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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Dom Alexandre Gonçalves do Amaral

“Vou cancelar esta cerimônia”. Mal ele terminou estas palavras, já avisamos a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral que a noiva já estava se posicionando para o tradicional desfile, dando início ao casamento.

Havia sempre uma preocupação maior com a questão de horário quando se tratava de um casamento realizado pelo arcebispo na década de 70, na Casa do Folclore.

Foto: Curia Metropolitana

Jamais recusou qualquer solicitação nossa. A sua presença era por nós considerada como uma demonstração de estima e de consideração, já que a maioria dos padres e outros bispos, com exceção de Dom Alberto Guimarães, recusava-se a realizar casamentos sob o argumento de que não havia ali uma capela.

Dom Alexandre, de uma educação esmerada e de afável trato, era, todavia, rígido em disciplinas eclesiásticas e em horários, motivo de sua impaciência.

Em termos de disciplina, de defensor intransigente da fé, do rito e das determinações religiosas, basta o fato de usar fivelas em sapatos que lhe machucavam os pés, mas que compunha as indumentárias determinadas pelo Vaticano e que, para tirá-las teve que receber autorização, após graves ferimentos provocados, conforme relata César Vannucci em seu livro “Um Certo Dom”.

A primeira vez que recebemos a visita de Dom Alexandre na Casa do Folclore foi em razão de um convite feito por meio do professor Erwin Pühler e sua esposa, Eunice, amigos de longa data do arcebispo. Acompanharam-no nesta visita também o padre Hyron Fleury, João Francisco Naves Junqueira, seu médico particular e algumas religiosas.

Neste dia, acontecia mais uma apresentação da Catira dos Borges. O Arcebispo gostava de manifestações culturais. Conheceu essa dança folclórica em Iturama.

Na época desta visita, década de 1970, não havia grandes construções no local, e sim jardins, o que levou Dom Alexandre a dizer que o local se parecia com os jardins do Éden. Muito gentil, disse ainda que batizaria a Casa do Folclore como Academia Brasileira do Folclore.

Filho de Benjamim Gonçalves e Maria Cândida Gonçalves do Amaral, Alexandre nasceu em Carmo da Mata, Minas, aos 12 de junho de 1906.

Aos 23 anos, em 22 de setembro de 1929, foi ordenado padre. Dez anos após, ao ser eleito bispo, foi ungido em 29 de outubro de 1939 o mais jovem bispo em todo o mundo. Neste mesmo ano, tomou posse em Uberaba em 8 de dezembro de 1939, exercendo a função episcopal até 1962, por indicação do Papa Pio XII. Foi o 4º bispo da cidade, após D. Luiz Maria de Sant’Anna.

Na década de 1940, dono de uma inconfundível voz, Dom Alexandre foi considerado o maior orador sacro do Brasil. Segundo César Vannucci, apesar de conhecer bem a ortografia, apegava-se em escrever seus artigos de próprio punho e utilizando a grafia antiga, como “pharmácia”, e não aceitava a revisão do jornal.

Em 14 de abril de 1962, o papa João XXIII elevou a Diocese de Uberaba a Arquidiocese e criou a Província Eclesiástica de Uberaba, abrangendo as dioceses de Patos de Minas, Uberlândia e Paracatu. A Catedral obteve o título de Catedral Metropolitana e o bispo Dom Alexandre foi elevado à categoria de arcebispo, o 1º de Uberaba.

Manteve este título até maio de 1978, quando renunciou juntamente com seu administrador apostólico, Dom José Pedro Costa. Dom Alexandre Gonçalves do Amaral e Dom Pedro passaram à categoria eclesiástica de “bispo emérito”.

A atuação de Dom Alexandre como supremo dirigente da Igreja em Uberaba, iniciada em 1939, não ficou restrita a pastor espiritual.

Diversos desafios ocorreram em sua longa trajetória episcopal. Assumindo suas funções eclesiásticas em plena 2ª Guerra Mundial (1939/1945), sua primeira intervenção se deu quando os padres dominicanos foram acusados de manter uma emissora clandestina para passar informações para os alemães. Buscas foram realizadas na igreja São Domingos e nada foi encontrado. Quando os fiéis quiseram fazer o desagravo deste lamentável fato foram impedidos e o próprio Jornal Católico, censurado.

No governo de Juscelino Kubitschek (1951/1955) ocorreram em Uberaba graves manifestações contra os abusos cometidos por fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, comandada por José Maria Alkimim, resultando em uma revolta dos contribuintes. Baderneiros aproveitaram para provocar atos de vandalismo, destruindo arquivos da Receita Federal, que funcionava no prédio da Associação Comercial e Industrial de Uberaba, e os da Receita Estadual, instalada na rua Major Eustáquio com a rua Manoel Borges.

Na época, foram presos inúmeros uberabenses. Coube a Dom Alexandre partir para a defesa dos injustiçados, em artigos virulentos contra o arbítrio, publicados no Correio Católico, conseguindo a vinda do então Secretário Estadual a Uberaba para apaziguar a situação.

Como o governador Juscelino tinha interesse na eleição para Presidente da República, além de serenar os ânimos dos uberabenses, atendeu às solicitações de Dom Alexandre e, pouco tempo depois, deu de presente, segundo relato de Frederico Frange, o prédio da antiga cadeia, situada na Praça do Mercado, acrescido de um bom numerário para que a Associação de Medicina de Uberaba implantasse uma Faculdade de Medicina particular, que se transformou na UFTM, uma das grandes Universidades Federais do Brasil.

Dom Alexandre foi uma poderosa voz na Revolução de 1964. Nas palavras de César Vannucci, não lhe faltavam carisma, cultura, inteligência, sabedoria, vivência humanística e espiritual. Sobrava coragem para enfrentar desafios. Para corrigir abusos que estavam sendo cometidos em nome do governo, foi pessoalmente a Belo Horizonte para um encontro marcado com o governador Magalhães Pinto. Nessa oportunidade, conseguiu a transferência do comandante do 4º Batalhão, que era o objeto de reclamações dos injustiçados.

O Governador designou para seu lugar o ajudante de Ordens do Gabinete Militar tenente-coronel PM José Vicente Bracarense, que depois de pacificar os relacionamentos entre o governo estadual e a Igreja, fincou raízes em Uberaba, ocupando por duas vezes secretarias nos governos municipais de Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1976) e Silvério Cartafina (1977/1982).

A Fista – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, criada pela Congregação das Irmãs Dominicanas em Uberaba no ano de 1948, por iniciativa de Dom Alexandre, teve sua diretoria invadida, em abril de 1964, por elementos estranhos ao quadro da Instituição, que assumiram o poder em nome do Governo. Repudiados pelo bispo, foi necessário manter contato com o general Castelo Branco para terminar com esta situação. O Presidente determinou que onde houvesse Diocese a Igreja deveria ser ouvida antes de quaisquer atividades em entidades vinculadas.

Além dessas interferências, durante seu bispado, teve que enfrentar tempos desagradáveis e polêmicos, entre os quais os desentendimentos com a classe médica em relação a cartas anônimas – pichações anônimas –, tomada de posição em favor da implantação da Cemig e muitas outras registradas pela imprensa.

Dom Alexandre fazia sua defesa por meio do Correio Católico, jornal por ele criado e que inicialmente era mensal, passando para semanal e se tornando diário em 1954, na gestão de Dom José Pedro Costa. Segundo César Vannucci, em seu livro “Um Certo Dom”, foram escritos cerca de 6.000 artigos para o Jornal.

Em 1972, o Correio Católico foi vendido para um grupo de empresários, do qual participavam na diretoria Joaquim dos Santos Martins, Gilberto Rezende e Edson Prata. O nome foi mudado para Jornal da Manhã.

Como empreendedor, Dom Alexandre construiu o Seminário São José (Praça Dom Eduardo) na década de 1980, hoje chamado Centro Pastoral João Paulo II, sede da Cúria Metropolitana. Durante seu bispado, trouxe a Uberaba três mosteiros contemplativos – das beneditinas, carmelitas e concepcionistas. Trouxe ainda as carmelitas, da Afonso Rato; os capuchinhos, os padres sacramentinos, as irmãs do Asilo São Vicente e do Orfanato Santo Eduardo.

Pastor e evangelizador, pregador, conferencista, jornalista e escritor, foi também professor de Filosofia e Teologia. Um de seus alunos ilustres foi Mário Palmério, a quem incentivou a criação das Faculdades.

Foi um dos fundadores da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM), ocupando a cadeira número 21, sendo sucedido por Maria Antonieta Borges Lopes. Escreveu três livros, entre eles “Os Católicos e a Polícia”, em 1946.

Dom Alexandre faleceu aos 5 de fevereiro de 2002, tendo vivido 96 anos, 73 como padre, 39 anos de governo episcopal e 23 anos como bispo emérito. Está sepultado na cripta dos bispos na Catedral, onde, em 2006, foi celebrado o centenário de seu nascimento.

Sua vida bateu três recordes quase impossíveis de serem repetidos, pois foi ordenado padre aos 23 anos, nomeado bispo com apenas 33 anos e viveu 63 anos como bispo.

“Dom Alexandre Gonçalves do Amaral” é hoje nome de uma rua no residencial Mário de Almeida Franco.

Fontes: Jornal da Manhã; César Vannucci – livros “Um Certo Dom” e “Voz da Arquidiocese”.


Gilberto de Andrade Rezende

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente e conselheiro da Aciu e do Cigra

terça-feira, 10 de agosto de 2021

SANTINO GOMES DE MATOS

Maquinaria ou Maquinário?. Duas palavras iguais, com o mesmo sentido. O dicionário Michaelis registra que uma é sinônimo de outra.  

Na década de 1960 dois grandes estudiosos da Língua Portuguesa, brilhantes e invejáveis intelectuais portadores de riquíssimos currículos com diplomas em PHD mantiveram, por um longo período, um embate por meio da imprensa por divergirem na interpretação deste vocábulo. 

Professor Santino Gomes de Matos.
 Foto: Reprodução.

Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, então bispo metropolitano da Diocese de Uberaba, reconhecido como um dos expoentes da cultura brasileira, com formação eclesiástica e considerado como o maior orador do clero brasileiro, ao escrever a palavra maquinário em um de seus artigos publicados pelo Correio Católico, teve a contestação de Santino Gomes de Matos, um dos raros intelectuais que ainda poderia ser encontrado no interior do país. 

Com uma vasta formação acadêmica Professor Santino possuía profundos conhecimentos de Linguística, Filologia, Literatura e Português o que o transformavam em Mestre da Língua Portuguesa. 

Enquanto Don Alexandre se expressava pelo jornal que ele mesmo fundou, Santino Gomes de Matos fazia suas réplicas e tréplicas por meio das páginas do Jornal Lavoura e Comércio. 

Foram meses de embates, mas foram também aulas valiosíssimas proporcionada pelos dois gigantes da Língua Portuguesa para os leitores que, embora divididos em suas opiniões, acompanhavam extasiados o desenrolar da contenda literária.   

Não havia animosidade pessoal nesta diferença de interpretação. Afinal o Professor Santino Gomes de Matos, na época, lecionava na FISTA, faculdade que teve sua criação estimulada por Don Alexandre.  

E quem era este ‘ousado’ professor?  Santino Gomes de Matos, nascido em 1º de março de 1908 na cidade de Icó, Ceará, já demonstrava sua genialidade desde criança pois aos 4 anos de idade já conseguia ler corretamente. Aos 7 anos já era responsável por 3 alunos da escola de seu pai. 

Sua vocação para o magistério o fez professor em Crato, (CE) e Ribeirão Preto (SP).  

Chegou a Uberaba em 1935 a convite de amigos para ser redator-chefe do jornal “Gazeta de Uberaba”, cargo que ocupou até 1939, época em que foi contratado pelo Lavoura e Comércio ali permanecendo até 1948. 

Desta data em diante se dedicou exclusivamente ao magistério sem perder o vínculo com o Jornal Lavoura onde, semanalmente, publicava uma coluna sobre filologia e gramática e, posteriormente, uma coluna intitulada “Cupim, Barbela e Gavião” incentivando a vocação uberabense para o aprimoramento da raça zebuína. 

Era também correspondente do Jornal o “Estado de São Paulo” onde registrava os fatos importantes que ocorriam na região. 

Mas foi na área educacional que o Santino Gomes de Matos mais se destacou.  Professor de português, francês, inglês e latim, lecionava na Escola Normal, (hoje, Colégio Estadual Castelo Branco) e foi o primeiro diretor do Colégio Dr. José Ferreira. Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino (FISTA) e professor da Língua Portuguesa e de Filologia Romântica. 

Para um erudito que traduzia até as línguas mortas, Grego e Latim e as neolatinas, Francês, Italiano e Espanhol, Santino Gomes de Matos foi um dos primeiros convidados a participar da fundação da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a Cadeira n. 2. 

Poeta e prosador surpreendeu a todos pela qualidade literária de sua obra – o conto “Flagrantes ao Sol do Norte” e os poemas “Procissão de Encontros”, “Céu Deposto” e “Oração dos Humildes”. Este último mereceu um artigo especial no jornal “Lavoura e Comércio” em março de 1940, data em que completava 32 anos de idade, ao relatar que é uma obra prima em duas áreas, Prosa e Poesia. 

No setor Filológico, a obra “O Inferno Divertido da Análise Sintática” foi editado pela imprensa oficial do Estado de Minas Gerais. O conjunto de sua primorosa obra o levou para a Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte. 

Para colocar um ponto final na polêmica mantida com Dom Alexandre, escreveu o livro “Porque Maquinaria e Nunca Maquinário.” 

Maria Isabel, a filha que deu continuidade aos estudos da Língua Portuguesa iniciados com seu pai, nos conta que vários dos poemas do Professor Santino fizeram, e continuam fazendo, “curso na admiração de leitores de Uberaba e de todo o Brasil, pois as edições de seus livros esgotaram-se rapidamente, solicitadas por livrarias de vários pontos do território nacional. Os seus livros de poemas ou de prosa são verdadeiras mensagens de um talento de escol, dirigidas a todos, especialmente aos que precisam de uma palavra de alento e de estimulo”.  

Diversos contos de sua autoria foram premiados em concursos promovidos em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, destacando-se “Fome”, “As Calças do Defunto” e “Mr. Severaine”. 

Santino Gomes de Matos era funcionário público lotado no IBGE, chefe da Agência Modelo, cargo pelo qual aposentou. Chegou a ser promovido, mas com a condição de se mudar de Uberaba. A única forma de evitar sua transferência, mesmo com acenos de rendimentos muito maiores, foi a de se candidatar para uma cadeira na Câmara Municipal de Uberaba. Nas eleições de 1962 mostrou seu prestígio ao ser eleito como o vereador mais votado. Seu amor por Uberaba falou mais alto do que a majoração de seu salário. 

Santino Gomes de Matos faleceu em 14 de outubro de 1975 aos 67 anos de idade. Era casado com Ione Passaglia Gomes de Matos, professora e escritora e tiveram três filhos: Cleômenes, (falecido), Evandro (médico) e Maria Isabel, funcionária da ALMG e professora de Língua Portuguesa em Belo Horizonte. 

Fica na memória de todos a imagem de um homem íntegro, um intelectual que contribuiu sobremaneira com a imprensa e a educação em Uberaba, que está intrinsicamente ligado à cultura da cidade, e que deixou seu rastro de saudades em todas as entidades, imprensa, escolas e faculdades, por onde o grande Jornalista, Poeta, Prosador, Escritor e Mestre da Língua Portuguesa, passou.   

Gilberto Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 

Fontes – Maria Isabel Gomes de Matos 

Uberaba em Fotos.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

DOM ALEXANDRE GONÇALVES DO AMARAL.

HOMENAGEM AOS 115 ANOS DE SEU NASCIMENTO - 12-06-1906
“Vou cancelar esta cerimônia”. Mal ele terminou estas palavras já avisamos a Dom Alexandre Gonçalves do Amaral que a noiva já estava se posicionando para o tradicional desfile, dando início ao casamento.

Havia sempre uma preocupação maior com a questão de horário quando se tratava de um casamento realizado pelo Arcebispo na década de 70, na Casa do Folclore.

Jamais recusou qualquer solicitação nossa. A sua presença era por nós considerada como uma demonstração de estima e de consideração já que a maioria dos padres e outros bispos, com exceção de Dom Alberto Guimarães, se recusava a realizar casamentos sob o argumento de que não havia ali uma capela.

Dom Alexandre, de uma educação esmerada e de afável trato era, todavia, rígido em disciplinas eclesiásticas e em horários, motivo de sua impaciência.

Em termos de disciplina, de defensor intransigente da fé, do rito e das determinações religiosas, basta o fato de usar fivelas em sapatos que lhe machucavam os pés, mas que compunha as indumentárias determinadas pelo Vaticano e que, para tira-las teve que receber autorização, após graves ferimentos provocados, conforme relata César Vanucci em seu livro “Um Certo Dom”.

A primeira vez que recebemos a visita de Dom Alexandre na Casa do Folclore foi em razão de um convite feito por meio do Professor Erwin Puhler, e sua esposa Eunice, amigos de longa data do Arcebispo. Acompanharam-no nesta visita também o Padre Hyron Fleury, João Francisco Naves Junqueira, seu médico particular e algumas religiosas.

Neste dia acontecia mais uma apresentação do Catira dos Borges. O Arcebispo gostava de manifestações culturais. Conheceu essa dança folclórica em Iturama.

Na época desta visita, década de 1970, não havia grandes construções no local e sim jardins, o que levou Dom Alexandre a dizer que o local se parecia com os jardins do Éden. Muito gentil, disse ainda que batizaria a Casa do Folclore como Academia Brasileira do Folclore.


Filho de Benjamim Gonçalves e Maria Cândida Gonçalves do Amaral, Alexandre nasceu em Carmo da Mata, Minas, aos 12 de junho de 1906.

Aos 23 anos, em 22 de setembro de 1929, foi ordenado padre. Dez anos após, ao ser eleito bispo, foi ungido em 29 de outubro de 1939 o mais jovem bispo em todo o mundo. Neste mesmo ano tomou posse em Uberaba em 8 de dezembro de 1939 exercendo a função episcopal até 1962 por indicação do Papa Pio XII. Foi o 4º bispo da cidade, após D. Luiz Maria de Sant’Anna.

Na década de 1940, dono de uma inconfundível voz, Dom Alexandre foi considerado o maior orador sacro do Brasil. Segundo Cesar Vanucci, apesar de conhecer bem a ortografia, se apegava em escrever seus artigos de próprio punho e utilizando a grafia antiga como “pharmácia” e não aceitava a revisão do jornal.

Em 14 de abril de 1962 o papa João XXIII elevou a Diocese de Uberaba a Arquidiocese e criou a Província Eclesiástica de Uberaba abrangendo as dioceses de Patos de Minas, Uberlândia e Paracatu. A Catedral obteve o título de Catedral Metropolitana e o Bispo Dom Alexandre foi elevado à categoria de Arcebispo, o 1º de Uberaba.

Manteve este título até maio de 1978, quando renunciou juntamente com seu Administrador Apostólico, Dom José Pedro Costa. Dom Alexandre Gonçalves do Amaral e Dom Pedro passaram à categoria eclesiástica de “Bispo Emérito”.

A atuação de Dom Alexandre como supremo dirigente da Igreja em Uberaba, iniciada em 1939, não ficou restrita a ser o pastor espiritual.

Diversos desafios ocorreram em sua longa trajetória episcopal. Assumindo suas funções eclesiásticas em plena 2ª guerra mundial (1939/1945), sua primeira intervenção se deu quando os padres dominicanos foram acusados de manter uma emissora clandestina para passar informações para os alemães. Buscas foram realizadas na Igreja São Domingos e nada foi encontrado. Quando os fiéis quiseram fazer o desagrava deste lamentável fato foram impedidos e o próprio Jornal Católico, censurado.

No governo de Juscelino Kubitschek (1951/1955) ocorreu em Uberaba graves manifestações contra os abusos cometidos por fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais comandada por José Maria Alkimim, resultando em uma revolta dos contribuintes. Baderneiros aproveitaram para provocar atos de vandalismo destruindo arquivos da Receita Federal, que funcionava no prédio da Associação Comercial e Industrial de Uberaba, e os da Receita Estadual instalada na Rua Major Eustáquio com a Rua Manoel Borges.


Na época foram presos inúmeros uberabenses. Coube a Dom Alexandre partir para a defesa dos injustiçados em artigos virulentos contra o arbítrio, publicados no “Correio Católico”, conseguindo a vinda do então Secretario Estadual a Uberaba para apaziguar a situação.

Como o Governador Juscelino tinha interesse na eleição para Presidente da República, além de serenar os ânimos dos uberabenses atendeu as solicitações de Dom Alexandre e, pouco tempo depois, deu de presente, segundo relato de Frederico Frange, o prédio da antiga cadeia, situada na Praça do Mercado, acrescido de um bom numerário para que a Associação de Medicina de Uberaba implantasse uma Faculdade de Medicina particular que se transformou na UFTM, uma das grandes Universidades Federais do Brasil.

Dom Alexandre foi uma poderosa voz na revolução de 1964. Nas palavras de César Vanucci, não lhe faltava carisma, cultura, inteligência, sabedoria, vivência humanística e espiritual. Sobrava coragem para enfrentar desafios. Para corrigir abusos que estavam sendo cometidos em nome do governo foi pessoalmente a Belo Horizonte para um encontro marcado com o Governador Magalhães Pinto. Nessa oportunidade conseguiu a transferência do comandante do 4º Batalhão, que era o objeto de reclamações dos injustiçados.

O Governador designou, para seu lugar, o ajudando de Ordens do Gabinete Militar Ten.Cor.PM José Vicente Bracarense que depois de pacificar os relacionamentos entre o governo estadual e a Igreja, fincou raízes em Uberaba, ocupando por duas vezes secretarias nos governos municipais de Hugo Rodrigues da Cunha (1973/1976) e Silvério Cartafina (1977/1982).

A FISTA–Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino- criada pela Congregação das Irmãs Dominicanas em Uberaba no ano de 1948, por iniciativa de Dom Alexandre, teve sua diretoria invadida, em abril de 1964, por elementos estranhos ao quadro da Instituição que assumiram o poder em nome do Governo. Repudiados pelo Bispo foi necessário manter contato com o Gal. Castelo Branco para terminar com esta situação. O Presidente determinou que onde houvesse Diocese a Igreja deveria ser ouvida antes de quaisquer atividades em entidades vinculadas.

Além dessas interferências, durante seu bispado teve que enfrentar tempos desagradáveis e polêmicos, entre os quais os desentendimentos com a classe médica em relação a cartas anônimas - pichações anônimas - tomada de posição em favor da implantação da Cemig e muitas outras registradas pela imprensa.

Dom Alexandre fazia sua defesa por meio do Correio Católico, jornal por ele criado e que inicialmente era mensal, passou para semanal e se tornou diário em 1954 na gestão de Dom José Pedro Costa. Segundo Cesar Vanucci em seu livro “Um Certo Dom”, foram escritos cerca de 6.000 artigos para o Jornal.

Em 1972 o Correio Católico foi vendido para um grupo de empresários do qual participava na diretoria Joaquim dos Santos Martins, Gilberto Rezende e Edson Prata. O nome foi mudado para “Jornal da Manhã”.

Como empreendedor Dom Alexandre construiu o Seminário São José (Praça Dom Eduardo) na década de 1980, hoje chamado Centro Pastoral João Paulo II, sede da Cúria Metropolitana. Durante seu bispado trouxe a Uberaba três mosteiros contemplativos – das Beneditinas, Carmelitas e Concepcionistas. Trouxe ainda as Carmelitas da Afonso Rato, os Capuchinhos, os Padres Sacramentinos, as Irmãs do Asilo São Vicente e Orfanato Santo Eduardo.

Pastor e evangelizador, pregador, conferencista, jornalista e escritor, foi também professor de Filosofia e Teologia. Um de seus alunos ilustres foi Mário Palmério a quem incentivou a criação das Faculdades.

Foi um dos fundadores da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM), ocupando a cadeira 21, sendo sucedido por Maria Antonieta Borges Lopes. Escreveu três livros, entre eles “Os Católicos e a Polícia”, em 1946.

Dom Alexandre faleceu aos 05 de fevereiro de 2002 tendo vivido 96 anos, 73 como padre, 39 anos de governo episcopal e 23 anos como Bispo Emérito. Está sepultado na cripta dos bispos na Catedral onde, em 2006, foi celebrado o centenário de seu nascimento.

Sua vida bateu três recordes quase impossíveis de serem repetidos, pois foi ordenado padre aos 23 anos, nomeado bispo com apenas 33 anos e vivido 63 anos como bispo.

“Dom Alexandre Gonçalves do Amaral” é hoje nome de uma rua no residência Mário de Almeida Franco.

Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA.
Fontes – Jornal da Manhã –
César Vanucci – livro “Um Certo Dom”.
Voz da Arquidiocese.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Mosteiro de Nossa Senhora da Glória - Uberaba - Minas Gerais - Brasil

O Mosteiro de Nossa Senhora da Glória foi fundado no dia 08 de setembro de 1948 por um grupo de seis monjas e um monge vindos do Mosteiro de Nossa Senhora de Aasebakken, na Dinamarca.

O Mosteiro de Den Evige Tilbedelses de Copenhague, fundado em 1914 pela Reverenda Madre Bírgitta von Wacken-Harzig, procedente do Mosteiro da Adoração Perpétua de Innsbruck (Áustria), encontrava sérias dificuldades no recrutamento de novas vocações. Convidado a pregar o retiro anual da comunidade, Dom Wolfgang de Czernin von Chudenitz, monge da Arquiabadia de São Martinho de Beuron, penalizado com a situação do mosteiro, propôs sua agregação à Ordem Beneditina. Estando a comunidade de acordo e concedidas as licenças da Santa Sé, o Mosteiro da Adoração Perpétua de Copenhague passou a ser beneditino, devendo Dom Wolfgang, nomeado assistente espiritual da comunidade, levar para lá monjas beneditinas de outro mosteiro que iniciassem a comunidade dinamarquesa na sua vida.

Mosteiro Nossa Senhora da Glória - Foto Antonio Carlos Prata

Em 1936, Madre Margarida Hertel e mais duas monjas foram enviadas de seu mosteiro de origem, Abadia de Frauenchiemsee, Alemanha, à Dinamarca para implantar a Regra Beneditina no único Mosteiro de contemplativas naquele país.

Madre Margarida conseguiu atrair muitas vocações dinamarquesas para o ideal beneditino, fato que chegou a surpreender a população protestante e rapidamente o mosteiro refloresceu, tomando novo alento, graças ao espírito empreendedor da jovem Prioresa.

Em 1942, devido a sérias dificuldades econômicas causadas pela guerra, a comunidade se viu obrigada a transferir-se para a pequena cidade de Aasebakken, onde construíram um pequeno mosteiro dedicado a Nossa Senhora, Vor Frue Kloster. Diante de tantas dificuldades, pensaram em fazer uma fundação em Noruega, onde Madre Margarida conhecia o Bispo e este a estimava muito. Mas como a Noruega passava grandes dificuldades, pois sofrera muito com a guerra e a ocupação nazista, o senhor bispo não poderia ajuda-las financeiramente.

Pelo ano de 1947, o Reverendíssimo Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, então Bispo Diocesano de Uberaba, pregava o retiro anual à comunidade do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. Era seu desejo ter em sua diocese um mosteiro de beneditinas. Justamente durante aquele retiro chega uma carta de Dom Wolfgang a um seu confrade, também monge de Beuron, Dom Leopoldo Holderried, que se encontrava no Mosteiro do Rio: Dom Wolfgang indagava a Dom Leopoldo da possibilidade de uma fundação de monjas no Brasil. Dom Leopoldo comunicou-se com Dom Alexandre, o qual respondeu que “recebia de joelhos esta fundação como uma graça de Deus”. Desde então começaram os entendimentos entre Dom Alexandre, Dom Leopoldo, Pe. Wolfgang e Madre Margarida.


Em abril de 1948, Madre Margarida e um grupo de irmãs tomam navio no porto dinamarquês de Ejesberg com destino ao Brasil, aonde chegam a 30 de abril do mesmo ano, desembarcando no porto de Santos.

Refeitas da viajem marítima, prosseguiram para Uberaba, onde chegaram a 13 de maio. Pe. Wolfgang, Madre Margarida, 6 monjas (Ir. Hildegardes Neovius, Ir. Escolástica Leth Mammen, Ir. Josefa Mogensen, Ir. Gertrudes Marker e Ir. Teresa Norvil) e duas candidatas dinamarquesas (Edith Boje Jensen, que depois tornou-se Ir. Magdalena; e Maria Persson, futura Ir. Benedicta) foram recebidos calorosamente na Estação da Estrada de Ferro Mogiana por Dom Alexandre com uma paternal solicitude, sacerdotes, religiosos, religiosas, moças e senhoras da Ação Católica e D. Lilia – Maria Cândida Amaral, mãe de Dom Alexandre. Todo o povo de Uberaba fez um acolhimento caloroso, amigo e fraterno.

Dificuldades com a língua, aclimatação e outras pequenas barreiras foram sendo superadas, de modo que a 8 de setembro de 1948 foi o Louvor Divino iniciado solenemente na pequena capela da fundação, durante as I Vésperas da Festa da Natividade de N. Sra. O Sr. Bispo D. Alexandre veio rezar com a comunidade, dar a bênção do Santíssimo e benzer o novo Mosteiro. Estava assim oficialmente fundado o Mosteiro de Nossa Senhora da Glória, em Uberaba. Fonte: (Mosteiro Nossa Senhora da Glória - Monjas Beneditina) 

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Cidade de Uberaba