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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O ACONTECIDO FOI NA METADE DA DÉCADA DE 60. - UBERABA

O acontecido foi na metade da década de 60, aqui na terrinha. Empresário bem sucedido, seus negócios prosperavam a cada ano. Adorava carro zero. Chegava na concessionária, ele adquiria. À esposa e os filhos pequenos, o “fusquinha”. Nada mais. Domingo de carnaval, a suculenta macarronada e a soneca costumeira.Acordou às 4 da tarde. –“Vou dar umas voltinhas e mostrar o carro aos amigos”, disse à mulher. “Bandeou” pelo São Benedito, Parque das Américas (casa da Vailda), na Abadia , nada que prestasse, chegou aos Estados Unidos, casa da Silvia, na Marquês do Paraná. Velhos amigos pensaram a mesma coisa e lá se encontraram. Nem imaginava que a esposa e os filhinhos, fossem passear de “fusquinha”…Passaram pela Marquês do Paraná e o filho mais velho, 10 anos por aí, viu o “carrão” do pai, ali estacionado. –“Vamos lá, mãe”, pediu o garoto. A esposa estaciona o carro, em frente, atravessa a rua e, calmamente, aperta a campainha da casa. Uma das “inquilinas” observa o “olho mágico” , apavorada, em pleno alvoroço, avisa o “maridão”.Ele desesperou-se. Pulou o muro do vizinho, na ânsia de fugir do”flagrante”. Deu azar. Caiu dentro do chiqueiro, em meio aos porcos. No quintal, um feroz pastor alemão, tentava, a todo custo, pular no chiqueiro. Alvoroço era pouco. Não fosse o compreensivo vizinho “fechando” o cão bravio e o ajudando a sair do chiqueiro, o prejuízo seria maior. Na casa da Sílvia, a desculpa de sempre;-“ele num tá aqui não”…A esposa acreditou, entrou no carro e continuou dando voltas com a meninada. Um chamado urgente para o Bahia, velho motorista da praça Rui Barbosa, levou o assustado cidadão para a sua casa, a mil por hora. Agoniado ao ver as roupas sujas de bosta de porco, sapatos enlameados de barro, camisa rasgada debaixo do braço. Como um azougue, juntou tudo , vestiu um calção e no primeiro terreno vago perto da casa,”despachou a mercadoria”. Adrenalina no Monte Everest, aguardou a chegada da família, maquinando a desculpa que iria dar. Sorte sua! Amigo seu que estava na casa e presenciou o desatino do enlouquecido marido, levou o carro até a sua casa, que, “valha-me Deus”, me confessou dias depois,no exato momento que a esposa chegava em casa. –“Gostei do carro que você me emprestou. Chique!” Levou o inesquecível amigo no hotel, pagou-lhe as diárias da sua estada na cidade e o reconhecimento eterno. Jurou, para ele mesmo, nunca mais exibir carro novo que comprasse e, muito menos, estacionar em porta de bordel…


Luiz Gonzaga de Oliveira

ESTRADA ESBURACADA, CARRO VELHO, POLÍTICO MENTIROSO E NORMALMENTE CORRUPTO, ADMINISTRADOR PREGUIÇOSO, NÃO ACABAM NUNCA.

Estrada esburacada, carro velho, político mentiroso e normalmente corrupto, administrador preguiçoso, não acabam nunca. Lembro-me como se hoje fosse, numa quarta feira de cinzas de anos passados, um casamento que marcou época em Uberaba. Ele, G.P.S., ela A.G.S., famílias tradicionais e ricas da cidade. Ele, apesar de casado, nunca abandonou a boemia. Ela, coitada, a tudo suportava. Mas, ultimamente, estava meio “cabreira” com as andanças duvidosas do marido, embora ele afirmasse, quando chegava tarde em casa, estar a trabalho. Para que o “caldo não entornasse” e o casamento fosse “prá cucuia”, ela fingia acreditar. Até que aconteceu aquela noite inesquecível, lembra ele. Trágica , comenta ela. Não dava mais. O casamento estava por um fio. Pediu a ele que saísse de casa. As famílias, dela e dele, contornaram a difícil situação. Incômoda a não mais poder. Até que naquela terça feira gorda, chegando à quarta feira de cinzas, madrugada alta, sem saber o que dizer em casa, passou no bilhar do Manogra ( Monagrasse Honório Campos, de saudosa memória), espalhou pela calça e camisa, aquele pó azul do giz dos tacos e foi prá casa. A mulher, acordada, depois de cansada em ver desfile de carnaval pela televisão, firme a esperá-lo. –“Hoje ele me paga, não agüento mais”, vociferava interiormente.
Pé ante pé, o maridão abre a porta, devagarinho, atravessa a salae entra no quarto. Ela de pé. Impassível, espumando pelo canto da boca. –“On’cê tava?”, pergunta prá lá de raivosa.
-“Tava com as puta lá na casa do Dentinho de Ouro. E daí?”, respondeu calmamente.
Ela olha o marido dos pés a cabeça. De cima em baixo, De trás prá frente, de lado e esbraveja:
“Seu mentiroso !
-“Que foi, mulher”, prá que isso”…
Ela, com os olhos marejados de lágrimas, abraço-o, ternamente e com muita intensidade.
-“Cê tava jogando sinuca, né amor?”
Dalí prá a eternidade, foram felizes para sempre…


Luiz Gonzaga de Oliveira

ROMEU BORGES DE ARAÚJO

Romeu Borges de Araújo, é, sem pestanejar”, o catireiro-mor desse Brasilzão sertanejo, ou rural, como queiram. Fazendeiro evoluído, bom chefe de família, contador de “causos” dos melhores, expoente do clã Borges, sua fama de dançarino, ultrapassou fronteiras. Dançar catira, sapatear, bater palmas, organizar-se, tudo ao mesmo tempo, não é obra prá qualquer um. É preciso fôlego, ginga, talento, ritmo , vocação e, acima de tudo, noção de arte. A arte da dança da catira, não é prá qualquer mortal. Habilidade, destreza, esperteza e coreografia espontânea, são requisitos essenciais. Catira, hoje em dia, corre mundo afora.

 A famosa Rede Globo de Televisão, vira e mexe, está mostrando nos seus programas, a dança caipira, tornada mundialmente famosa pelos Borges, de Uberaba. Ontem, dança dos homens, atualmente, unissex. Até ensaios literários contando a história da catira, foram escritos. Voltemos ao Romeu Borges. Repórter dos mais brilhantes do Brasil´, José Hamilton Ribeiro (“Globo Rural”), uberabense por mérito. Entusiasmou-se com a performance de Romeuzinho. Enorme acesso às produções da Globo, sugeriu um quadro no “Fantástico”, associando a dança popular sertaneja com a clássica, o balé . Da ideia à prática, alguns segundos.Romeu, topou de cara. Dançar com Ana Maria Botafogo, número um do Teatro Municipal e uma das mais famosas bailarinas do mundo, era a consagração. Ensaios no apartamento de Ana Maria, nos estúdios da Globo, no “pé do morro da Urca”, bem debaixo do bondinho, pronto! Era ali, o cenário ideal. O quadro foi ao ar. Sucesso absoluto. Os críticos elogiaram à fartar-se da composição clássico-sertanejo.

 Romeu Borges de Araújo, teve o seu momento de glória!Voltou para Uberaba, pensando em viajar o mundo, mostrando a arte do balé, com a simplicidade da dança caipira. “Seria um sucesso mundial”,pensou. – “Quem sabe até mudo de nome?Não custa nada” Chegando em casa sabendo enorme sucesso que fizera, jogou a mala no quarto do casal e, correndo, foi abraçar a esposa Marli. Ela, coitada,às voltas na máquina de lavar roupa, suada, pendurando, calça, camisa e cueca do Romeu, no varal do quintal” Marli, Marli, Marli, minha querida mudei de nome Troquei Romeu Borges prá Romeu Botafogo, cê achou bonito?” Ela parou de estender a roupa, olhou bem no rosto do marido e com voz firme decidida, retrucou. –“Eu também mudei de nome…”Romeu, quis saber na hora: “Cumé que ocê chama, bem ?” Ela, bem defronte ao marido, lascou:-“Marli Apaga Fogo!” estamos conversados Num abraço, ficaram por isso mesmo…



Luiz Gonzaga de Oliveira

MAJOR JACINTO SACRAMENTO - UBERABA

Uberaba sempre teve fama de homens valentes.Disse homens, não políticos..Major Jacinto Sacramento, militar e delegado de policia, foi um deles.Deixou página de “feitos” na cidade. Só que teve uberabense mais valente que ele. Seguinte: corria o ano de 1936. Sacramento tivera um desentendimento sério com doutor Boulanger Pucci, cuja fama de bravo também era conhecida. Médico competente, caridoso, humanitário, era tido também como um autêntico galã para os padrões da época.As causas da discórdia com Sacramento, não eram conhecidas. O certo é que Boulanger tentou publicar nos jornais locais, umas “verdades” do major delegado. Não se sabem os motivos os donos dos periódicos locais, não aceitaram, nem como matéria paga, o artigo do médico uberabense.-“Foi cagaço deles”, dizia Boulanger. Ele, não se deu por vencido. Foi a São Paulo e pagou a publicação no “Diário de São Paulo”, o mais importante jornal dos “Associados”, de Assis Chataubriand. Uma repercussão que seria , no máximo regional, virou assunto nacional. Imaginaram um médico criticar, aquela época, um delegado de policia, ainda por cima militar? Sacramento ficou sabendo da noticia e o “auê” que provocara, pela amante, Yolanda Junqueira, da tradicional família que leva seu sobrenome em usina às margens do rio Grande e base em Ribeirão Preto. Yolanda, era dona de bordel na rua São Miguel, o famoso “baculerê” da cidade. A mulher não se conteve e exigiu que o amante fosse até Boulanger e o fizesse engolir o jornal que o detratava. Para não desapontar Yolanda, a mulher-amante, faria com que o seu desafeto engolisse, pedacinho por pedacinho, o jornal que trazia a noticia. –“Palavra de macho apaixonado”, afirmou.-“Supremo desaforo, um mediquinho de merda, manchar a minha honra!”, pensou, babando de raiva. –“Amanha cedo, aquele filho da puta, vai ver com quantos paus se faz uma canoa. Ele mexeu com o caboclo errado”, gritava e olhava para a amante. Só que nem ele, nem Yolanda, sabiam que parede tem ouvido. A da pensão do “baculerê”, tinha . Amanhã, conto o final.


Luiz Gonzaga de Oliveira

“ZÉ GORDO”

O nome de batismo pouca gente sabe, mas, se falar “Zé Gordo”, toda a fazendeirada da região conhece. “Zé Gordo! Trabalhou, praticamente, para quase todos os donos de terras entre Uberaba e Uberlândia. Depois de um assassinato na região, foi esconder-se na fazenda de m uberabense lá para os lados de Mato Grosso, o do sul. confesso que, hoje, não sei se está vivo ou morto. A fama de bom peão sempre o acompanhou. Ligeiramente obeso,era de uma agilidade fora do comum. Excelente tirador de leite, vaqueiro de primeira, entendia de tudo no campo. Asseado, corajoso, amansava burro bravo de fazer inveja. Tinha um “olho” espetacular. As cercas que alinhava e construía, era uma verdadeira linha reta, tamanha a precisão de um poste ao outro… Caseiro excelente, o quintal tanto da sede da fazenda, quanto da casinha que morava, era um “brinco”. Curral nos trinques, arreata dos animais sempre organizadas, vacinação do gado em dia, “Zé Gordo” era o peão que todo fazendeiro queria ter.Era casado com a Ritinha, menina nova, boa de serviço, morena clara, limpa, perfumada, nem alta nem baixa, corpo bem feito, cintura fina, cabelos bem arrumados, olhar matreiro, era, também a cobiça dos patrões. Na fazenda que estava trabalhando, à direita do córrego Laranjeiras, antes de chegar no Tijuco, o fazendeiro estava de “olho comprido” na mulher do “Zé Gordo”. Virava e mexia, levava “agrados” para a mulher do vaqueiro, “Zé Gordo”, além de bom vaqueiro, era melhor na pontaria de um “38”. Estava na região depois de “aprontar” em Goiás. Certa tarde, depois de ir à fazenda, o fazendeiro viu “Zé Gordo”, parado, na porteira da entrada da fazenda.-“Pronto, será que ele descobriu?”, pensou. O empregado abriu a porteira e foi logo dizendo:- Patrão, tenho um assunto sério a tratar com o senhor”. Gelado, mãos trêmulas, o patrão respondeu:-“Agora não, Zé. Tenho uma reunião política em Uberaba e já estou atrasado”. Acelerou a caminhonete e se mandou. Ficou uns dois meses sem ir à fazenda. Depois de insistentes chamados de “Zé Gordo”, voltou no que era seu. Aquele cafezinho de sempre, o casal sempre amável, o marido foi trabalhar. A Ritinha , dengosa, só sorrisos. Deu pressa de ir embora. Lá em cima, na porteira, à esperá-lo, “Zé Gordo”. –“É hoje, Vou ter que enfrentá-lo”, pensou o fazendeiro. “Zé Gordo”, com a mesma conversa:- “Patrão, o assunto é sério. Tem que ser agora”. O fazendeiro ( seria um Borges?), tremendo dos pés à cabeça, respondeu:- “Desembucha, Zé. O que ta acontecendo?”. “Zé Gordo”, olhos vidrados , não se conteve: – Patrão, é grave. A Ritinha ta traindo nóis dois”…

Luiz Gonzaga de Oliveira

NOME É A EXATA DENOMINAÇÃO QUE SE DÁ A QUALQUER COISA QUE VEMOS

Nome é a exata denominação que se dá a qualquer coisa que vemos, sentimos, apalpamos, tocamos. Plantas, animais, objetos pessoais, situações vividas e por aí afora. Pessoas, formalmente, damos nomes. Os religiosos batizam e registram os seus, com nomes. Geralmente de boa fonia, dicção fácil. Outros, primam pela originalidade, esquisitice, até. Dificeis, quase sempre, anormais, diríamos…Seria inconcebível pais escolherem para os filhos nomes estranhos, pronúncias difíceis, sem razão? Cartórios, pias batismais, águas de rio, tendas de umbanda, aceitarem batismos de nomes tão exóticos? Nomes abaixo são de pessoas que conheci, ainda sem presença física. Não inventei nenhum deles. Na minha família, meus avós, Quirino e Beralda. Minha mãe. Odone, meus tios, Elinda, Filogônio,Nahum Tecla, Lyryo e Waltrudes. Primos, Brizabella, Luzmar, Agmon, Dolizor, Didon, Forizmar, Elydemar, Suzimar e Selvian. Na vila Maria Helena, vizinhos meus, o pai,Antomarck, os filhos Essênio Brasil, Vespasiano Augusto, Dompedro Segundo, Legalidade Bernardes, Flora de Minas, Aurora Boreal e Glória do Céu.. Amigas de minha mãe, Flordaliza, Graciosa, Preciosa, Venturosa, Amorosa, Pascóvia. Familia unida, nascida no Veríssimo e vida em Uberaba, Horizonta Horizontina, Helvecina Helvécia, Armelindo Amélio, Adoclecino Adoclécio, Ercina Ercia, , Adelino Adélio, Antonina Antônia, filhos de Sabino e Gercina, fazendeiros na região. Lembro-me, com saudade,da Prosolina, mãe do Eleuzes, Raulira, minha madrinha, Eiderlindo, meu padrinho. Como esquecer do Abedenago, Pincal Pedro, Deusvelindo Salvenil Cirineu, da mocinha que trabalhava lá em casa,a Aucleteclina, do baterista Aresky Cordeiro.. Saudades do Agricio, Horbilontina, Alcinério, Orlick, Elpenor , Belchiolina, Urânio, Tolendal, Dolor, Dalor, Neochovandes, Numa, , suas irmãs (dele)Flor do Chá e Flor do Mar, dona Pulchéria, sogra do Urbano Salomão… Nunca perguntei e jamais pesquisei se eles(elas)dos nomes que lhe foram dados. Não era da minha conta. Para concluir, lembro de um episódio pitoresco acontecido.Em 64, plena revolução, foi preso na cidade, um cidadão de bem que nada tinha de comunista, alvo dos militares e dos “dedo-duros” da city. Alvoroço na família, A quem procurar? Como tirá-lo da cadeia? O delegado sabia das virtudes do preso, deu a “dica” à família:
-“Procure o dr. Helvécio Moreira.Ele consegue a soltura do seu pai”, falou para um dos filhos.Desesperado, o filho mai velho foi a procura do causídico.-“Dr. O papai não deve nada, é um homem honrado. Preciso da sua ajuda!”. Cimpetente, Helvécio, não se fez de rogado ,pois conhecia o “velho”, pessoa de bem,honesto e sem vínculos políticos. Preparou a petição e perguntou o nome do jovem para preencher a procuração. – “Qual é o se nome, filho?” Sem pestanejar, frente ao advogado, quase gritando, falou: Stalin José, doutor”. Helvécio deu um pulo da cadeira, levou as mãos à cabeça e sentenciou: -“Não meu filho, com esse nome, não tiro nunca o seu pai da cadeia. Traga alguém com outro nome, senão, nada feito”. Só no outro dia, nova procuração e novo nome, o pai de Stalin, pode gosar novamente a liberdade….


Luiz Gonzaga de Oliveira

O PREFEITO ROSA PRATA TRANSFORMARA A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL - UBERABA

Setembro, 1972, em Uberaba. Ano de eleições e a política ganhava fôlego na cidade. O prefeito Arnaldo Rosa Prata transformara a administração municipal. Deu plástica nova na área central, cobrindo córregos, asfaltando avenidas, criando conjuntos habitacionais, inaugurando o semi-acabado “Uberabão”, o novo terminal rodoviário e outras obras mais. Seu afilhado político, diziam seus correligionários, “futuro prefeito de Uberaba”, Fúlvio Fontoura, filho do também ex-prefeito Lauro Fontoura, tinha como opositor, com menor chance, Hugo Rodrigues da Cunha, ex-presidente da ACIU, candidato derrotado em 70 para deputado federal. Ambos da ARENA, I e II, dito pelo governador de Minas, Francelino Pereira, “ o maior partido do ocidente”. Na oposição, o PMDB, em frangalhos, sem a menor possibilidade de vitória, indicara o alfaiate João Pedro de Souza. A TV-Uberaba, com poucos meses de vida, seria o primeiro grande palanque eletrônico das eleições. As ARENAS I e II, com as “burras”cheias de dinheiro, caprichavam nos seus programas eleitorais. No PMDB, a morte do seu grande líder, Chico Veludo, desestabilizou o partido. Chico vencera as eleições e não levou. Já lhes contei a história. João Guido, foi o “escolhido”. Novidade na praça, os programas televisivos eleitoriais, ganharam enorme audiência. Acuado, praticamente sozinho ( lembro-me apenas de um companheiro solidário, Paulo Afonso Silveira). João Pedro, com reduzido tempo de TV, ainda assim topou a “briga”. A turma do PMDB, candidatos a vereador, altamente compromissada com os candidatos arenistas. “Mote” principal da campanha de João Pedro, trazer água do rio Grande para abastecer as torneiras da cidade. O tema virou gozação.-“Onde já se viu?O João, ta louco varrido. Trazer água do rio Grande, só se for em cano de bambu…Ele precisa ser internado no Sanatório Espirita”…João Pedro, virou piada na cidade. –“Onde o PMDB, está com a cabeça?” diziam os opositores. Favorito disparado, apoiado pelo “Lavoura”, PRE-5, parte do “Correio Católico”, Difusora, Fúlvio perdeu para o da ARENA II, Hugo Rodrigues da Cunha. João Pedro, teve uma votação que não se elegeria vereador…Triste, aborrecido, abandonado pelos falsos amigos, endividado na campanha, João Pedro entrou na mais terrível das doenças- a depressão. Não suportando a terrível humilhação por que passara, um fatídico dia, a mirar-se nas águas do rio Grande, na ponte que divide Minas-São Paulo, atirou-se nas águas que queria trazer para abastecer a sua Uberaba tão amada. Lamento, sua morte foi pouco registrada. Nem sei se lhe deram nome de rua na cidade. Seus detratores não mandaram rezar missa de sétimo dia e pedir a Deus o necessário e cristão perdão pela sua alma por tão tresloucado gesto.
Poucos anos se passaram. Os mesmos adversários de João Pedro de Souza, que o chamaram de “louco varrido” por querer trazer água do rio Grande para abastecer a cidade, são os mesmos que, hoje, solicitam aos organismos internacionais, empréstimo para trazer água do rio Grande para Uberaba…Trágica ironia, não?
Desculpem pela extensão da história. Era preciso. 


Luiz Gonzaga de Oliveira

TEM PESSOAS QUE O DIVINO CRIADOR LEVA MUITO CEDO PRA O REINO DOS CÉUS

Tem pessoas que o Divino Criador leva muito cedo pra o reino dos céus. Figuras humanas, maravilhosas que no dizer de Rolando Boldrin” partem fora do combinado”. Ramon Rodrigues, foi um deles. Solteirão convicto, educado. Aprumado financeiramente, vida profissional consolidada, nutria uma paixão desenfreada pelo Botafogo carioca, Fabricio e Uberaba Sport. Pelas mãos dos saudosos Raul Jardim e Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, começou a escrever no “Lavoura e Comércio”, depois de uma rápida passagem pelo semanário esportivo “A Bola”, do excelente Raimundo Sarkis. Ramon, tinha ditados engraçadíssimos que o tornou o cronista esportivo mais popular de Uberaba e região. Exemplo? Ao analisar um futuro jogo do Uberaba, antevendo insucesso alvirrubro, escrevia: “se o Paulinho não estiver numa tarde inspirada com as bolas de açúcar que o Tati lhe passa, “adiós mariquita linda”, o seu bordão favorito. Na falecida TV-Uberaba, em 72, fez história. Frases hilariantes, comentários humorísticos, suas intervenções nos jogos do Uberabão, deram o que falar, Inteligente, atualizado, palavra fácil e texto simples, as opiniões do Ramon, eram respeitadas. No rádio fez um trio famoso na saudosa PRE-5, com Netinho e Leite Neto. Certa tarde, num lance confuso na área do Uberaba, gritou sem medo de ser feliz: cu de boi na frente do Vilmondes.Graças a Deus,não^foi gol deles…Leite Neto, surpreso com a frase que saiu, sem cerimônia, da boca do Ramon, indagou:-“que Você disse, companheiro?”, Sem pestanejar, Ramon confirmou:-“isso que Você ouviu, ta?” , Árbitro que marcava falta contra o “seu” Uberaba, Ramon gritava a plenos pulmões: “Juiz ladrãp, pega esse juiz sem vergonha, larápio”. Além dos ouvintes da rádio, o estádio inteiro também ouvia…Mas, foi na TV-Uberaba, que o fato mais inusitado aconteceu. A equipe esportiva, tinha como chefe o diretor de jornalismo da emissora, o competente Symphrônio Veiga, vindo das “Associadas” de Belo Horizonte. Netinho, Ramon, os irmãos Jorge e Farah Zaidan e esse humilde “Marques”, seus integrantes. À hora do almoço, o “Papo de Bola”,à noite, “Fornox Confidencial” e depois “Esporte Urgente”. Hora do almoço, Farah, Ramon e eu.Naqueles velhos tempos,os programas eram “ao vivo”. Longe da chega do “vídeo-tape”. Certa manhã, Ramon atrasou-se. Programa no ar, com Farah e eu. Passados alguns minutos, ele entra, esbaforido, no estúdio. Perguntei-lhe: -“E aí mestre, tudo bem?”Ele, vermelho e transpirando muito, sentou-se e soltou a primeira “pérola” :
-“Desculpe-me pelo atraso. Subia a General Osório (onde está a TV) e um bruto dum caminhão bateu num carro, derrubou um poste e o trânsito embocetou todinho. Por isso atrasei,”Farah Zaidan, quando ouviu a frase, saiu engatinhando , segurando o riso. Netinho, atrás das câmeras, saiu em desabalada carreira, o Alemão e Gim, operadores das câmeras, abandonaram seus postos, o Wanderlei Silva, que dirigia o programa, gargalhava `à cântaros. Eu, ali, atônito, completamente sem ação, segurando a gargalhada. Ramon, impassível, vendo aquela balburdia no estúdio, quis consertar o que havia dito:- “Calma, pessoal, quando eu disse embocetar, foi, puramente, no bom sentido”…
Aí que não agüentou fui eu. Escorreguei debaixo da mesa e a televisão ficou cinco minutos fora do ar….Também pudera…
Ramon Rodrigues, está no céu. Sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso !


Luiz Gonzaga de Oliveira

QUEM ME CONTOU ESSA FOI O EMINENTE PROFESSOR, AMIGO FRATERNO, DÉCIO BRAGANÇA

Quem me contou essa foi o eminente professor, amigo fraterno, Décio Bragança, figura ímpar na educação em Uberaba. Época de eleições. Disputa duríssima à deputado federal. De um lado, José Humberto Rodrigues da Cunha, homem de sólida formação moral, cultural e religiosa. Médico cirurgião, humanitário, realizou mais de 6mil cirurgias, que, segundo os anais médicos brasileiros, é recorde nacional. Formado também em Direito, não exerceu a profissão. Fez o curso apenas para ajudar um amigo.Esse, não estudou coisíssima nenhuma as leis que regem o país e ficou por isso mesmo… Dr. José Humberto, na política foi figura exponencial. Vereador, inicialmente, teve atuação destacada. Ficou algum tempo fora da política. Voltou deputado federal pela União Democrática Nacional (UDN). Dois mandatos profícuos em favor de Uberaba e da região. . Seu adversário era o famoso Sebastião Paes de Almeida, apelido “Tião Medonho”, um dos homens mais ricos do Brasil e ostentando o titulo de”!rei do vidro””il. Apoiado pelo Partido Social Democrático (PSD), diretório de Uberaba. Com enorme potencial financeiro, jogava “dinheiro prá cima”…Uma passagem pitoresca, marcou a campanha de “Tião Medonho” na região. Seguinte: Com o carrão enfeitado por todos os lados, com “santinhos, mini-banners” e cartazes, viajou de Uberaba para Araxá, onde faria comício, ao final da tarde. Ao cruzar a ponte do rio Araguari, deparou com três homens, pescando.Parou o carro, desceu e “puxou prosa” com os pescadores. – “Vida boa, hein?”Enquanto a gente trabalha,’ ceis tão aí pescando”… Um deles, de pronto, reconheceu Paes de Almeida. – “O senhor é o Tião Medonho, não é? Não precisar trabalhar mais não. Tá eleito, sô”. Todo orgulhoso, Tião Medonho, retrucou: “’Ceis acham mesmo? Então me peçam alguma coisa, que terei prazer de atendê-los?”
O primeiro pescador, foi direto:-“ O senhor me manda uma coleção de anzóis, ta?” O segundo, não deixou por menos:-“Eu quero uma coleção de linha de pescar de aço e nylon…” O terceiro pescador tinha tomado “uma e outras”, meio cambaleante, pediu: -“eu quero uma enxada novinha”. O secretário do Tião, tomava nota de tudo. Espantado e surpreso com o pedido, o “rei do vidro”, falou baixinho ao ouvido do empregado:- “Chico, prá esse aí , manda um trator no lugar da enxada. É o único que pediu um instrumento de trabalho”.
Nesse momento, veio a surpresa! Ao ouvir a ordem de “Tião Medonho”, o pescador reagiu. Alto e bom som: -“Uai, seo Tião, o senhor vai me dar um trator prá arrancar minhoca?”
Repito: José Humberto perdeu a eleição. “TiãoMedonho”, foi o mais votado em Minas. Pouco tempo depois, cassado pelos generais…

Luiz Gonzaga de Oliveira

NENÊ MAMÁ ERA DE UMA FIDELIDADE CANINA AOS SEUS AMIGOS

Nenê Mamá era de uma fidelidade canina aos seus amigos. Certa ocasião, atendendo ao apelo do amigo Artur Teixeira, candidato à prefeito, aceitou pleitear à vereança municipal, segundo ele, pelo “PSD veio de guerra”, como costumava dizer. Distribuiu panfletos, entregou “santinhos”, visitou amigos(as), fez discurso, onde pudesse apresentar seu nome. A campanha municipal pegando fogo. Celso Rodrigues da Cunha e Jorge Furtado, disputavam com Artur Teixeira, palmo a palmo, o voto dos uberabenses. Campanha acirrada. Xingatório daqui, resposta de lá; denúncia de cá, revide do outro lado, coisas próprias dos embates políticos. Oradores brilhantes não faltavam nos palanques. A tradição familiar do grupo da UDN, o discurso progressista do PTB, a maneira mineira de fazer política, davam a tônica da campanha. A fala erudita da “eterna vigilância”(UDN), o tom agressivo dos trabalhistas (PTB) e o discurso moderador , coluna do meio,dos pessedistas(PSD), a campanha entrou na sua reta final. Finalzinho de setembro. Grandioso comício marcado para a Abadia, maior contingente eleitoral da cidade, mas, o mais carente em melhorias. Poucas ruas calçadas, esgoto a céu aberto, iluminação super precária, água de cisterna e outras carências da periferia urbana. PSD em peso no caminhão. Artur Teixeira, José Bilharinho, Rafael Angotti, Álvaro Barra Pontes, Nagib Cecilio, Lauro Fontoura, Ranulfo Borges e outros “caciques” do partido. A praça da Abadia, apinhada de gente. Primeiros discursos dos candidatos a vereador, entre eles, Nenê Mamá. Araudio Pereira Melo, o saudoso Xin, apresentador oficial dos comícios do PSD, preparava para anunciar o nosso Nenê, que cochichou ao ouvido do amigo: -“Capricha na minha apresentação, ta?”.Xin, caprichou. Falou do grande desportista, do diretor do USC., do rei Momo que ele representava e outros adjetivos mais.Aplaudido, Nenê começou o discurso:
-Povo querido da minha Abadia! Quero ajudar a acabar com o sofrimento de vocês! Vou fazer algumas perguntas e quero respostas ultra sinceras
– Vocês tem água encanada aqui?
O povão a uma só voz:
Não!
Vocês tem energia elétrica para iluminar suas casas?
O povão:
-Não
-Tem ruas calçadas ?
-Não!
Tem esgoto?
-Não!
Nenê Mamá não se conteve e soltou a frase lapidar da sua vida:
-E por que ‘oceis num muda daqui, cambada !”
Depois do comício, o PSD agradeceu a “colaboração” do Nenê e retirou-lhe a candidatura….
À propósito, Artur Teixeira, ganhou as eleições e foi prefeito por quatro anos…



Luiz Gonzaga de Oliveira

A “VELHA GUARDA” DA POLÍTICA UBERABENSE

Espero que tenham passado uma alegre noite de passagem de ano.Merecem.Hoje, uma historinha política-familiar. A “velha guarda” da política uberabense, Décadas de 50|60, era dominada pelo PSD “veio de guerra”, conforme afirmavam seus dirigentes. “Pululavam “ estrelas do pessedismo, João Laterza, José Soares Bilharinho.Álvaro Barra Pontes, Mizael Borges. Lauro Fontoura, Antônio Sabino de Freitas, Artur Teixeira, João Henrique Vieira da Silva e, como presidente, o “coronel” Ranulfo Borges do Nascimento. Na UDN, nomes famosos também se pontificavam :José Humberto Rodrigues da Cunha, seus irmãos Celso e João Gilberto, Randolfo Borges Júnior, Bruno Oliveira Júnior e outros mais. No PTB, Mário Palmério, Hélio Angotti, Ivo Monti. Roberval Alcebíades Ferreira, Silvério Cartafina Filho, Jorge Furtado, eram as principais figuras. No PSP, Boulanger Pucci, Antônio Próspero, José Pedro Fernandes e Antônio Alberto de Oliveira, os principais nomes. Conciliador, matreirice política mineira, o PSD, mandava no Brasil. JK. Benedito Valadares, Tancredo Neves, Alkimin, Otacilio Negrão de Lima, eram os donos da República. Em Uberaba não se fazia nada, sem consultar o “coronel” Ranulfo… O filho, Joaquim Roberto Leão Borges, foi deputado estadual enquanto quis. As 2 filhas moravam nos EE.UU. e pouco vinham a cidade.Quando vinham visitar os pais, era um tormento.Era um tal de “papi”,”mami”, “boy”, “friend”, encabulando o velho Ranulfo. Não acostumado ao “modus vivendi” das filhas, não entendia nada do seu linguajar. Certa tarde, refastelado na sua poltrona favorita na casa onde morava à praça Santa Terezinha, cigarro de palha no canto da boca, pensando no comício de amanhã, uma das filhas, toda alegre, acerca-se do pai e, em tom carinhoso, pergunta: -“Papi whos Ellen?” Ele não entendeu nadica. A filha falou em portugês:- “onde está a Helena?” O “Coronel” apenas pigarreou:”saiu com a kit” ,
Quem não entendeu foi a filha –“que kit,papi?” . Ranulfo , levantou a perna da cadeira, deu uma bela baforada no inseparável cigarro de palha e respondeu;” A que ti pariu,filha”. E continua a matutar no comício que o PSD realizaria no outro dia na praça das “promessas”…

Luiz Gonzaga de Oliveira

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

UBERABA SEMPRE TEVE FAMA DE CIDADE BOÊMIA

O episódio aconteceu a uns 40 anos, mais ou menos. Mais prá mais que prá menos. Uberaba sempre teve fama de cidade boêmia, alegre, responsável por grandes programas de homens casados e (i)responsáveis. Era só a família viajar e a freqüência das “casas” da Deide, Lêda, Carolina, “Dentinho de Ouro”, Cida, Ivete. Sônia, Vailda e outras menos votadas, fazer a alegria e movimento das supra citadas. Mocinhas bonitas do “fundão” do Triângulo, Goiás e Mato Grosso, virem para Uberaba atraídas pela fama de cidade rica para “fazer a vida”, era usual. “Gente nova na praça”, família em férias, dinheiro no bolso, a alegria da “homaiada casada” era geral. Bertolino, gerente de banco, reuniu os amigos e foi prá noite. Bebeu, comeu, dançou, brincou, trepou, divertiu a valer. Em sua homenagem, Zenilda, nada lhe cobrou. Nada, “modus in rebus”,dizia um amigo meu, queria apenas um pequeno empréstimo no banco onde ele era gerente. – “Empresto sim. Vai lá amanhã”, sorriu. Zenilda, no outro dia, mal esperou o banco abrir. Roupa discreta, sem pintura, lenço nos cabelos, sandália “rasteirinha”, humildemente, senta-se frente do gerente. Sem graça, camisa engomada, gravata discreta, sério, cumprimenta-a formalmente, abre a gaveta e mostra-lhe um telegrama da matriz do banco, suspendendo a carteira de empréstimos. – “Sinto muito”, lamentou. Decepcionada e abatida, volta prá casa. Em lá chegando, colocou em prática a vingança. Dias depois, voltou ao banco. Cabelos produzidos em salão de beleza, rosto maquiado, lábios borrocados de um reluzente batom vermelho, sapatos salto alto, mini saia provocante que deixava à mostra suas lisas e roliças coxas.”bustiê” super generoso, destacando parte dos fartos seios e……uma nota fiscal às mãos. Lá no fundo, Bertolino, pálido, quase gelado, assiste a cena. Zenilda, sem se perturbar, vai direto ao caixa e pede:- “Por favor, pague-me esta nota. Foi despesa do gerente lá em casa, anteontem, com uma das minhas “Camélias”. Vanderlino, o caixa, foi direto ao gerente. O “visto, pague-se”. Saiu em segundos. Dinheiro na bolsa à tiracolo,Zenilda olhou o gerente, deu-lhe uma piscadinha marota, num rebolado provocativo, deixou a agência, Sem olha prá trás.

Juram os amigos do Bertolino que, querer pé de briga é chamar o gerente para ir na “zona”.


Luiz Gonzaga de Oliveira

GERMANO GULTZGOFF, FOI O GRANDE ARQUITETO E PROJETISTA DE UBERABA

Germano Gultzgoff, foi o grande arquiteto e projetista de Uberaba. Filho de russos, nascido na ilha de Córsega, a mesma de Napoleão Bonaparte (seriam parentes? Sei lá…), aportou em Uberaba no ano de 1954, pelas mãos sérias e progressistas dos irmãos Salomão. Gilberto, figura maiúscula do empresariado de Brasilia (DF) e Urbano, “curtindo” com sabedoria e inteligência, até hoje, sua sempre doce Uberaba…
Country Clube, Sirio Libanês, repaginação do Jockey, da praça Ruy Barbosa, Hospital “Hélio Angotti” e as mais bonitas mansões da cidade, tiveram os traços de Germano. Educado, criação esmerada, educação requintada, vir morar no interior de Minas, só mesmo um gênio(aliás, todo gênio tem um pouco de louco…)para aceitar tamanho desafio. Germano, aceitou. Provou, gostou e não saiu mais da terrinha. Inovador, irriquieto, irreverente, pensador, criador, culto, inteligente, leal, sincero, “bom de copo”, sem papas na língua e outros adjetivos mais, Germano os tinha. Os que conviveram com ele, sabe o que estou dizendo. Já maduro em idade, enveredou-se pela política, candidatando-se à prefeito. Teve menos votos que o vereador eleito com a menor votação… Na eleição seguinte, tentou a vereança. Nem na suplência ficou. “ – Meus amigos continuam os mesmos”, consolava-se. Adquiriu uma fazenda com a lei dos incentivos fiscais, que, diga-se, deixou muita gente daqui, “bem de vida”, a tal lei do reflorestamento… Agricultura, pecuária, apicultura, foram as atividades. Não sendo do ramo, logo desistiu. Porém, antes de vender a fazenda, colocou na entrada principal, um enorme canhão. Verdade! Canhão grandão, mesmo.Viajantes que vão com destino a Goiás, BR-050, quase defronte ao posto das Bandeiras, ficam intrigados com a ousadia de Germano.- “Canhão na entrada da fazenda?Praquê?” diziam todos. À custo, Germano explicou: – “Ninguém vai tirar o canhão Dalí. Sabe cumé, né, Uberlândia ta crescendo prós nossos lados, mas, só até no posto das Bandeiras. Se passar, meu canhão ta cheio de balas e passo a atirar. Pros lado de Uberaba, ninguém vai botar banca, não”.
A fazenda não é mais do Germano, mas, o canhão está lá. Até hoje.Por medida de segurança…


Luiz Gonzaga de Oliveira

GERSON DAIA FOI UM DOS TIPOS POPULARES MAIS INTELIGENTES QUE CONHECI NESSA NOSSA UBERABA

Gerson Daia foi um dos tipos populares mais inteligentes que conheci nessa nossa Uberaba. Confesso-lhes não o conheci na minha mocidade. Quando para minha felicidade, privei da sua amizade. Ele com 50 ou mais pedrada e eu, um pouco menos de 40. Melhor de humor e graça depois dos “enta”, tenho certeza. Gerson Daia, fez de tudo na vida, menos roubar e matar. O que gostava mesmo era fazer os outros rirem, alegrar com as histórias que contava e personagens que encarnava. Gerson tinha o rosto cravado por pequenas cicatrizes, que, segundo contava, fruto de uma varicela violenta que contraíra ainda jovem. Gerson não tinha feições delicadas, pelo contrário, era feio e aproveitava da sua feiúra para fazer os outros rirem. Piadista de primeira, tirava de cada fato do cotidiano, fosse bom ou ruim, verve para suas anedotas… Aprendiz de ventríloquo, Gerson, quando o dinheiro escasseava e a situação apertava, passava a mão no seu inseparável boneco preto e um arremedo de violino, feito de penico velho e um cabo de vassoura e três cordas e improvisava uma canção da moda e dos desarranjados sons emitidos daqueles pedaços de fios ligados ao fundo penico. Gerson, era alegre. Se recebesse chutes ou tapas, não se queixava, sabia fazer “ do limão uma doce limonada”. Jamais rejeitou contar uma piada se tivesse duas ou mais pessoas á sua volta. Piadas, diga-se, sempre novas…Uma ocasião, quando a cadeia pública ainda funcionava na praça do mercado, prédio atual da nossa Federal de Medicina, Gerson, devidamente “trolado”,foi preso pela enésima vez na sua carreira de boêmio. Fim de tarde, quase na hora da sida do famoso delegado, dr. Lindolfo Coimbra de Souza. O”homem” mandou chamar o preso e deu-lhe tremenda “ bronca”.

.-“Gerson, vê se toma jeito. Nem sei quantas vezes já te vi aqui., Você não fica com vergonha?” inquiriu, duramente, o delegado.

Gerson, na maior tranqüilidade do mundo, olhou o delegado de “cima em baixo” e savou:

-“Não fico não, dotô”.

Foi a conta. Esbravejando, o dr. Lindolfo, insistiu na clássica pergunta:

-“Você não fica envergonhado de vir aqui na cadeia quase todo mês?”

Gerson, de bate pronto, na bucha, retrucou:

-“E o senhor não vem todo dia?

A prisão terminou em gostosas gargalhadas do delegado e Gerson, uma vez mais, imediatamente solto..

Luiz Gonzaga de Oliveira

BÊBADO É A FIGURA MAIS CHATA E INCONVENIENTE QUE SE TEM NO MUNDO

Bêbado é a figura mais chata e inconveniente que se tem no mundo. O bêbado, rico, pobre,alto, baixo, preto, branco, mulato,amarelo, gordo, magro, é sempre um chato de galocha. Agora, chato mesmo é você, sóbrio, tolerar um bêbado O bêbado nunca “se acha” bêbado.É o famoso “ desmancha roda”, sabe de tudo, conta segredos, dá palpite, interfere na conversa dos outros,dá aquelas mal cheiradas baforadas de cigarro barato, pisa no seu pé, ou pior ainda! ,derrama o copo da cerveja na sua calça e camisa novinhas que sua mulher passou com tanto cuidado!Pior que suportar bêbado só mesmo “papo” de político. Esses também são “dose”, fingidos e falsos até não mais poder. Deixa prá lá. Voltemos aos bêbados…que ainda são melhores que os políticos, principalmente os da terrinha… Bêbado enjoado é pleonasmo.Bêbado adora azucrinar o garçom. Se serve cerveja gelada, ele quer, estupidamente, gelada. Se pede uísque, ele deseja o “choro”, se for “caipirinha”, ele quer mais limão. Se é chope, pede com o “colarinho” bem alto. O “tira gosto” se não vem quente, reclama. Bêbado e político, são , nojentamente, chatos!
Nos anos 60, auge do restaurante “Galo de Ouro”, o “Buraco da Onça”, era ante-sala. O aperitivo era com o Romeu e o filho Cebola. Ali era o “foco” dos diaristas bêbados. O fato que narro em seguida, é verdadeiro. Seguinte:
Acreditado advogado uberabense, morava no “Grande Hotel”, aperitivava no “Buraco da Onça” e jantava no “Galo de Ouro”. O saudoso Jesuino, era o seu garçom preferido. Mais prá do que prá cá, ziguezagueando até chegar à mesa, pediu o “rango”. O prato chegou e figura notou algo passeando pelo prato da sopa pedida.
-“Jesuino, por favor, venha cá”.-“Às ordens, doutor, em que posso servi-lo?””-
-“Amigo, que mancha grande é essa na minha sopa?”
Malandramente, Jesuino respondeu: “Uai, doutor, é desenho do prato, num ta vendo?”
-“Vendo até que estou. Só que ele ta mexendo”…
Jesuino, sem perder a pose , mãos às costas, de supetão, respondeu:
-“È desenho animado, doutor”.
O restaurante, aquela noite, fechou mais cedo……

Luiz Gonzaga de Oliveira

O SAUDOSO E SEMPRE BEM LEMBRADO ABEL DOS SANTOS ANJO

Ontem, narrei-lhes lembranças do “Zé Pereira”, entrada dos roceiros e outras festas mais. Hoje, lembro figuras conhecidas, famosas por que não dizer? que deram brilho enorme ao carnaval de rua de Uberaba. O saudoso e sempre bem lembrado Abel dos Santos Anjo, (pai do também lembrado advogado Nelson Santos Anjo), animou por anos a fio os festejos carnavalescos da terrinha. Nos idos de 50/60, quisesse brincar no Carnaval, que se arranjasse às próprias custas. Sem essa mordomia que escolas de samba, rei momo, rainha do Carnaval, recebessem verbas do município, bancando a folia. “Neca de pitibiribas”, como dizia o comendador Nestor.Brincasse quem quisesse, com o seu dinheiro, fazendo a sua fantasia…Abel Santos Anjo, foi um par de anos,Rei Momo, às suas expensas. Os acompanhantes também. Alugava um caminhãozinho , carroceria curta, ele mesmo enfeitava, colocava som e saía, alegremente, pelas ruas da cidade, visitando clubes, muito confete, serpentina e lança-perfume.Aliás, naquele tempo, lança-perfume era para se jogar em moça bonita, inicio de “paquera” ou coisa parecida.Agora, desviaram o seu uso, aspiração desmedida do éter cheiroso. A sua proibição tinha que acontecer. Bem, depois do Abel, outros vestiram a farda da realeza de sua Majestade, Rei Momo, Primeiro e Único, como, pomposamente, a imprensa se referia ao personagem .Três deles figuram ainda na lembrança dos foliões. Embora por apenas dois anos, Wanderley Martinelli, fez sucesso. À época, pesava mais de 150 quilos. Sorriso largo, a alegria em pessoa. Só perdia o semblante real, quando alguém gritava: Rei “Maisena!”. Ele perdia a compostura e soltava o seu conhecido bordão:”Vai a puta que o pariu”! Ninguém continha as gargalhadas… Depois, o gordo e bonachão Allan Kardec. Massagista na hora de folga. Lidava com os cadáveres da Federal de Medicina, onde era lotado na seção de anatomia. Seu reinado, é muito lembrado. Mas. Waldomiro Campos, o lendário Nenê Mamà, deixou indelével saudade. Nenê, era a alegria em pessoa, figura altamente carismática. Super popular na cidade, foi a grande e grata revelação dos nossos velhos carnavais. Desempenhou com indisfarçável competência, o seu papel. Rainhas e princesas que com ele conviveram nos folguedos carnavalescos, lembram, até hoje , a alegria jovem do velho Nenê Mamá. Os tempos mudaram. O carnaval também e com ele a alegria inocente dos que queriam brincar o Carnaval sua verdadeira essência. Se é bom ou ruim, só o verdadeiro, o autêntico carnavalesco, pode dar o seu depoimento. O meu tempo já passou…
Amanhã, relembro a alegria das nossas escolas de samba, ta bom?

Luiz Gonzaga de Oliveira

“BANDA DA MARIA GIRIZA” - UBERABA

Ojeriza, substantivo feminino, sentimento de má vontade, aversão, antipatia, intolerância. Como o brasileiro escreve mal,mas, entende tudo bem, a palavra foi abreviada no linguajar popular simplesmente “giriza”, com “z”. Daí, surgiu a “banda da Maria Giriza”, que conto:1936, bairro do Fabricio. Jorge Montes, pintor de paredes, residia no final da rua Delfim Moreira. Diariamente, prá trabalhar, descia a Almirante Barroso. Na esquina da avenida Lucas Borges, morava a família de dona Joana Felisbina. A mãe dela, cujo nome preservo, bebia prá valer. Quando devidamente “tocada”, saia à rua cantarolando e levantando a roupa até a cintura., sem nenhuma proteção às partes baixas…Quem ousasse com ela brincar, recebia um repertório impublicável.-“Tenho giriza de ocê, da sua família e vai praquele lugar, seo vagabundo”… era a frase final. Jorge Montes, aliado a outros 17 amigos, criaram, então, uma banda bem satírica, quase humorística para em alto grau de gozação, homenagear aquela folclórica figura. Pediram licença ao Delegado, organizaram um pequeno estatuto e, naquele ano, desfilaram pelas ruas da cidade.Surdos,caixas, tambores e muita algazarra que acontece até hoje. Homens que “roubavam” as roupas das irmãs, esposas, namoradas, sutiãs com enchimento de pano, saias curtas, pernas cabeludas, turbantes improvisados, os figurantes da “Giriza”, faziam de tudo. Em 38, entra para o grupo, um funcionário da Prefeitura, eletricista. Que abafou na sua fantasia de jacaré. Ele era todo iluminado, luzinhas coloridas, intermitentes, da boca grande ao rabo comprido do jacaré. Era o maestro Submarino, que marcou época na banda.Com a morte de Jorge, o fundador, seu sobrinho , Walden Montes, o “Dico”, juntamente com os companheiros Milteira e Milteira e durante dezenas de anos, comandaram a “Giriza”, o mais antigo grupo carnavalesco do interior do Brasil. Organizada, mesmo com o “vai quem quer”, sempre foi a alegria do carnaval de rua de Uberaba. Tinha hino que era cantado pelos foliões que começava assim “ essa banda é de Uberaba, fundada em 36/chama-se Maria Giriza/ foi o Jorge Montes quem a fez/ seus instrumentos são muito engraçados/ suas vestimentas também/ fizemos esse hino/ saudando o maestro Submarino. A “Giriza” tem sede própria, rua Haiti, no Fabricio. ´E de lá que a banda sai , percorrendo quase todo o centro da cidade, com toda a sorte de foliões, diga-se, hoje, reduto preferido para divertir, da comunidade “gay” da cidade. Euripedes Gomes, nos últimos anos, preside a banda. Mesmo com sacrifício e sem apoio oficial, neste final de semana, a “Giriza”, com seu ritmo inconfundível, estará nas ruas da cidade, mostrando que a “Giriza”, continua viva !

Luiz Gonzaga de Oliveira

domingo, 1 de janeiro de 2017

ESPECIAL À VALÉRIA LOPES E À FANÁTICA TORCIDA DO UBERABA

No campeonato mineiro, divisão especial, na década de 60, presidência do saudoso Laurinho Fontoura, o “colorado” (ano 62) ficou à frente dos grandes Atlético e América, só perdendo posições para o Siderúrgica, de Sabará, campeão estadual pelas mãos de Yustrich e o Cruzeiro.
Segundo alguns dos próprios jogadores da época, o time alvirrubro só “tinha bandidos”. Bandidos que, aliás, na gíria futebolística quer dizer “cobra criada”, “boleiro malandro”, “esticador”, “come e dorme”, “chinelinho” e outros adjetivos mais que definem na linguagem esportiva, toda a sorte de malandragem dos jogadores.
Nas viagens então é que se percebia a notória e clara diferença de comportamento entre os profissionais da bola. Os que procuram lugares à frente do ônibus, são os “quietinhos”, aqueles que querem chegar, jogar , descansar e voltar prá casa. Os do “meio do ônibus” são os que gostam do baralho. Improvisam uma tábua preparada, ligam-na de um lado ao outros dos bancos, interrompem o corredor e partem para um inocente carteado, “vendo tempo passar”.
Bem, os que vão para o “fundão”, são os “mineirinhos come quieto”, no dizer do Ziraldo. Geralmente, combinam antes quem vai levar a”birita”. Cachaça, vinho, vodca, conhaque ou a inocente cervejinha. difícil é o chefe da delegação flagrar alguém com a “boca na garrafa”…
Contou-me o presidente Laurinho Fontoura, que,”de olho”nos jogadores do “fundão”, surpreendeu o zagueiro Wilton Dedão, de saudosa memória, com a garrafinha de cachaça na mão e, de sopetão, sério e carrancudo, perguntou-lhe em tom inquisitório:
-“Quem mais bebe com você, Dedão?” Assustado com o flagrante , Dedão não teve outra saída a não ser “abrir o bico”.
-“Presidente, no nosso time quem não bebe é só Tati, o Quincas e bola!”.
Obs. Tati e Quincas, estão”vivinhos da silva” pra confirmar o fato…


Luiz Gonzaga de Oliveira

A FALTA DE PERSPECTIVA DE UMA ADMINISTRAÇÃO LEVA UMA CIDADE À BANCARROTA

Nasci na época em que Uberaba tinha a maior parte de suas ruas de bairro sem calçamento. Era pura terra e buracos prá todo lado. As famílias sentavam à porta das casas, ouvia rádio e a meninada brincava de “pique” e “cruzada”. A preocupação com a segurança era mínima.Hoje em dia, quem diria !, a situação caminha de mal a pior. Roubos, furtos, assaltos, drogas, juventude transviada, políticos desonestos e corruptos, empresários que lesam os cofres públicos, empreiteiros inescrupulosos, homossexualidade oficializada, prostituição escancarada, são fatos que se tornaram corriqueiros. Casamento praticamente acabou. A vez é de “amigação” ou “ficação(?)”Casamento é “gay”, homem com homem, mulher com mulher…”Soltar as amarras da tradição atrasada”, segundo afirmam.
Rouba-se e assalta-se, descaradamente, na frente das policias , que noticiam o delito, dão nomes dos bandidos e concluem nos boletins “ a policia foi atrás, mas, infelizmente, não conseguimos prendê-los”. A droga anda solta. Na rua, durante o dia, à noite, à porta das escolas, nos bares, festas e festinhas “funk”, forrós, reuniões sociais na periferia e, principalmente, nos salões enfeitados da granfinagem. A droga “corre solta”.
Os assaltos e roubos são tantos, a policia impotente, os donos de casas e condomínios, constroem um verdadeiro arsenal de segurança. Famílias recolhidas e bandidos nas ruas…Sair à pé para um inocente passeio na pracinha, já era… O mundo é outro. Formas de viver, totalmente diferente. A hora incerta, chegou. O crime não é mais privilégio das grandes cidades. Os desmandos, roubalheira, assaltos, acontecem , com freqüência, até nos lugares menores. Rouba-se de tudo. Caminhões, automóveis, motos, bicicletas, objetos pessoais, documentos, celulares, vão engordar os bolsos dos receptadores e o parco dinheiro dos larápios, direto para as drogas…Até cães de estimação são levados pelos bandidos.
Recentemente, uma cachorrinha foi levada da casa de um amigo meu. A esposa chorava sem mais parar. As filhas, amuadas no canto da sala.Os netos, em prantos. Até o sisudo marido, pai e avô, andava triste. Passados alguns meses, o ladrão foi preso e confessou a autoria do ato. Alegria na família, e lá foi o avô a buscar a cadelinha tão querida. Decepção, coitado!…A “infiel” cachorrinha, rejeitou todos os mimos do dono. Fugiu ,apavorada, e foi “aninhar-se”, comodamente, nos braços do ladrão e dalí não quis mais sair… Pode?

Luiz Gonzaga de Oliveira

QUEM ADMITE E CORRIGE ERROS INSPIRA CONFIANÇA


Uberaba sempre foi uma cidade boêmia. Bem ou mal o fato que arrebanhou essa fama e quem tem fama dorme na cama… Orlando Ferreira (Doca), no seu livro “Terra Madrasta”, registrou o alto número de raparigas que circulava pela rua S.Miguel, bem como os passeios que faziam pelas ruas da cidade a fim de se mostrarem aos ricos e poderosos da santa terrinha. Cassinos proliferam em todos os cantos da cidade. Homens abastados , fazendeiros endinheirados e jovens filhos dos ricaços da terra, endoidavam com tantas a apetitosas mulheres…O cabaré “Brasil”, do casal Paulo e Negrinha, era o ponto de encontro da rua S.Miguel. Jovens vindas do Rio de Janeiro, S.Paulo, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Ribeirão Preto, S.José do Rio Preto e alhures, para Uberaba “fazer a vida”. Inquilinas bem vestidas, borrocadas de batom, perfume que exalava à distancia, as pensões da Isolina,Negrinha, Sudária, Nena, tia Moça, Tubertina e outras menos votadas, tão logo ouviam os acordes da orquestra do Aresky Cordeiro, no “Brasil”, atravessavam a rua à mostrarem-se para a homaiada que lotava a casa de diversão.Belas pernas torneadas, sapato alto, vestidos que não cobriam os joelhos, decotes generosos e seios que quase saltavam dos sutiãs, cabelos loiros ou morenos nos ombros caídos, desfilavam pelo salão à procura da “caça” preferida. No palco, rebolando a não mais poder, os primeiros travestis conhecidos( veados mesmo)que trabalhavam na zona: o crioulo Birinha e Diquinha , peruca loira, a cantar “Babalú….Babalú..aiê…Festa que varava madrugada.
Dentre os frequentadores, Cecilio Varela (nome fictício…),fazia sucesso. Altão, bem apessoado, brilhantina nos cabelos, camisa de seda pura, calça de linho, sapato engraxado, era o chamado “bom partido”.”Bom de bolso”, fartava-se de bebidas finas e sempre acompanhado das mulheres mais bonitas do pedaço…Porém (tem sempre um porém nas nossas vidas…), tinha um costume estranho. Naquela época (anos 50), pouco se falava em sexo oral. O Cecílio era adepto da prática. Adorava comida baiana, super apimentada. Seu costume maior quando se dirigia ao quarto da companheira, mastigava, com gosto,2 a 3 pimentas “malagueta”, sem que a parceira percebesse o gesto.À hora do “vamos ver”, a moça não se continha e começava a gritar, freneticamente, “ai, ai, ai”, um “ai” sofrido de dor, desespero, nunca prazer! Cecílio, se extasiava, ria de orelha a orelha, do sofrimento da pobre coitada.
A fama do rapaz extrapolou da zona para a cidade. Aquelas vitimas da tara do Cecílio, não contavam para as colegas e assim, ele fez a festa por muito tempo. Na rua S.Miguel. ganhou o “honroso” apelido de “língua de fogo”, pois, o que mais se ouvia delas, era o clamor:
-“Como tá de ardume a minha perereca”…

Luiz Gonzaga de Oliveira