se juntavam para ler as manchetes das notícias que sairiam à tarde.

Voltando à história: era eu o responsável por fazer os jogos dos clientes que repetiam toda semana os mesmos números. Como não existia ainda a teimosinha, meu trabalho era transcrever nos volantes os jogos dos clientes que ficavam no “caderno de jogos”.
Não mencionei o ano do acontecido, mas decorria o ano de 1987 no auge do governo Sarney, onde a inflação galopava e os aumentos no preço dos jogos eram da ordem de 80 a 100% a cada seis, sete meses.
Quando o aumento era anunciado, eu ligava antes para cada um dos clientes para saber se podia repetir os jogos com o preço novo.

Um desses clientes era o Sr. João Pedrosa, eletricista e pai da advogada Jussara Pedrosa (nem sei se ela sabe desse caso), que morou certa época na casa nos fundos da nossa, na rua Sete de Setembro. O jogo dele era, me recordo bem e ainda guardo os recibos, a LOTO, que mais à frente se modernizou e transformou-se na QUINA tal qual a conhecemos até hoje.

O jogo do seu João se consistia em 26 apostas que custavam, no preço antigo, a bagatela de CZ$300,00 (reparem a moeda da época, cruzados).

Em um desses aumentos, liguei para ele informando que o jogo passaria a custar a partir do próximo concurso o valor de CZ$ 583,00 e ele depois de muito reclamar do novo preço, e de lançar impropérios ao governo, me autorizou a repeti-lo.

Na terça feira, ele foi buscar o jogo. Pagou, já com o preço novo, conferiu com o resultado (corria às segundas), pensou um pouco, e me disse que a partir do próximo concurso faria só a metade dos jogos, pois estava ficando caro para ele. Perguntei quais jogos ele queria que repetisse e ele me pediu o caderno e riscou metade das apostas.

- Tira esses que eu risquei e repete o resto. Disse ele.

- Olha que isso não vai dar certo seu João, repliquei e já tentando dissuadi-lo argumentei, procurando provocar nele um medo de ver um bilhete seu premiado e não jogado:

- Olha que pode sair o prêmio nesses jogos que o senhor tirar, hein...

Tentei de todas as formas possíveis. Citei até a 13ª Lei de Murphy (“quando o pão cai, cai sempre com a manteiga prá baixo”), “e na terra” completou magistralmente Adoniram Barbosa o aforismo:
Porem ele ficou irredutível.

- Ô Marcelo, ponderou ele; acompanho esse jogo tem mais de três anos e só fiz terno (acerto de três dezenas, com premiação pequena) até hoje.

Desisti então da empreitada e o jogo foi feito do jeito que ele pediu para a semana vindoura e que seria o concurso Nº 423 do dia 01/06/1987.

Novamente, na terça feira seguinte ele apareceu e me chamou para pegar o jogo.
Pelo seu tom de voz e pela absoluta palidez que ele estampava no rosto, senti que havia algo errado com ele e perguntei:

- Que foi seu João?

- Me mostra o caderno para eu ver que jogos eu risquei, pois no meu jogo original eu acertei as cinco dezenas!

Como o prêmio havia acumulado, de imediato deduzi que ele havia riscado a aposta vencedora. Não falei nada e mostrei o caderno para ele, temendo que ele tivesse um enfarte assim que visse os jogos riscados. Ele pegou o caderno, deu uma olhada rápida, deu uma limpada nos olhos, olhou novamente, agora mais demoradamente, certificando-se de não ter visto errado, ficou mais pálido ainda, coçou a cabeça por uns eternos 20 segundos, me devolveu o caderno fechado e saiu sem falar um “a” e sem enfartar, graças a Deus!.

Abri caderno novamente só para conferir qual foi a aposta riscada por ele e era um jogo de 7 dezenas (21 25 32 34 40 93 94).

O resultado oficial do concurso 423 trouxe as seguintes dezenas sorteadas: 21 25 32 93 94.
Foi realmente uma pena pois o prêmio em dinheiro de hoje seria, nos meus cálculos, uns 5 milhões de reais.

O seu João continuou a repetir seu jogo comigo por mais um tempo, mas a sorte para ele sempre foi tirana. Só bateu à sua porta uma vez.

(Marcelo Caparelli)

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O BANCO DO CHORO

Oi, turma !

(Ele não quer saber se a mula é manca; quer é rosetar...)

Escrevi em crônicas anteriores, sobre o “Banco do Choro”. Um pedaço de pouco mais de 6 metros quadrados, fincados na esquina da Artur Machado com Leopoldino de Oliveira. À hora do almoço e fim de tarde, os fanáticos torcedores e diretores do Uberaba Sport (Rodolfinho Cunha Castro, Júlio Gimenez, Badú Rocha, “Padrinho” Antônio Rodrigues, Bolão, Nenê Mamá, Orlando Bruno, Luciano Machado, entre outros de saudosa memória), alí se reuniam para lamentar as derrotas e ou glorificar as vitórias do time do coração.

A Avenida Leopoldino, tinha o córrego das Lages ainda aberto, balaústres protetores e uma bucólica paisagem. A Artur Machado, ainda sem “calçadão”, ligada por uma ponte estreita, era passagem obrigatória de carros, caminhões, ônibus e pedestres. Veio o progresso. O corguinho, canalizado. A ponte acabou e o asfalto chegou. O “banco do choro” ficou... Com outros personagens, novos assuntos, “fofocas” diferentes, mas, o eterno “bate papo” diário.

Hoje, fala-se no “mensalão”, lixo, “coronéis” da cidade, quem tá “dando”, quem tá “comendo” e a corrupção é o assunto da moda. Tanto lá “em cima”, quanto aqui em “baixo”. Das 10 da manhã, ao meio dia, Ary Rossi, Silveira, Eduardo, das “Pernambucanas”, Cristovão, dr.Horácio, Nelito Português, comentam os fatos da terrinha. Lembram-se, com saudade, do Maurinho Bartonelli, Marinho Laterza, Cristiano, Tião Motorista e Rubico Buzollo, os mais comentados.

Olhares curiosos se voltam para as beldades que desfilam, os fatos que os jornais fizeram questão de omitir e outros assuntos. Do outro lado da rua, conversam , Juarez Batista, quando vem de Brasilia para saber as novidades da terrinha, Rubão, Sabino Ferrari, Arnaldo, do Banespa e eles não esquecem da falta que faz a simpatia do João Bosco. O “papo” não muda muito...Política, mulher, samba e futebol, né, Netinho ?...
O pessoal do “banco”, está envolto na raiva e fica envergonhado com a falta de pudor, ética, decência, honestidade e integridade dos nossos políticos dirigentes. Sentem-se aflitos em ver esses bandidos de “colarinho branco”, gozando na nossa na nossa cara, tornarem-se ricos da noite pro dia, donos de grandes patrimônios, fazendo festa , viajando com a família para o exterior e comemorando resultados judiciais quase sempre favoráveis a eles.

A turma fica indignada com a corrução que reina por todos os cantos. Lá como cá. Sem a certeza se haverá luz no fim do túnel. Até “ontem”, esses “coronéis” eram “pés rapados”. Atingiram o poder , arvoram-se em empáfias, tornam-se “ídolos de barro” e não passam de reles ladrões. Um dos meus amigos, frequentador do “banco”, desabafou:- “ O Netinho e o Raul Jardim, sempre escreveram que “Uberaba está em todas.” Por certo, estão remoendo em seus sagrados túmulos, ao ver o nome de Uberaba, nos últimos anos, figurar com destaque, nas páginas policiais do Brasil”., completou.
Será que o uberabense vai mudar alguma coisa em novembro? Abraços.“ Marquez do Cassú”.

NOSSOS MONUMENTOS

Oi, turma !
( É triste escapar do espeto e ter que cair n brasa...)


Um bom pedaço da nossa paisagem urbana, passa despercebida pela população. Lá estão instalados os nossos principais monumentos históricos e arquitetônicos. Não são vistos e nem observados como deveria ser. A Igreja de São Domingos; às suas costas, o Mercado municipal, a Faculdade Federal de Medicina, Colégio Nossa Senhora das Dores e Igreja Santa Rita. Esses monumentos retratam a imponência histórica de Uberaba. É de chamar a curiosidade popular, estando na praça Manoel Terra, observar essas antigas construções.

Respeitosamente aos padres dominicanos, comerciantes do mercadão, ex-“cadeião” da terrinha, a garra das irmãs dominicanas, mas, a igrejinha de Santa Rita, é o símbolo maior da sacra terrinha, cartão postal da quase bicentenária cidade . O visitante que aqui aporta, alegra-se em apreciar, visitar e fotografar a igrejinha que abençoa Uberaba. Turistar na terrinha e não ver o nosso mais antigo patrimônio arquitetônico e histórico, não é recomendação que se faça.

Gabriel Toti, um dos historiadores verdadeiros e autênticos da vida de todos os tempos de Uberaba, ignorado por jovens e ignorantes ditos “ historiadores modernos”, conta, com real propriedade, que a “Santa Rita”, foi construída em 1854, por Cândido Justiniano de Lira, ex- agente dos Correios e funcionário da Câmara municipal. Alcóolatra inveterado, estava prestes a ser abandonado pela família, por não largar o maléfico vicio.

Para não ser abandonado por esposa e filhos, “Candinho”, na presença deles, jurou que a partir daquele momento, iria “largar” a bebida. A mulher passou a curtir pimenta nos garrafões de pinga. Em pouco tempo, desconfiou e depois comprovou; os garrafões estavam sempre vazios... Passou a olhar a conduta do marido até que um dia, flagrou- o com a “ boca na botija”...

Corado de vergonha, renovou o juramento. Iria construir uma capelinha em honra de Santa Rita dos Impossíveis. Deixou a bebida e cumpriu a promessa, erguendo às suas expensas, o templo. Em 1875, o comerciante Manoel Joaquim de Vasconcelos , casado há anos, tinha loucura por um filho. Fez voto que se fosse pai, iria ampliar e consertar a capela. Major Quincota” como era conhecido, cumpriu o prometido. Seu filho nasceu em 1877..

No século passado, a Igreja de Santa Rita, foi incorporada ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ao correr dos anos, sempre com verba federal, a “Santa Rita”, é remodelada para alegria de todos nós uberabenses. Amanhã, eu volto. Abraços do “Marquez do Cassú”.


NASCIA A TELEVISÃO NO BRASIL!

Oi, turma !

(É duro ter que trocar 6 por meia dúzia...)


18 de setembro de 1950. Há 70 anos, era inaugurada a primeira emissora de televisão no país e América do Sul. A pioneira PRF-3-Tupí/ Difusora São Paulo, na histórica data, mudava os destinos da comunicação tupiniquim. A cidade de São Paulo, parou para assistir o evento. Um “show” de variedades reuniu o maior elenco de profissionais do rádio, se apresentando pela primeira vez naquele ato inédito: Hebe Camargo, Wilma Bentivegna, Walter Foster, Lima Duarte, Lolita e Airton Rodrigues, entre outros, os “astros” maiores da festa épica.

Dois episódios marcaram a inauguração. Assis Chateaubriand, dono e fundador dos “Diários Associados”, no auge da euforia pelo evento pioneiro, quebrou uma garrafa de champagne numa das 3 câmeras existentes, como se fosse inauguração de navio, danificando-a por um bom tempo...Depois, em pleno andamento da inauguração, os diretores da TV, perplexos, entreolharam e indagaram:-“E amanhã, o que a gente vai colocar no ar?”. Ignoravam por completo que a televisão tem programação antecipada. Foi um Deus nos acuda !...

A TV-Tupi, chegou ao interior dois anos depois: Campinas e Santos, as cidades privilegiadas. O “interiorzão” paulista só viu chegar as imagens anos depois .A escolhida, Ribeirão Preto, pela sua importância comercial, populacional e industrial. O uberabense ia à S.Paulo e voltava entusiasmado com a novidade. Em 1962, na Copa do Mundo, no Chile, caravanas e mais caravanas saiam de Uberaba , indo a Ituverava ,assistir os “vídeo-tapes” do jogos do Brasil.

Nesse meio tempo, um jovem e intrépido uberabense, valente e destemido, transferia para São Paulo, indo trabalhar no Departamento comercial da TV-Tupi. Honras à José Pedro de Freitas. Os “troncos” da repetidora de imagens, segundo estudos preliminares, deveriam seguir para Franca e São José do Rio Preto. Freitas, bateu pé:- “Por que não Uberaba?. Cidade rica, progressista e promissora?”. Sua insistência junto ao comando “Associado” rendeu frutos.

Na Difusora Uberaba, Jorge Zaidan e eu, pela amizade com Freitas, abraçamos a campanha. Mário Grande Pousa, comerciante de destaque na terrinha, era Presidente da Associação Comercial e Industrial , liderou o movimento popular de arrecadação de fundos para aquisição dos equipamentos necessários para as torres de Buritizal e Uberaba. A população entendeu a necessidade da chegada da TV na sacra terrinha. O extinto Banco Triângulo Mineiro, “abriu a conta”. Os uberabenses, principalmente os menos abastados, os primeiros a fazer doações.

A classe”A” da cidade, como sempre, ficou alheia à campanha. Queria ver primeiro se ia dar certo...Quando as imagens chegaram a terrinha, foram os primeiros a comprar os aparelhos...A torre da repetidora instalada na “Boa Vista”, era vista por toda a cidade. “Seo” Vitor, funcionário da “Associadas” em S.Paulo, veio para a terrinha, como encarregado de ligar e desligar os transmissores. Quando ”pifava” um dos aparelhos a “chiadeira” era geral. Quem sofria, coitado ! era o velho Vitor... O uberabense ganhou um novo lazer. Os “televizinhos” apareciam para acompanhar novelas, filmes e esportes. Uberaba, estava integrada a um mundo novo...

Nove (9) anos após os primeiros sinais de TV, chegava a hoje falecida e sempre lembrada TV- Uberaba - canal 5, aproveitando e absorvendo todo potencial técnico-artístico da terrinha. Um dia, contarei como tudo aconteceu e infelizmente, tudo acabou... “Marquez do Cassú”.