quinta-feira, 16 de novembro de 2017

LEMBRANDO O ÓBVIO

Recentemente César Vannucci,um dos maiores nomes do jornalismo mineiro, uberabense de cepa, esteve na terrinha proferindo palestras na ADESG e na ALTM. Como sempre, sucesso absoluto.Mas, não são as “falas” do César que quero lembrar.Madrugada a dentro, lembrando e relembrando “coisas da terrinha”, enveredamos pela lembrança de nomes da saudosa e outrora sempre combativa imprensa uberabense.

Começamos pelo Raul Jardim, um dos donos do falecido “Lavoura e Comércio”, mais de 100 anos de circulação na cidade e região.A saudade foi relembrando nomes, Rui Miranda, Maurilio Cunha Campos, Jorge Zaidan, Joel Lóes, Rui Mesquita, Rui Novaes, José Veloso Guimarães, Santino Gomes de Matos, José Mendonça, Ramon Rodrigues, Farah Zaidan, Geraldo Barbosa, entre outros brilhantes jornalistas que descansam na Paz Celestial.

O “papo”girou sobre o Raul, de fulgurante e fulminante raciocínio de profissional brilhante.Mesmo doente, ( a doença atropela, a doença aniquila, mata !)Amigo dos amigos , lealdade ímpar,Raul sempre foi um jornalista independente, sem cabresto, fiel aos seus ideais.Teve inimigos? Não sei. Adversários ? Claro ! Raul transcendeu em amor ao próximo, servo da Justiça, paladino da liberdade! Raul, poderia ter sido um homem rico de posses materiais,avarento, vendilhão, apegado ao dinheiro,prostituto de ambições desmedidas.Não ! Preferia a singeleza das palavras ,atitudes dignas, honestidade de propósitos e princípios.Despido de bens pessoais,acendrado amor a sua Uberaba. Merecia maior respeito. Uberaba muito lhe deve.

No “outro” jornal, o “Correio Católico”, (chegou a ter 12 mil assinantes na cidade e região !), “sepultado” de forma impiedosa, por razões até hoje desconhecidas, um profissional se pontificava com méritos inatingíveis:Jorge Zaidan, mestre dos mestres! Modelo de homem que veio à Terra ( e Deus perdeu a fôrma...) para servir e nunca ser servido. Nasceu com o estigma de bom, humano, decente,correto, líder , servidor emérito, olhava o próximo como a si mesmo.Só fazia o bem. Suas mãos só atiravam flores.Jorge, morreu muito novo, embora os bons não morrem...moram no plano espiritual, espargindo amor, alegria, justiça, bem querer, onde, à direita do Pai, tem assento permanente.

A”leva” dos bons jornalistas no Céu,é grande e nos deixou exemplares lições.Os artigos de Juvenal Arduini, a coragem do Padre Fialho, ..quem ousava contestar as aulas literárias de Santino Gomes de Matos ?Quem se atrevia duvidar das reportagens-bomba do intrépido Rui Mesquita,que morreu no Rio de Janeiro,chefiando a redação do “Repórter Esso”,da Rádio Nacional ?Quem não se contemplava com as verdadeiras homilias de D.Alexandre, no “roda pé”, do “Correio Católico?”. Quem não se “abastecia” lendo as noticias esportivas de Ramon Rodrigues,no”Lavoura”?e a lidíssima coluna social,”Observatório”, de “Galileu”, pseudônimo do imortal Ataliba Guaritá Neto ?Os sensatos e ponderados comentários esportivos de Farah Zaidan, no “Correio Católico”? Joel Lóes, deixou o “Correio” e foi brilhar como editor-chefe deTurismo, do tradicional e centenário” Estadão”?.

Reputações ilibadas e credibilidade junto a milhares de leitores, esses jornalistas uberabenses, conquistaram a confiança dos leitores, sem recorrer a empregos oficiais (Prefeitura,Câmara,Autarquias, Fundações,Arquivos e etc...)

O “papo-saudade”entre César e eu,varou a noite.Geraldo Barbosa,acamado e Padre Prata,em viagem,foram,gostosamente, lembrados.Nós dois, da “velha guarda”,ainda na ativa profissional, acobertados pela Lei 972, da revolução. Jornalismo, além da devoção e vocação, é um ato de doação “...Hoje...bem...hoje...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                                                            

DEFESA PRÁ LÁ DE BEM FEITA

Uberaba sempre foi pródiga em tipos populares que perambulavam pelas ruas da cidade.A maioria inofensiva e muito benquista pela população.”Maria Carrapato”, “Irmão da Padaria”, “Coronel Delcides”, “Maria Boneca”, “Babinha” ( o terror dos bebuns...),”Violão”, “Chupa Ovo” e outras tantas singulares figuras. Porém, um deles, “Fumanchu”, marcou época. Conto-lhes :

José Estanislau de Jesus - "Fumanchu"-
Foto/Uberaba em Fotos.

Num distante domingo de sol do ano de 1977, era tradição dar “uma voltinha” no centro da cidade, principalmente quando havia jogo do Uberaba pelo campeonato brasileiro. Orgulhosamente,àquele tempo, o Uberaba participava.Era o esperado Uberaba x Santos F.C.Mal os jogadores santistas acordavam dos seus aposentos no finado “Grande Hotel”, um barulho infernal de sopros, buzinas ,bumbos e “caixas”, invadia a área central da terrinha.Uma meia dúzia de chiques e confortáveis ônibus,”despejava” bem defronte ao falecido”Metrópole”, à porta do saudoso”Buraco da Onça”, a barulhenta torcida do Santos.A “Sangue santista”,”Força Jovem”e “Garra Peixe”, desfilavam com os bumbos,taróis,tamborins e reco-reco e alguns outros instrumentos de sopro, começaram a grande batucada, infernizando o Romeu e o jovem “Cebolinha”,no atendimento aos fregueses habituais do “Buraco da Onça”, na cervejinha dominical.

Ao tempo,nesse momento, descendo a Artur Machado,em direção à Leopoldino, onde estavam,além do “Buraco”, o “Guarani” e o “Tip-Top”,bares tradicionais da cidade, passos lentos e cambaleantes,aparece o “Fumanchu”,”negrão” forte,engraxate nas horas vagas, educado,bem falante,embora vivesse sozinho,ninguém soube onde nascera e de onde viera.O certo é que tomou-se de amores por Uberaba ,aqui “sentou praça”e nunca mais saiu.Até morrer !

De megafone em punho,tradição por ele ostentada,voz rouca e cansada pelos pileques a madrugada,como fazia,costumeiramente, em jogos do Uberaba,gritava a plenos pulmões:- “Hoje tem Uberaba no “Uberabão”.Tem zebu comendo o Peixão(apelido do Santos)”.A rima, as vezes “quebrada” era a que ele mais gostava...Foi nada não.Ao passar pela torcida do Santos,desfilando sua propaganda”Hoje tem Uberaba...” foi a gota d’água.Furiosos,torcedores santistas partiram pra cima do indefeso “Fumanchu”, aos socos,pontapés e empurrões.

A revolta no “Buraco a Onça”,foi instantânea.Walter Bruce Fonseca,advogado conceituado no nosso foro,interveio,pedindo calma aos santistas.Ao dialogar,ganhou uma estrepitosa vaia.A “fala” mais bonita que ouviu foi:”vai à puta que pariu!”. Bruce, encostou na parede do antigo Banco Real,mangas arregaçadas,lançou o ultimato:-“Vagabundos,façam fila que vou bater em cada um de vocês”.Sem se intimidarem,os santistas partiram prá cima do então jovem, Bruce.A surpresa veio na hora.Um a um, foram, ficando pela calçada, devido as “pancadas” do nosso herói.Muitos sangrando, foram se afastando..eles não sabiam que Walter Bruce, moço,foi campeão de judô...Até hoje, vivo e são, conta a história.-“Bati nuns 15 torcedores, até que a Policia chegasse”...

Sem ligar para o “rififi” que estava acontecendo,”Fumanchu” seguiu avenida afora, andando em cambaleio, anunciando”hoje tem futebol no Uberabão.O Uberaba vai comer o Peixão”...À tarde, no jogo, não deu outra.Vitória do Uberaba 4x1 ! e delírio da torcida e do “Fumanchu”...


Luiz Gonzaga de Oliveira

QUEM SOU EU ?

Quando se casaram,Odone,costureira por profissão,saía de uma tuberculose na pleura e 38 anos de idade. Segismundo, que todos conheciam como Dondico, trabalhador têxtil na fábrica de tecidos no povoado do Cassú,barranca do rio Uberaba,completara 34 anos.Odone, pela doença, nem pensava em casar-se.Dondico,solteiro de nove irmãos, era o esteio da família e cuidava dos pais, pobres e doentes.Flordalisa,casada com João “Catoco”,figura conhecida nas Mercês,afilhada de Odone e amiga de Dondico, virou o “anjo casamenteiro”. Dessa união,gerado no Cassú,vindo à luz,na rua Bento Ferreira,cá estou há 82 anos.Idade que não me avexo em revelar. Homens e mulheres vaidosos(as)evitam declarar idade.Prá que mentir idade?Aprendi e lhes digo:o tempo, grande parceiro,nos melhores momentos de aventura,me ensinou as coisas do futuro..

A cada momento que vivo no presente, considero sublime o meu valioso passado.Hoje, me pergunto:seria o que sou, se não tivesse vivido a experiência do passado ? Pensadores famosos escreveram “ o que seria do futuro,sem a perspectiva do passado?”Se não soubermos construir um bom futuro, como consertar um bom passado ? O passado é ápice de todas as etapas da vida. Vivenciá-la com proveito, tudo que o futuro possa propiciar, saiba revertê-lo num ato risonho e franco...

Filho único de um casal de semi-idosos,aprendi com eles, a conhecer histórias e estórias, principalmente da vida uberabense.Familias virtuosas e outras, nem tanto. De religião e religiosos, de homens pobres e figuras impuras, de ladrões, assassinos e “trambiqueiros”, de putas e virgens, uma percentagem maior de gente honesta, ilibada e trabalhadora.

Desde cedo,convivi,mercê a vocação que já em criança,me empolgou, a comunicação.Trabalho desde os 15 anos; inicio em alto falante de rua, o ASA(Abel dos Santos Anjo),depois rádio,jornal,revista, televisão. 67 anos de profissão e muita fé no que faço. Pia e cristãmente.Hoje, as redes sociais me empolga. Estou “banido” da mídia.Por ser autêntico ?..

O tempo tem sido pródigo comigo.Não me deu dinheiro,fortuna.Amizades ricas, família feliz, respeito da sociedade a terrinha?Muito me compraz.Ao colocar a cabeça no travesseiro, rezo para os amigos e perdôo os que me desejam mal.Folheando as páginas da minha existência,modesta,felizmente,quero sempre renovar o meu passado,o baú da minha vida ,pedindo a Deus que os que procuram me ver,o façam com bons olhos...Tenho um lema: do meu futuro cuida o inexorável destino ; do meu passado, cuido eu ...

Amo de paixão,minha terra-mãe.Propostas de trabalho fora da terrinha,até hoje.Pacto ou não,um grupo de jornalistas(Ataliba Guaritá Neto(Netinho),Raul Jardim,Ramon Rodrigues,Jorge e Farah Zaidan ,Geraldo Barbosa),rejeitou todos os convites.O acendrado amor a Uberaba,não os deixou partir.Os cavalos passavam arreados, sem que nos déssemos conta e desejo de montá-los...Último dos moicanos?Talvez...

O tempo sempre foi meu grande aliado,embora maltratasse o corpo, alquebrado pelos anos. As rugas que fizeram ruas e avenidas pelo meu rosto,caminho da nossa velha existência, os cabelos brancos, insistam em aumentar.Mas, o que vale para a eternidade , é a alma/espírito.Ela não enruga jamais,não nos coloca no cadafalso e nem se importa com a cor dos cabelos. A alma/espírito, não envelhece! Nunca !

Tancredo Neves,eleito Presidente da República,foi taxado de “velho”.O excelente humor que o acompanhava,respondeu ,de pronto, que não se preocupassem com a sua idade( 76 anos) e disse uma frase lapidar:- “Churchill,aos 71 anos,venceu uma guerra para a Humanidade, enquanto Nero, aos 27 anos, incendiou Roma “...

Enquanto vida e força tiver,estarei lembrando de “memória, histórias e causos de Uberaba-bão”. Vocês alimentam o meu trabalho.

Luiz Gonzaga de Oliveira

O ASSALTO

A “evolução de 64”, estava no auge. Prisões, “caça às bruxas”, fugas, perda de mandato e o” escambau”. Quase em 69, veio o famigerado”Ato Institucional-no.5”, o célebre A.I-5, temido,substituindo, por largo período,a nossa combalida democracia vigiada. Perda de liberdades individuais, supressão do habeas-corpus”, fechamento do Congresso, prisões por todas as partes do País .Instalou-se um verdadeiro pânico no território nacional.

Os jovens, principalmente os alinhados com UNE- União Nacional dos Estudantes-, rebelou-se de vez. Aliados aos comunistas e ou adeptos da doutrina, partiram para as escaramuças, os atentados às repartições públicas, as expropriações ( roubos para arrecadar dinheiro para a “resistência”...), assaltos a bancos e o terrorismo campeando pelo Brasil afora...

Uberaba,por um grupo dito “socialista”, aderiu ao movimento. A imprensa amordaçada, os “agentes da repressão” atentos, esses jovens da terrinha (comunistas? Sei lá...)reuniam-se, clandestinamente, visando uma “ação contra-revolucionária”...Meia dúzia de moças e rapazes, sob o comando de um conhecido empresário local, tido como ideais socialistas, faziam “ponto”, ou “aparelho?” na sua chácara. Além do manjado proselitismo marxista, começaram planejar um grande assalto “a um estabelecimento bancário da cidade”. Visava à obtenção de recursos para a “grande causa por que lutavam”...

De comparsas ( ou “companheiros?”) de outras regiões, receberam armas e munições.A chegada de grande carga de bananas de dinamite, foi motivo de grande alegria para os jovens...O objetivo traçado estava definido:- “ com o apoio de um “colega” que trabalhava no Banco, tomariam de assalto o cofre forte e teriam o dinheiro suficiente para prosseguir nas ações expropriatórias”, diziam todos em voz uníssona.

Tudo preparado,chegou o “grande dia”.Trajeto traçado,condução preparada, mapa pronto, as armas nas mãos de cada participante; era apenas aguardar o encerramento do expediente bancário para que a ação fosse desencadeada.Todos a postos,embora nervosos, o “deslocamento” do grupo definido após o assalto, as bananas de dinamite “ no ponto”, o local previamente estudado e o roteiro da “fuga”, desenhado...

Ansiosos, esperaram pelo “sinal” do “companheiro’ na parte interna do banco. Seis e meia e nada do “sinal”.Com o coração na garganta,continuavam esperando.Sete horas ! Nada ! Sete e meia ! Também não ! Ás oito da noite, desistiram da “ação”.Retornaram,frustrados, ao sitio do “comandante”. Decepcionados, “fulos” da vida, aguardaram a chegada do “companheiro bancário”. Em vão.

No outro dia, a noticia:o bancário fora preso ao final da tarde prevista para o assalto...As reuniões clandestinas não mais aconteceram, o “grupo” esfacelou-se a terrinha, felizmente, não assistiu a “expropriação”de um banco e os nossos jovens idealistas não foram presos...

Conto o “milagre”, mas não conto os “santos”,pois,alguns deles estão vivos.. dever de oficio de um veterano jornalista que soube do episódio naquele tempo e só agora, faz a revelação...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                             

OS TEMPOS SÃO OUTROS...

Os leitores perceberam que, quando conto “ estórias e histórias da nossa Uberaba-bão”, não me preocupo com datas. Lembro, mais ou menos, o ano do fato focado. Nada mais. Se fosse me ater em coletar datas, dias e meses, acabaria incorrendo em erros palmares. A proposta dos meus “causos” não é dar “datas” e sim, relembrar fatos.

A primavera, a cada que passa,está mais quente, bem mais tórrida, mostrando o pleno calor do verão.Hoje, confesso-lhes, estou suando em “bicas”.Antigamente, dizíamos “ primavera- estação das flores !”, etc. etc.Agora, as flores aparecem em qualquer época do ano...Pudera ! A quantidade de adubos, agrotóxicos, fertilizantes, provocadores e agentes da natureza que existem, difícil se torna distinguir s as estações do ano. Em outro tempos, verão era verão, primavera era primavera, outono, outono e inverno era inverno...Ah! hoje, está tudo mudado!...

Dizem os mais antigos, que depois que o homem foi à Lua (será?), satélites de todos os tamanhos, redondos, quadrados,elicoidais, rodando, rondando,passeando pela abóboda celeste, “discos-voadores” ( alô,César Vanucci !)sendo avistados e contactados em todas as partes do globo, não há mais estações nesse nosso ínfimo planeta...Está tudo “virado”...

Teimosamente, volto à primavera, estação das flores...Até por volta de 1970, do século passado, pululavam as festas alegres de uma juventude super animada.O Jockey Club, de tantas tradições, nessa época, realizava uma das mais badaladas festas do seu calendário social, o “Baile da Primavera”, tão aguardado pela mocidade.Escolha da rainha, das princesas, da “glamour”, ouriçando as moçoilas jockeanas...Orquestra do Rosseti, salão ornamentado, os homens devidamente trajados, paletós e gravatas;as meninas se esmeravam em bem vestir..Era uma festa bonita, ninguém entrava no baile com calça rasgada no joelho, saiinha mostrando a bunda...nada ! Era puro “charme!”. A rapaziada de tênis “furado”, calça apertadinha...qual o quê! A elegância entre os jovens , era de causar inveja “...

O diretor social, o saudoso Laerte Borges, escolhia, “à dedo” os diretores do clube que iriam compor o júri para a escolha a “rainha”.A coluna”Observatório” do “Galileu”(Netinho Guaritá), era super esperada na segunda-feira... Tempos e estações que já se foram...

O Sírio-libanês, não ficava nada devendo ao Jockey.Michel Abud,entusiasmo que só ele tinha, esmerava,desde a decoração do clube, até a escolha das “turquinhas” que iriam concorrer ao título de “mais bela da colônia”...era um desfilar de tanta menina que nem ouso citar ou lembrar nomes...Hoje, todas casadas, são vovós requisitadas.

O Paulo Silva, através a sua coluna social no “Correio Católico”, dominava a região. Promovia a festa “Brotos do Ano”, repetida em cidades do Triângulo. Cada cidade que recebia o concurso, o sucesso era comentado por semanas e semanas, pois era o acontecimento social do ano...

O Uberaba Tênis, não ficava atrás. Quem não era sócio do Jockey ou do Sírio, promovia o seu chamado “Grande Baile da Primavera” e a escolha da “soberana” que iria”reinar” até na outra primavera...Na Associação Esportiva e Cultural, a festa também não era menor...

Hoje, lamentavelmente, a primavera para a juventude ,nem é lembrada como estação do ano.As outras,verão,outono e inverno, passam despercebidas. Festas? Acontecem todos os dias, de segunda à segunda , a qualquer hora e não importa o lugar .Com “jeans” rasgadas na coxa e no joelho e camiseta com o sovaco de fora...Não se faz mais primavera como antigamente....

Luiz Gonzaga de Oliveira

O POLÍTICO “NENÊ MAMÁ”...

Waldomiro Campos, o eterno “Nenê Mamá”,figura folclórica do esporte uberabense, era de uma fidelidade canina aos seus amigos.”Amigo meu não tem defeito”,dizia.Em antiga eleição,atendendo pedido do seu fraternal amigo,Artur Teixeira,candidato à prefeito de Uberaba,”entrou de corpo e alma” na campanha eleitoral do Partido Social Democrático,o PSD “véio de guerra”,segundo o saudoso Álvaro Barra Pontes.Distribuia planfetos,visitava amigos e fazia discurso em cima de caixote em qualquer lugar onde juntasse um”tiquinho” de gente.

João Adalberto de Andrade e Waldomiro Campos, o eterno “Nenê Mamá”

A campanha eleitoral na terrinha,”pegava fogo”.Celso Rodrigues da Cunha,pela UDN, Jorge Furtado,pelo PTB,disputavam com Artur,palmo a palmo a preferência do eleitorado local.Campanha acirrada,xingatório por todos os lados,denúncia de cá, revide de lá, “coisas”,aliás, próprias das disputas políticas desde antanho.Uberaba tinha na ocasião,perto 50.000 eleitores, se tanto.A tradição familiar de um grupo da UDN, o discurso progressista do PTB e a”maneira mineira” do PSD, davam a tônica da campanha.

Oradores brilhantes faziam a festa nos palanques.Desde a “fala erudita” dos partidários da UDN,passando pelo tom agressivo dos trabalhistas ,ao discurso moderador pessedista.Dr.José Humberto,Celso Rodrigues a Cunha,Amilcar Decina,Ataliba Guaritá Neto,eram as “estrelas” udenistas.MárioPalmério,Hélio Angotti,Ivo Monti,Jorge Furtado,pontificavam entre os petebistas.Porém, o “time organizado”era o das velhas raposas pessedistas...

Final de campanha,um grande comício foi anunciado pelo PSD,para o “Abadião”,naquela época, o mais carente da cidade.Poucas ruas calçadas, esgoto à céu aberto, iluminação precária,água de cisterna e o” falta tudo”de uma periferia urbana. O PSD, em peso,no caminhão.Artur Teixeira,Dr.Bilharinho,Bolão,Nagib Cecilio,Lauro Fontoura,”Coronel” Ranulfo Borges,João Henrique,Jão Laterza e outros “caciques” do partido. A praça,sem calçamento,apinhada de gente.

Os primeiros a discursar são sempre os candidatos à vereador.Entre eles, “Nenê Mamá”,que,para ajudar o amigo Artur Teixeira,aceitara o sacrifício de candidatar-se.Treis ou quatro candidatos, o antecederam. Quando Aráudio Pereira Melo,o saudoso e sempre simpático”Xim”,locutor oficial dos comícios do PSD,preparava para anunciá-lo, Nenê,cochicou no ouvido do amigo:

-“Capricha na minha apresentação,Xim, olha que somos parceiros no Uberaba Sport”...

“Xim”,caprichou.Falou do “grande desportista”, uberabense por adoção,do amor que dedicava ao clube querido da cidade,o amigo de todas as horas” e outros adjetivos mais. Muito aplaudido, “Nenê Mamá” começou o seu discurso:

-“Povo querido do meu bairro da Abadia!Quero ajudar a acabar com o sofrimento de vocês !Vou fazer algumas perguntas e quero respostas sinceras dos meus amados eleitores:

-“Vocês tem água encanada nas suas casas ?

O povão a uma só voz: Não !

-“Vocês tem energia elétrica para iluminar suas casas?”

O povão: Não

-“Tem rua calçada por aqui ?”

A mesma resposta dos moradores: Não !

-“Vocês tem rede de esgoto nas suas casas ?”

Outra resposta negativa dos populares:Não !

Aí “Nenê Mamá” não agüentou e soltou a frase mais lapidar da sua curta vida política:

-“ Com essa falta de tudo, porque “oceis” “num muda daqui, cambada ?”

Na mesma hora,a turma do PSD, retirou a candidatura de “Nenê”,pois, se continuasse,Artur Teixeira não seria eleito prefeito de Uberaba.....Coisas da política..


Luiz Gonzaga de Oliveira                                            

                             

A RUA DO “SANTO”...

Há uma condicionante que, volta e meia, gosto de lembrar: Uberaba é uma cidade exemplar. Tudo aquilo que os nossos homens públicos propuseram realizar, conseguiram vitoriar-se em suas conquistas. Começou com a saga do zebu, o pioneirismo da nossa gente, o intrépido homem do campo, melhorando a genética do rebanho bovino e seus avanços. Na Educação, fomos vanguardeiros, iniciando no ensino profissionalizante e a culminância dos cursos universitários.

Em tempos idos, os bailes homéricos de uma cidade rica, incluindo até “prado de corridas de cavalos”, cassinos luxuosos, a terrinha se fez presente também . Uberaba, entre tantos fatores altamente positivos, não poderia deixar de receber o título de “cidade boêmia”. Cabarés, jogos de azar, prostituição, juntos e misturados, aliados aos “chiques” clubes sociais ...Turistas, forasteiros, visitantes que aqui aportavam em outros tempos, se assustavam quando ouviam falar que o nosso puteiro, tinha nome de santo: São Miguel...Arcanjo ? Não tenho certeza...

                Rua São Miguel – atual Rua Dr. Paulo Pontes                                


Bem central,início do bairro São Benedito, atrás da Catedral Metropolitana, encravada entre ruas familiares, a “São Miguel”, era conhecida no Brasil inteiro. Bem mais “falada” que a “casa da Eny”, em Baurú (SP).Logo na esquina da praça Frei Eugênio, o “Tabu”,Bar-restaurante, famoso e que resiste ao tempo, só que em outro local e inteiramente familiar. Do outro lado da rua, a “venda” do Armando Angotti. Descendo a rua, feéricamente iluminada, lâmpadas”pisca-pisca”, vermelhas , anunciavam as casas: Tunica,Amelinha,Negrinha,Jovita,”tia Moça”,a travessa Ernesto Pena,conhecida como o “beco dos aflitos”.

Do outro lado da rua, a Erotildes, o “Cassino Brasil”, a Tubertina, Nena, Isolina e, quase chegando à rua Vigário Silva, o bar “Boca da Onça”(Não confundir com o sério”Buraco da Onça”...)do Caio “Guarda”,que não fechava nunca, pois,não tinha porta...Final de semana, o movimento na rua, “dobrava”.O “Tabu”,com o Chin e o Antônio, varavam madrugada. O churrasquinho do Jaime,cheirava até no bar do “Yassu”, na rua Tristão de Castro...

A rua do “santo”,também era conhecida como”baculerê”,puteiro,”rua das primas” e outras alcunhas. A “São Miguel”, era freqüentada pela fina flor da sociedade masculina, sem distinção de classe, cor ou credo.Ali, se misturavam homens sisudos,figuras patéticas, jovens bem vestidos,maltrapilhos,pais com os filhos e outras extravagâncias.

O “Cassino Brasil”, era a atração. A mulherada vestia suas melhores roupas, os perfumes mais caros, a “maquiagem” mais atraente, a fim de conseguir o melhor “programa”. O “show” comandado pelo Paulo, amante da Negrinha, culminava com a apresentação da dupla”Birinha e Diquinha”,dois “frescos”( naquele tempo, ninguém falava em homossexual,bicha,travesti,transgênero ou outra espécie) era “fresco” ou “viado”..Além deles, tinha o Amador,viado metido a intelectual, vivia com livros debaixo do braço e puxava a “lili”, sua cachorrinha de estimação, por um cordão encardido...

O respeito na “São Miguel”,era total.Qualquer desavença entre , “gigolô” agredindo mulher,bêbado inconveniente,lá estava o “cabo Tatá”, colocando ordem na “casa”, escoltado pelo “cabo Ranulfo” e o “investigador “ Benedito.

“Andei” pesquisando sobre as “moças de vida nada fácil” que residiam na “São Miguel”. Confesso-lhes,não encontrei nenhuma mãe da atual safra de políticos da santa terrinha...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                             

A FALSA BOMBA NO JOCKEY CLUB DE UBERABA


De vez quase em sempre, lembro-me de fatos acontecidos na santa terrinha e que o tempo não apaga. Histórias verídicas há meio século, de repente vem-me á lembrança. Episódios em época das saudosas Exposições... então. Por ocasião de uma delas ainda no regime militar, o então Presidente da ACBZ,médico e líder pecuarista,João Gilberto Rodrigues da Cunha,terminava o seu discurso de abertura da Expozebu,criticando,ásperamente, a política agrícola praticada no Brasil,sucedeu-lhe o então Ministro da Agricultura,Luiz Fernando Cirne de Lima, um gaucho de têmpera, que nas entrelinhas de sua”fala”,concordou com a explanação do Presidente da entidade promotora da mostra zebuína, sobre o declínio ou pouco compreendida, política agrícola governamental. O discurso do Ministro Cirne Lima,como sói a acontecer nessas ocasiões, alcançou repercussão nacional. No outro dia, 4 de maio, o então poderoso Ministro do Planejamento do governo da revolução, Delfim Neto, mostrou o “cartão vermelho” para o colega Cirne Lima....

Outro episódio marcante e que não me sai da memória, foi também, numa abertura de Exposição Agropecuária e a presença do último Presidente do regime militar, João Batista de Oliveira Figueiredo.O general, andou dando uns cutucões no braço do então Presidente Manoel Carlos Barbosa, por não ter “apreciado” o que continha o discurso do ruralista, criticando a política agrícola do governo revolucionário. A cena e as fotos, ganharam páginas dos principais jornais brasileiros; televisões e revistas, “deitaram e rolaram” relatando o inusitado fato...

Agora, ganhou repercussão internacional a “nossa Expozebu”,foi da visita do Presidente-ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner. Movimentou todo o aparato do Itamarati, cerimonial da Presidência da República, o Presidente brasileiro à recepcionar o ilustre visitante e um sistema de segurança jamais visto pelas nossas bandas...No jantar de gala,no saudoso e falecido salão de festas do tradicional Jockey Club de Uberaba, a segurança de Stroessner, pelo serviço secreto paraguaio, recebeu a informação (graças a Deus, falsa)que uma bomba iria explodir no prédio da praça Rui Barbosa. Militares “guaranis”, não deixaram copo sobre corpo, talher por talher, mesa sobre mesa, revistaram todos os garçons que iam trabalhar, a guarda feminina paraguaia, obrigou as cozinheiras e “garçonetes” a tirar até as calcinhas para revista...Felizmente, era rebate falso, mas que a noticia “rodou” a América do Sul, “rodou” !

Jockey Club de Uberaba

Lá atrás,1963,quando já se falava em “reforma agrária” e mudança na Constituição Federal, o Presidente João Goulart, passou” maus momentos “na inauguração da Exposição de Uberaba. Já na chegada ,no aeroporto (que naquele tempo não se chamava “Mário de Almeida Franco” ), praticamente todos os carros que foram recepcionar a vinda do Presidente da República, principalmente os dos pecuaristas, ostentavam uma faixa, de papelão, assim escrita: “A Constituição é intocável!”. Prá não dizer mais, o mal estar dos que estavam à espera da comitiva presidencial, acima de tudo, constrangedor. No palanque, o discurso do Presidente da ABCZ, Antônio José Loureiro Borges, foi de críticas severas ao que acontecia no campo...

No ano seguinte, João Goulart, estava deposto, exilado no Uruguai, residindo nas suas fazendas de gado; a “reforma agrária” não saiu, a Constituição Federal estava “rasgada” e uma nova ordem política-institucional, instalada no Brasil. O Marechal Humberto Alencar Castelo Branco, com muitas festas, mesuras e vivas, inaugurava mais uma Exposição de Gado Zebu, a mais famosa das Américas. O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, era o novo Presidente do Brasil.

Luiz Gonzaga de Oliveira

ACIU E GRANDE HOTEL - UBERABA

PARECE QUE FOI ONTEM ... 
Aciu e Grande Hotel - Avenida Leopoldino de Oliveira
Uberaba das Minas Gerais! Aqui era um tempo de cadeiras nas calçadas. Era um tempo tranquilo em que se via estrelas no céu. Tempo em que as crianças brincavam sossegadas na claraboia da lua e o cachorro de casa era um grande personagem.

Ah! Tinha também o relógio cuco na parede... Ele marcava as horas, mas não media o tempo, simplesmente ele evitava o tempo...
                                                                                                                                                         Adilson Cardoso‎           
                                                                                                                            

UBERABA ESTÁ EM TODAS...

Tenho imorredoura saudade de dois amigos fraternos que estão no Plano Celestial: Ataliba Guaritá Neto e Raul Jardim. Netinho e Raul, foram jornalistas de têmpera; inigualáveis. Deixaram nas páginas do saudoso “Lavoura e Comércio” e nos microfones da sempre lembrada P.R.E.-5, uma vida de paixão e amor por Uberaba.Seriam nomes nacionais se, obstinadamente, teimaram em não deixar a sagrada terrinha ! Aqui era o seu canto, encanto,encontro e desencontro. Despiam-se de vaidades pessoais para enaltecer feitos de uberabenses que brilharam e/ou brilhavam Brasil afora. Uma frase quase épica, é reverenciada até hoje, por todos nós: -“ Uberaba está em todas !”

Mário Palmério,Joubert de Carvalho, Aluizio Prata, Alaor Prata,Leopoldino de Oliveira,Chico Xavier, Jacob Palis Júnior,Avelino Inácio de Oliveira, Glaycon de Paiva, Pedro Moura, Antenógenes Silva, Fidélis Reis, entre outra dezena de uberabenses que honraram e orgulharam a nossa sempre amada Uberaba,enaltecendo-a em todos os quadrantes nacionais. Com que orgulho, num misto de alegria e vitória, Netinho e Raul, registravam feitos gloriosos desses uberabenses de cepa !

Ainda em vida,Raul e Netinho, escreveram o sucesso dos irmãos Ayrton e Alaor Gomes,Joel Lóes,Paulo Marquez,Wilson Moreira,Wilmar Palis,Orlando de Almeida,os irmãos Augusto e César Vannucci, José Viana,Gontijo Teodoro,Wanderley Greiffo, Yara Lins, que, nas letras,voz e canto, sempre que perguntados de onde vieram, gritavam ,alto e bom som:” sou de Uberaba!”, como fazem nos dias atuais, Fernando Vannucci e Fábio William.

De uns tempos, até cá essa parte, a frase foi, lamentavelmente, sendo deturpada, perdendo o sentido da honraria, do valor, merecimento, tão valorizada em épocas passadas. Netinho e Raul, devem estar remoendo na morada eterna, quando ouvem, lêem, vêem, o nome de Uberaba tão achincalhado, mal visto, por filhos natos uns, “filhos-postiços” outros, que não souberam honrar e dignificar cidadania tão respeitada e orgulhosamente afamada.

Vieram os fatos escabrosos envolvendo gente da terrinha no escândalo do “mensalão”, de triste memória,trazendo à baila, um ex-Ministro de Estado,deputado e ex-Prefeito, agora “ficha suja” e seu fiel escudeiro, na lama moral do “mensalão”. Ainda outro dia, outro uberabense-“postiço”, ficou longo período preso, depois de descoberta as falcatruas do ex-deputado e secretário de Estado, de uma “cidade das águas” que jamais será concretizada.

Depois, um “delator da Lava Jato”, que teve uma ascensão politica meteórica, é “hóspede” de uma das mais famosas prisões brasileiras: a “Papuda”, em Brasília...Ainda no desdobramento do “petrolão”, um dirigente da Petrobras, devolveu 90 milhões de dólares ao governo brasileiro, dinheiro obtido no “propinoduto” da estatal, casado com a filha de um ilustre uberabense...Não parou por aí.Carioca,fazendeiro,desposou prendada senhorinha da nossa melhor sociedade. Com ele, está preso também o seu pai, Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Dirão os uberabenses :-“é muito peso para o meu pobre caminhãozinho”...

Se nomes não cito desses dois últimos lamentáveis episódios,é o respeito que me merece as famílias,inocentemente atingidas pelo infausto acontecimento. Quanto a falta de citação nominal dos outros transgressores da Lei, é que não posso compará-los aos verdadeiros e honrados uberabenses mencionados no tópico inicial do texto.

Ah!Raul e Netinho! Quanta saudade me traz a frase de ontem:-“Uberaba está em todas!”.Hoje........
                                                                                                                            

Luiz Gonzaga de Oliveira

terça-feira, 7 de novembro de 2017

"Anais dos Livros de Atas da Câmara Municipal de Uberaba (1857-1900)"


                     Convite e Programação das comemorações dos 32 anos da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba

Sua participação será muito importante!


(Superintendência do Arquivo Público de Uberaba)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Filmes Soviéticos Década 1920


OUTUBRO
A Arte da Realidade


Guido Bilharinho

Filmes Soviéticos 
Em 1927, no décimo aniversário da revolução soviética, Sergei Eisenstein (1898-1948), auxiliado por Grégori Alexandrov (1903-1983), realiza Outubro (Oktiabr, U.R.S.S., 1927) atinente à tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques.
         Do ponto de vista puramente artístico e cinematográfico, é obra brilhante, como todas suas realizações. Salientam-se nela - pela extrema modernidade, agilidade e adequação - os cortes e a montagem.

         O estilo vigoroso de Eisenstein impõe-se desde a primeira tomada e prossegue até o final sem qualquer pausa. A angulação e o enquadramento são perfeitos, contribuindo, como tudo o mais, para dar ao filme ritmo frenético e vibrante, característica, também, de A Greve (Stacka, U.R.S.S., 1924) e de O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, U.R.S.S., 1925).

         Tais particularidades são tão fortes e pessoais, que qualquer indivíduo afeiçoado ao cinema, depois de conhecer um de seus filmes ou parte de um deles, tem condições de identificar, de imediato, sua autoria.

         Eisenstein, como nenhum outro, imprime à sua obra o tonus e o significado mais profundo dos fatos, transmitindo, por força disso, sua atmosfera e ambientação. Seu realismo não se limita, como usualmente ocorre, a captar apenas a realidade, mas, captando-a, em imprimir-lhe − mais do que exprimir-lhe − um sentido, que preexiste ao momento enfocado e persiste depois.

         As pessoas que desfilam, agem e atuam frente às câmeras não parecem representar simples personagens ou atores encarnando figuras de ficção, mas, os próprios responsáveis pelos eventos.

         Não se tem a impressão de se assistir a uma narrativa, a uma reconstrução ou equivalência dos fatos, mas, à própria realidade explodindo viva, presentificada, na tela. Assim, por pautar-se por acentuado grau de realismo, objetividade e verossimilhança, Outubro insere o espectador no vórtice dos acontecimentos, fazendo-o sentir-se como se os estivesse presenciando no momento em que se desenvolvem.

         O filme, por isso, não é documentário e nem configura ficção, inserindo-se num tertius genus, que apreende a realidade significante e significada, extrapolando os limites documentais de fatos apenas mostrados e a construção, normalmente livre, arbitrária e subjetiva, de entrecho ficcional.

         Se Eisenstein, tanto em Outubro, como nas demais obras citadas, se atém à impositiva faticidade, a ela acrescenta a criatividade do artista e, sem transfigurá-la ou mistificá-la, a constrói, muito mais do que a reconstrói, em toda riqueza de sua complexidade momentânea e simultaneamente histórica.

         Contudo, para conseguir erigir sua epopeia cinematográfica, sacrifica todo didatismo e repele qualquer esquematismo, pelo que só quem viveu os fatos ou deles já possui alguma informação está apto a acompanhá-los e entendê-los, nem que seja parcialmente.

(do livro Clássicos do Cinema Mudo. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2003)

______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando mensalmente desde setembro último um livro no blog: https://guidobilharinho.blogspot.com.br.

domingo, 29 de outubro de 2017

Transporte coletivo em Uberaba

Transporte coletivo em Uberaba
Década: 1940

Essa modalidade de transporte, em Uberaba, teve início no começo da década de 1940 e foi consolidada com a inauguração da primeira Estação Rodoviária, em 1945, na Praça da Bandeira (atual Praça Doutor Jorge Frange), no bairro São Benedito.

Os pioneiros do transporte coletivo municipal foram os empresários Agesípolis Duarte Villela, por meio da empresa Rex, e Manoel Alcalá, cuja empresa tinha o seu nome, que já atuavam no transporte coletivo intermunicipal.

No início da década de 1950, Osvaldo Ribeiro do Nascimento, popularmente chamado de Espeto, comprou a firma de Alcalá que passou a se chamar Empresa de Tranportes Líder. Na primeira metade da década de 1960, surgiu a Transportes Urbano Limitada (TUL), criada por Francisco Lopes Velludo.

Vale ressaltar que cada empresa ficava com determinadas linhas, portanto, nesse período, Uberaba contou com 3 empresas em atividades no transporte urbano. Na segunda metade da década de 1960, a TUL incorporou as empresas Rex e Líder, monopolizou o ramo e manteve o nome “Líder”.

Posteriormente, essa empresa – que atuou no transporte coletivo, em nossa cidade, até 1990 –foi vendida para 10 sócios. Por divergências entre o município e a empresa, a partir dessa data até os nossos dias, a Transmil é a concessionária do Transporte Coletivo em Uberaba.

Foto: Autoria desconhecida


(Arquivo Público de Uberaba)


Cidade de Uberaba

Getúlio Vargas durante churrasco oferecido na Fazenda Experimental em Uberaba (Antiga Fazenda Modelo, atual EPAMIG)


Getúlio Dornelles Vargas e  Juscelino Kubitschek - Foto:Década de 1950

Presidente Getúlio Vargas escreve carta aos pecuaristas e ao povo de Uberaba

Em campanha eleitoral, Vargas discursa em Uberaba na Praça Rui Barbosa. Como criador de gado, o gaúcho concentra promessas na maior vocação da cidade - a pecuária zebuína. Leia, a seguir, parte do texto oficial:

"(...) Daqui do grande centro de criação que deu ao Brasil o seu único tipo nacional de bovino, devo falar aos criadores do Brasil Central, e quero que saibam que lhes vou dizer as coisas na linguagem simples de companheiro. Porque também sou, no meu registro de profissão, um criador de gado, de gado tenho tratado desde o tempo da juventude e, se preciso for, direi que por três ou quatro gerações cuidamos, na minha família, da pecuária. Assim, esta nossa conversa será no jeito e estilo daquelas que os fazendeiros costumam fazer de pé, junto à porteira do curral". (...) Lutando contra acatadas opiniões que combatiam a introdução e a criação de gado zebu no Brasil, os fazendeiros do Triângulo Mineiro, galvanizados pelas próprias convicções e apoiados exclusivamente no seu trabalho e nos próprios recursos, mobilizados destemerosamente, arrostaram todos os percalços da tremenda luta que se feriu e que, afinal, lhes conferiu inconteste vitória. De então pra cá, o Brasil Central passou a ter expressão econômica. Graças a um pugilo de pioneiros, à sua decisão e tenacidade, o zebu começou a povoar os campos e cerrados desta região do país, transformando-a de uma vasta solidão inaproveitada, que era então, no grande reduto econômico e francamente ativo da atualidade. Aí então, para atestar essa metamorfose, as esplêndidas cidades de hoje, que vieram substituir os velhos e arruinados arraiais dos antigos tempos. E Uberaba passou a exercer o magnífico papel de centro irradiador do novo sangue bovino, que determinaria, em breve, o levantamento racial da maior parcela do rebanho nacional.

Fonte: Discurso proferido em campanha eleitoral de 1950, destacando como uma das metas prioritárias de seu Governo a ampliação da atividade pecuarista. (Arquivos CPDOC/FGV p.86 e 94)

Igreja de São Domingos em construção

Dormitório do Convento de São Domingos, ainda em construção. Janeiro de 1939.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)




Frei Alberto Chambert, construtor do novo convento.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Manuscrito da primeira história da missão dominicana no Brasil,em 1872.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Antiga portaria do convento de São Domingos,com saída para a rua Dr.Lauro Borges.


(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Igreja de São Domingos em 1906.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)

Igreja de São Domingos em construção.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)



Ano: 1902

Foto Autoria desconhecida

Em 1881, os poucos sacerdotes dominicanos que se instalaram em Uberaba realizavam os ofícios religiosos e os trabalhos pastorais na igreja de Santa Rita, que tratamos no artigo do mês anterior. Por conta do aumento do número de pessoas que ingressaram naquela comunidade, iniciou-se em 1889 a construção de uma igreja dedicada a São Domingos que seria inaugurada em 1904, ainda que inacabada (sem as torres e abóbadas centrais). Importante destacar que a igreja foi construída após a abolição da escravidão (1888) e praticamente após a proclamação da República – com o melhor do espírito livre e republicano próprio dos dominicanos. É sintomático que sua inauguração tenha sido feita sob o canto do Hino Brasileiro, da Marcha Pontifical e da Marselhesa (hino da França, mas sobretudo do espírito de liberdade, igualdade e fraternidade).

Com a criação da Diocese de Uberaba, realiza-se, em 1908, a posse de nosso primeiro bispo, D. Eduardo Duarte Silva, entre as paredes e sob o patrocínio de São Domingos. Ambos sacerdotes, peregrinos e servos neste vasto mundo. Atualmente a Paróquia de São Domingos serve também como Casa do Noviciado da Ordem dos Pregadores e possui como pároco Frei Luís Antônio Alves.



Apesar do projeto arquitetônico ter sido inspirado em grandes catedrais da Europa, a construção ganhou um toque bem mineiro. Todo o revestimento externo da igreja foi feito com tapiocanga, que é encontrada facilmente na região do Triângulo Mineiro. "Eles até pensaram em rebocar a fachada, mas viram que ela ficou muito bonita e diferenciada", revelou a historiadora Marta Zednik Casanova.

A Igreja São Domingos é a terceira mais antiga de Uberaba. Segundo a história, os padres dominicanos chegaram a cidade a caminho de uma missão, com o objetivo de educar e evangelizar.



Victor Lacerda

Foto do Arquivo dos Frades Dominicanos de Toulouse (França)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Igreja de Santa Rita, em Uberaba

Igreja de Santa Rita
Foto: década 1970

Foto: Autoria desconhecida

Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa, em 1854 mandou construir a capela, que mais tarde, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939.


                 Clique no link no vídeo:

Igreja de Santa Rita. Video: Antonio Carlos Prata.


Nela está instalado o Museu de Arte Sacra (MAS), inaugurado em maio de 1987. O acervo, rico em peças barrocas dos séculos XVIII e XIX, conta a história da Igreja Católica na região. Muitas peças são provenientes de doações da Cúria Metropolitana, sobressaindo-se as seções de vestes sacras, estandartes de procissões, paramentos, alfaias, imagens e mobiliário.


(Foto do arquivo dos Irmãos Dominicanos)

sábado, 21 de outubro de 2017

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro

Ano: 1971

Foto: Autoria desconhecida

Anteriormente denominada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) fundada em 1953, deu origem à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) no ano de 2005. Desde então, a universidade vem criando novos cursos e hoje conta com mais de vinte cursos, se destacando nas áreas da Saúde e Engenharias. A UFTM também possui uma biblioteca, além de um Complexo Hospitalar.


(Foto do acervo da Universidade Federal do Triangulo Mineiro – UFMT)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Catedral do Sagrado Coração de Jesus - Uberaba

Praça Rui Barbosa


"É o mais antigo logradouro público de Uberaba, pois, foi na sua parte inferior que se começou a edificação do primeiro prédio que Uberaba teve. Dele partem as seguintes ruas, a saber, canto inferior direito, a Coronel Manuel Borges; centro, a Artur Machado. Esquerda, a Vigário Silva, lado sul, ao meio, a rua de Santo Antônio. Canto superior direito, a rua Olegário Maciel e superior esquerdo, a rua Tristão de Castro; lado norte, no meio, a rua São Sebastião. É inteiramente calçada a paralelepípedos e com luxuoso jardim à frente da Catedral do Bispado. Nos alinhamentos em diferentes lugares ficam o Paço Municipal, hoje Prefeitura, o Teatro São Luís e custosos prédios particulares. Primitivamente chamava-se ‘Largo’, mais tarde ‘Largo da Matriz Nova’, ‘Largo da Matriz’, praça ‘Afonso Pena’ (1894-1916) e finalmente praça Rui Barbosa." (PONTES, 1970, p.287).

                                          
Catedral do Sagrado Coração de Jesus

Praça Rui Barbosa

Época da imagem:  Década de 1920

A primeira Capela construída na região de Uberaba data de 1807, nas Cabeceiras do Córrego do Lajeado, Arraial da Capelinha, nas terras de propriedade de José Francisco de Azevedo. Em 1812,  as imagens de Santo Antônio e São Sebastião, os padroeiros, foram entronizadas.

                Com a mudança, em 1815, dos moradores do Arraial da Capelinha para o novo Arraial da Farinha Podre, Uberaba atual, o Sargento-Mor, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio) construiu uma nova Capela, na Praça Frei Eugênio, com a mesma invocação de Santo Antônio e São Sebastião, sendo benzida e liberada para as cerimônias religiosas, em 01 de Dezembro de 1818. Em 02 de Março de 1820, com a instalação da Freguesia, esta Capela foi elevada à Categoria de Paróquia, e constituída em primeira Matriz.

                A capela foi demolida e uma outra construída no mesmo lugar, pelo Vigário Silva. Foi inaugurada em 20 de Janeiro de 1828, e serviu ao culto até 1856. A atual Igreja Matriz teve as obras iniciadas em 1827. Com a morte do Major Eustáquio, em 1832, as obras ficaram paralisadas por vários anos.

                Vindo residir em Uberaba, em 1847, Antônio Borges Sampaio encontrou a Matriz nova inacabada, tendo apenas o telhado sobre os esteios e baldrames de aroeira, sem paredes nem assoalhos. Em 1848. o Cap. Joaquim Antônio Rosa retomou a sua construção cujas obras prosseguiram até 1856, sendo já celebrados na mesma, os ofícios religiosos. Esta Igreja passou por várias reformas e melhorias: 

-              1857 – Frei Eugênio construiu a Sacristia e o Adro.
-              1859 – Joaquim Francisco Ananias construiu as duas torres, o coro, o arco-cruzeiro e o altar-mor.
-              1868 – As torres foram revestidas de tijolos, argamassa e óleo.

-              1874 – O relojoeiro Florêncio Forneri assentou o relógio em uma das torres.

-              1880 – Foram colocados dois sinos, fundidos em Uberaba, por José Carlos Onofre.

-              1889 – Vigário Carlos José dos Santos, ordenou uma pintura externa na Igreja.

-            1896 – As duas torres foram demolidas e edificada uma única torre, projetada pelo engenheiro Ataliba Vale, com características neogóticas.

-        1899 – Com a transferência da sede do Bispado de Goiás para Uberaba, a Igreja Matriz alcançou as prerrogativas de Catedral.

-              1907 – Com a inauguração da Igreja Sagrado Coração de Jesus (hoje Adoração Perpétua), para ser a Catedral, ela voltou a ser Matriz de Santo Antônio e São Sebastião.

-              1926 – Dom Almeida Lustosa, 2º Bispo de Uberaba, transladou a Igreja Catedral para a Matriz  de Santo Antônio e São Sebastião, com seu título de Sagrado Coração de Jesus, passando os Santos da primitiva Capela à Igreja da Adoração Perpétua.

-              1933 – A matriz passou por sua última reforma total, permanecendo como está  até  os dias atuais. Foram acrescentados um transepto, capelas laterais e modificações no frontespício. O arquiteto responsável pelas obras foi Emanuel Giani.


Atualmente é cercada por grades de ferro, tendo à frente a Imagem  de Cristo e nas laterais as imagens de Santo Antônio e São Sebastião.

(Superintendência do Arquivo Público de Uberaba)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

JORGE HENRIQUE PRATA SOARES

(1944-2010)

Pratinha e o Festival do Chapadão


No início da Era dos Festivais, em meados dos anos 60, Jorge Henrique Prata Soares mexeu seus pauzinhos para que a mineira Uberaba também tivesse seus shows. Em 1966, ele organizou o Festival do Chapadão.

Dedicado à MPB e realizado em cinemas, nos moldes dos famosos concursos da Excelsior e Record, o evento acabaria tendo oito edições, conta a mulher, Letícia.
Houve até uma reedição, quando o festival fez 40 anos, só que sem o "brilho do primeiro", lembra a mulher.

Pratinha, como era conhecido, foi jornalista e chegou a ocupar o cargo de secretário de Turismo e Cultura de Uberaba, de 1971 a 1973.

Logo depois, dirigiu o Sindicato dos Jornalistas de Belo Horizonte até 1975, quando defendeu o registro para os profissionais que trabalhavam na área havia anos.

Passou por veículos mineiros e teve, nos anos 90, um jornal chamado "Uai", que era afixado dentro dos ônibus. Também foi dono de três bares, que tinham música ao vivo e lançamento de livros.
Nos últimos anos, dedicou-se a um livro sobre o bisavô, o dentista e fotógrafo José Severino Soares. Anos atrás, a família descobriu numa exposição do fotógrafo Marc Ferrez, no Instituto Moreira Salles, em SP, uma foto dos índios bororos idêntica a uma tirada por Severino.

Tanto a família como o instituto dizem ter o negativo da foto, mas até hoje sua autoria continua uma incógnita.

O livro ficou pronto, mas Pratinha não teve tempo de lançá-lo. Há seis meses, descobriu um câncer. Morreu no sábado, aos 66, deixando viúva, três filhas e seis netos.


Estêvão Bertoni 

Rua Tristão de Castro, em 1908

Rua Tristão de Castro, em 1908

Rua Tristão  de Castro -  década de  1960

A Rua Tristão de Castro "começa no canto superior direito da Praça Rui Barbosa e finaliza na Rua Triângulo Mineiro - atual Av. Alberto Martins Fontoura Borges.

Desde a sua formação anteriormente a 1880, já se conhecia pelo nome de rua Azagaia, ou simplesmente, do 'Zagaia', nome este derivado da semelhança do terreno em que essa via se desenvolveu, com os campos do conhecido Chapadão do Zagaia, ao sul do arraial do Desemboque.

A comissão recenseadora de 1880 contemplando-a com o nome de ‘Antiga rua do Azagaia', deu-lhe, todavia, o nome de 'Rua de São Miguel', que o Tenente Coronel Sampaio mudou para Tristão de Castro, em lembrança de Tristão de Castro Guimarães, doador do patrimônio do Arraial da Capelinha, nas cabeceiras do Lajeado dos Ribeiros." (PONTES, 1978, p.299-300).

Foto editada por Marcellino Guimaraes


(Arquivo Público de Uberaba)