terça-feira, 19 de junho de 2018

MEUS CABELOS COR DE PRATA

Abro a “ caixa dos Correios” e deparo com uma mensagem a mim dirigida. Aliás, depois que a nuvem passa, não trocaria meus amigos de fé, irmãos camaradas, minha vida maravilhosa, minha amada família, minha terrinha sagrada , por nada, nada desse mundo, imundo ... Muito menos por uma vasta cabeleira loira, uma barriga de “ tanquinho”, saliente e lisa...Enquanto envelheço, torno-me mais amável comigo mesmo, menos crítico de mim mesmo...

Acabei tornando-me meu melhor amigo. Não avexo-me de comer biscoito de polvilho na padaria do Xisto Arduini, de bebericar minha saborosa cachacinha no bar do Filó, a cervejinha gelada do “bar cotovelo” do Luizinho, na agradável companhia do Zé Roberto. Não dispenso de ir prá chácara , com o Juca Tomé e o Sabino, degustar a costelinha de porco, caprichada, feita pelo Arnaldo. 
Acostumei-me a arrumar a minha cama, comprar “boboseiras” quando vou ao centro da cidade. Sei que apesar das broncas da Wania, ao meu lado, vigiando o tempo todo, quase há 60 anos, continuo roncando em sono profundo, meio “ lambão”, confesso. Extravagante ? sei lá... Assistí, com lágrimas nos olhos, a “partida” cedo demais, de amigos fraternos, antes que conhecessem o que é uma boa velhice...

Ninguém à censurar,depois de velho, ficar “ grudado” no computador, horas e horas, querendo saber coisas que não sabia e só ouvia dizer...Lembrar dos idos tempos que dancei ao som das lembradas orquestras da terrinha e muitas outras famosas de todo o Brasil e, digo-lhes, sem ter chorado nenhum amor perdido...Se nas férias, ia à praia , calção comprido, esticado sobre um corpo quase decadente, “ furando ondas de araque”, sob olhares complacentes de jovens de corpos sarados, “ vocês vão também envelhecer, seus putos! “... conversava eu com meus botões...

A memória ainda é boa; a vista? Nem tanto. Sou péssimo fisionomista, confundo ”Zé” com “Mané”. Recordo coisas importantes e as” desinportantes” também. O coração enternece quando lembro-me dos “ meus” que já se foram. Coração que nunca sofreu, não conhece a alegria de ser imperfeito. Sou abençoado por isso. Vivo o suficiente por meus cabelos brancos e o riso da juventude que, nas rugas, navegam nas avenidas do meu rosto...

Quanto mais se envelhece, mais fácil é ser autêntico. Nem para peidar, peço licença. Preocupo-me pouco com que os outros (adversários, sempre inimigos, nunca) pensam a meu respeito . Enquanto viver, não vou perder tempo, lamentar o que poderia ter mais feito . Aos jovens, que tem a paciência e a delicadeza de lerem os meus humildes textos, histórias e pensamentos, deixo um recado que aprendi com o excepcional Nelson Rodrigues:

Quando um grupo de universitários cariocas, ao visitá-lo para uma longa entrevista sobre a sua atividade na crônica brasileira, abordando os mais variados temas,o inquiriram que mensagem deixava aos estudantes brasileiros, Nelson, era míope, fumante inveterado, ajeitou-se na poltrona, olhos esbugalhados, cigarro no canto da boca, óculos com lentes parecendo vidro, na ponta do nariz, respirou fundo e soltando uma enorme baforada, disse apenas :- “ Jovens ! Sabeis envelhecer !


Luiz Gonzaga Oliveira

POUCO INTERESSE

Estamos na semana do inicio de mais uma Copa do Mundo. Ao lembrar do que aconteceu há 4 anos, o vexame do “Mineirão”, os 7x1 continuam entalados na goela dos brasileiros. Só que esse ano, o nosso povo, pelo menos por enquanto, não está nem aí para fazer festa, pintar calçadas, esticar bandeirinhas verde-amarelas e muito menos, soltar foguetes e rojões. Tantas coisas ruins nos foram mostradas, de ontem até hoje, que dificilmente assistiremos com o espírito vencedor (?) que tivemos em 2014. A vergonha nacional não foi apenas nos placares dos últimos jogos ( 7x1 e 3x0), estendeu-se além.

O “ festival de bandalheiras, roubalheiras” que atingiu o País, com a construção, desnecessária, diga-se, de verdadeiros “ elefantes brancos” e uma corrupção desenfreada e ilimitada, envergonhou o Brasil sério. O dinheiro embolsado pelas empreiteiras e políticos, “arrasaram quarteirão” e não demoraram vir à tona. Aquele “slogan” de o “ brasileiro nunca desiste”, foi o maior engodo que presenciamos desde a chegada de Cabral ( o descobridor, não esse ladrão do Rio de Janeiro...).Dói no bolso e no coração da nossa gente, a “ farra financeira” e que “ limparam” os cofres públicos do nosso amado Brasil.

Enquanto os dirigentes nacionais e empreiteiras, se saciavam, enchiam as “ burras ” de dinheiro, faltavam e continuam faltando, escolas, saúde, hospitais, estradas, ferrovias, segurança, moradia para o sofrido povo brasileiro. O desemprego, alcançou números estratosféricos, o vergonhoso “ Petrolão”, a crise dos combustíveis, o crime organizado tomando conta, não só nas capitais, com também no interior, como vimos recentemente aqui na sagrada terrinha. A Justiça, “ cuspindo na nossa cara”! Juizes , ministros, sem o menor pudor, censo de austeridade , “sobrando otoridade”, formando uma “ nova gangue” na elite jurídica do Brasil. Presidente, Governadores e ex, senadores, deputados, presos por cometerem roubos e rombos no erário público, já fragilizado do Brasil !.

“Minas não é abissal”, dizia Drummond. Pois sim. Ex-governador preso; o atual na mira do ‘Lava Jato”, funcionalismo insatisfeito e tristes problemas de honestidade administrativa, senador indiciado no “Lava Jato”... Pobre Mina s Gerais , longe dos tempos de Milton Campos, Bilac Pinto, José Maria de Alkimin, Aureliano Chaves, políticos “ficha limpa” e sem nódoas...

O tempo só nos permite torcer para que a seleção faça bom papel e que não se repita o vexame de 2014. Em razão da Copa, vou deixar de lado, momentamente, essa política nojenta e seus intérpretes. Lembrarei “causos” ligados ao esporte, imprensa local e quetais. Conto-lhes, amanhã, sobre a instalação da primeira emissora de televisão de Uberaba, que, dia 9 últimos, se viva fosse, estaria completando 46 anos... Infelizmente...


Luiz Gonzaga Oliveira

TELEVISÃO

Em meados da década de 60, a Escola de Engenharia e Eletrônica de Itajubá (MG) , desenvolveu um projeto e construiu equipamentos para instalar emissoras de televisão , sem incluir, inicialmente, o transmissor. Uberaba, foi escolhida para o grande teste. Durante 30 dias, os poucos televisores da cidade puderam captar imagens locais, do Jockey, UTC e Sirio Libanesa e “ shows” com artistas locais. Raul Jardim, Netinho, Xuxu, o lançamento de uma menina que, mais tarde, tornou-se famosa, Vanusa Flores e o “palhaço” Xuxu, além de desfiles das moças bonitas da terrinha, ao som do piano de Rosseti, fizeram a festa na cidade.

A família Jardim, dona do “Lavoura” e da PRE-5, escolhida para adquirir o equipamento e “montar” a TV. Raul, topou! Os irmãos, demais sócios, “afinaram”. Edson Garcia Nunes, que tinha sido meu colega na Faculdade de Direito, empresário de sucesso em Uberlândia, estava, por acaso, na cidade. Viu e gostou da “ novidade”. Levou a idéia e os equipamentos para a sua cidade. Surgiu então a TV-Triângulo, tendo como sócio, um uberabense, Luiz Humberto Dorça. Um dia, talvez quem sabe, possa contar um pouco dessa história....

Anos depois, final da mesma década (60), um grupo de uberabenses fundou a rádio “7 Colinas”, a terceira da terrinha. O projeto era audacioso : além da rádio, desejava instalar uma TV local. A esse período, a Embratel inaugurava o seu arrojado prédio na Fidélis Reis, com Quintiliano Jardim , à sediar a regional da estatal para a região setentrional do Brasil. À comandá-la,depois de um breve período em que esteve à frente, um engenheiro uberabense da família Guaritá , para sucedê-lo um carioca, engenheiro Arolde de Oliveira, especialista em telecomunicações.

Era o que o “ grupo 7 Colinas” procurava. Realizados os estudos técnicos exigidos pelo Ministério das Comunicações, foi dada a entrada do “ pedido de abertura para licitação de uma transmissora de televisão na cidade Uberaba (MG)”. Registre-se: o trabalho de Arolde de Oiveira ( hoje deputado federal (PSD-RJ) e dono no Rio de Janeiro, de uma emissora de rádio, gospel, foi irretocável ! Nada faltou no estudo da viabilidade técnica para que a licitação fosse aberta, pois que, inicialmente, não havia mais interessados no projeto.

Ledo (Ivo) engano. Passados alguns meses, eis a decepção ! Aproveitando todo o trabalho técnico proposto pelo grupo uberabense, com “olheiros” em todos os Ministérios em Brasilia, a turma das “Associadas”, de B,H., é declarada vencedora da concorrência ... Com a solerte “inteligência” mineira, o grupo belorizontino, rapidamente, registra a firma “ Rádio e Televisão Uberaba Ltda”, tendo como componentes, os uberabenses Ranulfo Borges do Nascimento, João Laterza, João Henrique Sampaio Vieira da Silva, Álvaro Barra Pontes, todos falecidos e um remanescente vivo, o professor José Thomaz da Silva Sobrinho...

Era a turma do “PSD véio de guerra”, aliada às “Associadas” de BH, tendo à frente, Camilo Teixeira da Costa, Hélios, Adami e Amoni e supervisão de José de Oliveira Vaz...Arnaldo Rosa Prata, entusiasmado com a construção do “Uberabão”, canalização do córrego das Lages e o novo terminal rodoviário, com o beneplácito dos vereadores, desapropria um bom pedaço da fazenda do “Rezendão”, no bairro EE,UU, e doa aos “Associados” para a construção da sede da TV-Uberaba. Ação, diga-se, muito rápida. Ações da TV-Uberaba ,foram colocadas à venda na cidade. E como o uberabense aderiu!... Um senão: até hoje, as “cautelas” das ações não foram entregues aos seus legítimos donos...A turma de BH, escolheu o presidente da nova empresa : o saudoso e memorável médico e homem de negócios, dr.Renê Barsam. 

Quando percebeu “ outras intenções” dos comandantes, entregou o cargo. Dia 9 de junho passado, a TV-Uberaba, “completaria” 46 anos... Hoje, nem “arquivo” tem mais. Infelizmente! 
A memória de Uberaba se esvai, sem que ninguém tome um “ tiquinho” de providência ...

Luiz Gonzaga Oliveira

DEDÃO

Era um negrinho ( ops! afrodescendente. Senão...) esperto, criado na fazenda do Rodolfinho Cunha Castro, no Jubaí. Depois do leite no curral e as lidas caseiras, ia jogar sua bolinha na área verde, em frente à sede, com o resto da peonada. Era beque e dos bons. Semi-analfabeto, não tinha registro de nascimento. O patrão, apaixonado pelo Uberaba Sport, trouxe o jovem para treinar no seu time de coração. Agradou em cheio. Quando foi registrar o atleta na Federação Mineira, cadê os documentos ? Ilton dos Santos, (assim mesmo, sem H) não sabia nem o dia, mês e ano que nascera.. Rodolfinho, encarregou-se de tudo e ajeitou a vida de “Dedão”, apelido que ganhou na roça, pelo tamanho dos dedos dos pés, pois só andava descalço, até que ganhou a sua primeira botina “ mateira”...

Era um beque raçudo, diziam. Logo, logo, estava no time principal, fazendo zaga com o famoso Herminio Pongeluppi. Seu outro “predicado”: exímio bebedor de cachaça... Conhecia no estalar da língua com o “ céu da boca”, qual a procedência da “caninha”. Distinguia, desde as famosas marcas de Salinas (MG), capital mundial da cachaça, até as de alambiques artesanais da região. Sabia o sabor da cachaça do Amerquinho Cardoso, de Sacramento, passando pela PO, de Guaxima, dos Crema, do “Geromim Ribeiro”, de Ituiutaba, da “ Montanhesa”, de Araguari, as nossas “Chora Rita” e do “ Barbudo”, incluindo as conhecidas “51” e “Tatuzinho”, “ Nabunda” e “ Nabundinha”, além da do “ Branco”, de Veríssimo, até chegar a dos Colmaneti, de Aramina. Só não bebeu a “Lenda do Chapadão”, do Carlos Assis e a “ Zebu”, do Moura Miranda, porque ainda não eram fabricadas, bem como a “ Segredo Real”, do Rogério ... 
“Zé Kelé”, tinha uma “venda” defronte ao saudoso estádio “Boulanger Pucci”, onde treinavam e moravam os jogadores. Fim de tarde, treino terminado, banho tomado, chinelo de dedo, lá ia “Dedão”, abrir o apetite, costumava dizer. “Zé Kelé”, impressionado com os “conhecimentos “ do freguês. – “Vou pegar ele, qualquer hora”, matutava. Não demorou muito tempo e colocou em prática seu plano: escolheu um litro branco, lavou bastante com detergente e, nos fundos do Colégio Polivalente, tinha uma mina d’água, que jorrava um líquido, límpido e cristalino. Caprichou na embalagem. Ansioso, aguardou o fim da tarde e a chegada de “Dedão”. 

Leve e faceiro, surge o nosso personagem. “Zé Kelé”, foi logo dizendo: - “ Dedão, tenho uma surpresa prá você. Se descobrir, vai ganhar os “goles” até o fim do mês. Topa ?” Mais que depressa e curioso, “de cara”, respondeu: - “Se for cachaça, Zé, é mole. Conheço todas. De Salinas até o Capão da Onça, é comigo mesmo ! Vamos lá !” e fez o sinal de positivo. “Kelé” , mais que depressa, pegou o copo mais limpo da “ venda”, virou as costas para “Dedão”, encheu até a metade. – “Quero ver se é bom nisso. Toma “! 

“Dedão” ,saboreou o primeiro “trago”; insistiu no segundo, quando deu a famosa “bochechada”. No terceiro gole balançou a cabeça, num gesto negativo. –“Zé, essa eu não conheço. Perdí”. “Zé Kelé”, soltou uma sonora gargalhada. Ria de orelha a orelha e “ gosou “ o bebedor:- “Dedão ! cê bebeu água de mina, seu bobão !” Surpreso, olhos arregalados , o becão do Uberaba, mais decepcionado que espantado, em tom muxoxo, respondeu :- “Num brinca, Kelé.. isso é que é água ?”. 


Luiz Gonzaga Oliveira

















Nilton Santos, a “ enciclopédia do futebol”

É o conjunto de conhecimentos humanos. Dominio deles. Arte, desenvoltura, técnica, cultura.
Pele´, o “ rei do futebol”. Garrincha, o “gênio”. Nilton Santos, a “ enciclopédia do futebol”. Sabia tudo, os mínimos detalhes esquadrinhados nos gramados do mundo por onde exibiu a sua primorosa técnica. Chamava a bola de “ meu amor”, tamanha a intimidade que tinha com ela. No longínquo ano de 1962, Brasil, bi-campeão do mundo, no Chile, Nilton Santos, pela primeira vez chorou. Convulsivamente. Mais que todos os outros bi-campões. Sabia ter alcançado quase o impossível: eleito, mais uma vez, “ o melhor lateral esquerdo do mundo !”, aos 37 anos ! Era o fim de uma carreira vitoriosa daquele excepcional craque ! Conhecendo todos os segredos da bola, nada mais à desvendá-la, tornou-se bi-campeão do mundo !...

Questionados por muitos jornalistas radicais ,principalmente de São Paulo, Nilton Santos, encarou o desafio com unhas e dentes. Não podia falhar ! E não falhou...Daí o seu choro de criança. Sem se envergonhar. Bi-campeão ! Nilton, vestiu apenas dois mantos sagrados, o do seu amado Botafogo (RJ) e o da seleção brasileira. Ganhou quase todos os títulos que disputou. Mas, dizia “ o bi do Chile, foi o mais difícil. Todos queriam ganhar do Brasil. A seleção correu perigo. Pelé, contundiu-se. Amarildo, entrou e soube bem substituí-lo. Era um grupo idoso. 4 anos mais velho da conquista na Suécia”...

O Brasil não podia perder. Os “ velhos” (Nilton,Djalma,Didi e Zito) comandavam. Numa Copa, o principal é a vontade de vencer. Jogar bonito ? Lembram-se de 82 e 86 ? O importante é a tranquilidade, aliada a garra. Coração à prova, determinação. O velho coração do experiente Nilton Santos, superou a técnica, a classe e a intuição malabarista do jogador brasileiro . Sangue frio na decisão, aliado a fatores à superar o adversário. Coragem e entusiasmo, são preponderantes às vitórias. O Brasil, anda precisando aumentar sua auto estima, tão em frangalhos nos últimos tempos...
Nilton Santos, chorou. Era sua última partida com a camisa “6” da seleção. Depois, só a saudade recolhida. A idade, para determinas profissões, é cruel. Não quis ser treinador. Dizia “ o futebol profissionalizou muito. Acabou o amor a camisa. Não suporto. Foge do meu estilo “. Lidou o resto da vida, ensinando os segredos da bola, aos meninos Principalmente os carentes. Em Uberaba, criou o projeto “Bola de meia”, na periferia da cidade. Depois de 5 anos na terrinha, transferiu-se para Brasilia, onde instalou o mesmo projeto. Só que lá, tem continuação... Aqui, infelizmente...
Tornei-me seu “amigo-irmão”, conforme relata no seu livro de memórias. Confidentes, até. No fim da vida, retornou ao seu inesquecível Rio de Janeiro. Célia, a eterna companheira, sempre ao seu lado. A casa de praia, o uisquinho no fim de tarde, a brisa do mar que tanto amava, o “papo” de futebol com os antigos. Tive esse privilégio. 

Nilton Santos, cumpriu sua meta: teve filhos, plantou árvores e escreveu um livro. Até que o “alemão” (Alzheimer) chegou. Não teve jeito. Botafogo pagou tudo. A “ enciclopédia” não morreu ! Está perpetuada no estádio que leva o seu nome : NILTON SANTOS !

Luiz Gonzaga Oliveira

VAQUINHA

Em 1976, no auge do “ Uberabão”, o Uberaba foi convidado à participar do campeonato brasileiro. Houve uma mistura de política com o futebol. O partido do governo, a ARENA perdera em vários Estados e o futebol era a válvula de escape da “situação”. Com o lema “onde a Arena vai mal, um clube no campeonato nacional”...Whady Lacerda, presidente do USC,tinha um irmão, advogado, Rubens, que trabalhava com Agartino Gomes, presidente do Vasco da Gama (RJ), amigo do Cel. Heleno Nunes, presidente da CBF., também vascaíno. O “caminho “ esta aberto...

O time do Uberaba que disputava o estadual era fraco. Lacerda, foi buscar reforços no Paraná. José Maria Pizzarro, meu amigo, diretor de futebol do Pinheiros, um dos “ 3 grandes” do futebol paranaense naquele tempo, era diretor de futebol do Pinheiros. Foi fácil. Vieram os zagueiros Faeco e Edvaldo, o meia Sérgio Zaia, o ponta esquerda Zé Roberto e o artilheiro do campeonato paranaense, apelido incomum: Vaquinha !

Vaquinha, era centro-avante, tipo “rompedor”, valente, com “faro” de gol. Logo, caiu nas graças da torcida. Alegre e brincalhão, num jogo contra o Cruzeiro, no “ Mineirão”, falta conta o Uberaba; Nelinho, o melhor batedor de falta do Brasil, na época, preparou-se para cobrá-la. Vaquinha, ao lado de Edvaldo, Marquinhos e Miranda, formariam a “barreira” .De repente, Vaquinha, dirige-se à Nelinho e grita:-“Olha aqui, Manoel. Se você conseguir acertar a minha “perereca” (dentura), será o maior cobrador de falta do mundo, viu ?”. O riso foi geral. Nelinho, então.. .chutou a bola longe do gol de Diron...Ainda assim, o Cruzeiro goleou: 5x0....

Vaquinha, tinha raiva do nome de batismo: Joaquim Pedro. “Gosto que me chamem de Vaquinha e pronto !”. Certa ocasião, logo após treino em ‘ Boulanger Pucci”, foi entrevistado pelo repórter da “7 Colinas”, o saudoso Marco Antônio Nogueira.O jovem perguntou-lhe o que achava das moças que iam assistir futebol e assediar os jogadores. Mais que depressa, respondeu: -“Adoro as “Marias Chuteiras”. Elas não são “ largas” e nem muito “apertadas”... Moura Miranda, chefe da equipe de esportes da emissora, não deixou ir ao ar, a entrevista...

Em outra ocasião, Vaquinha saia rápido do estádio, após um treinamento puxado, quando foi abordado por torcedor fanático. O “bafo” do cidadão, era insuportável. Rescendia cachaça, cebola e um tremendo mau hálito. Vaquinha, não suportou, passou de entrevistado à entrevistador. Levando a mão à tapar o nariz, perguntou: -“ meu filho, que é que você tem na boca ?”. De pronto, o fã torcedor respondeu: -“ uma “ponte” caprichada que paguei caro por ela , sabia ? “. Vaquinha, não se conteve:- “ Meu, dá uma olhadinha nela. Tá toda cagada! ..

Depois de duas temporadas fazendo gols e alegrando a torcida colorada, Vaquinha, retornou ao Paraná. Nunca mais soube noticias dele.

Luiz Gonzaga Oliveira

Maurílio Moura Miranda

Estava há tempo ensaiando uma oportunidade para escrever sobre um dos mais ativos profissionais da classe jornalística da terrinha: Maurílio Moura Miranda, nome de batismo. Incrível a persistência, o zelo, o trabalho que ele desenvolve na cidade. São 45 anos atuando, ininterruptamente, num só prefixo de rádio, a “ 7 Colinas”. Narrador esportivo impecável, o seu trabalho é reconhecido além fronteiras. Empolgado, apaixonado por aquilo que faz, não mede esforços, nem sacrifícios para informar e opinar, com exatidão, isenção , os fatos que seus olhos vêem , o coração sente e a voz não cala. Profissional de méritos reconhecido.

Quando deixei a direção da “Sete”, Moura , chegava de Tupaciguara, a “ terra da mãe de Deus”, no idioma indígena. Veio de “ mala e cuia”, ao lado da sua Neuza, fiel e eterna companheira. Chegou liderando audiência, fazendo amigos, ganhando o respeito dos companheiros de profissão. Não tive o prazer de trabalhar com ele, o que não invalidou o inicio de uma sincera e respeitosa amizade, que perdura e o tempo não apaga.

Moura, seguindo outros exemplos, viu o “cavalo passar arreado”. Foi prá BH., rádio Guarani. Ganhar o Brasil, pois, talento tem de sobra . Provou e aprovou. Sentiu e não gostou. A saudade apertou. Voltou .Para o mesmo “ ninho” e alegria dos amigos e ouvintes fiéis. Sua obsessão em fazer as coisas bem feitas , é digna de elogios. Transmite ao apaixonado pelo futebol, a emoção do lance do gol ( explode,coração ! ), xinga, elogia, critica. Analisa, com extrema facilidade e precisão. Há que se registrar a sua ética, linguagem , sem usar o rasteirismo chulo.

Moura Miranda, é eclético. Formado em jornalismo, professor, funcionário público municipal, publicitário; hoje, é próspero produtor rural. Mas, o que gosta mesmo é ter a “latinha” nas mãos. Microfone, é hábito, paixão, desejo “grudado” na vida. Torcedores apaixonados, de vez em quando, o xingam. Os do Nacional ,o “acusam” de “colorado”. Os do Uberaba, apregoam ser ele, nacionalista. Quer prova maior da sua imparcialidade na narração esportiva ?

Por mim, lhe teria dado menção no “Guinness book”, o livro dos recordes. Acompanhar um time de futebol, há mais de 45 anos, não tenho lembrança que exista outro no rádio brasileiro. Desde as capitais, no auge do nosso futebol, às “ bibocas’ dos grotões mineiros, lá está a voz marcante de Moura Miranda, como se narrasse um final de Copa do Mundo ...Aliás, se quisesse, estaria nas “Oropa”, transmitindo o torneio mundial.Tem” cacife” profissional ... Preferiu as campinas verdejantes das suas terras na “Santa Rosa”...

A propósito, Moura , nunca gostou do tal de “of tube”, a narração de estúdio, fofas poltronas, “telão” de cinema e água gelada. Sempre enfrentou o campo do jogo. Alí, pertinho, sentindo a emoção do espetáculo,vendo as “ feras” de perto, fosse ruim ou muito bom e nem sempre em cabines confortáveis . Já tomou muito soco nas costas, cusparadas no rosto.. .Esse , é o Moura Miranda que conheço .
Família criada, netos crescendo, Moura, ainda encontra espaço na sua agenda às atividades sociais, no Rotary e maçonaria. No rádio, “anda meio mudo”. O Nacional, adormecido. O Uberaba, sem decolar, ele vai levando a vida no rádio, comentando apenas o óbvio. Ele e outros profissionais da terrinha, cansados em “dar murros em ponta de faca”. Tivessem todos os que escolheram Uberaba para morar, a mesma têmpera, o mesmo arrojo e vontade de servir como Moura Miranda, não tenho receio em afirmar, Uberaba seria outra !

Luiz Gonzaga Oliveira

Álvaro Lopes Cançado, “Nariz”

NARIZ


Em tempos de Copa do Mundo, é bom lembrar que Uberaba teve um dos seus ilustres filhos como participante emérito do maior torneio de futebol do planeta. Nascido em Dores do Campo Formoso ( hoje, Campo Florido ), antigo distrito de Uberaba, Álvaro Lopes Cançado, “Nariz”, foi “dublê” de médico e jogador da seleção nacional, que disputou a competição em 1938, na Italia, caso único e inédito no cenário mundial do esporte. O Brasil, não tinha a menor estrutura e recursos na área médica desportiva. O pouco que existia ,deveu-se mais a curiosidade e a força de vontade de alguns dirigentes e a abnegação ímpar do jovem médico, Álvaro Lopes Cançado, “Nariz”, jogador do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro , que, pela dupla missão, tornou-se mundialmente conhecido.

O garoto Álvaro, não queria ficar apenas na fazenda do pai, Afábio. Conhecer terras distantes , aumentar conhecimentos, aprender e estudar, ensinar os que precisavam de sua ajuda. Fisico privilegiado, atleta por natureza, o nariz ponteagudo, originou o apelido. “Beque dos bons, hoje, zagueiro, foi estudar no” Granbery”, de Juiz de Fora (MG) e jogar no Tupy, da cidade. Seu sonho era ser médico. Sonho concretizado quando ingressou na Medicina de B.H. e jogava pelo Atlético Mineiro, onde se destacou. Daí para o Botafogo, foi um “ pulo”. Era o que mais desejava. Jogar no clube do seu coração. 

No Rio, destacou-se e foi convocado para a seleção de 38. Exercendo a ortopedia, por razões pessoais ( a filha primogênita, Wanya, com necessidades especiais) , despertou-lhe o desejo de maior especialização. Responsabilizou-se pelo departamento médico da seleção, cabendo a “ Nariz”, ser o introdutor do primeiro departamento médico instalado no Brasil, no “ seu” Botafogo. O primeiro “ forno Bier” ( compressa de gelo e toalhas superquentes para apressar recuperação de contusões de atletas ) foi trazido por ele.

Sobre a copa de 38, uma curiosidade que poucos brasileiros jovens conhecem. Sua esposa, dona Olinda Magon Lopes Cançado, enfermeira formada, foi a sua grande parceira na seleção nacional. Tratou e curou inclusive, doenças venéreas ( gonorréia, cancro, etc.) de vários jogadores que viajaram com outras doenças e precárias situações de saúde. Da. Olinda, teve papel destacado ao lado do esposo, médico e jogador. Mulher de imenso valor.

Famoso e conhecido no mundo inteiro, convidado, proferiu palestras e conferências em várias universidade da Europa e Américas. No auge da carreira da medicina ortopédica, encerrado seu ciclo de jogador de futebol, preferiu retornar a Uberaba. Na terrinha, exerceu o melhor do seu profissionalismo, cumulando como Diretor da Faculdade Federal de Medicina do Triângulo Mineiro, hoje, Universidade Federal. 

Sua morte, até hoje, é lamentada. Seu tresloucado gesto, há mais de 30 anos, respeitado. Uberaba, precisa resgatar a memória de seus filhos ilustres. Infelizmente, não vi e nem tenho noticia, se lhe deram nome de rua, praça ou avenida na cidade que tanto amou. Desconheço se há registro em departamento da Federal de Medicina, homenageando o seu ex-Diretor... Nossos dirigentes atuais, tem memória muito curta ou são ignorantes em não conhecer o passado de homens que marcaram, com orgulho, a terra em que nasceram.

Luiz Gonzaga Oliveira

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Ramon Franco Rodrigues

Lembrando nomes que fizeram história na crônica esportiva da terrinha, trago hoje, a figura emblemática, simpática e folclórica do inesquecível Ramon Franco Rodrigues. Pelas mãos do não menos famoso, Raul Jardim e o incomparável Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, Ramon começou a escrever no falecido ‘ Lavoura e Comércio”, em 1952, ao tempo em que colaborava com o semanário esportivo “ A Bola”, dirigido pelo grande Raimundo Sarkis. Se o saudoso Sebastião Braz, depois o correto Rui Miranda, mais tarde a pena brilhante de netinho, foram os primeiros responsáveis pela página de esportes do jornal, a chegada de Ramon Rodrigues, o “Lavoura “ ganhou um novo colorido noticioso opinativo.
Ramon, tinha “ tiradas” que só pertenciam a ele. “Adiós mariquita linda”, referindo-se a derrota , ou do Uberaba ou Nacional, além de outras frases espirituosas, fizeram dele, o mais lido jornalista da cidade. Ao sentir a versatilidade do companheiro, Netinho, titular dos esportes da saudosa P.R.E.-5, viu nele o parceiro ideal. Inteligente,versátil, atualizado, palavra fácil, suas intervenções ficaram além , com frases inteligentes e bem humoradas. Em determinada transmissão, jogo dos rivais, USC e Uberlândia, num ataque do time visitante, a defesa colorada ficou em polvorosa. O sempre lembrado, Leite Neto, o “ locutor metralha”, quis saber a opinião de Ramon. Sem maldade, nenhum resquiscio de obscenidade, “ soltou”, sem cerimônia, a resposta:-“Leite, ainda bem que o Uberaba safou-se daquele cu de boi na área”...

O cronista esportivo Ramon Franco Rodrigues, o jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira e o colunista Ataliba Guaritá Neto

Foto:Autoria desconhecida - Década de 60.


Ramon tinha três paixões esportivas: Fabricio, Uberaba e Botafogo (RJ) .No “morto” estádio “Boulanger Pucci”, qualquer jogo, o árbitro marcasse falta contra o Uberaba, microfone na mão, o estádio inteiro ouvia:-“ Juiz Ladrão ! Sem vergonha ! Pega esse soprador de apito” , ”Safado”... tá roubando contra o Uberaba! “... Xingatório que não acabava...

Com o advento da TV-Uberaba ( também virou cinzas...), Ramon, era um dos comentaristas, ao lado de Netinho, Farah e Jorge Zaidan, equipe que tive a honra de dirigir. O programa “ Papo de Bola”, era a coqueluche dos telespectadores. O Papo” ir ao ar, ao vivo, (não tinha chegado a época do “vídeo-tape”), após o grande sucesso de audiência que era “ Nico Trovador” ,de saudosa memória...

Certa vez, começamos o programa. Sem Ramon. Apenas Farah Zaidan e eu. De repente, passos apressados, entra Ramon, esbaforido, quase ofegante e senta-se ao nosso lado. Perguntei-lhe:- “Tudo bem, mestre ?”

-“Bem nada!”, respondeu nervoso, semblante carregado. “Desculpe o atraso. Alí na general Osório, um caminhão bateu num carro e embucetou todo o trânsito e eu atrasei”, desculpou.

Farah Zaidan, ao ouvir a “ explicação”, escorregou da cadeira, foi para debaixo da mesa e saiu de “fininho”, rindo escancaradamente. Fiquei “firme”, “segurando” o programa. Quando olhei, ”Zé do Socorro”, cenógrafo,” Alemão”, o câmera e o Wanderley Alves, que dirigia o programa do “switch”, sumiram dos seus postos.... Ramon , quando percebeu a balbúrdia no estúdio, tentou “ consertar”:- “Calma pessoal, quando eu falei embocetar, foi no bom sentido!”....

A TV ficou quase 5 minutos com o “slide” e a equipe em gargalhadas homéricas ...
Ramon Franco Rodrigues, descansa no céu, à direita de Deus Pai Todo Poderoso .


Luiz Gonzaga Oliveira

Diretoria do Uberaba Tênis Clube

Diretoria do Uberaba Tênis Clube



Mandato de 1964 a 1968



Presidente: Valdir Rodrigues Vilela

            Diretores 


Em pé (esquerda para direita)

Mauricio de Oliveira

Ari Rossi

João Hercos Filho

Antonio Fontes Júnior (Tonico)

Luiz Guimarães

Reynildo Chaves Mendes



Assentados (esquerda para direita)


Enio Bruno

José Ferreira Bruno

Valdir Rodrigues Vilela (Presidente)

Fernandino Rodrigues Vilela

Afrânio Machado Borges



Foto: Schroden Jr.

(Foto do acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela).

ANTENÓGENES, MAGO DO ACORDEON

Quando se pensa em sanfoneiros na música brasileira, o primeiro nome que vem a cabeça é o do pernambucano Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião” – ou mesmo o do seu conterrâneo e sucessor artístico Dominguinhos. Pouca gente sabe que quando Gonzagão despontou nas rádios cariocas no início da década de 1940, o caminho do sucesso para os tocadores de sanfona já havia sido aberto e desbravado por outro pioneiro: o uberabense Antenógenes Silva – conhecido como “Mago do Acordeon” – que, no ano de 1938, já contava com mais de 100 músicas lançadas em disco pelo selo Odeon. 

Antenógenes Honório Silva nasceu em Uberaba em 30 de outubro de 1906, primeiro de dez filhos do serralheiro Olímpio Jacinto da Silva e de Dona Maria Brasilina, descendentes empobrecidos do famoso Barão de Ponte Alta. A necessidade fez com que estudasse pouco e trabalhasse desde cedo. Ainda criança, encantou-se com a sanfona, que o pai tocava e teve paciência de lhe ensinar. Sua mãe contava que o menino Antenógenes ia para o centro da cidade e demorava a voltar, embevecido com as músicas que ouvia nos gramofones das lojas da Rua do Comércio. Chegando em casa, tirava as melodias de ouvido e de memória na sanfona paterna. 

Uberabense Antenógenes Silva – conhecido como “Mago do Acordeon”

Adolescente, era convidado para tocar em bailes e festas da cidade. Cismou que queria um acordeon de verdade, mais caro e sofisticado que a velha sanfona de oito baixos do seu Olímpio. Economizou os trocados que ganhava nas festas até conseguir comprar um. Em pouco tempo sua fama chegava em Ribeirão Preto, onde ia tocar nos fins de semana. Tinha 21 anos quando resolveu tentar a sorte na capital paulista. Um amigo o viu de mala e cuia na estação da Mogiana e perguntou, “vai pra onde?”. “Pra São Paulo, estudar música, trabalhar e tocar”, respondeu, “um dia volto aqui para dar um concerto”. “Estudar para dar concerto aqui não precisa não”, retrucou o amigo. O trem já partindo, Antenógenes lhe disse: “Santo de casa não faz milagre”. E correu para o mundo. 

Em São Paulo, seu assombroso talento foi logo reconhecido. Tornou-se atração das rádios Educadoras e da Record. Venceu o preconceito que havia contra a sanfona: nas suas mãos, o arcodeon se transformava em instrumento de música erudita. Gravou os primeiros discos pela R.C.A. Victor e passou a ser convidado para tocar com os mais famosos cantores do rádio. Em 1934, firmou contrato com a Odeon e com a sua parceira de vida: a também radialista Lea Silva, pioneira dos programas femininos na rádio brasileira. 

Antenógenes Honório Silva

Entre o final dos anos 1930 e a década de 1950 o casal transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde juntaram dinheiro, consagração e fama. Antenógenes deixou os programas de música regional (num deles foi sucedido por Gonzagão, que o considerava como um dos seus mestres) e partiu para outros gêneros: valsas, polcas, maxixes e tangos. Chegou a fazer sucesso no Uruguai e na Argentina, onde tocou com Carlos Gardel e Libertad Lamarque. 

Sua esposa, Lea Silva, farmacêutica de formação e violinista amadora, comandava no rádio um programa com dicas de beleza e culinária. Juntos os dois montaram um laboratório de cosméticos, que fabricava o então afamado Creme de Beleza Marsileia. Já bem de vida e famoso, Antenógenes retomou os estudos: concluiu os cursos primário e ginasial e, não satisfeito, formou-se em química industrial. Em 1957 passou uma temporada na Europa, participou de um concurso promovido pela fábrica de gaitas Honner, na Alemanha, tendo sido reconhecido como um dos maiores acordeonistas do mundo. Apresentou-se também no Conservatório de Paris. 

Creme de Beleza Marsileia


No Brasil, compôs e gravou centenas de músicas, sozinho ou em parcerias. A mais famosa delas é a valsa “Saudades de Matão” (1938), em parceria com Jorge Galati e Raul Torres, que foi objeto de uma longa disputa pelos direitos autorais.



Menos famosa, mas não menos bela, é "Saudades de Uberaba", parceria com Oscar Louzada, que nunca encontrou um letrista disposto a complementar com poesia essa homenagem à nossa terra.




Participou também da gravação pioneira de “Tico-Tico no Fubá” ao lado do autor Zequinha de Abreu e fez a única gravação registrada de Dona Stella Maris, a esposa de Dorival Caymmi, que é vocalista na sua valsa “Saudade Profunda”.



No início dos anos 1960, o casal decidiu erguer do zero a Rádio Federal na cidade de Niterói. Mas um enfarte fulminante levou Lea Silva em dezembro de 1961. Antenógenes seguiu com a rádio e a fábrica por mais dez anos, quando vendeu tudo e se aposentou. Amante fiel das músicas antigas, continuou apresentando-se esporadicamente em bailes e homenagens. Sem filhos, faleceu em 2001, aos 94 anos, no mais completo ostracismo. Nenhum grande jornal do país publicou seu obituário. 

(André Borges Lopes / texto originalmente publicado no Jornal de Uberaba, em 27/05/2018)


domingo, 17 de junho de 2018

HISTÓRIA DO HINO DO USC

O hino do Uberaba Sport Club, famoso pela composição e melodia, foi criado, originalmente, para ser a marcha da cidade de Uberaba. Em pesquisa realizada pelo Professor Carlos Pedroso, este apresenta um histórico sobre os autores o hino do USC. Composto por Lourival Balduíno do Carmo, o hino tem melodia de Rigoleto de Martino. Conforme o pesquisador o autor da letra era barbeiro de luxo e trabalhava no início da Rua Artur Machado. Músico e poeta, ele tinha por costume se vestir muito bem, daí surgiu o apelido de Barão. Era poeta e músico autodidata. Após cinco anos de casamento, este nobre cidadão acabou enveredando para o alcoolismo. Perdeu tudo que tinha. Na pesquisa, Pedroso conta um diálogo entre De Martino e Barão. Lourival Balduíno certa vez afirmou ao maestro: "Eu ainda vou pôr letra de futebol nessa sua marcha de Uberaba". De Martino respondeu: "Eu não acredito. Conheço a sua capacidade de fazer versos livres, quase como trovas. Mas letra de marcha hinária você nunca terá capacidade de compor". Certa manhã, o Barão levou a De Martino a letra e profetizou: "Sua marcha de Uberaba, daqui por diante, vai ser mais conhecida como o hino do USC".Jornal da Manhã, de Uberaba-MG, em 15/07/1999.


Composto por Lourival Balduíno do Carmo(Barão) e melodia de Rigoleto de Martino


Tenho fulgente história.
Até os deuses já cantam minha glória!
Sou o valente campeão
Que de Uberaba possuo o coração.
Sempre leal e forte,
Sou o denodado Uberaba Sport,
O astro rei, brilhante sol,
A potestade mor do futebol.
Meus jogadores lutam sempre com afeição
Em prol do belo alvi-rubro pavilhão
Nada os retém em seu fervor
Acometendo com ardil e valor.
Em campo altivos, briosos, viris,
Sempre triunfam nas pugnas febris.
Seus peitos tremem de santo ardor
E a glória os beija num lance de amor…
Nobre e liberal,
Meu time não tem rival!
É vencer a sua divisa ideal.
Tem vitórias mil:
É a glória do Brasil!
Ah! Valente Sport
Tão alvejado e sempre forte!
Aleguá!…guá!…guá…Urrah!…Urrah!
Salve! Ó campeão
Da Princesa do Sertão!


Títulos
Campeonato Mineiro da Segunda Divisão:2003 - Campeão.
Campeonato Mineiro da Segunda Divisão: 2007- Vice-campeão.
Taça Minas Gerais: 1980 - Campeão.
Torneio de Acesso ao Campeonato Brasileiro: 1986 - Campeão.
Torneio Santos Dumont: 1974 - Campeão.
Taça Minas Gerais: 2006 - Vice Campeão.
Competições Oficiais
Taça Minas Gerais: 2009 - Campeão.
O Uberaba no campeonato mineiro

Hino

Carta aberta aos caminhoneiros


Dada a conhecer hoje 27/05/2018 no Posto Zote, em Uberaba/MG.

Consta que no dia 30 de junho de 1944, o Brasil entrou na II Guerra Mundial, ao lado dos países aliados: Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética e as resistências civis-militares de países como a França. Há 74 anos, portanto, nossos 443 jovens soldados morreram pela pátria, apesar de pouco ou nada saber sobre as razões do conflito.

Os que viveram aquele tempo contavam que o nosso país mergulhou em crise geral. Nossos pouco eficientes veículos, então movidos a gasolina e óleo diesel (popularmente chamado de óleo cru), passaram a ser abastecidos com gasogênio. Racionamentos eram comuns em todos os setores da nossa economia. Aguentamos firmes!

Hoje estamos vivendo crise de guerra em pleno “tempo de paz”. Nossos caminhoneiros pararam o Brasil por melhores condições de trabalho e essa não é a primeira vez nos últimos dezenove anos. “Sem caminhão o Brasil para”, foi esse o slogan dos caminhoneiros que deram um breque no país em 1999. Nossos governantes não aprenderam a lição.

Se durante a 2ª Grande Guerra, quando tínhamos pouco mais de quarenta milhões de habitantes fomos privados de tanta coisa, imaginemos agora que temos mais de 213.000.000? Nossos irmãos caminhoneiros ao pararem seus caminhões, testaram e viram o poder que têm. De cima a baixo na economia, todos os setores em cascata foram comprometidos. De norte a sul do país vimos, em tempo real, estradas literalmente obstruídas por veículos médios e pesados. E o povo, apesar de ser o fiador da conta e sentindo doer na própria carne, bate palmas para as manifestações adotadas. Os caminhoneiros, sem usar o vandalismo e a violência fizeram suas pressões e ganharam a simpatia da sociedade.

Para que fique gravado na história, é bom registrar que sem a presença de sindicatos ou influência de partidos políticos, a frota brasileira foi mobilizada longe dos interesses da mídia. Tanto foi verdade que o governo de Michel Temer, encurralado, convocou o Exército Brasileiro para dissolver o movimento. Deu errado porque a Força se aliou aos caminhoneiros! O país parado, parado, parado, vê suas forças policiais se perfilarem com os manifestantes que lutam por uma causa nobre: reduzir o preço dos combustíveis e facilitar a vida dos brasileiros. 

Não é segredo para ninguém que a história sempre reservou lugares especiais para aqueles que arcaram com os prejuízos por ter colocado seus destinos à mercê da sorte. Nossos caminhoneiros são autênticos heróis ao exporem seus destinos para nos proporcionar boa qualidade de vida. Ainda que sofram as pessoas Brasil afora, todas elas sabem que sofrem por uma causa digna: colocar o caminhoneiro no lugar que merece, ou seja, tirá-lo da condição desumana de trabalhador descartável e promovê-lo ao patamar de um ser humano valorizado e dono de uma força até então desconhecida por ele próprio e todo a sociedade brasileira.

Prossiga caminhoneiro! Sua sorte está lançada! Seus compatriotas estão com você! Sua família, mesmo distante, compreenderá a sua luta! Nós do outro lado guardaremos nossos veículos em casa os usaremos o mínimo possível para conseguir que os combustíveis tenham seus preços reduzidos!

Eu, particularmente sei o que é a vida do caminhoneiro e a de sua família. Meu saudoso pai no ano de 1980 ficou ilhado no Rio Tocantins e incomunicável por 54 dias. Ao ser localizado e, ao voltar para casa vi minha mãe morrer no outro dia. Vocês, caminhoneiros, estão expostos a esses dramas.


Caminhoneiro! Não se esmoreça! Nós estamos com você!


João Eurípedes Sabino – Uberaba Minas Gerais. 

Obras-Primas do Cinema Europeu


METROPOLIS
Criatividade e Arrojo

Guido Bilharinho

Metropolis


         A ficção-científica nasce com Edgar Allan Poe, que, além de tudo, em 1844, quase um século antes de Orson Welles, agita Nova York com a falsa notícia, publicada no New York Sun em tons sensacionalistas, da travessia do Atlântico por máquina voadora dirigida, entre outros, por um certo Monck Mason. Aliás, Poe é, também, o criador da ficção policial. Na literatura, são gêneros menores ou, na concepção de muitos, nem o são. Apenas, simples entretenimento. Na verdade, com exceções tão raras quanto notórias, entre as quais os contos poescos, não passam disso.

         No cinema, contudo, tanto um como outro adquirem importância e status artístico, assumindo posição destacada.

         Metropolis (Idem, Alemanha, 1926), de Fritz Lang (Áustria, 1890-1976), é talvez, cronologicamente, o primeiro grande filme de ficção-científica. Não simplesmente o primeiro, porque, antes dele, e desde Méliès, com seu Voyage Dans la Lune (França, 1902), o gênero já se instala no cinema. Mas, o primeiro de valor artístico, de arrojada criatividade.

         É filme expressionista. Síntese entre o expressionismo, a inventividade artística e a ficção-científica.

         Impressionam, nele, a convergência e a convivência de concepções futuristas na arquitetura, no urbanismo e na parafernália e infraestrutura mecânicas, abrangendo desde TV, robótica (um perfeito e, segundo consta, primeiro robô do cinema), e complexa combinação de máquinas de toda espécie, função e finalidade com as mais antiquadas e superadas formas de habitação subterrânea, como as catacumbas.

         Lang coloca, pois, lado a lado, modernidade e arcaísmo: a) arranha-céus colossais e coruscantes, entre os quais se insere, insólita, a casa-cabana de cientista genial, porém, estereotipadamente aloucado, vezo expressionista ecoando a tendência preconceituosa do homem comum em relação aos sábios; b) portentosos viadutos e sombrios corredores catacúmbicos cavados na rocha; c) interiores futuristas e cavernas tumulares de ossuários à mostra. Estas, aliás, lembram e remetem àquela descrita por Edgar Allan Poe (EE. UU., 1809-1849), no conto “O Barril de Amontillado” (The Cask of Amontillad), da série Contos de Terror, de Mistério e de Morte. Conto este, aliás, que, fundido com “O Gato Preto”, e ambos alterados em muitos pontos, servem de base ao segundo episódio do filme Muralhas do Pavor (Tales of Terror, EE.UU., 1962), de Roger Corman.

         Antes do Chaplin de Tempos Modernos (Modern Times, EE.UU., 1936), Lang focaliza a robotização do operário pela imposição de movimentos uniformes e constantes.

         Raros são os filmes, proporcionalmente à evolução científica da época de sua feitura, com poder imaginativo tão desenvolvido e marcado por percepção e realização tão avançadas e ousadas como Metropolis. E, ao mesmo tempo, tão terrível em captar a realidade da exploração do trabalho humano e a volubilidade e desorientação das massas amesquinhadas e animalizadas.

         Nem só isso, nem só tudo isso, porém. Além das notórias distorções impostas pelo expressionismo, realçando o mistério, o inaudito e o indizível, o sentimento humano e humanitário permeia o filme do início ao fim. Afinal, suas personagens são seres humanos, malgré tout.

         Como construção cinematográfica e criação artística, Metropolis constitui uma das obras capitais não só da ficção-científica e do expressionismo, mas, do cinema, que nem o exagero e mesmo simploriedade da justaposição antinômica capital x trabalho conseguem empanar. Porém, são justamente excessos, desvirtuamentos e contrastes que Lang quer realçar, mesmo que, nesse passo, incida num maniqueísmo convencional.

         Sob o aspecto da interpretação dos atores, o filme, desde 1926, denuncia o que muitos, à época, inclusive e principalmente Chaplin, não queriam ver e aceitar: a limitação imposta pela falta do som, levando não só nesse, mas, principalmente nele, a demasias interpretativas para conseguirem os atores exprimir e enfatizar as emoções e sentimentos que avassalam as personagens. No caso, é enorme o esforço nesse sentido dos dois protagonistas, o casal de jovens inserido no vórtice dos acontecimentos e neles interferindo com sua ação idealista (e bastante idealizada).

         Por fim, em se tratando, como se trata, de filme expressionista, mesmo que de ficção-científica, é inadmissível (para se ficar num termo civilizado) sua colorização, conforme versão existente. A própria gênese do filme, como de qualquer obra do expressionismo cinematográfico, repele a claridade, a iluminação, o pluralismo cromático. Sob esse prisma, a cópia colorizada que a televisão por vezes exibe, e segundo se sabe, ainda por cima mutilada, é simplesmente anti-expressionista e ofensiva à autoria e à criação artística.

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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.


Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene entrega Título de Cidadania ao casal.Sr.e Sra Família Palis

Câmara Municipal de Uberaba em Sessão Solene. 



Vereadores da Legislatura de 1970 a 1972.


Em pé (esquerda para direita)


Sílvio Roberto dos Santos Prata
Eurípedes Soares
Álvaro Diniz de Deus
João Antonio Speridião
Homero Vieira de Freitas
Israel José da Silva (Presidente da Câmara Municipal de Uberaba)
Wirson Rezende da Cruz
Senhor e Senhora Palis
Munir Dib
Sebastião Rezende Braga
Pedro Solé
Valdir Rodrigues Vilela (Secretário Geral da Câmara Municipal de Uberaba)

Foto: Schroden Jr.

(Foto do acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela).

HISTÓRICO DA MAÇONARIA EM UBERABA

Publicada 3ª edição
do
HISTÓRICO DA MAÇONARIA
EM UBERABA
de Inácio Ferreira


Fartamente ilustrado

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus 
 Foto: Antônio Carlos Prata

Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus
Foto: Antônio Carlos Prata

A igreja matriz onde hoje se localiza nossa catedral teve o início de sua construção em 1827 (o Brasil já havia se tornado independente) por intermédio de Vigário Silva mas seria apenas em 1854 que seriam realizados ali os primeiros ofícios religiosos. Esses 17 anos de construção de um templo razoavelmente modesto mostra-nos a precariedade econômica da população local nas primeiras décadas do século XIX. Enquanto a região nordeste ainda se mantinha com a produção e exportação de açúcar, a região central de Minas havia se convertido em grande polo econômico por conta do ouro e convertido a própria cidade do Rio de Janeiro em capital pela proximidade de ambas, São Paulo havia se caracterizado pelas atividades bandeirantes e a região sul pela produção de charque, em Uberaba ainda se definia uma economia em parte agrícola marcada pela produção de arroz (vide os ramos de arroz até hoje presentes em nosso brasão municipal) e em parte comercial por conta do ponto estratégico que nos situamos no Brasil Central, entre três importantes regiões: Minas, São Paulo e Goiás. Destaco também a participação do escravo afro-brasileiro Manoel Ferreira oferecido pelo sargento-mor Eustáquio para contribuir na construção da nova matriz. Não nos esqueçamos que este país foi literalmente edificado por braços negros, aos quais somos tão devedores, e que em nossa igreja matriz não foi diferente. Em 1857 graças a Frei Eugênio a igreja foi dotada de uma grande sacristia, um adro e recebeu paramentos e alfaias. Em 1868 cada uma das duas torres recebeu um sino de cerca de trinta e cinco arrobas cada que permanecem na catedral até hoje. Interessante notar que com o avançar do século e o consequente enriquecimento material da população uberabense, a própria igreja se torna espelho dessa prosperidade por estar sempre em estado de reforma e sempre recebendo melhoramentos. 

No final do século XIX teremos o início de um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com o advento da criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já sob o regime republicano, e inspirados pelas reformas modernizantes e arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grandes avenidas e Manaus construiu seu Teatro Municipal) os uberabenses receberam a energia elétrica em 1904 e várias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana Republica pelo Papa Pio X. Por determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração de Jesus e D. Eduardo inaugurou deste modo a igreja do Sagrado Coração – atual igreja da Adoração Perpétua ao lado da Cúria Metropolitana – com a prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz de Santo Antônio e São Sebastião. 

Em 1910 a matriz passou por grande reforma em que se definiu o estilo arquitetônico gótico manuelino e que seria dotada de apenas uma grande torre como até hoje se encontra desde esta data. Finalmente, em 1926 por determinação do bispo D. Luis Maria de Sant’Ana e decreto da Sagrada Congregação Consistorial a catedral seria transladada para a matriz de Santo Antônio e São Sebastião à Praça Rui Barbosa e os padroeiros seriam invertidos, permanecendo assim, em definitivo, como Catedral Metropolitana do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926. Ainda assim, de modo a manter viva a memória de mais de cem anos que Uberaba permaneceu sob a proteção de Santo Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de visibilidade e veneração. 


 Vitor Lacerda.



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Cidade de Uberaba

LIVRO: MOVIMENTOS POÉTICOS DO INTERIOR DE MINAS GERAIS VOL. II

Guido Bilharinho




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O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865 de José Mendonça


Publicada 2ª edição do ensaio que inaugurou a coleção “Cadernos da ALTM” em 1964


O VISCONDE DE TAUNAY E O TRIÂNGULO MINEIRO DE 1865





segunda-feira, 28 de maio de 2018

Estádio Municipal Engenheiro João Guido, mais conhecido como Uberabão

 Estádio Municipal Engenheiro João Guido.

Inaugurado em 1972, o Estádio teve o início de sua construção em 1961. Popularmente chamado de Uberabão - O nome do estádio é uma homenagem posterior à inauguração e ao mandato do Engenheiro João Guido, que quando prefeito tornou o imóvel público e retomou a construção.

Foto: Final da década de 1960


Foto: autoria desconhecida 


Fonte: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. 

                           

terça-feira, 15 de maio de 2018

Time Uberaba Sport Club (USC) Ano - 1967

Time Uberaba Sport Club (USC)  Ano - 1967

Time do Uberaba Sport Club (USC) - Com um elenco abarrotado de jogadores renomados em 1967. 

Da esquerda para direita: Em Pé - João Batista, Lé, Vadinho, Hermínio, Quincas e Pedro Bala; 

Agachados - Valter Cardoso, Valtinho,Juca,Roberto Peniche,e Carlos Alberto 

Foto: autoria desconhecida 

(Foto do acervo pessoal de Wagner Eustáquio Carvalho) 

terça-feira, 8 de maio de 2018

Obras-Primas do Cinema Europeu


NOSFERATU 

A Arquitetura do Terror 



Guido Bilharinho

A Arquitetura do Terror

Em 1922, na Alemanha, Friedrick Wilhelm Murnau (1889-1931) realiza Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens), baseado no livro de Bram Stoker, conquanto sem dizê-lo e até mudando os nomes das personagens, o que lhe valeu, a ele e ao produtor do filme, processo judicial.

Não obstante ter-se posteriormente várias versões do tema, como as realizadas por Tod Browning (EE.UU., 1932), Werner Herzog (Alemanha, 1979) e Francis Ford Coppola (E.E. UU., 1992), é indispensável - e mesmo inevitável - compará-lo com a refilmagem de Herzog.

Não por ser alemã, mas, porque Herzog não efetua sua versão do assunto, mas, deliberada e meticulosamente, reconstrói o roteiro de Murnau com ênfase na figura de Drácula. Só que o faz modernamente, já com recursos técnicos superiores, além do som e da cor, inexistentes no início da década de 1920.

Esses fatores permitem-lhe poetizar as terríveis existência e práticas mortais de Drácula, realizando filme belíssimo e, como é seu propósito, paralelizando o original cinematográfico de Murnau. Conquanto tudo isso, não supera o paradigma e imprime ao tema orientação diversa e, em alguns casos, contraposta.

Com Murnau, a ação, os atos e fatos que a compõem são apresentados em cenas e sequências breves e cortes rápidos, essencializando-se a exposição temática. Em Herzog, com auxílio da dialogação, explicitam-se mais os significados do conteúdo das imagens e nelas mais se demora.

Nesse modus faciendi, evidente retrocesso. Se na década de 1920, não tendo o cinema nem trinta anos de existência, obtém-se acentuada contenção, que permite entendimento e acompanhamento do sentido imagético, o contrário, cinquenta anos depois, revela diminuição do rigor criativo do cineasta para atendimento do vicioso comodismo das plateias.

O filme de Herzog, sob esse prisma, é linear e, em alguns casos, comete excessos, como nas cenas da longa e morosa viagem do corretor de imóveis (o mocinho da trama), entre a aldeia onde se hospeda e o castelo de Drácula, nos Cárpatos, na mítica Transilvânia.

Em Murnau, não só isso (como tudo o mais) é feito com parcimônia e economia de meios, entre os quais sobreleva o tempo.

Se Herzog é poético e paisagístico, Murnau é plástico, escultural e arquitetônico. Se tudo naquele é banhado por suavidade pictural, neste sobressaem linhas e formas. A cena, esculpida ao vivo, de Drácula no tombadilho do funesto navio que o conduz a Bremen, tendo como ornamento o mastro e o cordalhame marítimo, é de expressiva beleza, tornando-se emblemática.

Talvez dada sua grandiosidade criativa, Herzog não a tenha desejado (ou podido) reproduzir. No navio de seu filme, Drácula não aparece, restando apenas presença referencial induzida, não obstante mortífera.

Em Murnau surge duas vezes, no porão e no tombadilho e, em ambas, de maneira impressionante e aterradora.

Além disso, da linearidade explicativa de um e do rigor e concisão de outro, ocorre outra importante divergência de concepção entre esses filmes.

Como se disse, Murnau, por uma série de razões e exigências técnicas e de produção, contém-se e substancializa-se. Contudo, essa característica é também conceitual e consciente. Seu Drácula não se expõe nem é exposto. Apenas existe, surge e age. Rápida e fulminantemente. Dele mais não se sabe nem se diz. É o perigo e a morte. Impessoais, objetivos, determinantes. Já Herzog humaniza a figura, que exterioriza sua sina eterna e a lamenta. Mas, nem por isso é menos letal.

Nítida, porém, é a semelhança física entre os dois atores, procurando e conseguindo Herzog reconstruir fisicamente a personagem de Murnau. Porém, esta é hierática, esguia, ágil. A de Herzog, dadas sua humanização e maior exposição, mais presente e lenta. Ambas, no entanto, eficazmente concebidas e concretizadas.

No mais, Herzog altera, em vários pontos, alguns fatos, como a volta do corretor inconsciente e dominado pelo contágio do vampiro, enquanto que em Murnau retorna sem esse estigma, reintegrando-se no convívio familiar. Notadamente, altera a perspectiva de Murnau, que encerra a tragédia com a possibilidade de sua continuidade, o que se interpreta como sinal do tempo.

Costuma-se afirmar que Murnau previu Hitler. Não é tão certa essa possibilidade, já que, se há previsão, seria de Bram Stoker e não dele. Ademais, e principalmente, nada induz a isso. O fenômeno vampiresco e a lenda do conde Drácula preexistem ao século XX.

É verdade que em Murnau sai-se desenhando cruzes nas portas das casas onde existem pessoas tomadas pela peste, o que reporta às suásticas apostas nas residências dos judeus pelos nazistas. Todavia, mera coincidência. Nada tem a ver uma coisa com outra. Na Noite de São Bartolomeu, também sinalizaram-se as residências dos huguenotes antes de sua matança, conforme o respectivo episódio em Intolerância (Intolerance, EE.UU., 1916), de D. W. Griffith.

A estória de Drácula, conquanto não esgote seu significado em si mesma, refere-se a temores, anseios e angústias humanas atávicas e milenares, não sendo, por isso, suscetível desse tipo de extrapolação. O fenômeno nazista é de outra ordem, não obstante também amoral e impiedoso.

Em suma, do ponto de vista de construção, inventividade e linguagem cinematográfica, o filme de Murnau é superior ao de Herzog. Sua depurada beleza emerge da própria imagem e sua montagem. No filme de Herzog exsurge do conteúdo da imagem.



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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.