quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A RUA DO “SANTO”...

Há uma condicionante que, volta e meia, gosto de lembrar: Uberaba é uma cidade exemplar. Tudo aquilo que os nossos homens públicos propuseram realizar, conseguiram vitoriar-se em suas conquistas. Começou com a saga do zebu, o pioneirismo da nossa gente, o intrépido homem do campo, melhorando a genética do rebanho bovino e seus avanços. Na Educação, fomos vanguardeiros, iniciando no ensino profissionalizante e a culminância dos cursos universitários.

Em tempos idos, os bailes homéricos de uma cidade rica, incluindo até “prado de corridas de cavalos”, cassinos luxuosos, a terrinha se fez presente também . Uberaba, entre tantos fatores altamente positivos, não poderia deixar de receber o título de “cidade boêmia”. Cabarés, jogos de azar, prostituição, juntos e misturados, aliados aos “chiques” clubes sociais ...Turistas, forasteiros, visitantes que aqui aportavam em outros tempos, se assustavam quando ouviam falar que o nosso puteiro, tinha nome de santo: São Miguel...Arcanjo ? Não tenho certeza...

                Rua São Miguel – atual Rua Dr. Paulo Pontes                                


Bem central,início do bairro São Benedito, atrás da Catedral Metropolitana, encravada entre ruas familiares, a “São Miguel”, era conhecida no Brasil inteiro. Bem mais “falada” que a “casa da Eny”, em Baurú (SP).Logo na esquina da praça Frei Eugênio, o “Tabu”,Bar-restaurante, famoso e que resiste ao tempo, só que em outro local e inteiramente familiar. Do outro lado da rua, a “venda” do Armando Angotti. Descendo a rua, feéricamente iluminada, lâmpadas”pisca-pisca”, vermelhas , anunciavam as casas: Tunica,Amelinha,Negrinha,Jovita,”tia Moça”,a travessa Ernesto Pena,conhecida como o “beco dos aflitos”.

Do outro lado da rua, a Erotildes, o “Cassino Brasil”, a Tubertina, Nena, Isolina e, quase chegando à rua Vigário Silva, o bar “Boca da Onça”(Não confundir com o sério”Buraco da Onça”...)do Caio “Guarda”,que não fechava nunca, pois,não tinha porta...Final de semana, o movimento na rua, “dobrava”.O “Tabu”,com o Chin e o Antônio, varavam madrugada. O churrasquinho do Jaime,cheirava até no bar do “Yassu”, na rua Tristão de Castro...

A rua do “santo”,também era conhecida como”baculerê”,puteiro,”rua das primas” e outras alcunhas. A “São Miguel”, era freqüentada pela fina flor da sociedade masculina, sem distinção de classe, cor ou credo.Ali, se misturavam homens sisudos,figuras patéticas, jovens bem vestidos,maltrapilhos,pais com os filhos e outras extravagâncias.

O “Cassino Brasil”, era a atração. A mulherada vestia suas melhores roupas, os perfumes mais caros, a “maquiagem” mais atraente, a fim de conseguir o melhor “programa”. O “show” comandado pelo Paulo, amante da Negrinha, culminava com a apresentação da dupla”Birinha e Diquinha”,dois “frescos”( naquele tempo, ninguém falava em homossexual,bicha,travesti,transgênero ou outra espécie) era “fresco” ou “viado”..Além deles, tinha o Amador,viado metido a intelectual, vivia com livros debaixo do braço e puxava a “lili”, sua cachorrinha de estimação, por um cordão encardido...

O respeito na “São Miguel”,era total.Qualquer desavença entre , “gigolô” agredindo mulher,bêbado inconveniente,lá estava o “cabo Tatá”, colocando ordem na “casa”, escoltado pelo “cabo Ranulfo” e o “investigador “ Benedito.

“Andei” pesquisando sobre as “moças de vida nada fácil” que residiam na “São Miguel”. Confesso-lhes,não encontrei nenhuma mãe da atual safra de políticos da santa terrinha...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                             

A FALSA BOMBA NO JOCKEY CLUB DE UBERABA


De vez quase em sempre, lembro-me de fatos acontecidos na santa terrinha e que o tempo não apaga. Histórias verídicas há meio século, de repente vem-me á lembrança. Episódios em época das saudosas Exposições... então. Por ocasião de uma delas ainda no regime militar, o então Presidente da ACBZ,médico e líder pecuarista,João Gilberto Rodrigues da Cunha,terminava o seu discurso de abertura da Expozebu,criticando,ásperamente, a política agrícola praticada no Brasil,sucedeu-lhe o então Ministro da Agricultura,Luiz Fernando Cirne de Lima, um gaucho de têmpera, que nas entrelinhas de sua”fala”,concordou com a explanação do Presidente da entidade promotora da mostra zebuína, sobre o declínio ou pouco compreendida, política agrícola governamental. O discurso do Ministro Cirne Lima,como sói a acontecer nessas ocasiões, alcançou repercussão nacional. No outro dia, 4 de maio, o então poderoso Ministro do Planejamento do governo da revolução, Delfim Neto, mostrou o “cartão vermelho” para o colega Cirne Lima....

Outro episódio marcante e que não me sai da memória, foi também, numa abertura de Exposição Agropecuária e a presença do último Presidente do regime militar, João Batista de Oliveira Figueiredo.O general, andou dando uns cutucões no braço do então Presidente Manoel Carlos Barbosa, por não ter “apreciado” o que continha o discurso do ruralista, criticando a política agrícola do governo revolucionário. A cena e as fotos, ganharam páginas dos principais jornais brasileiros; televisões e revistas, “deitaram e rolaram” relatando o inusitado fato...

Agora, ganhou repercussão internacional a “nossa Expozebu”,foi da visita do Presidente-ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner. Movimentou todo o aparato do Itamarati, cerimonial da Presidência da República, o Presidente brasileiro à recepcionar o ilustre visitante e um sistema de segurança jamais visto pelas nossas bandas...No jantar de gala,no saudoso e falecido salão de festas do tradicional Jockey Club de Uberaba, a segurança de Stroessner, pelo serviço secreto paraguaio, recebeu a informação (graças a Deus, falsa)que uma bomba iria explodir no prédio da praça Rui Barbosa. Militares “guaranis”, não deixaram copo sobre corpo, talher por talher, mesa sobre mesa, revistaram todos os garçons que iam trabalhar, a guarda feminina paraguaia, obrigou as cozinheiras e “garçonetes” a tirar até as calcinhas para revista...Felizmente, era rebate falso, mas que a noticia “rodou” a América do Sul, “rodou” !

Jockey Club de Uberaba

Lá atrás,1963,quando já se falava em “reforma agrária” e mudança na Constituição Federal, o Presidente João Goulart, passou” maus momentos “na inauguração da Exposição de Uberaba. Já na chegada ,no aeroporto (que naquele tempo não se chamava “Mário de Almeida Franco” ), praticamente todos os carros que foram recepcionar a vinda do Presidente da República, principalmente os dos pecuaristas, ostentavam uma faixa, de papelão, assim escrita: “A Constituição é intocável!”. Prá não dizer mais, o mal estar dos que estavam à espera da comitiva presidencial, acima de tudo, constrangedor. No palanque, o discurso do Presidente da ABCZ, Antônio José Loureiro Borges, foi de críticas severas ao que acontecia no campo...

No ano seguinte, João Goulart, estava deposto, exilado no Uruguai, residindo nas suas fazendas de gado; a “reforma agrária” não saiu, a Constituição Federal estava “rasgada” e uma nova ordem política-institucional, instalada no Brasil. O Marechal Humberto Alencar Castelo Branco, com muitas festas, mesuras e vivas, inaugurava mais uma Exposição de Gado Zebu, a mais famosa das Américas. O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, era o novo Presidente do Brasil.

Luiz Gonzaga de Oliveira

ACIU E GRANDE HOTEL - UBERABA

PARECE QUE FOI ONTEM ... 
Aciu e Grande Hotel - Avenida Leopoldino de Oliveira
Uberaba das Minas Gerais! Aqui era um tempo de cadeiras nas calçadas. Era um tempo tranquilo em que se via estrelas no céu. Tempo em que as crianças brincavam sossegadas na claraboia da lua e o cachorro de casa era um grande personagem.

Ah! Tinha também o relógio cuco na parede... Ele marcava as horas, mas não media o tempo, simplesmente ele evitava o tempo...
                                                                                                                                                         Adilson Cardoso‎           
                                                                                                                            

UBERABA ESTÁ EM TODAS...

Tenho imorredoura saudade de dois amigos fraternos que estão no Plano Celestial: Ataliba Guaritá Neto e Raul Jardim. Netinho e Raul, foram jornalistas de têmpera; inigualáveis. Deixaram nas páginas do saudoso “Lavoura e Comércio” e nos microfones da sempre lembrada P.R.E.-5, uma vida de paixão e amor por Uberaba.Seriam nomes nacionais se, obstinadamente, teimaram em não deixar a sagrada terrinha ! Aqui era o seu canto, encanto,encontro e desencontro. Despiam-se de vaidades pessoais para enaltecer feitos de uberabenses que brilharam e/ou brilhavam Brasil afora. Uma frase quase épica, é reverenciada até hoje, por todos nós: -“ Uberaba está em todas !”

Mário Palmério,Joubert de Carvalho, Aluizio Prata, Alaor Prata,Leopoldino de Oliveira,Chico Xavier, Jacob Palis Júnior,Avelino Inácio de Oliveira, Glaycon de Paiva, Pedro Moura, Antenógenes Silva, Fidélis Reis, entre outra dezena de uberabenses que honraram e orgulharam a nossa sempre amada Uberaba,enaltecendo-a em todos os quadrantes nacionais. Com que orgulho, num misto de alegria e vitória, Netinho e Raul, registravam feitos gloriosos desses uberabenses de cepa !

Ainda em vida,Raul e Netinho, escreveram o sucesso dos irmãos Ayrton e Alaor Gomes,Joel Lóes,Paulo Marquez,Wilson Moreira,Wilmar Palis,Orlando de Almeida,os irmãos Augusto e César Vannucci, José Viana,Gontijo Teodoro,Wanderley Greiffo, Yara Lins, que, nas letras,voz e canto, sempre que perguntados de onde vieram, gritavam ,alto e bom som:” sou de Uberaba!”, como fazem nos dias atuais, Fernando Vannucci e Fábio William.

De uns tempos, até cá essa parte, a frase foi, lamentavelmente, sendo deturpada, perdendo o sentido da honraria, do valor, merecimento, tão valorizada em épocas passadas. Netinho e Raul, devem estar remoendo na morada eterna, quando ouvem, lêem, vêem, o nome de Uberaba tão achincalhado, mal visto, por filhos natos uns, “filhos-postiços” outros, que não souberam honrar e dignificar cidadania tão respeitada e orgulhosamente afamada.

Vieram os fatos escabrosos envolvendo gente da terrinha no escândalo do “mensalão”, de triste memória,trazendo à baila, um ex-Ministro de Estado,deputado e ex-Prefeito, agora “ficha suja” e seu fiel escudeiro, na lama moral do “mensalão”. Ainda outro dia, outro uberabense-“postiço”, ficou longo período preso, depois de descoberta as falcatruas do ex-deputado e secretário de Estado, de uma “cidade das águas” que jamais será concretizada.

Depois, um “delator da Lava Jato”, que teve uma ascensão politica meteórica, é “hóspede” de uma das mais famosas prisões brasileiras: a “Papuda”, em Brasília...Ainda no desdobramento do “petrolão”, um dirigente da Petrobras, devolveu 90 milhões de dólares ao governo brasileiro, dinheiro obtido no “propinoduto” da estatal, casado com a filha de um ilustre uberabense...Não parou por aí.Carioca,fazendeiro,desposou prendada senhorinha da nossa melhor sociedade. Com ele, está preso também o seu pai, Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Dirão os uberabenses :-“é muito peso para o meu pobre caminhãozinho”...

Se nomes não cito desses dois últimos lamentáveis episódios,é o respeito que me merece as famílias,inocentemente atingidas pelo infausto acontecimento. Quanto a falta de citação nominal dos outros transgressores da Lei, é que não posso compará-los aos verdadeiros e honrados uberabenses mencionados no tópico inicial do texto.

Ah!Raul e Netinho! Quanta saudade me traz a frase de ontem:-“Uberaba está em todas!”.Hoje........
                                                                                                                            

Luiz Gonzaga de Oliveira

terça-feira, 7 de novembro de 2017

"Anais dos Livros de Atas da Câmara Municipal de Uberaba (1857-1900)"


                     Convite e Programação das comemorações dos 32 anos da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba

Sua participação será muito importante!


(Superintendência do Arquivo Público de Uberaba)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Filmes Soviéticos Década 1920


OUTUBRO
A Arte da Realidade


Guido Bilharinho

Filmes Soviéticos 
Em 1927, no décimo aniversário da revolução soviética, Sergei Eisenstein (1898-1948), auxiliado por Grégori Alexandrov (1903-1983), realiza Outubro (Oktiabr, U.R.S.S., 1927) atinente à tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques.
         Do ponto de vista puramente artístico e cinematográfico, é obra brilhante, como todas suas realizações. Salientam-se nela - pela extrema modernidade, agilidade e adequação - os cortes e a montagem.

         O estilo vigoroso de Eisenstein impõe-se desde a primeira tomada e prossegue até o final sem qualquer pausa. A angulação e o enquadramento são perfeitos, contribuindo, como tudo o mais, para dar ao filme ritmo frenético e vibrante, característica, também, de A Greve (Stacka, U.R.S.S., 1924) e de O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, U.R.S.S., 1925).

         Tais particularidades são tão fortes e pessoais, que qualquer indivíduo afeiçoado ao cinema, depois de conhecer um de seus filmes ou parte de um deles, tem condições de identificar, de imediato, sua autoria.

         Eisenstein, como nenhum outro, imprime à sua obra o tonus e o significado mais profundo dos fatos, transmitindo, por força disso, sua atmosfera e ambientação. Seu realismo não se limita, como usualmente ocorre, a captar apenas a realidade, mas, captando-a, em imprimir-lhe − mais do que exprimir-lhe − um sentido, que preexiste ao momento enfocado e persiste depois.

         As pessoas que desfilam, agem e atuam frente às câmeras não parecem representar simples personagens ou atores encarnando figuras de ficção, mas, os próprios responsáveis pelos eventos.

         Não se tem a impressão de se assistir a uma narrativa, a uma reconstrução ou equivalência dos fatos, mas, à própria realidade explodindo viva, presentificada, na tela. Assim, por pautar-se por acentuado grau de realismo, objetividade e verossimilhança, Outubro insere o espectador no vórtice dos acontecimentos, fazendo-o sentir-se como se os estivesse presenciando no momento em que se desenvolvem.

         O filme, por isso, não é documentário e nem configura ficção, inserindo-se num tertius genus, que apreende a realidade significante e significada, extrapolando os limites documentais de fatos apenas mostrados e a construção, normalmente livre, arbitrária e subjetiva, de entrecho ficcional.

         Se Eisenstein, tanto em Outubro, como nas demais obras citadas, se atém à impositiva faticidade, a ela acrescenta a criatividade do artista e, sem transfigurá-la ou mistificá-la, a constrói, muito mais do que a reconstrói, em toda riqueza de sua complexidade momentânea e simultaneamente histórica.

         Contudo, para conseguir erigir sua epopeia cinematográfica, sacrifica todo didatismo e repele qualquer esquematismo, pelo que só quem viveu os fatos ou deles já possui alguma informação está apto a acompanhá-los e entendê-los, nem que seja parcialmente.

(do livro Clássicos do Cinema Mudo. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2003)

______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando mensalmente desde setembro último um livro no blog: https://guidobilharinho.blogspot.com.br.

domingo, 29 de outubro de 2017

Transporte coletivo em Uberaba

Transporte coletivo em Uberaba
Década: 1940

Essa modalidade de transporte, em Uberaba, teve início no começo da década de 1940 e foi consolidada com a inauguração da primeira Estação Rodoviária, em 1945, na Praça da Bandeira (atual Praça Doutor Jorge Frange), no bairro São Benedito.

Os pioneiros do transporte coletivo municipal foram os empresários Agesípolis Duarte Villela, por meio da empresa Rex, e Manoel Alcalá, cuja empresa tinha o seu nome, que já atuavam no transporte coletivo intermunicipal.

No início da década de 1950, Osvaldo Ribeiro do Nascimento, popularmente chamado de Espeto, comprou a firma de Alcalá que passou a se chamar Empresa de Tranportes Líder. Na primeira metade da década de 1960, surgiu a Transportes Urbano Limitada (TUL), criada por Francisco Lopes Velludo.

Vale ressaltar que cada empresa ficava com determinadas linhas, portanto, nesse período, Uberaba contou com 3 empresas em atividades no transporte urbano. Na segunda metade da década de 1960, a TUL incorporou as empresas Rex e Líder, monopolizou o ramo e manteve o nome “Líder”.

Posteriormente, essa empresa – que atuou no transporte coletivo, em nossa cidade, até 1990 –foi vendida para 10 sócios. Por divergências entre o município e a empresa, a partir dessa data até os nossos dias, a Transmil é a concessionária do Transporte Coletivo em Uberaba.

Foto: Autoria desconhecida


(Arquivo Público de Uberaba)


Cidade de Uberaba

Getúlio Vargas durante churrasco oferecido na Fazenda Experimental em Uberaba (Antiga Fazenda Modelo, atual EPAMIG)


Getúlio Dornelles Vargas e  Juscelino Kubitschek - Foto:Década de 1950

Presidente Getúlio Vargas escreve carta aos pecuaristas e ao povo de Uberaba

Em campanha eleitoral, Vargas discursa em Uberaba na Praça Rui Barbosa. Como criador de gado, o gaúcho concentra promessas na maior vocação da cidade - a pecuária zebuína. Leia, a seguir, parte do texto oficial:

"(...) Daqui do grande centro de criação que deu ao Brasil o seu único tipo nacional de bovino, devo falar aos criadores do Brasil Central, e quero que saibam que lhes vou dizer as coisas na linguagem simples de companheiro. Porque também sou, no meu registro de profissão, um criador de gado, de gado tenho tratado desde o tempo da juventude e, se preciso for, direi que por três ou quatro gerações cuidamos, na minha família, da pecuária. Assim, esta nossa conversa será no jeito e estilo daquelas que os fazendeiros costumam fazer de pé, junto à porteira do curral". (...) Lutando contra acatadas opiniões que combatiam a introdução e a criação de gado zebu no Brasil, os fazendeiros do Triângulo Mineiro, galvanizados pelas próprias convicções e apoiados exclusivamente no seu trabalho e nos próprios recursos, mobilizados destemerosamente, arrostaram todos os percalços da tremenda luta que se feriu e que, afinal, lhes conferiu inconteste vitória. De então pra cá, o Brasil Central passou a ter expressão econômica. Graças a um pugilo de pioneiros, à sua decisão e tenacidade, o zebu começou a povoar os campos e cerrados desta região do país, transformando-a de uma vasta solidão inaproveitada, que era então, no grande reduto econômico e francamente ativo da atualidade. Aí então, para atestar essa metamorfose, as esplêndidas cidades de hoje, que vieram substituir os velhos e arruinados arraiais dos antigos tempos. E Uberaba passou a exercer o magnífico papel de centro irradiador do novo sangue bovino, que determinaria, em breve, o levantamento racial da maior parcela do rebanho nacional.

Fonte: Discurso proferido em campanha eleitoral de 1950, destacando como uma das metas prioritárias de seu Governo a ampliação da atividade pecuarista. (Arquivos CPDOC/FGV p.86 e 94)

Igreja de São Domingos em construção

Dormitório do Convento de São Domingos, ainda em construção. Janeiro de 1939.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)




Frei Alberto Chambert, construtor do novo convento.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Manuscrito da primeira história da missão dominicana no Brasil,em 1872.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Antiga portaria do convento de São Domingos,com saída para a rua Dr.Lauro Borges.


(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)


Igreja de São Domingos em 1906.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)

Igreja de São Domingos em construção.

(Foto do Arquivo da Província de Toulouse)



Ano: 1902

Foto Autoria desconhecida

Em 1881, os poucos sacerdotes dominicanos que se instalaram em Uberaba realizavam os ofícios religiosos e os trabalhos pastorais na igreja de Santa Rita, que tratamos no artigo do mês anterior. Por conta do aumento do número de pessoas que ingressaram naquela comunidade, iniciou-se em 1889 a construção de uma igreja dedicada a São Domingos que seria inaugurada em 1904, ainda que inacabada (sem as torres e abóbadas centrais). Importante destacar que a igreja foi construída após a abolição da escravidão (1888) e praticamente após a proclamação da República – com o melhor do espírito livre e republicano próprio dos dominicanos. É sintomático que sua inauguração tenha sido feita sob o canto do Hino Brasileiro, da Marcha Pontifical e da Marselhesa (hino da França, mas sobretudo do espírito de liberdade, igualdade e fraternidade).

Com a criação da Diocese de Uberaba, realiza-se, em 1908, a posse de nosso primeiro bispo, D. Eduardo Duarte Silva, entre as paredes e sob o patrocínio de São Domingos. Ambos sacerdotes, peregrinos e servos neste vasto mundo. Atualmente a Paróquia de São Domingos serve também como Casa do Noviciado da Ordem dos Pregadores e possui como pároco Frei Luís Antônio Alves.



Apesar do projeto arquitetônico ter sido inspirado em grandes catedrais da Europa, a construção ganhou um toque bem mineiro. Todo o revestimento externo da igreja foi feito com tapiocanga, que é encontrada facilmente na região do Triângulo Mineiro. "Eles até pensaram em rebocar a fachada, mas viram que ela ficou muito bonita e diferenciada", revelou a historiadora Marta Zednik Casanova.

A Igreja São Domingos é a terceira mais antiga de Uberaba. Segundo a história, os padres dominicanos chegaram a cidade a caminho de uma missão, com o objetivo de educar e evangelizar.



Victor Lacerda

Foto do Arquivo dos Frades Dominicanos de Toulouse (França)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Igreja de Santa Rita, em Uberaba

Igreja de Santa Rita
Foto: década 1970

Foto: Autoria desconhecida

Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa, em 1854 mandou construir a capela, que mais tarde, foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939.


                 Clique no link no vídeo:

Igreja de Santa Rita. Video: Antonio Carlos Prata.


Nela está instalado o Museu de Arte Sacra (MAS), inaugurado em maio de 1987. O acervo, rico em peças barrocas dos séculos XVIII e XIX, conta a história da Igreja Católica na região. Muitas peças são provenientes de doações da Cúria Metropolitana, sobressaindo-se as seções de vestes sacras, estandartes de procissões, paramentos, alfaias, imagens e mobiliário.


(Foto do arquivo dos Irmãos Dominicanos)

sábado, 21 de outubro de 2017

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro

Ano: 1971

Foto: Autoria desconhecida

Anteriormente denominada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) fundada em 1953, deu origem à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) no ano de 2005. Desde então, a universidade vem criando novos cursos e hoje conta com mais de vinte cursos, se destacando nas áreas da Saúde e Engenharias. A UFTM também possui uma biblioteca, além de um Complexo Hospitalar.


(Foto do acervo da Universidade Federal do Triangulo Mineiro – UFMT)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Catedral do Sagrado Coração de Jesus - Uberaba

Praça Rui Barbosa


"É o mais antigo logradouro público de Uberaba, pois, foi na sua parte inferior que se começou a edificação do primeiro prédio que Uberaba teve. Dele partem as seguintes ruas, a saber, canto inferior direito, a Coronel Manuel Borges; centro, a Artur Machado. Esquerda, a Vigário Silva, lado sul, ao meio, a rua de Santo Antônio. Canto superior direito, a rua Olegário Maciel e superior esquerdo, a rua Tristão de Castro; lado norte, no meio, a rua São Sebastião. É inteiramente calçada a paralelepípedos e com luxuoso jardim à frente da Catedral do Bispado. Nos alinhamentos em diferentes lugares ficam o Paço Municipal, hoje Prefeitura, o Teatro São Luís e custosos prédios particulares. Primitivamente chamava-se ‘Largo’, mais tarde ‘Largo da Matriz Nova’, ‘Largo da Matriz’, praça ‘Afonso Pena’ (1894-1916) e finalmente praça Rui Barbosa." (PONTES, 1970, p.287).

                                          
Catedral do Sagrado Coração de Jesus

Praça Rui Barbosa

Época da imagem:  Década de 1920

A primeira Capela construída na região de Uberaba data de 1807, nas Cabeceiras do Córrego do Lajeado, Arraial da Capelinha, nas terras de propriedade de José Francisco de Azevedo. Em 1812,  as imagens de Santo Antônio e São Sebastião, os padroeiros, foram entronizadas.

                Com a mudança, em 1815, dos moradores do Arraial da Capelinha para o novo Arraial da Farinha Podre, Uberaba atual, o Sargento-Mor, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio) construiu uma nova Capela, na Praça Frei Eugênio, com a mesma invocação de Santo Antônio e São Sebastião, sendo benzida e liberada para as cerimônias religiosas, em 01 de Dezembro de 1818. Em 02 de Março de 1820, com a instalação da Freguesia, esta Capela foi elevada à Categoria de Paróquia, e constituída em primeira Matriz.

                A capela foi demolida e uma outra construída no mesmo lugar, pelo Vigário Silva. Foi inaugurada em 20 de Janeiro de 1828, e serviu ao culto até 1856. A atual Igreja Matriz teve as obras iniciadas em 1827. Com a morte do Major Eustáquio, em 1832, as obras ficaram paralisadas por vários anos.

                Vindo residir em Uberaba, em 1847, Antônio Borges Sampaio encontrou a Matriz nova inacabada, tendo apenas o telhado sobre os esteios e baldrames de aroeira, sem paredes nem assoalhos. Em 1848. o Cap. Joaquim Antônio Rosa retomou a sua construção cujas obras prosseguiram até 1856, sendo já celebrados na mesma, os ofícios religiosos. Esta Igreja passou por várias reformas e melhorias: 

-              1857 – Frei Eugênio construiu a Sacristia e o Adro.
-              1859 – Joaquim Francisco Ananias construiu as duas torres, o coro, o arco-cruzeiro e o altar-mor.
-              1868 – As torres foram revestidas de tijolos, argamassa e óleo.

-              1874 – O relojoeiro Florêncio Forneri assentou o relógio em uma das torres.

-              1880 – Foram colocados dois sinos, fundidos em Uberaba, por José Carlos Onofre.

-              1889 – Vigário Carlos José dos Santos, ordenou uma pintura externa na Igreja.

-            1896 – As duas torres foram demolidas e edificada uma única torre, projetada pelo engenheiro Ataliba Vale, com características neogóticas.

-        1899 – Com a transferência da sede do Bispado de Goiás para Uberaba, a Igreja Matriz alcançou as prerrogativas de Catedral.

-              1907 – Com a inauguração da Igreja Sagrado Coração de Jesus (hoje Adoração Perpétua), para ser a Catedral, ela voltou a ser Matriz de Santo Antônio e São Sebastião.

-              1926 – Dom Almeida Lustosa, 2º Bispo de Uberaba, transladou a Igreja Catedral para a Matriz  de Santo Antônio e São Sebastião, com seu título de Sagrado Coração de Jesus, passando os Santos da primitiva Capela à Igreja da Adoração Perpétua.

-              1933 – A matriz passou por sua última reforma total, permanecendo como está  até  os dias atuais. Foram acrescentados um transepto, capelas laterais e modificações no frontespício. O arquiteto responsável pelas obras foi Emanuel Giani.


Atualmente é cercada por grades de ferro, tendo à frente a Imagem  de Cristo e nas laterais as imagens de Santo Antônio e São Sebastião.

(Superintendência do Arquivo Público de Uberaba)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

JORGE HENRIQUE PRATA SOARES

(1944-2010)

Pratinha e o Festival do Chapadão


No início da Era dos Festivais, em meados dos anos 60, Jorge Henrique Prata Soares mexeu seus pauzinhos para que a mineira Uberaba também tivesse seus shows. Em 1966, ele organizou o Festival do Chapadão.

Dedicado à MPB e realizado em cinemas, nos moldes dos famosos concursos da Excelsior e Record, o evento acabaria tendo oito edições, conta a mulher, Letícia.
Houve até uma reedição, quando o festival fez 40 anos, só que sem o "brilho do primeiro", lembra a mulher.

Pratinha, como era conhecido, foi jornalista e chegou a ocupar o cargo de secretário de Turismo e Cultura de Uberaba, de 1971 a 1973.

Logo depois, dirigiu o Sindicato dos Jornalistas de Belo Horizonte até 1975, quando defendeu o registro para os profissionais que trabalhavam na área havia anos.

Passou por veículos mineiros e teve, nos anos 90, um jornal chamado "Uai", que era afixado dentro dos ônibus. Também foi dono de três bares, que tinham música ao vivo e lançamento de livros.
Nos últimos anos, dedicou-se a um livro sobre o bisavô, o dentista e fotógrafo José Severino Soares. Anos atrás, a família descobriu numa exposição do fotógrafo Marc Ferrez, no Instituto Moreira Salles, em SP, uma foto dos índios bororos idêntica a uma tirada por Severino.

Tanto a família como o instituto dizem ter o negativo da foto, mas até hoje sua autoria continua uma incógnita.

O livro ficou pronto, mas Pratinha não teve tempo de lançá-lo. Há seis meses, descobriu um câncer. Morreu no sábado, aos 66, deixando viúva, três filhas e seis netos.


Estêvão Bertoni 

Rua Tristão de Castro, em 1908

Rua Tristão de Castro, em 1908

Rua Tristão  de Castro -  década de  1960

A Rua Tristão de Castro "começa no canto superior direito da Praça Rui Barbosa e finaliza na Rua Triângulo Mineiro - atual Av. Alberto Martins Fontoura Borges.

Desde a sua formação anteriormente a 1880, já se conhecia pelo nome de rua Azagaia, ou simplesmente, do 'Zagaia', nome este derivado da semelhança do terreno em que essa via se desenvolveu, com os campos do conhecido Chapadão do Zagaia, ao sul do arraial do Desemboque.

A comissão recenseadora de 1880 contemplando-a com o nome de ‘Antiga rua do Azagaia', deu-lhe, todavia, o nome de 'Rua de São Miguel', que o Tenente Coronel Sampaio mudou para Tristão de Castro, em lembrança de Tristão de Castro Guimarães, doador do patrimônio do Arraial da Capelinha, nas cabeceiras do Lajeado dos Ribeiros." (PONTES, 1978, p.299-300).

Foto editada por Marcellino Guimaraes


(Arquivo Público de Uberaba)

Grande Hotel - Uberaba

Grande Hotel - Uberaba
PARECE QUE FOI ONTEM - Quando uma cidade carece de calma não pode ser só movimento, pois que a vida também é feita de silêncios e recolhimentos. ... Aqui, 1960 era o ano, UBERABA, então cidade tranquila, serena era a sua vida, de tempos outros, outros cotidianos, tinha outros planos ... Saudades daquele tempo ! tão perto, tão longe ...  
  
Adilson Cardoso
              

Loja Notre Dame de Paris e Bar 1001

Loja Notre Dame de Paris e Bar 1001

     PARECE QUE FOI ONTEM - Saudade é a abstinência dos momentos bons que passaram por nós, nos espancaram de amor, nos rechearam de sorrisos, nos esmurraram de abraços, e no fim acabam nos deixando apenas com a falta. Às vezes, a gente só percebe a importância deles quando se tornam lembranças. Lembranças que nos chegam devagar, ancoradas em bem-estar ou em rastros de dor, e que nos aparecem nebulosas ou desbotadas, gastas na nossa própria memória; lembranças que nos imploram por doces recordações, gostosas gargalhadas, que ficaram perdidas pelo tempo afora ...
UBERABA das MINAS GERAIS ! Bons tempos ...
Aqueles que não voltam mais ...   

Adilson Cardoso
      

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Grande Hotel - Uberaba

Grande Hotel

                PARECE QUE FOI ONTEM - Na vida é a gente que decide o que vai podar. O que fica e o que vai. UBERABA das MINAS GERAIS ! os tempos se foram, mas só a nossa memória determina o que desaparece ou floresce, o que permanece de ti ...

Adilson Cardoso
         

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Jerry Lewis - Ator e Diretor

O OTÁRIO
O Peixe n’Água


Guido Bilharinho

Jerry Lewis - Ator e Diretor
Jerry Lewis (1926-2017) é considerado por parte da crítica um gênio da comédia. Não chega a tanto, mas, não resta dúvida, que é um dos grandes atores (e autores) cômicos do cinema, podendo comparar-se a Chaplin.

         Contudo antes que algum admirador deste último considere exagerada a referência (que em absoluto não é), é necessário que se lembre que não existe apenas um tipo de comédia, porém vários. Entre eles, a comédia sofisticada (sophisticated comedy), a comédia maluca (screwball comedy) e o pastelão.

         No primeiro caso enquadram-se filmes de Billy Wilder (O Pecado Mora ao Lado, 55; Quanto Mais Quente Melhor, 59; Se Meu Apartamento Falasse, 60), no segundo, de Howard Hawks (Levada da Breca, 38), e de Peter Bogdanovich (Essa Pequena é Uma Parada, 72), refilmagem daquele e, no pastelão, uma gama variada de comédias, desde algumas de Chaplin até os Irmãos Max.

         As comédias de Jerry Lewis, diretor e ator, compartilham, muitas vezes, das características das duas primeiras espécies.

         É o caso, por exemplo, de O Otário (The Patsy, EE.UU., 1964), que dirige e interpreta, funções que passou a acumular a partir de O Mensageiro Trapalhão (The Bell Boy, EE.UU., 1960), tendo, antes e ainda durante algum tempo depois, atuado em filmes dirigidos por Frank Tashlin, como O Rei dos Mágicos (The Geisha Boy, 1958), Bancando a Ama-Seca (Rock-a-Bye Baby, 1958), Detetive Mixuruca (It’s Only Money, 1962) e Errado Pra Cachorro (Who’s Minding the Store, 1963).

         O Otário incide no esquema usual do cineasta, baseado em sua interpretação pessoal e em trama linear e romântica.

         Realmente, suas estórias incorrem em estereótipos e lugares comuns inúmeras vezes vistos (em filmes) e lidos (em livro).

         Nesse filme, não se foge à regra, pelo contrário. Aplica-se-lhe totalmente. O pobre coitado, meio banzado, meio idiotizado que, por um golpe do destino, tem sua oportunidade, ajuda e apoio.

         Além da superficialidade e gratuidade desse entrecho, descamba-se, ainda, no caso, em plena fantasia, num mundo que só não é mágico porque suas criaturas são de carne e osso e seus objetos têm contextura e solidez. Pois, não há possibilidade real, concreta, veraz de que alguém tão otário, a ponto de não saber nem pronunciar corretamente as palavras ou decorar singela frase, possa transformar-se, de repente, em verdadeiro self-mad-man. E que, simultaneamente, indivíduo despersonalizado, assuma atitudes marcantes e peremptórias.

         Essa dupla alteração é irrealista e despropositada, visto que sem plausibilidade.
Contudo, se a trama em que se apoia o filme é fraca e anódina, o mesmo não ocorre com a interpretação de Jerry Lewis e a personagem que encarna. Aí reside sua grande virtualidade, enfatizada pela crítica. Desbastada um pouco de certo exagero de seu admiradores mais ardorosos, a performance de Lewis, como ator e personagem, não deixa de ser adequada e primorosa.

         Ao contrário do que ocorre comumente com os atores que exageram seus esgares e, aí, se perdem, Lewis os mantém sob controle, adequando-os às situações como se delas fizessem parte natural.

         Diante da perfeição de seu desempenho, seu paradigma só pode ser buscado (e encontrado) em Chaplin. Aliás, é chapliniana a cena de sua transformação de mal-vestida e mal-ajambrada personagem em elegante e desempenado dandy de cartola e casaca. Sua habilidade e flexibilidade corporal e facial são tão notáveis e esplêndidas quanto as do eterno clown invocado.

         E, cada um em seu tempo, representam-no, refletem-no e o marcam. Se um é o grande cômico e intérprete da primeira metade do século, o outro o é da segunda. Se Lewis não o é, como Chaplin, pelas preocupações temáticas e situações enfocadas, o é como modo de ser, expor-se e atuar, como cordeiro no meio de lobos ou flor solta num pântano de interesses, consumismo e materialidades, perfilhando a inocência e a ausência de malícia e de maldade.

         A trama, linearmente desenvolvida, não deixa, pois, de ser analítica, crítica e portadora de significado. Em sua leveza e descontração contém mordacidade e juízo de valores.

         Se a personagem é ingênua, o cineasta não o é.

         Essa aparente contradição resulta da congenialidade entre a personagem e o mundo que a cerca. A ingenuidade só se move em situações claras e perfeitamente delineadas, como peixe dentro d’água, na banal (mas, propositada) figuração. Fora desse mundo, não tem condições de sobrevivência. Como o peixe.

         Em conseqüência, a trama esquemática não é apenas mero pretexto para a ação e atuação do protagonista, como a água não serve apenas para a natação do peixe. É meio e modo de existir e sobreviver.

         Além disso, a riqueza e multiplicidade do microcosmo recriado pelo cineasta, pelo ator e pela personagem, faz sua comédia conter elementos extravagantes e sofisticados, apresentando cenas e situações que se classificam ora nuns ora noutros, com grande versatilidade.

______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando mensalmente desde setembro último um livro no blog: https://guidobilharinho.blogspot.com.br.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário - 86 anos (1841-1927)


A Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Uberaba foi derrubada, em 1924, por não haver manutenção por parte da Cúria Metropolitana. Estava em ruínas. Uma restauração seria dispendiosa. A demolição ocorreu a pedido do então agente executivo (prefeito à época) progressista Leopoldino de Oliveira (Coligação Uberabense), também deputado federal no período.

Nos últimos anos de sua existência, se realizava naquele templo somente a comemoração do Dia da Abolição, o 13 de Maio, relatou o memorialista e religioso católico Carlos Pedroso. Os festejos do dia do Rosário, desde pelo menos 1913, como registrou o então jornal Lavoura e Commercio em sua edição de 26 de setembro, já haviam se transferido para a Igreja São Domingos.

Era usual, durante o Império, ao se iniciar um vilarejo a construção de duas igrejas: uma para brancos e outra para negros. Portanto, a principal foi erguida no Largo da Matriz, a pç. Rui Barbosa na atualidade, onde surgiu o primeiro povoamento do lugar e se concentrou o comércio, prestadores de serviço e moradias.

As ruas Coronel Manoel Borges e Vigário Silva, que eram a mesma via e conhecidas como rua Grande por iniciarem próximo da av. Deputado Marcus Cherém e ir até a av. Alexandre Barbosa. A r. do Commercio, hoje Artur Machado, existia, por volta de 1880, até seu terceiro quarteirão. Dali em diante era deserto.
 Igreja de Nossa Senhora do Rosário

A “Igreja dos Pretos” localizava-se três quadras à frente em área afastada do burburinho da vila. Sua construção realizou-se com mão de obra escrava, como era comum em relação aos santuários de devoção de negros, aberta em 1841. Era no Alto do Rosário, agora bairro Estados Unidos, no Largo do Rosário, atualmente av. Presidente Vargas, no meio do morro, com sua frente direcionada para o então final da r. do Commercio.

Santa Rita, São Domingos e Mogiana “ajudaram” a derrubar Rosário. Com o surgimento da Igreja Santa Rita em 1854, a três quarteirões da do Rosário, e da São Domingos 50 anos depois, a duas quadras, o santuário do povo negro foi perdendo frequentadores. Por isso, a Cúria deixou de mantê-lo, provocando sua decadência.

O início da operação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em Uberaba a partir de 1889, com a estação instalada no alto da r. do Commercio, provocou a urbanização no entorno da Igreja do Rosário, que se encontrava em ruínas. Consequentemente, o então “prefeito” Oliveira se viu obrigado a propor a demolição do templo. A via, portanto, passou a ter passeios laterais largos. Em meados do século 20, uma ilha foi construída com jardim e palmeiras imperiais. Desde 2006 há no local monumento de reverência a Zumbi dos Palmares, importante líder negro abolicionista.

Imigrantes sírios e libaneses ajudaram a erguer a Igreja São Benedito. As comunidades síria e libanesa, nos anos 1930 e 1940, concentravam suas atividades comerciais no bairro Estados Unidos, na r. Padre Zeferino, desde seu início até a r. Artur Machado. Era conhecida como a “Rua dos Turcos”.

Por utilizarem, praticamente, somente o idioma árabe, esses imigrantes se fecharam e havia dificuldade em se relacionar com a sociedade. Além disso, sírios e libaneses eram falados na cidade por moças: elas tinham medo deles. Diziam que presenteavam suas namoradas e esposas com joias caras, mas que batiam nelas, revelou o memorialista Pedroso.

Como forma de romper o isolamento, propuseram à Cúria Metropolitana ajudar a edificar a Igreja São Benedito, outro santo de devoção por povos de descendência africana. Seria uma forma de compensar a demolição da igreja do Rosário. A pç. da Bandeira, que depois denominou-se Dr. Jorge Frange, foi o local escolhido. A inauguração se deu em 1961, 34 anos após a derrubada da do Rosário. Nova basílica foi implantada no local em 1978, em formato circular, em substituição à primeira que tinha arquitetura tradicional.

O bairro, que passaria a levar o nome da igreja, já era reduto das duas nacionalidades e de seus descendentes. Até então a região era conhecida por Colina da Matriz. No local também estava instalada, na r. Major Eustáquio, desde 1927, a Sociedade Sírio Libanesa, que passaria, nos anos de 1990, a denominar-se Clube Sírio-libanês.


(*) Jornalista e coautor da biografia Lucilia – Rosa   anos – 1841-1927