sexta-feira, 19 de junho de 2020

Histórico dos TG no Brasil

Em 1896 foi construída uma linha de tiro (LINHA DE TIRO NACIONAL) nos fundos do Palacete Guanabara, no Rio de Janeiro, com a finalidade de treinar as tropas daquela capital federal, talvez por estarmos em plena campanha de Canudos (outubro de 1896 a outubro de 1897).

Em 1899, num relatório do Ministério da Guerra, demonstrou-se que o índice de acertos em alvos (1,60x0,40m) a uma distância de 237m pela tropa federal, estava baixíssimo (menos de 7%) e que desta forma, aprovava-se o Regulamento do TIRO NACIONAL,cuja finalidade era ministrar o tiro com armas portáteis aos Of e Praças do EB, de outras corporações armadas e de civis previamente matriculados na LINHA DE TIRO NACIONAL, mais tarde, LINHA DE TIRO FEDERAL, ao mesmo tempo em que se mostrava a necessidade de se construir linhas de tiro em outros Estados do País. Os civis foram incluídos para se fazer frente às despesas com as linhas, onde os mesmos praticariam tiro ao alvo, tendo que pagar para tal, pois os “novos órgãos”, as linhas de tiro, sofriam restrições orçamentárias.

Então, a partir de 13 de maio de 1899, o Tiro Nacional do Palacete Guanabara se torna local para prática de tiro ao alvo pelos civis mais abastados (médicos, engenheiros, advogados e industriais) e é nesta época que aparece o tal do “concurso anual de tiro”, que perpetuou até os nossos dias.

Em 1902, o farmacêutico Antonio Carlos Lopes, seguindo o exemplo da Suíça, onde o civil recebe instrução de tiro e guarda em casa uma arma, visando atender uma possível convocação militar, funda na cidade do Rio Grande-RS, uma SOCIEDADE DE PROPAGANDA DO TIRO BRASILEIRO, voltada para a prática de tiro ao alvo por civis, se colocando como uma alternativa para a defesa do País.

Em 1906, é criada a CONFEDERAÇÃO DO TIRO BRAZILEIRO, pelo Marechal Hermes da Fonseca, que reunia o TIRO NACIONAL-RJ, a proposta de Antonio Lopes e as sociedades de tiro ao alvo que existiam no sul da País, criada por grupos de imigrantes europeus, que trouxeram o esporte da caça para terras brasileiras.

Foto:Arquivo/Divulgação.

Esta CONFEDERAÇÃO subsidiaria as sociedades com “10 contos de réis”, além de beneficiar os civis que dela participassem com a necessidade de prestar apenas metade do tempo do serviço militar obrigatório. Assim, era conveniente para a instituição militar ter linhas de tiro franqueadas para treino das tropas, além de contar com uma possível reserva na emergência de um conflito. Ao mesmo tempo, os integrantes contavam com os serviços de praças do Exército para auxiliar nas instruções de tiro, além do armamento emprestado e munição comprada a preço de custo. Bom para ambos os lados.

O farmacêutico Antonio Carlos Lopes foi o primeiro diretor da CONFEDERAÇÃO. Viajava pelo País, ao lado do subdiretor, fiscalizando as LINHAS DE TIRO, e incentivando a criação de outras; a CONFEDERAÇÃO ganha corpo no Exército, inclusive aspirando para si, vantagens: honras de Coronel e Tenente-Coronel para o Diretor e Subdiretor, uso dessas insígnias para os militares da reserva pertencentes a linha de tiro, fardamento e “banda de cornetas e tambores” (origem das atuais fanfarras dos nossos TG?), momento em que um Gen Div reformado assume a CONFEDERAÇÃO.

A partir de então, estas sociedades ganham espaço na instituição militar, pois contavam com uma estrutura maior que a da própria força, além da influência exercida nas mesmas pelos grupos políticos, para concretizar algumas aspirações.

Em 1917, é criada a DIRETORIA GERAL DO TIRO DE GUERRA, chefiada por um Coronel da ativa. A Confederação é militarizada e os integrantes das SOCIEDADES NACIONAIS DO TIRO DE GUERRA, deveriam comprar suas fardas, além de pagar uma mensalidade. A instrução e a disciplina seriam delegadas a um Oficial nomeado pela Região Militar. Tornava também obrigatória a instrução de tiro de guerra e evoluções militares para alunos maiores de 16 anos que cursassem escolas superiores e estabelecimentos de ensino secundário mantidos pela União, Estados e Municípios. Estes seriam dispensados do serviço militar obrigatório caso fossem “sorteados” (forma de Sv Mil na época).

Em 1920, a DIRETORIA fica subordinada ao Estado-Maior do Exército. As SOCIEDADES DE TIRO DE GUERRA passam a admitir sócios gratuitamente (1 para cada 3 pagantes) possibilitando o acesso de menos abastados e são reorganizadas em:
- Batalhão de Tiro de Guerra (300 a 600 sócios de 17 a 30 anos).
- Companhias ou Esquadrões de Tiro de Guerra (150 a 299 sócios).
- Pelotões de Tiro de Guerra(5 a 149 sócios).

Em 1923 as inspeções nas SOCIEDADES são normatizadas.
Em 1935 a DIRETORIA é substituída pela DIRETORIA DO SERVIÇO MILITAR E DA RESERVA e as SOCIEDADES deveriam ter uma percentagem de sócios candidatos a reservistas.

Em 1939, pela nova lei do SERVIÇO MILITAR, os TIROS-DE-GUERRA (primeira vez que esta denominação aparece), poderiam incorporar civis que não haviam sido designados para Organizações Militares da Ativa, desde que tivessem meios para tal.

Os candidatos pagariam uma taxa “não superior a dez mil réis” e assim, teriam instruções de Infantaria e Cavalaria, cumprindo com o serviço militar obrigatório e considerados reservistas de 2ª categoria.

A partir de 1945, com a criação do regulamento dos TG, as SOCIEDADES DE TIRO são extintas nas cidades onde já existia uma OM e os TG considerados OFR (Orgão de Formação da Reserva); além disso, elas deveriam ter ao menos, 50 convocados e não somente sócios. Estes seriam beneméritos (prefeitos e quem fizesse elevados donativos) ou efetivos (que continuavam pagando as mensalidades). Os matriculados deveriam comprar o fardamento e deveriam ser alunos ou diplomados de Instituto de Ensino Superior oficial, residindo em local sem NPOR, CPOR ou OMA, curso secundário completo ou no mínimo, ginasial. A escolaridade e a condição financeira eram condições imprescindíveis para ser matriculado. Mesmo assim, a procura continuava (apenas 9 meses de instrução com 12 horas semanais e com efetivo mínimo de 50 convocados).

Em 1964, dois objetivos são alocados aos TG: conveniência do Município e emprego dos atiradores em atividades à manutenção da ordem interna. O quadro de sócios foi extinto em 1967 e seus integrantes são desvinculados de qualquer propósito militar e sem acesso às linhas de tiro.

Baseado na tese de Doutorado da Dra. Selma Lúcia de Moura Gonzalez
(USP/São Paulo-2008)


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quinta-feira, 18 de junho de 2020

DIMENSÃO, REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA


  REPERCUSSÃO


Guido Bilharinho

         No decorrer de vinte anos de circulação, a revista Dimensão suscitou inumeráveis manifestações de escritores e intelectuais em geral por meio de correspondência, notas e registros em jornais e periódicos e artigos analíticos publicados na imprensa, compondo significativo e precioso acervo da receptividade alcançada e das reações provocadas por suas edições, constituindo patrimônio cultural de inestimável valor, refletindo a ambiência e as tendências culturais da época, tanto no Brasil quanto no exterior.
         O presente levantamento da repercussão da revista abrange, inicialmente, apenas as demonstrações epistolares que expressaram opiniões sobre ela, exprimindo julgamentos.

         À evidência que esse projeto editorial, despretensioso e desamparado de todo e qualquer apoio material e institucional, não objetivou e nem previu o acolhimento que teria por parte de poetas e escritores que valorizam a poesia, a mais difícil das manifestações artísticas por processar-se pela palavra, faculdade utilizada pelos seres humanos para a comunicação e para a materialização do pensamento (sem a qual este não existiria, já que somente se configura por meio da palavra).

Toda repercussão ora exposta e a que ainda vai ser divulgada, na intensidade e profundidade ocorridas, só foi possível por ainda predominar as tradicionais tipografia e impressão em papel, só pouco a pouco surgindo e se desenvolvendo a computação e a edição eletrônica, a caminho de substituir, como vem fazendo desde o início do século XXI, a impressão em papel.

         Pode-se afirmar diante disso, que Dimensão sintetizou e encerrou na área de periódicos culturais o período cinco vezes secular da invenção de Guttenberg, que lhe permitiu circular como ainda um dos poucos suportes então existentes de publicação e divulgação poética, que, hoje em dia, não é mais necessário face aos espaços ilimitados, gratuitos e universais disponíveis, propiciatórios e incentivadores da proliferação de periódicos culturais eletrônicos.

         Em suas vinte e seis edições e trinta números, visto duplas algumas delas, a revista, distribuída em todo o Brasil e remetida ao exterior, atingindo aproximadamente 60 (sessenta) países, publicou poemas, textos, visuais, ensaios e artigos de nada menos de 635 (seiscentos e trinta e cinco) colaboradores de 31 (trinta e um) países, como se verifica nos índices onomásticos constantes de seu blog exclusivohttps://revistadepoesiadimensao.blogspot.com/ .
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         Além da coleção completa de Dimensão estar disponibilizada no citado blog, atualmente acessado em aproximadamente 30 (trinta) países, acompanhada 

referidos índices, a partir de agora contará também com a companhia do notável acervo de opiniões, críticas, reações e manifestações que provocou em sua trajetória.

         Por medida de racionalidade e metodologia, esse acervo é dividido pelos espaços ou suportes utilizados para sua veiculação: correspondência; notas e registros em jornais e periódicos; e artigos na imprensa, publicando-se, por ora, as manifestações veiculadas pela correspondência remetida do Brasil à editoria da revista, devendo ser completada paulatinamente, nos próximos meses, a publicação das demais veiculadas pelos modos indicados, inicialmente finalizando em julho próximo a presente etapa com a inserção das manifestações expressadas nas correspondências oriundas do exterior.
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         Tanto por se referir à revista como por sê-la produto editorial e gráfico uberabense, todo entusiasmo que despertou e a larga ressonância que obteve são publicados tanto no blog exclusivo, indicado supra, quanto no blog https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/.

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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com/

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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Fim de tarde em Uberaba - Minas Gerais - Brasil

Fim de tarde em Uberaba - Foto Antonio Calos Prata

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Mosteiro de Nossa Senhora da Glória - Uberaba - Minas Gerais - Brasil

O Mosteiro de Nossa Senhora da Glória foi fundado no dia 08 de setembro de 1948 por um grupo de seis monjas e um monge vindos do Mosteiro de Nossa Senhora de Aasebakken, na Dinamarca.

O Mosteiro de Den Evige Tilbedelses de Copenhague, fundado em 1914 pela Reverenda Madre Bírgitta von Wacken-Harzig, procedente do Mosteiro da Adoração Perpétua de Innsbruck (Áustria), encontrava sérias dificuldades no recrutamento de novas vocações. Convidado a pregar o retiro anual da comunidade, Dom Wolfgang de Czernin von Chudenitz, monge da Arquiabadia de São Martinho de Beuron, penalizado com a situação do mosteiro, propôs sua agregação à Ordem Beneditina. Estando a comunidade de acordo e concedidas as licenças da Santa Sé, o Mosteiro da Adoração Perpétua de Copenhague passou a ser beneditino, devendo Dom Wolfgang, nomeado assistente espiritual da comunidade, levar para lá monjas beneditinas de outro mosteiro que iniciassem a comunidade dinamarquesa na sua vida.

Mosteiro Nossa Senhora da Glória - Foto Antonio Carlos Prata

Em 1936, Madre Margarida Hertel e mais duas monjas foram enviadas de seu mosteiro de origem, Abadia de Frauenchiemsee, Alemanha, à Dinamarca para implantar a Regra Beneditina no único Mosteiro de contemplativas naquele país.

Madre Margarida conseguiu atrair muitas vocações dinamarquesas para o ideal beneditino, fato que chegou a surpreender a população protestante e rapidamente o mosteiro refloresceu, tomando novo alento, graças ao espírito empreendedor da jovem Prioresa.

Em 1942, devido a sérias dificuldades econômicas causadas pela guerra, a comunidade se viu obrigada a transferir-se para a pequena cidade de Aasebakken, onde construíram um pequeno mosteiro dedicado a Nossa Senhora, Vor Frue Kloster. Diante de tantas dificuldades, pensaram em fazer uma fundação em Noruega, onde Madre Margarida conhecia o Bispo e este a estimava muito. Mas como a Noruega passava grandes dificuldades, pois sofrera muito com a guerra e a ocupação nazista, o senhor bispo não poderia ajuda-las financeiramente.

Pelo ano de 1947, o Reverendíssimo Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, então Bispo Diocesano de Uberaba, pregava o retiro anual à comunidade do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. Era seu desejo ter em sua diocese um mosteiro de beneditinas. Justamente durante aquele retiro chega uma carta de Dom Wolfgang a um seu confrade, também monge de Beuron, Dom Leopoldo Holderried, que se encontrava no Mosteiro do Rio: Dom Wolfgang indagava a Dom Leopoldo da possibilidade de uma fundação de monjas no Brasil. Dom Leopoldo comunicou-se com Dom Alexandre, o qual respondeu que “recebia de joelhos esta fundação como uma graça de Deus”. Desde então começaram os entendimentos entre Dom Alexandre, Dom Leopoldo, Pe. Wolfgang e Madre Margarida.


Em abril de 1948, Madre Margarida e um grupo de irmãs tomam navio no porto dinamarquês de Ejesberg com destino ao Brasil, aonde chegam a 30 de abril do mesmo ano, desembarcando no porto de Santos.

Refeitas da viajem marítima, prosseguiram para Uberaba, onde chegaram a 13 de maio. Pe. Wolfgang, Madre Margarida, 6 monjas (Ir. Hildegardes Neovius, Ir. Escolástica Leth Mammen, Ir. Josefa Mogensen, Ir. Gertrudes Marker e Ir. Teresa Norvil) e duas candidatas dinamarquesas (Edith Boje Jensen, que depois tornou-se Ir. Magdalena; e Maria Persson, futura Ir. Benedicta) foram recebidos calorosamente na Estação da Estrada de Ferro Mogiana por Dom Alexandre com uma paternal solicitude, sacerdotes, religiosos, religiosas, moças e senhoras da Ação Católica e D. Lilia – Maria Cândida Amaral, mãe de Dom Alexandre. Todo o povo de Uberaba fez um acolhimento caloroso, amigo e fraterno.

Dificuldades com a língua, aclimatação e outras pequenas barreiras foram sendo superadas, de modo que a 8 de setembro de 1948 foi o Louvor Divino iniciado solenemente na pequena capela da fundação, durante as I Vésperas da Festa da Natividade de N. Sra. O Sr. Bispo D. Alexandre veio rezar com a comunidade, dar a bênção do Santíssimo e benzer o novo Mosteiro. Estava assim oficialmente fundado o Mosteiro de Nossa Senhora da Glória, em Uberaba. Fonte: (Mosteiro Nossa Senhora da Glória - Monjas Beneditina) 

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quinta-feira, 11 de junho de 2020

EPIDEMIAS EM UBERABA

Guido Bilharinho 



Uberaba, no decorrer de sua história, como provavelmente a maioria das cidades brasileiras, foi assolada, ora mais ora menos, por diversas epidemias, afora a atual coronavírus, das quais resultaram mortes e transtornos de toda ordem. 


Cólera (1850)

A epidemia do cólera originou-se na Índia por volta de 1840, espalhando-se pelo mundo, atingindo Uberaba a partir de 1850, segundo informa Borges Sampaio: “na quadra de terror e angústia, por que há pouco passamos, na invasão dessa horrorosa epidemia, desse flagelo do cólera” (“Uberaba: História, Fatos e Homens”, p. 259). 



Varíola (1865) 

Em novembro de 1862 deu-se o primeiro surto epidêmico de varíola no município, que, “em junho de 1863 ainda não desaparecera de todo” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 797). 

Já em junho/agosto de 1865, com a chegada à cidade dos soldados integrantes da Força Expedicionária que iria atacar o norte do Paraguai, irrompeu entre eles epidemia de varíola, “empolgando toda a brigada e grande parte da população da cidade que tinha doentes em cada um de seus cantos [....] Reinava a maior desolação na cidade, por cujas ruas ninguém mais transitava [....] Os roceiros aqui não vinham mais e o comércio paralisou-se inteiramente [....] Morriam, diariamente, 3, 4, 5, 6, 7 e mais soldados. Chegaram mesmo, em certa ocasião, a levar um soldado vivo para enterrar [....] Morreram numerosos soldados e alguns civis, ao todo, talvez, umas trezentas pessoas nos três meses de duração da epidemia” (Hildebrando Pontes, “Vida, Casos e Perfis”, p. 51/52). 



Febre Amarela (1903)

Em 21 de fevereiro de 1903 foram impostas à população de Uberaba pelo agente executivo (prefeito) Antônio Garcia Adjuto medidas preventivas contra a febre amarela que grassava em município vizinho. 

Em 03 de março, a febre amarela atingiu Uberaba trazida por empresário que chegou de viagem à Franca/SP, sendo internado em hospital improvisado, falecendo no dia 06 seguinte. 

Em 10 de março, grande Assembleia Popular convocada pelo agente executivo discutiu e decidiu propostas dos médicos Filipe Aché (futuro fundador dos Laboratórios Aché) e José Ferreira de suspensão da quarentena imposta a todos que chegassem à cidade e de instalação de posto de desinfecção em Jaguara (ainda não existia a linha férrea da Mojiana vinda por Delta), sendo esta aprovada e rejeitada a primeira proposta. 

No dia 12 seguinte, reunião dos agentes executivos das cidades triangulinas servidas pela Mojiana decidiu série de providências contra a proliferação da epidemia. 

Em 30 de maio, o agente executivo comunicou à população de Uberaba não haver mais possibilidade de irrupção da febre amarela na cidade. 



Sarampo (1908) 

Em 1908, Uberaba foi tomada por forte surto epidêmico de sarampo, com casos fatais. 



Varíola (1910) 

Surto epidêmico de varíola assolou a região em junho de 1910, apresentando 12 (doze) casos em Uberaba, todos isolados no Lazareto. A epidemia, no entanto, expandiu-se. “O mal atingira proporções impressionantes. Ia penetrando em todos os lares” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 815), havendo diversas mortes. 



Sarampo (1911) 

Em julho de 1911, “à varíola veio somar-se o sarampo, responsável, ele também, por vários casos fatais” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 815). 



Maleita e Malária (1915) 

Em dezembro de 1915 mais de 80 (oitenta) casos de maleita ocorreram no então distrito de Delta, onde também a malária grassou com intensidade. 


Gripe Espanhola (1918) 

A gripe espanhola chegou ao Brasil em setembro de 1918, pelo navio “Demerara”, propagando-se por todo o Rio de Janeiro. “Eminentemente contagiosa, eram inócuas as medidas sanitárias propostas para impedir sua marcha” (José Soares Bilharinho. “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 994). 

Em 20 de outubro foram noticiados os primeiros casos de infecção em Uberaba, sendo o primeiro notificado o advogado Sebastião Fleuri. Com essa gripe, Uberaba se tornou “de súbito um verdadeiro hospital. Raríssimo era o lar onde não existissem um ou mais gripados [....] De início a doença se caracterizou pela benignidade”. A partir de 7 de novembro, “os pedidos de assistência se multiplicavam vertiginosamente. Uberaba se revestira de um aspecto triste [....] Os hospitais já não comportavam os doentes e o número de médicos era insuficiente para atender a todos os chamados. Houve lares onde todos adoeceram [....] No final da primeira semana do mês de novembro era de aproximadamente 2.500 [dois mil e quinhentos] o número de doentes. Devido a esse número exagerado de enfermos, a cidade tornou-se verdadeiramente insuportável. Era absoluta a carência de vida comercial e social” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 1.001). 

Em 10 de novembro, a epidemia atingiu seu ponto culminante, “jungindo ao leito quase toda a população (Idem, p. 1.002). 

Faleceram até 21 de novembro 193 (cento e noventa e três) pessoas, atingindo 215 (duzentas e quinze) na semana seguinte, sendo que 12.000 (doze mil) pessoas foram contaminadas num universo de aproximadamente 14.500 (catorze mil e quinhentos) habitantes. Ao final, conforme relatório apresentado pelo agente executivo Silvino Pacheco de Araújo, Uberaba teve 255 óbitos decorrentes da febre. 



Paralisia Infantil (1924) 

Em 10 de janeiro de 1924, o jornal “Lavoura e Comércio” noticiou a ocorrência em Uberaba de paralisia infantil (como então se denominava), informando já existirem dezenas de casos. O surto, no entanto, não durou muito tempo, desaparecendo paulatinamente. 



Tifo (1925) 

Em 25 de outubro de 1925 foi tornada pública a existência de casos de tifo na cidade, verificando-se nessa ocasião dois casos fatais. 



Varicela/Catapora (1929) 

No decorrer do primeiro semestre de 1929 ocorreram casos de varicela na cidade, sendo os doentes isolados e tratados e intensificada a vacinação. 



Tifo (1935, Anos 40 e 1953) 

Em abril de 1935 surto de tifo ocasionou 03 (três) casos fatais na cidade. 

Em fevereiro de 1940 novo surto de tifo surgiu em Uberaba, recebendo o Centro de Saúde no dia 16 (dezesseis) do referido mês nada menos de 11 (onze) notificações de sua incidência. 

Surtos de tifo se repetiram, com maior ou menor intensidade, nos anos de 1943, 1944, 1948 e 1953. 



Hepatite (1951) 

Série de reuniões, ocorrências e hipóteses marcaram o surto de hepatite que preocupou (e ocupou) Uberaba em 1951. 

Em 20 de junho, a Sociedade de Medicina promoveu reunião extraordinária. No dia 22 seguinte, realizou-se reunião na Câmara Municipal convocada pelo prefeito (e médico) Antônio Próspero, sendo que, até essa data, a hepatite já vitimara quase uma centena de pessoas, das quais sete faleceram. No dia 25, em reunião na Sociedade de Medicina, o médico Madureira Pará, do Instituto Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro, revelou a ocorrência de hepatite causada por vírus, ora benigno ora extremamente grave. 

No dia 04 de julho, por solicitação de diversas entidades de classe, o jornalista Quintiliano Jardim promoveu reunião no auditório da PRE-5 para debater a situação da cidade face à poluição de suas águas, conforme verificada por exame procedido dias antes pelo Instituto Osvaldo Cruz, do Rio, notícia que causou grande impacto na cidade. Dessa reunião, os presentes dirigiram-se ao Paço Municipal, onde a Câmara estava reunida, sendo suspensa a sessão, falando Quintiliano Jardim em nome de todos, aceitando o prefeito a incumbência de contatar Juscelino e Getúlio. 

No dia seguinte (5 de julho), foi publicado no “Lavoura e Comércio” comunicado do Centro de Saúde, assinado por seu dirigente, médico Manuel Benjamin Pável, afirmando, com segurança, que na maioria dos casos a propagação da hepatite se deu por meio de agulhas e seringas insuficientemente esterilizadas, havendo também transmissão pelo contágio direto de pessoa doente à pessoa sadia, ponderando, ainda, que não se poderia subestimar o papel propagador de água poluída. 

No dia 06, a Sociedade de Medicina lançou manifesto afirmando não se poder imputar à água fornecida na cidade como elemento transmissor da enfermidade, já que a água clorada é isenta de germes. 

Segundo José Soares Bilharinho (op. cit., p. 1.019), “de janeiro até fim de agosto foram 69 casos (de hepatite infecciosa), dos quais 51 causados pelo uso de seringas mal esterilizadas e 18 pelo contágio direto. 

Dos primeiros 51, em 32 casos, um único enfermeiro, dedicado à prática de injeções a domicílio, foi o culpado. 

Sobre o assunto, Benjamin Pável escreveu a monografia “Surto Epidêmico de Hepatite Infecciosa em Uberaba”. 



Gripe Asiática (1957) 

Em setembro e outubro de 1957, epidemia de gripe asiática assolou a cidade, suspendo a comemoração do dia 7 de Setembro e aulas em alguns estabelecimentos de ensino. 


Dengue (2006) 

Em março de 2006 forte epidemia de dengue, transmitida por um tipo de mosquito, espalhou-se pela cidade com índices de infestação de residências de 5,3%, muito acima do 1% tolerável segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, tendo alguns bairros índices próximos a 19% (!), conforme constatado pelo órgão de controle de endemias e zoonoses. 

À época, noticiou-se que no período de 1º de janeiro a 31 de março desse ano, só num laboratório da cidade, em 3.314 testes foram detectados 2.159 confirmados. Houve superlotação dos hospitais da cidade, ocorrendo até final de abril pelo menos duas mortes por dengue. 

Órgãos da área de saúde atribuíram essa alta incidência de dengue ao descumprimento nos anos anteriores dos protocolos e medidas indispensáveis ao combate e eliminação do mosquito transmissor. 



Outras Moléstias 

Hidrofobia, Tuberculose e Hanseníase estiveram presentes em Uberaba, como nas demais cidades do país, por décadas desde o século XIX e no decorrer de toda a primeira metade do século XX, eliminando dezenas e dezenas de pessoas anualmente, conforme exposto na “História da Medicina em Uberaba” acima citado, e em “Uberaba: Dois Séculos de História”, de nossa autoria.

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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

CAUSOS DO CASTELÃO

A CONSTRUÇÃO DO ANFITEATRO


O Anfiteatro da Escola foi construído por duas razões: A primeira foi para acabar com a “escadinha do céu” onde as crianças subiam e de lá de cima pulavam num monte de areia que nunca foi utilizado servindo apenas para enganar que seria construído e ou terminado, “sem perceberem” que muitas crianças estavam quebrando pernas e braços ali; A segunda razão foi por desafio do então superintendente regional de educação que aquilo ali jamais seria terminado, ficando eternamente no esqueleto.

Tive uma idéia de mutirão e pensei: Quantos pais, avós, tios e amigos são pedreiros e poderiam nos ajudar? Foi aí que lembrei do Zé Pretinho da Monte Alverne, grande pedreiro amigo do Elmo Vieira, meu compadre e diretor da EM Boa Vista onde também trabalhei e nesse sistema construímos uma quadra poliesportiva com ajuda de todos. Assim como lá fiz no Castelão, pois o Zé Pretinho tinha filhos e netos alunos da nossa Escola Castelo Branco. Ao mostrar a ideia a ele, de imediato ele me propôs o seguinte: “Eu arrumo a turma e você nos dá Cachaça, não prá mim e sim prá turma, e almoço. Trabalharemos, de graça, nos finais de semana.

Os recursos, como sempre, saíram dos bailinhos, festinhas e das contribuições voluntárias de pais, aqueles 10 reais por mês. Do Estado nada e muito menos da superintendência. O Joãozinho Bill fez dois bailes com a sua Banda Union e foram suficientes. O Zé Pretinho reuniu mais de 20 voluntários e eu ia para cozinha fazer a macarronada regada a molho de tomate e carne moída. No Santos Guido comprávamos matérias com bom desconto além de não nos cobrar fretes. Foram 8 (oito) finais de semana e o anfiteatro foi concluído com o salão superior e três salas no inferior. Ninguém acreditava, mas acabamos com a “escada para o céu” além de criarmos cursos de inglês e música, a princípio violão, com professores independentes ao custo de 10 reais por aluno.

Hoje passo por lá, por fora claro, e vejo todo nosso esforço jogado por terra, pois ficou a Escola sob a régia do Estado, nada mais podendo fazer com a participação comunitária. Porém faço questão de enfatizar que a partir da administração do prof. Ademar Agrelli até à minha gestão todos os diretores foram honestos e dedicados à causa escolar. Antes disso houve aqueles que se endeusaram tanto que a comunidade nunca soube o que se passou “por baixo dos panos”. Em um certo dia um dos nossos colegas, professor antigo da escola infelizmente morto precocemente, me alertou: “Cuidado... Pare de fazer tanto, pois quanto mais você fizer mais podres do passado serão revelados e esses promotores dos podres do passado hoje ocupam cargos no Estado e ou no Município superiores ao seu e podem te prejudicar!!!” Não deu outra. Mas entrego o julgamento a Deus e ando de cabeça erguida na cidade, enquanto o “maioral” vive em prisão domiciliar e se esconde no espiritismo como “falso profeta da erraticidade”. No próximo “causo” falarei sobre o Cursinho. Até lá!

Paulo Lemos de Oliveira


Maria Fumaça da praça da Mogiana será restaurada

A ação faz parte das comemorações dos 200 anos de Uberaba

A restauração da locomotiva é a primeira etapa da revitalização do Complexo Turístico da Praça da Mogiana. A ação vem de encontro às comemorações dos 200 anos de Uberaba e faz parte do projeto Geopark Uberaba -Terra de Gigantes. A criação do complexo turístico histórico e cultural da Mogiana é um trabalho em equipe da Prefeitura com envolvimento de secretarias de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação (Sedec), Planejamento e a Fundação Cultural de Uberaba. Inclui o restauro e a proteção da locomotiva e a posterior reforma da Praça que terá pista de caminhada, playground e novo paisagismo.

Foto - Anne Nóbrega

O recurso para a reforma da Praça é proveniente do Edital de Apoio a Projetos de Infraestrutura Turística publicado pelo Ministério do Turismo por meio de convênio assinado com a Prefeitura. O prefeito Paulo Piau ressaltou a importância dessa ação já que Uberaba é considerada rica no contexto histórico. “Se tem uma coisa importante na cidade de Uberaba é a sua história. Uberaba é diferenciada de muitas cidades do seu porte ou até de cidades de porte maior. Nós temos jornais centenários que poucas cidades têm no Brasil, como é o caso do Lavoura e Comércio. A locomotiva que agora está sendo restaurada, por exemplo, segundo informações de especialistas, é um modelo raro, existindo apenas cinco no mundo”, pontua Piau.

Foto - Anne Nóbrega

“Chegando a Uberaba, serviu ao nosso desenvolvimento e se aposentou. Então, é importante valorizarmos essa história, cuidando desse patrimônio com a execução dessa restauração. Mas não só isso, pois é preciso aqui uma cobertura para protegê-la e valorizar seu entorno, para que as pessoas queiram visitar o espaço, conhecer essa história e a Maria Fumaça, que vai estar livre para a foto, trazendo a família e a criança para vivenciar melhor o local. O restauro é um resgate. Estamos muito felizes por preservar a história da nossa cidade”, afirma o prefeito.


Foto - Anne Nóbrega

De acordo com a diretora de Turismo da Sedec, Erika Cunha, no credenciamento da proposta ao Ministério do Turismo, houve o reconhecimento da importância do local que será mais um sítio histórico e cultural integrante do projeto Geopark. “Esse ponto da Mogiana conta parte da história da cidade. A linha férrea trouxe sonhos, pessoas e negócios. Por meio da criação de novos roteiros e da importância do projeto Geopark Uberaba, que almeja a chancela da Unesco, a reforma da praça e restauro da locomotiva Mogiana permitirá agregar mais um sítio histórico e cultural para a cidade. O restauro que é feito pelo Grupo Oficina de Restauro de Belo Horizonte é o pontapé para o resgate dessa história. O prazo previsto para a restauração é de três meses e o processo licitatório para a reforma da Praça já está aberto”.

Foto - Anne Nóbrega

Para a presidente da Fundação Cultural de Uberaba, Jaine Basílio, um marco nas comemorações de 200 anos da cidade que não devem ser esquecidas. “Por causa da pandemia, estamos nos esquecendo dessa grande comemoração na cidade e que a Prefeitura continua com a programação normal. Temos que comemorar mais essa grande ação”.

Foto - Anne Nóbrega

Em 1993, pela Lei 5.347 de 13 de maio, foi tombada como Patrimônio Histórico da cidade. Maria Fumaça é o nome dado a locomotiva movida à carvão, pela fumaça que a combustão do carvão provoca. Foi importada da Inglaterra e identificada por “tipo 301” (Decreto n.º1901/1999). É uma das cinco máquinas tipo A-6-0/Tenwheel, fabricada por BeyerPegcock, que a Companhia Mogiana possuía.

Jorn. Izabel Durynek
10/06/2020

domingo, 7 de junho de 2020

Banca de Revistas Rio Negro


Banca de Revistas Rio Negro  encerra oficialmente suas atividades no dia 15 de maio, de 2019. Evaldo Fernandes Pereira com seus cunhados. Joaquim  Mauricio Vitor dos Santos e Mauro Vitor dos Santos.

Evaldo, proprietário explica o motivo do encerramento das atividades da banca. -"Ultimamente era o ponto de encontro de amigos que não perdiam a chance de trocar ideias com quem chegasse. Tinha até um banco improvisado de ferro. Era disputadíssimo (risos). A banca passou na mão de vários proprietários durante 50 anos. Iniciou dentro da Galeria, e terminou em minhas mãos. Deu o que tinha que dar. Hoje, as bancas de revistas como que desapareceram. Não são mais pontos de encontro, nem vendem revistas famosas ou simples histórias em quadrinhos. Muitas delas fecharam as portas ou simplesmente passaram o ponto adiante para outro tipo comercial. Preferem negociar com outras coisas, não mais com veículos de imprensa. As revistas e jornais parecem não interessar muito a esses negociantes que deixam vazios pontos de vendas. Não é por falta de interesse na leitura, porque as revistas enquadradas ficaram muito caras. A venda diminuiu muito. O motivo principal: Essa tal de internet. Mesmo em cidades do interior, as venda em bancas também caíram e muito. Donos pensam em trocá-las ou simplesmente vendê-las para não deixar acabar. As vendas ou trocas dos chamados: gibis ,figurinhas, sorvetes, chaveiros, cartões de telefone, recarga via maquininha, cartão para ônibus coletivo”. Finalizou. ( Antonio Carlos Prata)

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Evaldo Fernandes. Foto Antonio Carlos Prata
11 de agosto de 2020

É com muito pesar e grande tristeza que recebi a notícia do falecimento do meu querido amigo Evaldo Fernandes Pereira. O Evaldo, da Banca de revistas Rio Negro. Estamos vendo pessoas sendo levadas por essa doença, cujas peculiaridades ainda desconhecemos. Que Deus conforte os corações de todos.

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Cidade de Uberaba

AS FESTIVIDADES DE MAIO EM UBERABA

PASSOU o primeiro de maio, sem alarde de manifestantes; dois de maio, sem comemoração tradicional do aniversário da cidade; três de maio, sem inauguração da Exposição no Parque Fernando Costa, sem baile do governador no Uberaba Tênis Clube, sem Schroden, nem Prieto ou Akira explodindo flashes e tirando fotos de políticos que eram ídolos do país – pasmem, mas naquele tempo existia isso! – acenando para multidões ou levando às pistas de dança as moças mais lindas da cidade, no dois-pra-lá, dois-pra-cá ou nos rodopios embalados pelas melhores orquestras do país e da cidade.

JK com Daça Rodrigues da Cunha, hoje Barbosa, em desfrute no Baile do Presidente, Jockey Club de Uberaba

Mas ainda é dia cinco de maio e, se me permitem, podemos entrar no clima daquelas festividades que se prolongavam até dia 10. Portanto, estamos dentro do período festivo e, usando de artifício – uma janela para a história –, retomamos a época de ouro que fez de Uberaba referência nacional de elegância e savoir vivre.

Adalberto Rodrigues da Cunha com o presidente Getúlio Vargas

Para resumir o período, os anos de 1940, 1950 e até 60 foram fascinantes para a classe média alta uberabense – mulheres de longos e homens de smoking, levando o glamour ao apogeu – e tiveram como ícones dois dos maiores políticos brasileiros: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Ambos se encontravam em Uberaba durante as exposições de gado, arregimentando profissionais de todas as áreas, da segurança aos bufês, no rigoroso sistema de segurança, no caso do Pai dos Pobres (Vargas).

Tancredo Neves, Celuta Leite Rodrigues da Cunha, Juscelino Kubitschek e o prefeito Antônio Próspero

Para quem os viveu, aqueles momentos foram “coisa de cinema”. Para quem não fez e aconteceu por lá, entre beldades e autoridades, a salvação vem através do acesso que eu tive, e agora o leitor, em versão reduzida, aos álbuns de fotografia de Dadaça Barbosa – guardiã da memória da família. Estas relíquias trazem de volta a memória da casa paterna. Era na residência de seus pais que Getúlio Vargas se hospedava e a magia dos anos 50 ressoa através das imagens congeladas em papel de qualidade.


A residência de Celuta e Adalberto Rodrigues da Cunha - Foto Antonio Carlos Prata.


Elegância dos homens de smoking em jantar chez Celuta e Adalberto

A residência de Celuta e Adalberto Rodrigues da Cunha, presidente por 15 anos da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (leia-se ABCZ), tinha aspecto cerimonioso no período da Exposição, pois lá se hospedava o presidente Getúlio Vargas, amado pelas mulheres, que com ele alçaram o direito a voto, e admirado pelos homens, que, com ele, obtiveram carteira de trabalho e aposentadoria. Tido por vários historiadores como o maior estadista brasileiros de todos os tempos, Getúlio chegava com seu entourage, incluindo militares de destaque, seguranças e a guarda montada, que fazia a ronda, 24 horas/dia, pelo quarteirão compreendido entre Segismundo Mendes, Alaor Prata, praça Manuel Terra e Leopoldino de Oliveira, local da residência.

Três mesas para o banquete; confiram os detalhes

Os hostess se adaptavam muito bem às exigências protocolares do hóspede famoso. Getúlio ocupava a suíte do casal – o quarto, propriamente dito, mais quarto de vestir (closet), banheiro e terraço, com vista para os jardins e para a avenida [não seria boulevard o nome correto?] –, por onde corria o córrego a céu aberto, arborizada por imensas tipuanas. Gregório, o homem de confiança do presidente, depois ditador, hospedava-se no quarto ao lado, dito “das crianças”. No anexo da casa, que, no futuro, seria transformado em boate, se juntavam os vários seguranças.

1956 – Chiquérrimo Adalberto com JK, no Parque Fernando Costa

Crianças, em casa, nem pensar. Antônio Carlos, Soninha, Dadaça, Luiz Carlos e Rosinha (Joãozinho ainda não era nascido) chispavam para a casa da avó, Lídia Leite. As empregadas domésticas entravam com Getúlio e só podiam sair da casa na despedida dele. Nada de entrar pela manhã e sair à noite.


Outro momento de JK e Adalberto no Parque de Exposição

A casa, projetada e construída pelo arquiteto austríaco Carlos Simoneck, em torno de 1942, se adequava, perfeitamente, aos jantares oferecidos a Getúlio Vargas e demais personalidades do mundo político nacional. Às vezes, à mesa de jantar se somavam duas outras, no formato de U, criando o aspecto tradicional de banquete. Sobre o toalhado de linho bordado em richelieu, vindos da Ilha da Madeira, os grandes arranjos de crisântemos, replicados nas corbeilles, ao fundo das salas, ampliavam o requinte da decoração.
Celuta e Adalberto recebiam como poucos e procuravam descontrair o ambiente em momento de cerimonial rigoroso.

Luiz Carlos, Renato e Soninha, Rosinha, Juscelino e Dadaça no Baile do Presidente, Jockey Club de Uberaba

Vargas não era homem de pista de dança, mas, numa das exceções, enlaçou Vitória Helena pela cintura, no salão do Jockey Club, no embalo de alguns ritmos da época; um bolero, possivelmente.


Rodney, fi lho de Maria Alice e o médico Carlos Smith

Os filhos de Celuta e Adalberto só tiveram acesso aos bailes quando, já grandinhos, Juscelino Kubitschek, que antes se hospedava na mansão de Marico Rodrigues da Cunha (Hotel Tamareiras), ocupou a Presidência da República, num dos períodos mais vertiginosos da vida brasileira. JK, sim, era pé-de-valsa, e queria dançar, de preferência a noite toda, com todas as belas do baile.

Estatueta do presidente Getúlio Vargas: coleção historiadora Sônia Fontoura

Que seja agradável a viagem do leitor ao futuro do pretérito desta história! Eu gostaria... eu poderia... Mas não pode mais. Uma pena! Viajar neste futuro somente Woody Allen, em “Era uma Vez em Paris”. Pois vamos às fotografias e desfrutemos delas, com agradecimentos à Dadaça!

(Jorge Alberto Nabut _Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal da Manhã, em 05/05/2020 )






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TAPETE VOADOR

• Preservação - A residência de Celuta e Adalberto foi salva da destruição ao ser comprada, restaurada e adaptada para atender à Boticário. Um dos raros exemplos bem-sucedidos de utilização do patrimônio arquitetônico da cidade.

• Uma árvore de lembrança - Como lembrança da avenida de sua infância e juventude, Dadaça plantou em sua residência uma tipuana. Nada mais coerente com sua história de vida.

• Caindo na real - Agora, sim, podemos fechar o álbum, respirar fundo e retomar a realidade, tão exasperadora do período em que nos encontramos, dominados por um inimigo comum e invisível, possivelmente criado para nos devastar da face da Terra e denominado Covid-19.

• Choradeira – O amor do brasileiro por Getúlio Vargas era tamanho que, no dia em que ele se suicidou – 24 de agosto – a confeiteira que fazia o bolo para um aniversário saiu chorando e foi um custo para trazê-la de volta ao ofício.

• Bonequinho – Paixão por Getúlio levava brasileiros a colocarem foto dele na sala de visitas e a adquirir imagens do presidente, como fizeram os pais da historiadora Sônia Fontoura, que a conserva como preciosidade.

• Morte de Getúlio – O país praticamente entrou em pânico com a morte de Getúlio Vargas. As revistas traziam na capa a inumerável multidão que acompanhou seu corpo até o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Minha mãe guardou o exemplar da Manchete como relíquia.

• Getúlio no carnaval – Getúlio Vargas foi tema de várias marchinhas de carnaval e uma delas o leitor poderá se deliciar na nossa edição online de hoje. Trata-se de “A Menina Presidência” (1937), de Nássara e Cristóvão Alencar, na interpretação de Sílvio Caldas.

• A Menina Presidência - A marchinha brinca com as idas e vindas da campanha eleitoral de 1936/37. No momento em que a música foi gravada, duas candidaturas pareciam destinadas a polarizar a disputa: a do paulista Armando Salles, seu Manduca, pela oposição, e a do gaúcho José Américo de Almeida, seu Vavá, um dos principais nomes da Revolução de 30, pelo governo.




** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do JORNAL DA MANHÃ e UBERABA EM FOTOS

O conteúdo é de responsabilidade exclusiva do autor.


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Cidade de Uberaba



Uberaba perde um dos melhores radialistas de sua História.

A equipe do Uberaba em Fotos informa com imenso pesar o falecimento do radialista Renato Lima. Todos os comunicadores estão sensibilizados, lamentam e enviam muita força para toda a família e muita luz para Renato.


Renato Lima - Foto: Divulgação.


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quarta-feira, 3 de junho de 2020

O horror acima de todos

Eis que, por razões que fogem à razão, num dia agourento de 2018 o pior aluno da escola foi alçado ao cargo de diretor. Zé Peidola, que estava há 28 anos sem conseguir passar da quinta série, tinha este apelido por conta de sua ocupação favorita: liberar gases durante as aulas. Os amigos do fundão riam muito e diziam que o Zé Peidola era “mó zoeiro!”.

Após ser empossado, a primeira atitude do Zé Peidola foi demitir todos os professores e colocar em seus lugares os amigos do fundão. No lugar da Fátima, professora de física formada pela USP, entrou o Mosca, que era bom de Lego. Gilberto, de geografia, formado pela Unicamp, foi trocado pelo Horroroso, que já tinha viajado pra Disney e pra Bariloche. Chris, a professora de português, com dois livros de poesia publicados, foi trocada pelo Língua Presa porque Zé Peidola achou muito engraçado colocar alguém de língua presa para ensinar uma língua. No lugar do professor de artes não entrou ninguém, porque segundo Zé Peidola arte é coisa de viado. Mó zoeiro, o Zé Peidola!

O único adulto colocado como professor foi o Teles, pra ensinar matemática. Teles tinha feito faculdade nos Estados Unidos 50 anos antes e ainda era membro de uma antiga seita que ninguém mais seguia –nem nos Estados Unidos– segundo a qual a escola não tinha que dar nenhuma orientação, era pra deixar os alunos fazerem o que quisessem e eles se entenderiam.

Depois, Zé Peidola trocou a fruta do lanche por Cheetos sabor churrasco. A média para passar de ano foi de seis e meio para dois. Zé Peidola cortou todas as árvores do pátio e colocou no lugar televisões passando Silvio Santos. Na biblioteca, Zé Peidola instalou TVs passando Tom & Jerry e botou os livros para serem usados como papel higiênico. O laboratório ele e os amigos destruíram a marretadas, salvando só o clorofórmio pra fazer lança-perfume. Mó zoeira!

A escola, sob os desmandos de Zé Peidola, foi se desmilinguindo. Ninguém aprendia nada com aqueles professores. Os bons alunos passaram a sofrer bullying. Por medo, as alunas só iam ao banheiro em bando. Um dia o Zé Peidola viu uma aluna pedindo pras amigas irem ao banheiro com ela e disse que ela não precisava ter medo porque era feia e não merecia ser estuprada. Mó zoeira!

Então, no começo do segundo ano de Zé Peidola na direção, surgiu na escola uma epidemia. O médico consultor da escola sugeriu algumas medidas profiláticas. Zé Peidola disse que quem mandava ali era ele, demitiu o médico e botou um amigo no lugar.

Os alunos começaram a morrer. Zé Peidola disse, com visível raiva das vítimas, que só morria aluno com problema de saúde. (Ele pensou, satisfeito, mas não disse, que ia morrer muito preto e pobre, também). Morreu um. Morreram dez. Cem. Mil. Dez mil. Quinze mil. Zé Peidola pediu pro amigo médico receitar aos doentes Cheetos sabor churrasco –tinha visto no Twitter que curava a doença. O amigo recusou-se. Zé Peidola o demitiu também.

Chegou uma hora em que morriam mil por dia. Morriam sem ar. Afogados, com os pulmões inundados. Roxos. Sós. Eram enterrados sem velórios, em valas comuns. E os adultos –você se pergunta–, não faziam nada?! Nada. Aqui e ali, publicavam umas notas de repúdio e enquanto viam seus pais morrerem, seus irmãos morrerem, seus filhos morrerem, as paredes da escola ruírem e o teto desabar, diziam que não era o caso de tirar Zé Peidola da direção. Vinte mil. Trinta mil. Cinquenta mil. Cem mil? Mó zoeira!

Antonio Prata

Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”
Uma primeira versão desse texto foi publicada  no Jornal Folha de São Paulo em 16/05/2020.

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Cidade de Uberaba

UBERABA SOB OLHAR CARIOCA

COMO disse ontem no Tapete Voador, o pesquisador André Borges Lopes está se aventurando, com resultados excelentes, pelas histórias do cinema em Uberaba. Já encontrou documentos raros, desde 1907, ano mais remoto a que chegou. Enquanto vasculha os primórdios, não dá trégua ao tempo presente. Entre lá e cá, entre preciosidades de todos os tipos, uma delas, que não se limita ao cinema, merece nosso desfrute. Trata-se de reportagem feita pela revista Cinelândia, do Rio de Janeiro, na edição de 29 de maio de 1949, assinada por certo Pedro Lima. De sabor inigualável, a matéria, de nome Snapshot de Uberaba, nos eleva ao patamar top do país. O texto é também uma crônica da cidade daquela época e vem completo somente na edição online.

A pandemia nos permite retroagir ao passado, em larga escala.

• “Uberaba é uma cidade de Minas Gerais, conhecida no mundo, tanto quanto o Rio de Janeiro ou São Paulo. Possui uma população de cerca de 70 mil almas, sem contar os zebus. A religião predominante é o ‘zebuísta’, dividida em quatro cismas: a Nelore, a Gir a Guzerá e a Indubrasil.
Não se fala outra língua que não a do ‘plantel de animais’. Possui um clima ameno e é uma terra de mulheres belas, de porte esbelto e de sorriso mais bonito que os lábios deixam ver através de dentes alvos e uniformes.”

• “São quatro os cinemas de Uberaba. Dois deles, o Metrópole e o Vera Cruz, estariam melhor na Cinelândia carioca. São casas amplas, bonitas e as preferidas de todos do lugar e forasteiros. Pertencem à Empresa São Luís, que, apenas do nome, não tem nada com o trust que domina a maioria dos cinemas do país.”

• “O cinema Metrópole talvez seja o único do Brasil que oferece matinées dançantes aos domingos e feriados. As moças chegam uma hora mais cedo e, antes do início da sessão, uma orquestra na sala de espera embala os pares ao som das músicas mais modernas. De quando em vez, um cantor faz ouvir sua voz ao microfone e, por tudo isso, muita gente desejaria que as exibições começassem atrasadas...”

• “Outro costume interessante: todas as moças nas sessões em que não se dança entram com a revista O Cruzeiro na mão; é chic, na sala de espera, folhear a revista, até que a sineta marque que a sessão vai principiar. Depois do programa, que consta de uma única função, meia hora de footing na calçada do cinema, onde, no mesmo prédio, funciona o Grande Hotel, e a cidade volta ao sossego, exceto para os grupinhos que fazem roda separadamente, não para falar da vida alheia e de política, mas do zebu.”

• “Vendo-se as moças de Uberaba, conhecendo-se as fazendas, pelas suas belezas naturais e pelos ricos plantéis de gado, fica-se admirado porque nossos produtores ainda não se lembraram de fazer filmes com um material tão nosso e tão rico, ao invés de fitinhas com cheiro de suor, sambinhas e sambistas, piadas de Otelo e de Oscarito, para só se falar no que temos de melhor.”

• “Vimos alguns filmes projetados nas telas dos grandes cinemas locais. Os da Warner, então, estão em péssimo estado. Faltam cenas, estão arranhados, deixam muito a desejar. Vimos, lá, Os Últimos Dias de Pompéia, da RKO Rádio. Parece um filme salvo do terremoto de Pompeia, depois do Vesúvio.”

• “E o que falar, então, dos shorts nacionais. Até pura propaganda é exibida dentro da obrigatoriedade. Alguns filmezinhos ‘novos’ apresentam o presidente Getúlio sob o regime Dipearo (relativo ao DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas).”

• “Uberaba, afinal de contas, é uma cidade que não pertence a Minas, porque é um dos orgulhos da pecuária nacional que atrai os estrangeiros para o Brasil, com seus plantéis de zebu que fizeram cair o queixo dos ganadeiros e do ministro da Venezuela.”


Jorge Alberto Nabut
Escritor e colunista/Uma primeira versão desse texto foi publicada no da Jornal da Manhã em 03/06/2020)


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Cidade de Uberaba

Cinema falado e revolução

Popularizado na Europa a partir de 1895, pelos irmão franceses Auguste e Louis Lumière, o cinema chegou ao Brasil logo no ano seguinte, mas demorou um bom tanto para dar as caras em Uberaba. No seu livro “Coisas que me contaram, crônicas que escrevi”, o jornalista Jorge Nabut relata que as notícias mais antigas de exibições de filmes na cidade datam de 1908 – ocasião em que o Sr. José Pires Monteiro, da vizinha cidade de Franca, teria feito algumas projeções na sala do então Teatro São Luiz, na praça Rui Barbosa. Nas décadas seguintes, a cidade conviveu com diversas salas de espetáculos, a maioria de vida curta. Uma das famosas foi o Cine Teatro Polytheama, instalado num amplo galpão do início da Rua Manoel Borges, local onde hoje funciona a Lojas Brasileiras. O próprio São Luiz sofreu extensa reforma e foi convertido em cine-teatro: sobreviveu por décadas, até ser definitivamente fechado em 2008.

Nos 20 anos seguintes, o mundo viveu o apogeu do cinema mudo. Nas produções mais sofisticadas, enquanto as imagens eram projetadas na tela, músicos executavam ao vivo partituras especialmente compostas para acompanhar as películas. Vários instrumentistas que mais tarde se consagraram garantiam assim parte do seu ganha-pão. Nas melhores salas de cinema, algumas orquestras chegaram a ganhar fama. As películas vinham em rolos que tinham duração de 15 a 20 minutos e, como a maioria dos cinemas dispunha de apenas um único projetor, as sessões tinham breves intervalos para troca dos rolos e pausa para a orquestra. Os primeiros filmes com trilha sonora integrada surgiram só no final de 1927, nos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador e cinéfilo Guido Bilharinho, autor da obra “Uberaba: dois séculos de história”, o cinema “falado e sincronizado” teria estreado na cidade em 7 de março de 1930. O Brasil estava na ocasião em plena ebulição política. Após uma acirrada disputa, o candidato situacionista Júlio Prestes, ex-governador de São Paulo, acabara de derrotar a chapa de oposição formada pelo gaúcho Getúlio Vargas e o paraibano João Pessoa, numa eleição presidencial permeada por denúncias de fraudes e arbitrariedades. Vargas havia ganho em Uberaba e em boa parte de Minas Gerais. A Velha República estava prestes a ruir.

Bilharinho, com base em notícia publicada pelo jornal local “A Concentração” nos conta que a novidade cinematográfica foi apresentada pela primeira vez no Cine Alhambra, que funcionava desde outubro de 1928 no primeiro quarteirão da rua Artur Machado. Propriedade da empresa Damiani, Bossini & Cia, era então a sala mais sofisticada da cidade. O filme exibido foi “Paris de Contrabando” (The Rush Hour), comédia da Paramount com Marie Prevost e Harisson Ford. A notícia procede, mas a história é um pouco mais complicada. 

Produção de 1928, The Rush Hour é na verdade um filme mudo. Segundo o jornal “Lavoura e Comércio”, após a exibição desse filme o artista Umberto Marsicano, contratado pelo Alhambra, iria apresentar uma série de curta-metragens sonoros. O público, que lotou a sala para conhecer a novidade, teve enorme decepção ao descobrir que tratava-se de um simulacro: quatro filmes mudos sincronizados de forma rudimentar com uma trilha sonora precária que saía de um gramofone. A ira só não foi maior porque Sebastião Braz e Teobaldo Bosini, donos do Alhambra, convenceram o público de que eles também haviam comprado gato por lebre.

Seis meses depois, em 1º de agosto, o Brasil recebeu atônito a notícia do assassinato do ex-candidato João Pessoa, levando a tensão política às alturas. Nesse mesmo dia, os donos do Alhambra anunciaram que haviam comprado por 90 contos de reis um equipamento completo de cinema falado da marca “RCA Photophone”, com dois projetores e capacidade de sincronização com discos e fitas sonoras. O mesmo equipamento que já era usado com sucesso no glamoroso Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto. A estreia em Uberaba foi programada para o final de setembro, mas o país pegou fogo com a escalada das tensões, que logo desaguaram nas batalhas armadas da Revolução de 1930.

Getúlio Vargas já havia tomado posse à frente do governo provisório quando, finalmente, a promessa frustrada em março pode ser concretizada. Em duas sessões lotadas, às 7h30 e 9h30 da noite de 13 de novembro de 1930, o filme “Alvorada de Amor” (The Love Parade) – uma comédia musical norte-americana com o astro Maurice Chevalier, Jannet Mac Donald e Lillian Roth – marcou a entrada da Princesinha do Sertão na era do cinema sonoro.

(André Borges Lopes / Uma primeira versão desse texto foi publicada na coluna Binóculo Reverso do Jornal de Uberaba em 24/05/2020)


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