Mostrando postagens com marcador Guido Bilharinho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Guido Bilharinho. Mostrar todas as postagens

domingo, 3 de janeiro de 2021

SÓCRATES, AUTOR DE AUTOAJUDA? (II, Conclusão)

A respeito do diálogo mantido por Sócrates com Aristodemo, Xenofonte conclui que “assim falando, Sócrates ensinava seus discípulos a se absterem de toda a ação ímpia, injusta e reprovável” (idem, idem, p. 51).

Sócrates exorta seus interlocutores a cultivar a temperança (p. 53), a se desviar da fatuidade (p. 57), de que “não há mais belo caminho para a glória que um homem de bem ser o que realmente deseja parecer” (p. 57) ou “nada haver mais perigoso para um homem que dar-se por mais rico, mais forte, mais corajoso do que realmente é” (p. 57).

Além disso, “Sócrates afazia seus discípulos à abstinência em face da boa carne, do vinho, da lubricidade, do sono, e à resistência ao frio, ao calor, à fadiga” (p. 61), ao respeito aos pais (p. 67), à amizade (p. 71, 75 e 77) ou que “as almas tacanhas compram-se com presentes. As almas generosas conquistam-se com mostras de amizade” (p. 72).

No decorrer de seus diversos diálogos, Sócrates aconselha, exorta e opina sobre série de questões, comportamentais a maioria, como trabalho, estudo, saber, participação política, coragem, inveja (“apelidando invejosos os que se afligem com a felicidade dos amigos”, p. 118), ociosidade, má constituição física e fortalecimento do corpo por meio de exercícios, grosseria, viver com moderação, presunção, bens e males, felicidade, justiça, prática do bem, sabedoria, coragem, piedade, beleza, utilidade dos conhecimentos, etc..

O que caracteriza mais fortemente a pregação socrática é, pois, a felicidade das pessoas e a utilidade das atitudes e comportamentos, princípios básicos da autoajuda, sendo sua própria existência e pregação balizadas por essas diretrizes, a ponto de Xenofonte observar que “tão útil era Sócrates em todas as ocasiões e de todas as maneiras, que até as inteligências medíocres facilmente compreendiam nada haver mais vantajoso que seu comércio e frequentação” (op. cit., p. 133).

Na introdução ao volume sobre Platão da coleção “Os Pensadores”, reconhece-se por isso, que Sócrates “se preocupava antes com o desencadeamento do conhecimento de si mesmo e não propriamente com definições de conceitos” (p. XI), sendo que filosofar é principalmente definir, conceituar, teorizar.

Já nos diálogos platônicos de O Banquete e Fédon, por exemplo, nos quais Sócrates é personagem e discorre longa e largamente sobre diversas questões perspectivadas teórica e genericamente, percebe-se sua diametral diferença com os diálogos simples colhidos por Xenofonte, que pretende o mais possível ser fiel às palavras socráticas (“Como Sócrates me parecia ser útil a seus discípulos, já pelo procedimento, já pela palavra, eis o que passo a relatar, alinhavando o melhor que possa minhas recordações”, p. 45).

À evidência, conforme registrado nos estudos respectivos, essa diferença demonstra que o Sócrates dos diálogos platônicos é tão só Platão, que desenvolve teorização própria em conteúdo e profundidade conceitual muito além da exposta nos diálogos socráticos de Xenofonte.

*

Por sua prática conselheiral contumaz, Sócrates é ridicularizado por Aristófanes em As Nuvens (constante do mesmo volume da coleção citada), a ponto do Coro, dirigindo-se a ele, apodá-lo de “sacerdote de tolices sutilíssimas” e acusá-lo de que “se pavoneia pelas estradas, lança os olhos de lado, anda descalço, suporta muitos males, e, por nossa causa, finge importância” (versículo 360, p. 184), até atingir a vexaminosa passagem ínsita entre os versículos 385 a 395 (p. 196).

*

A natureza de autoajuda da militância e prédica de Sócrates foi observada e inferida por Nietzsche, quando afirma que Sócrates “viu o que estava por trás de seus atenienses nobres; compreendeu que seu caso, a idiossincrasia de seu caso, já não era mais um caso excepcional. A mesma espécie de degenerescência se preparava por toda parte em silêncio: a velha Atenas caminhava para o fim. E Sócrates entendeu que todo mundo necessitava dele – de seu remédio, sua cura, seu artifício pessoal de autoconservação... Por toda parte os instintos em anarquia; por toda parte se estava a cinco passos do excesso [....] Quando aquele fisionomista [Zópiro, considerado criador do método fisiognômico, segundo Rubens Rodrigues Torres Filho] revelara a Sócrates quem ele era, um antro de maus apetites, o grande ironista deixou escapar uma palavra, que dá a chave para entendê-lo. “Isso é verdade”, disse ele, “mas eu me tornei senhor sobre todos eles”. Como se tornou Sócrates senhor sobre si? Seu caso era, no fundo, apenas o caso extremo, aquele que mais saltava aos olhos, daquilo que naquele tempo começava a se tornar a indigência geral: que ninguém mais era senhor sobre si, que os instintos se voltavam uns contra os outros. Ele fascinava por ser esse caso extremo – sua amedrontadora feiúra enunciava esse caso para cada olho: ele fascinava ainda mais fortemente, como é fácil entender, como resposta, como solução, como aparência de cura para esse caso [....] ele parecia ser um médico, um salvador.” (Crepúsculo dos Ídolos, § 9 e 11, in Nietzsche, coleção “Os Pensadores”. São Paulo, Abril Cultural, 1978, p. 330).


Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


SUPLEMENTO CULTURAL DO CORREIO CATÓLICO

Em 1º de julho de 1968 foi publicado o primeiro dos quarenta números do “Suplemento Cultural do Correio Católico”, em forma de tabloide anexo ao jornal diário da Cúria Metropolitana da Igreja Católica da então diocese de Uberaba, jornal que anteriormente, ainda nessa década de 1960, mantivera excelente página cultural, criada e dirigida pelo jornalista César Vanucci, então redator do jornal.

A partir de sua fundação e no decorrer dos quatro anos seguintes, o Suplemento erigiu-se em espaço, o único em Uberaba e na região do Triângulo, para manifestação da intelectualidade uberabense, notadamente nas áreas de literatura (contos, poemas, crítica literária e artigos em geral), cinema (artigos, reportagens e noticiário), teatro (depoimentos de diretores teatrais) e permanente noticiário cultural geral.

Em torno do Suplemento reuniu-se e consolidou-se articulado grupo de intelectuais oriundos do Cine Clube de Uberaba que, sem ele, sem seu espaço de manifestação e, automaticamente, de incentivo e chamamento, não teriam se dedicado à criação e à produção artística, pelo menos na intensidade e modernidade manifestadas.

O grupo, com isso e a partir daí mais se estratificou, atingindo autonomia, que o encerramento quatro anos depois do Suplemento não o abalou nem afetou. Ao contrário, propiciou a criação de novo espaço cultural nas edições da revista “Convergência”, da ALTM, de seus números 2 a 7, de 1972 a 1976, daí se projetando e atuando, por seus poetas, por duas décadas nas páginas da revista de poesia “Dimensão” (1980-2000), culminando com edição, em 2003, da antologia-ensaio “A Poesia em Uberaba: Do Modernismo à Vanguarda”.

O Suplemento, porém, não se caracterizou e se destacou apenas pelo espaço cultural que estabeleceu e nem pela reunião, articulação, participação e produção daí em diante do referido grupo de intelectuais.

Além disso e da atualização do pensamento intelectual uberabense, o Suplemento propiciou, permitiu, incentivou e suscitou a descoberta e o interesse pela “História de Uberaba”, descortinando e enfatizando sua importância no que antes era somente cultivado e sabido por três ou quatro historiadores e desconhecido, ignorado e até desprezado pelos professores secundaristas de História, que, por sua vez, em sua própria formação, nunca tiveram orientação e informação nesse sentido e nem esse tema era objeto dos currículos escolares.

Essa contribuição se deu mediante a publicação e destaque propiciado ao capítulo “O Intelectualismo em Uberaba”, extraído diretamente dos originais manuscritos da notável “História de Uberaba”, de Hildebrando Pontes, guardados na Secretaria da Prefeitura, detentora dos direitos autorais desde 1934, sem que ninguém, no curso das décadas seguintes, tomasse a iniciativa de publicá-los. Nem mesmo, o que é surpreendente, por ocasião das entusiásticas comemorações, em 1956, do centenário de elevação da vila de Uberaba à categoria de cidade.

Contudo, essa publicação e sua repercussão chamaram a atenção para a referida obra e desencadearam interesse e tratativas entre a editoria do Suplemento, a ALTM, na pessoa de Edson Prata, e o então prefeito João Guido para proceder sua edição após 36 (trinta e seis anos) esquecida e relegada aos escaninhos da Prefeitura.

Por sua vez, numa reação em cadeia, a publicação do livro em 1970 provocou série de outras iniciativas na área dos estudos históricos e criação de órgãos públicos municipais de natureza cultural, a exemplo da Fundação Cultural e do Arquivo Público de Uberaba.

Percebe-se, pois, que sem a existência do Suplemento – cuja coleção completa consta do blog bibliografiasobreuberaba.blogspot. - o desenvolvimento cultural e artístico uberabense desde sua implementação em 1968 seria diferente e, certamente, menos produtivo e qualificado.


Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no bloghttps://guidobilharinho.blogspot.com.br/


sábado, 19 de dezembro de 2020

Avenida: Dr. Leopoldino de Oliveira

Conheça o Patrono da Sua Rua


Avenida: Dr. Leopoldino de Oliveira    CEP.: 38010-000 a 38081-202


Nome da principal avenida da cidade,


Nome: Leopoldino de Oliveira


Nascimento: 18 de junho de 1893


Naturalidade: Uberaba - Minas Gerais


Filiação: Joaquim José de Oliveira e de Leopoldina Augusta de Oliveira. 


Casado com: Maria Olímpia de Oliveira.


Profissão: Advogado



Leopoldino de Oliveira se formou em Direito em Belo Horizonte, em 1915. Depois de trabalhar na capital no jornal "A Tarde", ele voltou a Uberaba e instalou um escritório de advocacia.


Além de advogar, Leopoldino também foi diretor do colégio Rio Branco e ainda trabalhou nos jornais "Lavoura e Comércio", "Gazeta de Uberaba" e "A Separação".


Leopoldino também atuou na política uberabense como líder partidário, vereador e presidente da Câmara Municipal. Iniciou a carreira política ao ser eleito vereador em sua cidade natal, o que o levou a ser agente executivo (prefeito) em 1923. Ainda nesse ano, em eleição suplementar, foi eleito deputado federal por Minas Gerais. Tomou posse de sua cadeira na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em maio e exerceu o mandato até dezembro do mesmo ano. Reeleito para a legislatura 1924-1926, permaneceu na Câmara até dezembro de 1926. Faleceu em 1929, aos 37 anos.

Segundo o historiador e advogado Guido Bilharinho, ele se preocupava com o saneamento de Uberaba e com a melhoria dos serviços de energia. Além de idealizar a abertura da Avenida Central da cidade que, até 1928, era apenas fundos de quintais de imóveis em ruas paralelas. No mesmo ano, uma lei municipal autorizou a desapropriação de alguns terrenos para a abertura da Avenida entre a Rua Artur Machado e o Mercado Municipal de Uberaba, seguindo o leito do Córrego das Lajes. Então, nessa época, foi criada a Avenida Leopoldino de Oliveira. A avenida tem cerca de 6 km de extensão, segundo a Prefeitura.



Fonte: Documentos e Certidões e publicações no colégio Rio Branco Jornal Gazeta de Uberaba,Guido Bilharinho, Prefeitura Municipal de Uberaba.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

AINDA A FARSA DO ANIVERSÁRIO DE “200 ANOS” DE UBERABA

Oi, turma !

(As mentiras podem ser nuas, mas, as verdades precisam estar vestidas...)


Mil perdões aos amáveis leitores em continuar contando a forma grosseira, estúpida, covarde e mentirosa, como a funcionária do Arquivo Municipal, Aparecida Manzan, atendendo a um destemperado e inexplicável pedido do então prefeito, Luiz Guaritá Neto, alterando data de elevação de Uberaba a condição de CIDADE, em sublime humilhação, retroagindo a FREGUESIA. O prefeito, na ânsia de obedecer a um pedido superior ( de quem ? ninguém sabe...), enviou à Câmara de vereadores, uma PEC (Projeto de Emenda Constitucional), alterando o art.194, da LOM (Lei Orgânica dos Municípios), acatando a Lei Provincial no.759, de 2 de maio de 1856, em franca desobediência a uma Lei maior. Ninguém se deu conta em apresentar uma ADIN (Ação de Inconstitucionalidade), visto que, “Emenda Constitucional só se dá em projetos estaduais e federais que alterem ou modiquem suas Constituições. “Comeram mosca” nossas autoridades jurídicas, ou “fizeram de conta” no que seria” Lei Orgânica”...

O Presidente da Câmara, Ademir Vicente Silveira, de acordo com Luiz Neto, acolheu o pedido, desprezando o “Parecer do Departamento Jurídico do Legislativo (Marcelo Alegria, William Martins da Silva e Sylvio Roberto dos Santos Prata, falecido)”, contrário à solicitação, pois, 2 de maio, era data consagrada e feriado municipal e portanto, inconstitucional. Ademir Vicente, ignorou o douto Parecer de sua Assessoria Jurídica e continuou a tramitação. O arrazoado de Aparecida Manzan, não se sustentava. Chulo, se baseava apenas num Decreto real, de D.João VI, de 2/3/1820, criando a FREGUESIA de Uberaba, numa vaga e fantasiosa justificativa.

Em momento algum, a funcionária citou ou fez menção aos historiadores uberabenses, Gabriel Toti, Hildebrando Pontes, José Mendonça, Edelweis Teixeira e ou Guido Bilharinho, que nos seus livros, registravam referidas datas como FREGUESIA (2 de março) e CIDADE ( 2 de maio). Um decreto real de 1820, não pode sobrepor a uma Lei Provincial no.759, de 2 de maio/1856. Outra “justificativa” marota, Aparecida Manzan, afirma, textualmente, “ a lei Provincial de 2/5/1856, elevou a FREGUESIA de Uberaba , definitivamente, a CIDADE.” Em outro trecho, ela escreve” apesar de 2 de maio ser o dia do município, em razão da importância que tomou a Exposição Agropecuária, SUGIRO a data 2 de março , que se comemora a FREGUESIA, como data de fundação de Uberaba”...

Se precisar de uma sugestão infantil e tola, esta não serve...A subserviência funcional chegou ao extremo ! Dizer que a Expozebu, é mais importante que Uberaba, é de lascar ! É bom lembrar que, 3 de maio, quando da inauguração da Expô, nunca foi nem “ponto facultativo. Hoje, essa data não é mais preservada. Para “ tirar o seu do rumo”, o presidente Ademir Vicente, convidou diversas entidades e personalidades à discutir o assunto.

Entre outros, a Secretária de Educação, o professor Carlos Pedroso, Fundação Cultural, OAB, Arquivo Público, ACIU, ASSIDUA, CDL, Presidente da Associação de Bairros. Convites foram endereçados à reunião de 18 de agosto de 1994, as seguintes pessoas e entidades: Erwin Pulher, Eduardo Colombo (ACIU), Carlos Pedroso, Luiz Neto, Jorge Nabut, Guido Bilharinho, Sônia Fontoura, Flavo Canassa, Lauro Guimarães e Ademir Vicente, presidente da Casa. Dos 18 convidados, apenas 12, compareceram.
Posteriormente, em 20/12/94, esses mesmos nomes foram novamente convidados. Compareceram: Guido Bilharinho, Erwin Pulher, Eduardo Colombo, Aparecida Manzan, Antonieta Borges, Sônia Fontoura, Flavio Canassa e Lauro Guimarães. Apenas 8 (oito ). Nos autos do processo em meu poder, não há menor manifestação, a favor ou contra, dos acima citados. Oportuno esclarecer; nenhuma AUDIÊNCIA PÚBLICA, conforme o regimento da Câmara, foi convocada pelo Presidente da edilidade. O povo não teve a menor participação.

O projeto foi aprovado em 1ª. Discussão, em 23 de dezembro, véspera do Natal, em reunião convocada extraordinariamente. Amanhã, completo as demais informações. Abraços do “Marquez do Cassú”.


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

PATRIMÔNIO CULTURAL DE UBERABA: OS LIVROS AS ARTES AS CIÊNCIAS

Guido Bilharinho


O patrimônio cultural de uma comunidade, seja local, regional ou nacional, é representado pelo conjunto de suas manifestações artísticas, científicas e técnicas.

O livro em epígrafe consta dos blogs guidobilharinho.blogspot.com e bibliografiasobreuberaba.blogspot.com e abrange algumas de suas áreas mais relevantes, consistentes na produção intelectual materializada pela elaboração e edição de livros, físicos ou eletrônicos, além de músicas, artes plásticas, filmes e visuais.

Representa, tal cometimento, a primeira tentativa de levantamento dessa produção intelectual, constituindo provavelmente iniciativa pioneira no país, à semelhança de tantas outras promovidas em Uberaba, a exemplo da “História do Futebol” (1922), do “Sistema Fluvial de Uberaba e Região” (década de 1920), do “Dialeto Capiau” (inícios dos anos 30), do vade mecum das leis municipais (1934) – todos da lavra do historiador e polígrafo Hildebrando Pontes – da enciclopédica “História da Medicina em Uberaba”, de José Soares Bilharinho, e de “Periódicos Culturais de Uberaba”, de Guido Bilharinho.

Ao que se sabe, nenhuma outra cidade brasileira possui em seu portfólio cultural, artístico e científico, conjunto de obras e iniciativas dessa jaez.

A esse grupo de realizações intelectuais vem se juntar, agora, o presente inventário de sua produção livresca, artística e científica, setor por setor, área por área, com um mínimo de indicações necessárias a seu situacionamento autoral, temporal e material.

As características mais notáveis dessa produção intelectual são suas extraordinárias multiplicação e diversificação, notadamente de 1960 em diante, apresentando também, e cada vez mais, acentuado aumento de sua qualidade, imposto pelo natural desenvolvimento econômico-sócio-cultural da coletividade, cada vez mais exigente e necessitada de obras e realizações também cada vez mais aprimoradas, intelectual, científica e tecnicamente, aliás, como em todos os setores da vida privada e da administração pública, esta ainda muito enredada nas peias burocráticas, que ela própria se impõe, que não só prejudica e constrange sua eficácia como afeta diretamente toda a coletividade que, por sua atuação e produtividade econômica, a sustenta.

Contudo, apenas essa produção e, agora, seu levantamento e inventariação não bastam.

Necessário também que as duas unidades básicas da formação humana, da aquisição de conhecimento e do saber e da atividade intelectual - o núcleo familiar e os estabelecimentos de ensino - se conscientizem, se empenhem e se dediquem, com deliberação e propósito, metódica, consistente e permanentemente a transmitir, difundir e despertar em crianças e jovens os princípios da valorização e da imprescindibilidade do estudo, da leitura, do conhecimento e do saber, no que, de modo geral, vêm falhando lamentavelmente.

Do mesmo modo, conquanto atuando em esfera diversa, os meios de comunicação também devem ter a responsabilidade de atuar nesse sentido, procurando o mais possível se libertar das imposições da indústria do entretenimento, que privilegia o ter em contraposição ao ser e o descompromisso e o alheamento ao invés da responsabilidade e do engajamento social.

*
O citado livro não implica em análises e críticas sobre a produção intelectual uberabense, porém, tão somente em efetuar seu levantamento.

À evidência que, embora se tenha sempre, em cometimentos dessa natureza, a pretensão e o objetivo de se atingir e registrar a totalidade dessas manifestações, sabe-se não ser isso possível, pelo menos inicialmente e mesmo a médio prazo, dada a inexistência desde sempre de órgãos públicos ou particulares preocupados e dedicados à sua reunião e conservação, pelo que, com o passar do tempo, inúmeros livros físicos desapareceram ou foram parar em lugares incertos e não sabidos, além do que nunca houve – e nem se sabe se haverá – acompanhamento e registro, por exemplo, da enorme produção musical e de artes plásticas, submetida que está a permanente dispersão, dissolução, destruição e definitivo desaparecimento, constituindo inominável afronta e ofensa a seus autores e irremediável desfalque e perda para a sociedade, que a não poderá usufruir e dela se beneficiar.

======================
Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

GEÓLOGOS UBERABENSES: PEDRO DE MOURA

Guido Bilharinho


Pedro de Moura formou-se, em 1925, pela Escola de Minas de Ouro Preto, indo trabalhar no Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. À semelhança do conterrâneo Avelino Inácio de Oliveira, também esteve na Amazônia, efetuando mapeamento das jazidas de carvão e de petróleo, sendo o primeiro a fazê-lo, e tanto e tão intensamente trabalhou na região que contraiu malária 12 (doze) vezes.

Pesquisou também a geologia e os recursos auríferos do Gurupi, dedicando-se por fim à geologia e à prospecção de petróleo no Brasil, sendo não só pioneiro de sua exploração, como, também, pioneiro no mapeamento geológico de carvão e petróleo na Amazônia, perfurando o primeiro campo comercial de petróleo do país, o campo de Candeias, havendo foto com o presidente Vargas com as mãos sujas de petróleo.

Relevante ainda foi sua atuação na Petrobrás, onde começou a trabalhar em 1954. Chefiou seus escritórios de Nova Iorque e Paris, sendo posteriormente superintendente (gerente executivo) de exploração da Petrobrás, onde, além de outras inúmeras medidas, promoveu a substituição de técnicos estrangeiros por técnicos nacionais, tendo, ainda, decisiva participação para que a estatal explorasse petróleo no mar.

Esteve na linha de frente contra as tendenciosas conclusões do Relatório Link (geólogo estadunidense Walter K. Link), que afirmou não existir petróleo no Brasil.

Pedro de Moura, na questão do petróleo, não atuou apenas na esfera estatal. Numa época em que no Brasil ainda se debatia se havia ou não petróleo no país (Monteiro Lobato desde a década de 1930 afirmava que havia), vendeu imóveis da família para investir em prospecções na Amazônia.

Entre ensaios técnicos e outros ensaios, Pedro de Moura é coautor, juntamente com Felisberto Carneiro, do livro “Em Busca do Petróleo Brasileiro” (1976), cujo título e tema já indicam seu propósito, significação e pioneirismo.

Sua contribuição à geografia no Brasil também foi assinalada pelo geógrafo José Veríssimo da Costa Pereira no livro e ensaio referidos no artigo anterior.

Por seu pioneirismo, ativa participação, contribuição e efetivação da prospecção, descoberta e exploração do petróleo no Brasil, Pedro de Moura vem sendo lembrado, cultuado e homenageado. Exemplo disso constitui a inauguração do Memorial Pedro de Moura – com a presença, entre outros, de seus filhos Ivã Lobato de Moura e Carlos Eduardo Lobato de Moura – em 08 de junho de 2001, na província petrolífera do rio Urucu, no Alto Solimões, a 600 (seiscentos) quilômetros de Manaus, passando, também, a partir de então a Base de Operações do Urucu ser denominada Base Geólogo Pedro de Moura.

==================

Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


GEÓLOGOS UBERABENSES: GLYCON DE PAIVA

Guido Bilharinho


O geólogo Glycon de Paiva é filho de Otávio Augusto de Paiva Teixeira, um dos formandos da única turma do legendário Instituto Zootécnico de Uberaba, e neto de José Augusto de Paiva Teixeira, o Casusa, que teve intensa atuação na Uberaba do último quartel do Século XIX, inicialmente como dirigente da tipografia do primeiro jornal uberabense, “O Paranaíba”, fundado pelo médico e escritor francês Henrique Raimundo des Genettes em 1874, depois como editor de inúmeros outros jornais e, por último, como político, chegando a ser Intendente (prefeito) no Conselho de Intendência empossado em 25 de janeiro de 1891, Conselho que desde 14 de fevereiro de 1890 substituiu a Câmara Municipal.

Glycon de Paiva, após fazer seus estudos colegiais em Uberaba, formou-se, como Avelino e Moura, na Escola de Minas de Ouro Preto.

Exerceu vários cargos no Departamento Nacional da Produção Mineral, sendo seu geólogo-chefe de 1934 a 1939. Chefiou, posteriormente, em 1943 e 1944, o Serviço de Produção Mineral da Coordenação da Mobilização Econômica, criado pelo Governo Vargas para promover a produção necessária à intervenção do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

Em 1947 foi delegado do Brasil à Conferência Preparatória do Comércio e Emprego realizada em Genebra/Suíça e à Conferência de Energia em Haia/Holanda, integrando, ainda nesse ano, a Comissão Especial nomeada pelo Governo Dutra para elaborar o anteprojeto do Estatuto do Petróleo, que acabou sendo arquivado após discutido no Congresso.

Em 1948 representou o Brasil no VIII Congresso Científico Panamericano em Washington/EE.UU. e na Conferência Internacional de Comércio e Emprego em Havana/Cuba, passando, ainda, a integrar o Conselho Nacional de Minas e Metalurgia, bem como, nesse ano e no seguinte, compôs a Comissão de Exploração Mineral da Comissão Mista Brasileiro-[Norte-]Americana de Estudos Econômicos, da qual foi relator geral e, ainda, relator das subcomissões de manganês, de minerais e de fosfato. Em 1951 foi assessor econômico da delegação brasileira à IV Reunião de Consultas dos Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas.

No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE (atual BNDES), criado pelo Governo Vargas, exerceu, a partir de 1952, inicialmente os cargos de diretor e, de 1954 a 1960, membro do Conselho Técnico de Economia e Finanças, ocupando, finalmente, sua presidência em 1955 e 1956.

Em 1955 foi ainda diretor da Companhia Vale do Rio Doce.

A partir de 1961 teve atuação participativo-política de tendência conservadora e contrária às diretivas autonomistas e nacionalistas do Governo Goulart, participando da organização e fundação, em 1962, do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – IPES, composta de empresários do Eixo Rio-São Paulo, sendo seu vice-presidente de 1962 a 1967, entidade que deixou de existir a partir de 1972, tendo atuado no golpe que depôs Goulart em 1964.

Na sua sempre intensa atividade, ainda integrou conselhos da Confederação Nacional do Comércio – CNC, da Mercedes Benz, da Siemens, da Confederação Nacional da Indústria – CNI, da Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração – CAEMI, da editora APEC e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo do prefeito carioca Israel Klabin.

Nem por isso tudo deixou de produzir livros e relatórios técnicos de alta significação e importância nas áreas abordadas, como “Carvão Mineral do Norte do Paraná” (1934, coautoria), “Gênese do Carvão do Norte do Pará” (1939), “Carvão Mineral de Barra Bonita e Carvãozinho – Estado do Paraná” (1941, coautoria), “Reavaliação das Possibilidades Petrolíferas do Brasil” (1962), “História da Campanha de Sondagens Para Pesquisa de Petróleo na Área de São Pedro” (1975), “Ouro e Bauxita na Região do Gurupi e Carvão Mineral do Piauí” (s/d), “A Defesa Nacional”, “Jazidas de Minério de Chumbo no Estado de São Paulo”, “Geologia do Município de Lajes – Santa Catarina”, além de relatórios de diversas das diretorias que ocupou e aproximadamente duas centenas de artigos sobre geologia, recursos minerais do Brasil, economia e demografia.

Por fim (mas não ainda tudo), à semelhança de Avelino e Moura, também sua contribuição à geografia no Brasil foi ressaltada pelo geógrafo José Veríssimo da Costa Pereira no ensaio anteriormente mencionado e constante de “As Ciências no Brasil”, obra em dois volumes organizada por Fernando de Azevedo.

===============

Guido Bilharinho - Advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

100 anos de Hélvio Fantato

Hélvio Fantato nasceu em Uberaba em 1920, tendo falecido em 1997.

Iniciou seus estudos na escola infantil ou jardim da infância, como se denominava, dirigida pela célebre professora Edite Novais França, cursando posteriormente a Escola de Comércio José Bonifácio, onde foi aluno dos renomados professores Amadeu Pascoalini, José Maciotti e Raul de Melo Resende, de quem, então, fez inúmeras caricaturas.

Hélvio Fantato - Foto/Divulgação


Em 1935 iniciou suas atividades comerciais, trabalhando com João Laterza, seu tio e pai do filósofo Moacir Laterza.

No decorrer de toda sua vida exerceu a profissão de comerciante, tendo montado em sociedade com seu primo Mozart Laterza e outros importante loja de material elétrico no quinto quarteirão da rua Artur Machado, na qual sempre atendeu no balcão.

Em 1942 iniciou, nas horas vagas, suas atividades de pintor, que daí em diante exerceu no decorrer de sua existência, legando considerável obra pictórica, posteriormente acrescida com trabalhos de escultura.

Destituído totalmente das excentridades e idiossincrasias de grande número de artistas, que se julgam acima de seus semelhantes, Hélvio Fantato caracterizou-se pela simplicidade de viver e afabilidade no trato pessoal.

A respeito, o arquiteto Demilton Dib, afirmou: “o que mais me fascina e alcança grande importância, além da obra em si, é a pessoa de Hélvio Fantato [...] Sua simplicidade, seu despojamento, o ‘fazer’ sem o menor conhecimento técnico, esse autodidata” (depoimento à Marisa Dexheimer, in “Hélvio Fantato Mostra Sua Obra Recente Amanhã”, Jornal de Uberaba, 25 abril 1990).

Por necessitar de espaço, tanto para exercitar sua arte quanto para acomodar e guardar o crescente número de quadros e esculturas, montou estúdio em imóvel situado na saída de Uberaba, nas proximidades da antiga estação ferroviária de Amoroso Costa, onde, entre outras, recebeu a visita do pintor Israel Pedrosa.

Aí, nesse refúgio artístico, cultivou sua arte pictórica e, à certa altura da vida, expandiu-a consideravelmente com a dedicação à escultura.

Exposições Individuais

Na sua modéstia e nenhuma pretensão de publicidade e de aplausos, contentando-se e atendo-se tão somente às imposições vocacionais e ao prazer da criação artística, Hélvio nunca se propôs a expor seus quadros e, muito menos, a organizar exposições para essa finalidade, aptidão que, de resto, não tinha.

Contudo, conhecedores e admiradores do valor de sua obra se propuseram a esse cometimento, promovendo dela algumas marcantes e significativas exposições.

Jóquei Clube de Uberaba - 1964

Promovida principalmente por Paulo Sousa Lima e José Sexto Batista de Andrade, este então vice-presidente do Clube, grandes animadores das artes em Uberaba.

Nessa mostra, segundo Jorge Alberto Nabut, “vende o primeiro quadro [.... o que] veio modificar um pouco o seu modo de encarar sua obra, mesmo não tendo abandonado o hábito de doá-las” (“Hélvio Fantato: A Arte de Fazer Arte Sem Nunca Ter Estudado Arte”, Jornal da Manhã, 18 abril 1976).

Nessa exposição vende nada menos de 15 (quinze) quadros dos 25 (vinte e cinco) expostos.

Livraria Ponto de Encontro - 1968

Nessa livraria foram expostas 13 (treze) quadros.

Folha de S. Paulo – Novembro 1968

Na galeria desse jornal paulistano realizou-se exposição de seus quadros.

Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1969

Outra exposição de sua obra no Jóquei Clube de Uberaba.

Jóquei Clube de Uberaba – Outubro 1974

Nova exposição de quadros de Hélvio, com grande afluência de público, foi idealizada por Jorge Alberto Nabut, então coordenador de cultura do Clube, e organizada por ele e Demilton Dib, com apoio de Lincoln Borges de Carvalho, Salvador Cicci Neto, Cecílio de Castro Silva e outros.

Jóquei Clube de Uberaba – Junho 1980

Em comemoração aos 80 (oitenta) anos do Clube, foi idealizada e organizada por Jorge Alberto Nabut a primeira retrospectiva das obras de Hélvio, reunindo 90 (noventa) peças entre quadros e esculturas sobre estruturas metálicas concebidas por Demilton Dib e executadas por Vandir Laterza.

Galeria de Arte Reis Júnior / Fiube – Junho 1982

Nova mostra retrospectiva de Fantato, pinturas e esculturas, foi realizada na referida galeria, inaugurada na oportunidade, sob a curadoria do professor e crítico de artes Marco Antônio Escobar.

Fantato Atelier – Abril 1990

Nesse atelier, Fantato expôs na ocasião pinturas e esculturas recentes.

Fundação Cultural de Uberaba – Agosto 1993

Quando funcionando no prédio situado no pátio da igreja São Domingos, a Fundação Cultural promoveu nova exposição de pinturas e esculturas de Fantato.

Exposições Coletivas

Em diversas mostras coletivas realizadas em Uberaba, geralmente promovidas pela Fundação Cultural de Uberaba, também foram expostas pinturas e esculturas de Fantato, salientando-se, todavia, entre elas, por sua realização no exterior, a efetuada na

Galeira Debret – Paris/França – Setembro 1996

Idealizada, promovida e organizada por Jorge Alberto Nabut, foi realizada na mencionada galeria a exposição Triangle des Arts composta de quadros de 10 (dez) pintores uberabenses, entre eles Fantato.

Outras Mostras

Obras de Fantato ainda integraram outras mostras e exposições coletivas, a exemplo das que se seguem.

Galeria Municipal de Arte instituída pela Prefeitura na praça Rui Barbosa em abril de 1971; Exposições Coletivas da Feira de Arte/Participação organizadas, feira e mostras, por Hélio Siqueira em 1981, 82, 83, 84 e 90; 2ª Mostra de Arte Uberabense, promovida por Maison Interiores em abril/maio de 1983; Panorama da Pintura Uberabense na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em abril/maio de 1984; 1º Salão de Artes Plásticas Cidade de Uberaba promovido pela Fundação Cultural de Uberaba no pavilhão Henry Ford em abril/maio de 1995; Acervo da Fundação Cultural de Uberaba, mostra realizada na galeria de arte da Oficina Cultural de Uberlândia em fevereiro de 1998; A Pintura Brasileira nas Coleções em Uberaba, módulo I, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em fevereiro/março de 2000; 1º Panorama das Artes Plásticas de Uberaba, como um dos homenageados, na galeria de arte da Fundação Cultural de Uberaba em setembro/outubro de 2001.

Catálogo e Vídeo

Fantato integra o importante catálogo Uberaba Mostra Seus Artistas, às p. 21 e 22, editado em 1996 pela Fundação Cultural de Uberaba.

Em 2010 André Laterza montou vídeo de 15 (quinze) minutos referente à obra de Fantato, num “filme de poucas palavras [....] mas um registro sensível de um artista que merece sempre voltar à tona, pois que foi um divisor de águas nas artes plásticas uberabenses” (Jorge Alberto Nabut, “Adágio da Dor nas Telas de Fantato”, Jornal da Manhã, 16 janeiro 2011).

Literatura

Não se sabe quando Fantato iniciou sua produção literária, mas o fato é que escreveu diversos contos – os dois ou três datados são de 1992 – dos quais pelo menos um, “Dedão”, foi publicado numa das duas ou três únicas edições do Caderno de Cultura editado pelo poeta Tony Gray Cavalheiro no Jornal Jumbinho de 25 de novembro de 2000.

Crítica

No ensejo de cada exposição surgiram análises, comentários e críticas atinentes à obra de Fantato, expendidas por Paulo Sousa Lima, Jorge Alberto Nabut, Marco Antônio Escobar, Marisa Dexheimer e Moacir Laterza.

(do livro Personalidades Uberabenses)

__________________

Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

quinta-feira, 18 de junho de 2020

DIMENSÃO, REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA


  REPERCUSSÃO


Guido Bilharinho

         No decorrer de vinte anos de circulação, a revista Dimensão suscitou inumeráveis manifestações de escritores e intelectuais em geral por meio de correspondência, notas e registros em jornais e periódicos e artigos analíticos publicados na imprensa, compondo significativo e precioso acervo da receptividade alcançada e das reações provocadas por suas edições, constituindo patrimônio cultural de inestimável valor, refletindo a ambiência e as tendências culturais da época, tanto no Brasil quanto no exterior.
         O presente levantamento da repercussão da revista abrange, inicialmente, apenas as demonstrações epistolares que expressaram opiniões sobre ela, exprimindo julgamentos.

         À evidência que esse projeto editorial, despretensioso e desamparado de todo e qualquer apoio material e institucional, não objetivou e nem previu o acolhimento que teria por parte de poetas e escritores que valorizam a poesia, a mais difícil das manifestações artísticas por processar-se pela palavra, faculdade utilizada pelos seres humanos para a comunicação e para a materialização do pensamento (sem a qual este não existiria, já que somente se configura por meio da palavra).

Toda repercussão ora exposta e a que ainda vai ser divulgada, na intensidade e profundidade ocorridas, só foi possível por ainda predominar as tradicionais tipografia e impressão em papel, só pouco a pouco surgindo e se desenvolvendo a computação e a edição eletrônica, a caminho de substituir, como vem fazendo desde o início do século XXI, a impressão em papel.

         Pode-se afirmar diante disso, que Dimensão sintetizou e encerrou na área de periódicos culturais o período cinco vezes secular da invenção de Guttenberg, que lhe permitiu circular como ainda um dos poucos suportes então existentes de publicação e divulgação poética, que, hoje em dia, não é mais necessário face aos espaços ilimitados, gratuitos e universais disponíveis, propiciatórios e incentivadores da proliferação de periódicos culturais eletrônicos.

         Em suas vinte e seis edições e trinta números, visto duplas algumas delas, a revista, distribuída em todo o Brasil e remetida ao exterior, atingindo aproximadamente 60 (sessenta) países, publicou poemas, textos, visuais, ensaios e artigos de nada menos de 635 (seiscentos e trinta e cinco) colaboradores de 31 (trinta e um) países, como se verifica nos índices onomásticos constantes de seu blog exclusivohttps://revistadepoesiadimensao.blogspot.com/ .
*
         Além da coleção completa de Dimensão estar disponibilizada no citado blog, atualmente acessado em aproximadamente 30 (trinta) países, acompanhada 

referidos índices, a partir de agora contará também com a companhia do notável acervo de opiniões, críticas, reações e manifestações que provocou em sua trajetória.

         Por medida de racionalidade e metodologia, esse acervo é dividido pelos espaços ou suportes utilizados para sua veiculação: correspondência; notas e registros em jornais e periódicos; e artigos na imprensa, publicando-se, por ora, as manifestações veiculadas pela correspondência remetida do Brasil à editoria da revista, devendo ser completada paulatinamente, nos próximos meses, a publicação das demais veiculadas pelos modos indicados, inicialmente finalizando em julho próximo a presente etapa com a inserção das manifestações expressadas nas correspondências oriundas do exterior.
*
         Tanto por se referir à revista como por sê-la produto editorial e gráfico uberabense, todo entusiasmo que despertou e a larga ressonância que obteve são publicados tanto no blog exclusivo, indicado supra, quanto no blog https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/.

__________________
Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com/

==================


Fanpage: https://www.facebook.com/UberabaemFotos/

Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos

Cidade de Uberaba

quinta-feira, 11 de junho de 2020

EPIDEMIAS EM UBERABA

Guido Bilharinho 



Uberaba, no decorrer de sua história, como provavelmente a maioria das cidades brasileiras, foi assolada, ora mais ora menos, por diversas epidemias, afora a atual coronavírus, das quais resultaram mortes e transtornos de toda ordem. 


Cólera (1850)

A epidemia do cólera originou-se na Índia por volta de 1840, espalhando-se pelo mundo, atingindo Uberaba a partir de 1850, segundo informa Borges Sampaio: “na quadra de terror e angústia, por que há pouco passamos, na invasão dessa horrorosa epidemia, desse flagelo do cólera” (“Uberaba: História, Fatos e Homens”, p. 259). 



Varíola (1865) 

Em novembro de 1862 deu-se o primeiro surto epidêmico de varíola no município, que, “em junho de 1863 ainda não desaparecera de todo” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 797). 

Já em junho/agosto de 1865, com a chegada à cidade dos soldados integrantes da Força Expedicionária que iria atacar o norte do Paraguai, irrompeu entre eles epidemia de varíola, “empolgando toda a brigada e grande parte da população da cidade que tinha doentes em cada um de seus cantos [....] Reinava a maior desolação na cidade, por cujas ruas ninguém mais transitava [....] Os roceiros aqui não vinham mais e o comércio paralisou-se inteiramente [....] Morriam, diariamente, 3, 4, 5, 6, 7 e mais soldados. Chegaram mesmo, em certa ocasião, a levar um soldado vivo para enterrar [....] Morreram numerosos soldados e alguns civis, ao todo, talvez, umas trezentas pessoas nos três meses de duração da epidemia” (Hildebrando Pontes, “Vida, Casos e Perfis”, p. 51/52). 



Febre Amarela (1903)

Em 21 de fevereiro de 1903 foram impostas à população de Uberaba pelo agente executivo (prefeito) Antônio Garcia Adjuto medidas preventivas contra a febre amarela que grassava em município vizinho. 

Em 03 de março, a febre amarela atingiu Uberaba trazida por empresário que chegou de viagem à Franca/SP, sendo internado em hospital improvisado, falecendo no dia 06 seguinte. 

Em 10 de março, grande Assembleia Popular convocada pelo agente executivo discutiu e decidiu propostas dos médicos Filipe Aché (futuro fundador dos Laboratórios Aché) e José Ferreira de suspensão da quarentena imposta a todos que chegassem à cidade e de instalação de posto de desinfecção em Jaguara (ainda não existia a linha férrea da Mojiana vinda por Delta), sendo esta aprovada e rejeitada a primeira proposta. 

No dia 12 seguinte, reunião dos agentes executivos das cidades triangulinas servidas pela Mojiana decidiu série de providências contra a proliferação da epidemia. 

Em 30 de maio, o agente executivo comunicou à população de Uberaba não haver mais possibilidade de irrupção da febre amarela na cidade. 



Sarampo (1908) 

Em 1908, Uberaba foi tomada por forte surto epidêmico de sarampo, com casos fatais. 



Varíola (1910) 

Surto epidêmico de varíola assolou a região em junho de 1910, apresentando 12 (doze) casos em Uberaba, todos isolados no Lazareto. A epidemia, no entanto, expandiu-se. “O mal atingira proporções impressionantes. Ia penetrando em todos os lares” (José Soares Bilharinho, “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 815), havendo diversas mortes. 



Sarampo (1911) 

Em julho de 1911, “à varíola veio somar-se o sarampo, responsável, ele também, por vários casos fatais” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 815). 



Maleita e Malária (1915) 

Em dezembro de 1915 mais de 80 (oitenta) casos de maleita ocorreram no então distrito de Delta, onde também a malária grassou com intensidade. 


Gripe Espanhola (1918) 

A gripe espanhola chegou ao Brasil em setembro de 1918, pelo navio “Demerara”, propagando-se por todo o Rio de Janeiro. “Eminentemente contagiosa, eram inócuas as medidas sanitárias propostas para impedir sua marcha” (José Soares Bilharinho. “História da Medicina em Uberaba”, vol. III, p. 994). 

Em 20 de outubro foram noticiados os primeiros casos de infecção em Uberaba, sendo o primeiro notificado o advogado Sebastião Fleuri. Com essa gripe, Uberaba se tornou “de súbito um verdadeiro hospital. Raríssimo era o lar onde não existissem um ou mais gripados [....] De início a doença se caracterizou pela benignidade”. A partir de 7 de novembro, “os pedidos de assistência se multiplicavam vertiginosamente. Uberaba se revestira de um aspecto triste [....] Os hospitais já não comportavam os doentes e o número de médicos era insuficiente para atender a todos os chamados. Houve lares onde todos adoeceram [....] No final da primeira semana do mês de novembro era de aproximadamente 2.500 [dois mil e quinhentos] o número de doentes. Devido a esse número exagerado de enfermos, a cidade tornou-se verdadeiramente insuportável. Era absoluta a carência de vida comercial e social” (José Soares Bilharinho, op. cit., p. 1.001). 

Em 10 de novembro, a epidemia atingiu seu ponto culminante, “jungindo ao leito quase toda a população (Idem, p. 1.002). 

Faleceram até 21 de novembro 193 (cento e noventa e três) pessoas, atingindo 215 (duzentas e quinze) na semana seguinte, sendo que 12.000 (doze mil) pessoas foram contaminadas num universo de aproximadamente 14.500 (catorze mil e quinhentos) habitantes. Ao final, conforme relatório apresentado pelo agente executivo Silvino Pacheco de Araújo, Uberaba teve 255 óbitos decorrentes da febre. 



Paralisia Infantil (1924) 

Em 10 de janeiro de 1924, o jornal “Lavoura e Comércio” noticiou a ocorrência em Uberaba de paralisia infantil (como então se denominava), informando já existirem dezenas de casos. O surto, no entanto, não durou muito tempo, desaparecendo paulatinamente. 



Tifo (1925) 

Em 25 de outubro de 1925 foi tornada pública a existência de casos de tifo na cidade, verificando-se nessa ocasião dois casos fatais. 



Varicela/Catapora (1929) 

No decorrer do primeiro semestre de 1929 ocorreram casos de varicela na cidade, sendo os doentes isolados e tratados e intensificada a vacinação. 



Tifo (1935, Anos 40 e 1953) 

Em abril de 1935 surto de tifo ocasionou 03 (três) casos fatais na cidade. 

Em fevereiro de 1940 novo surto de tifo surgiu em Uberaba, recebendo o Centro de Saúde no dia 16 (dezesseis) do referido mês nada menos de 11 (onze) notificações de sua incidência. 

Surtos de tifo se repetiram, com maior ou menor intensidade, nos anos de 1943, 1944, 1948 e 1953. 



Hepatite (1951) 

Série de reuniões, ocorrências e hipóteses marcaram o surto de hepatite que preocupou (e ocupou) Uberaba em 1951. 

Em 20 de junho, a Sociedade de Medicina promoveu reunião extraordinária. No dia 22 seguinte, realizou-se reunião na Câmara Municipal convocada pelo prefeito (e médico) Antônio Próspero, sendo que, até essa data, a hepatite já vitimara quase uma centena de pessoas, das quais sete faleceram. No dia 25, em reunião na Sociedade de Medicina, o médico Madureira Pará, do Instituto Osvaldo Cruz, do Rio de Janeiro, revelou a ocorrência de hepatite causada por vírus, ora benigno ora extremamente grave. 

No dia 04 de julho, por solicitação de diversas entidades de classe, o jornalista Quintiliano Jardim promoveu reunião no auditório da PRE-5 para debater a situação da cidade face à poluição de suas águas, conforme verificada por exame procedido dias antes pelo Instituto Osvaldo Cruz, do Rio, notícia que causou grande impacto na cidade. Dessa reunião, os presentes dirigiram-se ao Paço Municipal, onde a Câmara estava reunida, sendo suspensa a sessão, falando Quintiliano Jardim em nome de todos, aceitando o prefeito a incumbência de contatar Juscelino e Getúlio. 

No dia seguinte (5 de julho), foi publicado no “Lavoura e Comércio” comunicado do Centro de Saúde, assinado por seu dirigente, médico Manuel Benjamin Pável, afirmando, com segurança, que na maioria dos casos a propagação da hepatite se deu por meio de agulhas e seringas insuficientemente esterilizadas, havendo também transmissão pelo contágio direto de pessoa doente à pessoa sadia, ponderando, ainda, que não se poderia subestimar o papel propagador de água poluída. 

No dia 06, a Sociedade de Medicina lançou manifesto afirmando não se poder imputar à água fornecida na cidade como elemento transmissor da enfermidade, já que a água clorada é isenta de germes. 

Segundo José Soares Bilharinho (op. cit., p. 1.019), “de janeiro até fim de agosto foram 69 casos (de hepatite infecciosa), dos quais 51 causados pelo uso de seringas mal esterilizadas e 18 pelo contágio direto. 

Dos primeiros 51, em 32 casos, um único enfermeiro, dedicado à prática de injeções a domicílio, foi o culpado. 

Sobre o assunto, Benjamin Pável escreveu a monografia “Surto Epidêmico de Hepatite Infecciosa em Uberaba”. 



Gripe Asiática (1957) 

Em setembro e outubro de 1957, epidemia de gripe asiática assolou a cidade, suspendo a comemoração do dia 7 de Setembro e aulas em alguns estabelecimentos de ensino. 


Dengue (2006) 

Em março de 2006 forte epidemia de dengue, transmitida por um tipo de mosquito, espalhou-se pela cidade com índices de infestação de residências de 5,3%, muito acima do 1% tolerável segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, tendo alguns bairros índices próximos a 19% (!), conforme constatado pelo órgão de controle de endemias e zoonoses. 

À época, noticiou-se que no período de 1º de janeiro a 31 de março desse ano, só num laboratório da cidade, em 3.314 testes foram detectados 2.159 confirmados. Houve superlotação dos hospitais da cidade, ocorrendo até final de abril pelo menos duas mortes por dengue. 

Órgãos da área de saúde atribuíram essa alta incidência de dengue ao descumprimento nos anos anteriores dos protocolos e medidas indispensáveis ao combate e eliminação do mosquito transmissor. 



Outras Moléstias 

Hidrofobia, Tuberculose e Hanseníase estiveram presentes em Uberaba, como nas demais cidades do país, por décadas desde o século XIX e no decorrer de toda a primeira metade do século XX, eliminando dezenas e dezenas de pessoas anualmente, conforme exposto na “História da Medicina em Uberaba” acima citado, e em “Uberaba: Dois Séculos de História”, de nossa autoria.

__________________ 

Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Cinema falado e revolução

Popularizado na Europa a partir de 1895, pelos irmão franceses Auguste e Louis Lumière, o cinema chegou ao Brasil logo no ano seguinte, mas demorou um bom tanto para dar as caras em Uberaba. No seu livro “Coisas que me contaram, crônicas que escrevi”, o jornalista Jorge Nabut relata que as notícias mais antigas de exibições de filmes na cidade datam de 1908 – ocasião em que o Sr. José Pires Monteiro, da vizinha cidade de Franca, teria feito algumas projeções na sala do então Teatro São Luiz, na praça Rui Barbosa. Nas décadas seguintes, a cidade conviveu com diversas salas de espetáculos, a maioria de vida curta. Uma das famosas foi o Cine Teatro Polytheama, instalado num amplo galpão do início da Rua Manoel Borges, local onde hoje funciona a Lojas Brasileiras. O próprio São Luiz sofreu extensa reforma e foi convertido em cine-teatro: sobreviveu por décadas, até ser definitivamente fechado em 2008.

Nos 20 anos seguintes, o mundo viveu o apogeu do cinema mudo. Nas produções mais sofisticadas, enquanto as imagens eram projetadas na tela, músicos executavam ao vivo partituras especialmente compostas para acompanhar as películas. Vários instrumentistas que mais tarde se consagraram garantiam assim parte do seu ganha-pão. Nas melhores salas de cinema, algumas orquestras chegaram a ganhar fama. As películas vinham em rolos que tinham duração de 15 a 20 minutos e, como a maioria dos cinemas dispunha de apenas um único projetor, as sessões tinham breves intervalos para troca dos rolos e pausa para a orquestra. Os primeiros filmes com trilha sonora integrada surgiram só no final de 1927, nos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador e cinéfilo Guido Bilharinho, autor da obra “Uberaba: dois séculos de história”, o cinema “falado e sincronizado” teria estreado na cidade em 7 de março de 1930. O Brasil estava na ocasião em plena ebulição política. Após uma acirrada disputa, o candidato situacionista Júlio Prestes, ex-governador de São Paulo, acabara de derrotar a chapa de oposição formada pelo gaúcho Getúlio Vargas e o paraibano João Pessoa, numa eleição presidencial permeada por denúncias de fraudes e arbitrariedades. Vargas havia ganho em Uberaba e em boa parte de Minas Gerais. A Velha República estava prestes a ruir.

Bilharinho, com base em notícia publicada pelo jornal local “A Concentração” nos conta que a novidade cinematográfica foi apresentada pela primeira vez no Cine Alhambra, que funcionava desde outubro de 1928 no primeiro quarteirão da rua Artur Machado. Propriedade da empresa Damiani, Bossini & Cia, era então a sala mais sofisticada da cidade. O filme exibido foi “Paris de Contrabando” (The Rush Hour), comédia da Paramount com Marie Prevost e Harisson Ford. A notícia procede, mas a história é um pouco mais complicada. 

Produção de 1928, The Rush Hour é na verdade um filme mudo. Segundo o jornal “Lavoura e Comércio”, após a exibição desse filme o artista Umberto Marsicano, contratado pelo Alhambra, iria apresentar uma série de curta-metragens sonoros. O público, que lotou a sala para conhecer a novidade, teve enorme decepção ao descobrir que tratava-se de um simulacro: quatro filmes mudos sincronizados de forma rudimentar com uma trilha sonora precária que saía de um gramofone. A ira só não foi maior porque Sebastião Braz e Teobaldo Bosini, donos do Alhambra, convenceram o público de que eles também haviam comprado gato por lebre.

Seis meses depois, em 1º de agosto, o Brasil recebeu atônito a notícia do assassinato do ex-candidato João Pessoa, levando a tensão política às alturas. Nesse mesmo dia, os donos do Alhambra anunciaram que haviam comprado por 90 contos de reis um equipamento completo de cinema falado da marca “RCA Photophone”, com dois projetores e capacidade de sincronização com discos e fitas sonoras. O mesmo equipamento que já era usado com sucesso no glamoroso Teatro Pedro II, em Ribeirão Preto. A estreia em Uberaba foi programada para o final de setembro, mas o país pegou fogo com a escalada das tensões, que logo desaguaram nas batalhas armadas da Revolução de 1930.

Getúlio Vargas já havia tomado posse à frente do governo provisório quando, finalmente, a promessa frustrada em março pode ser concretizada. Em duas sessões lotadas, às 7h30 e 9h30 da noite de 13 de novembro de 1930, o filme “Alvorada de Amor” (The Love Parade) – uma comédia musical norte-americana com o astro Maurice Chevalier, Jannet Mac Donald e Lillian Roth – marcou a entrada da Princesinha do Sertão na era do cinema sonoro.

(André Borges Lopes / Uma primeira versão desse texto foi publicada na coluna Binóculo Reverso do Jornal de Uberaba em 24/05/2020)


===========================


Fanpage: https://www.facebook.com/UberabaemFotos/

Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos


Cidade de Uberaba

O PERIGO NUCLEAR

                                                                                                                   Guido Bilharinho

Além de pandemias e outros males, mais letal do que elas e eles, muito mais letal, total e definitivamente destrutivo da vida no planeta constitui o permanente e onipresente perigo nuclear. Desde que os cientistas, movidos e pagos pelas classes dominantes e seus representantes legais dos países mais desenvolvidos (e mais ambiciosos), estabeleceram a “cizânia entre os átomos” conforme o poeta de Patos de Minas, Ricardo Marques, a terra perdeu sua incolumibilidade e possível infinitude, passando a correr perigo, real e factível.

Conforme o diplomata Sérgio Duarte, “uma das maiores autoridades mundiais no tema” (Folha de S. Paulo, 06/03/2020), em depoimento ao citado jornal, “embora a quantidade total dessas armas [nucleares] tenha diminuído consideravelmente ao longo do tempo, os arsenais existentes são suficientes para inviabilizar completamente a civilização humana caso sejam utilizados, por desígnio ou acidente”. Não obstante, por meio de acordos e convenções, o arsenal nuclear tenha diminuído, “o mundo hoje corre mais riscos de ver um conflito atômico do que há 50 anos [....] não há dúvida de que nos tempos de hoje o mundo é mais perigoso do que em qualquer época desde o início da era nuclear”, afirma ainda o citado especialista.


Com o término, por volta de 1990, da Guerra Fria entre E.U.A. x URSS, pensava-se que o latente perigo nuclear teria passado e o mundo caminharia para distensão, destruição de arsenais e mísseis e, finalmente, desarmamento. Isso, no entanto, não ocorreu, demonstrando que a situação de animosidade e beligerância entre nações não foi nem é decorrência da antinomia entre regimes econômicos (capitalismo x “soi-disant” socialismo), mas, é endógena, de dentro do próprio capitalismo, o que a torna permanente enquanto esse regime subsistir e predominar. E quem irá pôr o guizo no pescoço do gato? A rivalidade entre os EE.UU. e a Rússia capitalista continua acesa, não apenas retirando-se os EE.UU. de acordo de contenção nuclear celebrado com a Rússia como, ainda, acelerando a produção de artefatos nucleares e aperfeiçoando cada vez mais a eficácia e alcance de mísseis transportadores. A efetiva ocorrência dessa contradição intercapitalista tomou vulto e ganhou ênfase com a atual “guerra” comercial abertamente declarada e implementada pelo Governo dos EE.UU. contra a capitalista China (só nominalmente denominada “socialista”), “guerra” que nada tem de ideológica ou de divergente cunho organizacional. A concorrência, princípio básico e até certo ponto salutar do capitalismo, possui efeitos colaterais (ou até centrais) perniciosos quando exacerbados, como vem sendo o caso por parte dos declinantes EE.UU., que não querem perder sua hegemonia mundial, econômica e militar.

Que o caso não é nem nunca foi ideológico nem de princípios (morais, religiosos e democráticos), basta lembrar a sincera afirmação de John Foster Dulles, antigo ministro das Relações Exteriores dos EE.UU. (lá denominadas Departamento de Estado), de que “os EE.UU. não tem amigos, tem interesses”. As assertivas de “mundo livre”, “democracia”, “valores cristãos” e outras não passam de meros chavões pretextuais para encobrir e disfarçar as verdadeiras razões de campanhas publicitárias e intervenções militares, que visam defender interesses econômicos e/ou estratégicos concretos, dos quais seus detentores não abrem mão em hipótese alguma. Aí é que mora o perigo! Tais interesses é que dominam, direcionam e encaminham o mundo para ultrapassar os extremos limites da autodestruição planetária, ponto a que se está sempre muito próximo, como o citado embaixador Sérgio Duarte adverte: “Todos os nove [nove já!] possuidores de armas nucleares, sem exceção, vêm aumentando seus arsenais ou acrescentando novas tecnologias destruidoras, como mísseis várias vezes mais velozes que o som, uso de técnicas cibernéticas, lasers, inteligência artificial e outras inovações, numa verdadeira
proliferação tecnológica.”

*

Diante desse quadro macabro e dantesco, o que fazer? Essa a questão, já que a necessidade de se fazer alguma coisa se impõe, sob pena de omissão suicida.

Mesmo assim, como se nota no mundo todo, ninguém se move ou, se se move, constitui apenas (e por enquanto?) movimentos isolados, desconectados de rede internacional de organizações pacifistas e desarmamentistas, sem a indispensável divulgação e apoio de uma mídia interesseira, oportunista e negocista. Essa omissão deriva do desinteresse, que se diria mórbido, por qualquer coisa que ultrapasse a luta pela sobrevivência pessoal e familiar e, também, por comodismo e preguiça, sob a conveniente alegação de que não se tem poder nem influência sobre a questão. O primeiro caso é de difícil solução, já que tirar a população de sua crônica letargia e pasmosa indiferença para o que não seja imediato e restrito, seria o décimo-terceiro trabalho de Hércules. Já a preguiça e o comodismo podem ser superados pela conscientização e pela introjeção de objetivo realmente grandioso para vidas desmotivadas. Apesar disso, e até por isso, é necessário que se faça alguma coisa para tentar interferir e obstaculizar o desatino e a loucura de inúmeros detentores do poder econômico e de seus representantes na direção (executivos, legislativos e judiciários) das nações, cada vez mais armadas. Enganam-se os que julgam impossível influenciar e redirecionar esse e outros desvarios. Contudo, é necessário, primeiro, que se interessem e se importem com o problema. Segundo, que se informem, minimamente que seja, sobre ele. Depois, que partam para se organizarem em grupos de debates e atuação, em cada cidade ou em cada bairro, visando batalhar (essa, sim, batalha humanística) pelo desarmamento mundial, primeiro, de armas nucleares e, numa segunda etapa, quem sabe?, até mesmo de armas convencionais, com as quais os países gastam bilhões sob o pretexto de defesa, que poderiam e deveriam ser direcionados à infraestrutura, saneamento, saúde, educação e outros gastos imprescindíveis. Armas não são imprescindíveis. Aliás, tais grupos poderiam ser organizados para debates, estudos e atuação não apenas em torno do desarmamento, porém, visando todas as questões fundamentais para a sociedade: políticas, econômicas, organização administrativa,
sistema partidário-eleitoral, democracia, drogas, saúde, educação, segurança, etc., etc.

__________________
Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, fotografia, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog:https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


====================



Fanpage: https://www.facebook.com/UberabaemFotos/

Instagram: instagram.com/uberaba_em_fotos


Cidade de Uberaba

quinta-feira, 5 de março de 2020

GENEALOGIAS UBERABENSES


Guido Bilharinho


Desconhecidas ou ignoradas pela maioria das pessoas, as genealogias têm dado importante contribuição à História, visto que essas pesquisas e levantamentos familiares implicam indivíduos e gerações que compuseram, participaram e contribuíram com sua existência e atuação para a formação histórica no tempo e no espaço.

Uberaba, pelo seu posicionamento espácio-temporal e as peculiaridades que condicionaram e direcionaram seu desenvolvimento, atraiu e reuniu consideráveis núcleos familiares, que, alguns dos quais, paulatinamente, por meio de um ou outro de seus membros mais qualificados que se propuseram a tais pesquisas, tiveram procedidos seus levantamentos genealógicos.

Em consequência disso, inúmeros já são os livros atinentes ao assunto, aqui referenciados, pela ordem cronológica de suas publicações, os que chegaram às nossas mãos, dos quais, pelo momento, apenas se fornecem breves informações.

A primeira obra nesse sentido de que se tem notícia deve-se ao incansável historiador Hildebrando Pontes, que se não limitou a proceder à genealogia de apenas uma família, o que já seria digno de encômios, mas se lançou a produzir toda uma série delas, que intitulou de “Genealogia Mineira”, da qual publicou o TÍTULO I – RODRIGUES DA CUNHA, em 1929, composto de 87 (oitenta e sete) páginas, não obstante a tenha iniciado em maio de 1905, conforme informa na introdução ao livro. 

Após o pioneirismo de Hildebrando Pontes é editado, em 1956, o livro HISTÓRIA VERÍDICA, de Dalila Soares de Azevedo, levantamento da descendência do capitão Domingos da Silva e Oliveira, irmão do major Eustáquio e primeiro agente executivo (prefeito) do município, precedida a obra de “Sinopse da Vida de Uberaba”.

Trinta e quatro anos depois surge o livro DO SILVA AO PRATA, de autoria de Délia Maria Prata Ferreira, editado em 1990 com 175 (cento e setenta e cinco) páginas e diversas ilustrações, que provavelmente serviu de incentivo à série de outros que lhe seguem em breves intervalos nos anos seguintes.

Nem bem seis anos são transcorridos, Paulo Medina Coeli edita MEDINA COELI – HISTÓRIA E GENEALOGIA, com 160 (cento e sessenta) páginas, no qual, ao invés do tradicional quadro familiar sucessório, expõe a genealogia dos Medina Coeli por meio de narrativas contextualizadas e ilustradas.

Da mesma forma, Jorge Alberto Nabut edita em 2001 o livro FRAGMENTOS ÁRABES, com 278 (duzentas e setenta e oito) páginas e inúmeras ilustrações, no qual, para além dos limites do estrito levantamento familiar, enfoca poética e contextualmente a chegada e atuação de várias famílias árabes na região.

Quatro anos depois, em 2005, vem à lume o livro NOSSO PASSADO E NOSSA GENTE, de Fausto de Vito, com 214 (duzentas e catorze) páginas, concernentes à família De Vito, reportada à sua origem italiana.

Encurtando cada vez mais o intervalo entre uma e outra das publicações do gênero, é editada em 2008, em dois alentados volumes, a obra OS RODRIGUES DA CUNHA – A SAGA DE UMA FAMÍLIA, de Antônio Ronaldo Rodrigues da Cunha e Marta Amato, contendo no primeiro, em 584 (quinhentas e oitenta e quatro) páginas, a genealogia familiar e, no segundo, expressivo álbum fotográfico de membros da família.

Já no ano seguinte, 2009, Marta Junqueira Prata lança o livro OS REIS – HISTÓRIA E GENEALOGIA DE UMA FAMÍLIA, com 152 (cento e cinquenta e duas) páginas e abrangente índice onomástico.

Nem bem discorridos dois anos desse último lançamento, Plauto Riccioppo Filho publica, em 2011, a obra RAÍZES ARBËRESCHË – HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA FAMÍLIA RICCIOPPO, também em alentado volume de 614 (seiscentas e catorze) páginas, fartamente ilustradas. 

Após um tanto dilatado período intervalar, eis que há dias, precisamente em 21 de dezembro de 2019, é lançado no Museu do Zebu, na presença de centenas de Borges de diversas gerações, A ODISSEIA DOS BORGES, de Carla Mendes Bruno Brady e Randolfo Borges Filho, em projeto ideado e coordenado por Leila Borges de Araújo e Randolfo Borges Filho, em portentoso volume de nada menos de 980 (novecentas e oitenta) páginas ilustradas, focalizando os troncos e ramos familiares: Martins Borges, Borges de Araújo, Gonçalves Borges, Alves Borges, Borges de Gouveia e Antônio Borges Sampaio, o célebre historiador.

*

Além dos livros acima mencionados, existem diversas outras genealogias, veiculadas por enquanto em edições mimeografadas.

A mais longeva delas consiste na GENEALOGIA DA FAMÍLIA SILVA E OLIVEIRA, efetuada por ninguém menos do que o múltiplo historiador Hildebrando Pontes, elaborada nos inícios do século XX e composta de 222 (duzentas e vinte e duas) páginas, justamente sobre a família Silva e Oliveira, a fundadora de Uberaba na pessoa de Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, o major Eustáquio, mas, na verdade, família Távora, perseguida pelo marquês de Pombal e impedida, até sua reabilitação pela rainha Maria I, de utilizar seu legítimo nome, ao qual o pai do major não quis voltar.

A GENEALOGIA DA FAMÍLIA FERREIRA DE ARAÚJO é também da lavra de historiador Hildebrando Pontes, constituindo o Título II da série Genealogia Mineira que se propôs a fazer, composta de 90 (noventa) páginas manuscritas.

Por sua vez, em 1990, José Carlos Machado Borges (Juquita Machado) publica em mimeógrafo, em 244 (duzentas e quarenta e quatro) páginas, sua múltipla genealogia intitulada GENEALOGIAS por se referir, conforme explica o Autor em prêambulo, a seus quatro distintos troncos familiares: Machado dos Santos, Pepino, Borges de Araújo e José Bernardes.

Outras genealogias e histórias familiares provavelmente devem existir prontas ou em vias de elaboração, cumprindo apenas que sejam dadas à divulgação, como necessário.

__________________

Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/


Cidade de Uberaba