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sexta-feira, 5 de julho de 2019

DE TODA ESQUINA, QUAL O REMÉDIO PARA UBERABA?

Você visitaria Uberaba?


 Se não tivesse nascido aqui, se não conhecesse a cidade, se nunca tivesse passado por Uberaba, você a visitaria? 

Pelos atrativos turísticos você sentiria interesse em conhecer a terra do Zebu, dos dinossauros, de Chico Xavier?

 Pela importância histórica, pelos duzentos anos?

Pelos casarões remanescentes, as igrejas centenárias, os parques, praças, opções de lazer e cultura?

Pelos teatros, centros de eventos, bares? 

Pelos grandes eventos culturais, pelos artistas, músicos, dançarinos, pelos festivais de todos os gêneros? 

Pelas festas universitárias, pelas universidades, pelas escolas?

Você viria para a terra das águas claras?

O que a cidade pode se orgulhar? 

Acessos, sinalização, limpeza, trânsito seguro, transporte público de qualidade?

A empregabilidade, as indústrias, o comércio forte, os shoppings, a economia borbulhante, as obras? 

O que existe, ou deveria existir em Uberaba que faria com que as pessoas viessem para cá?

A hospitalidade do povo, aquele café da avenida, o pastel da feira, o doce do mercado?

Por que Uberaba ainda não é uma cidade reconhecidamente turística? 

O que precisamos ser, fazer, ter para que isso aconteça, para que os próprios uberabenses fiquem na cidade nos feriados, nas férias, nos finais de semana? 

Além das farmácias em cada esquina, onde encontramos, ou despertamos esta cultura de sermos e estarmos? Uberaba precisa, merece ou quer?

Você viria para a cidade, mesmo se não fosse só para encontrar remédio em qualquer lugar?


Publicado em 04/07/1990

Coluna de Cultura do Jornal de Uberaba.






Cidade de Uberaba


sábado, 16 de fevereiro de 2019

Programa Viação Cipó - Uberaba - Minas Gerais.

Conhecido em todo estado de Minas Gerais, o programa "Viação Cipó" da TV Alterosa, afiliada do SBT em Belo Horizonte - dedicou uma edição exclusiva sobre o município de Uberaba. Foi destaque o patrimônio cultural: exibindo histórias, lugares, personagens, arquitetura, música, religiosidade, culinária - nas tradições do modo de ser, fazer e viver deste povo do Triângulo Mineiro.



Os três principais símbolos de Uberaba: "O Zebu, os Dinossauros e as reminiscências sobre a figura de Chico Xavier" não poderiam ficar de fora do programa. O apresentador Otávio Di Toledo visitou o Museu do Zebu no Parque Fernando Costa, sede da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ, onde destacou o papel do Zebu na história - demonstrando os principais motivos que fazem do Brasil um líder em tecnologias aplicadas a Pecuária, o que o coloca como maior produtor de carne no Mundo. Toledo também esteve na charmosa Peirópolis com seus Dinossauros e no Memorial Chico Xavier, que em breve será inaugurado com um amplo local para dar destaque a importância de Chico Xavier no imaginário social e religioso do espiritismo brasileiro.

O programa mostra ainda o Mercado Municipal, um lugar que aguça os sentidos e a imaginação, remetendo os visitantes ao passado pela sua arquitetura, além do artesanato e os deliciosos sabores de queijos, cachaças, doces, pastéis... As praças, escolas, os sobrados dos pioneiros do Zebu, igrejas - com ênfase na bela igrejinha de Santa Rita do século XIX, o único bem tombado na categoria Patrimônio Nacional no Triângulo Mineiro pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, são alguns dos lugares apresentados.

História, causos e memória: acesse https://www.facebook.com/UberabaemFotos/


Cidade de Uberaba

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Chácara do Mirante

Chácara do Mirante


Dizem que é possível ver e ouvir escravos arrastarem suas correntes na Chácara do Mirante, erguida na segunda metade do século 19 – quando já não havia escravidão no Brasil – para a pioneira introdução do gado zebu na região.

Fotógrafo:Autoria:desconhecida

Fonte – Jornal da Manhã

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

PRIMEIRA EXPOSIÇÃO PROMOVIDA PELO GOVERNO MUNICIPAL ONDE SE DESTACAVA O ZEBU EM 1911 NO PRADO DO JOCKEY CLUB

Primeira Exposição promovida pelo governo Municipal 

Primeira Exposição promovida pelo governo Municipal onde se destacava o Zebu em 1911 no Prado do Jockey Club, onde hoje estão os pavilhões que funcionaram a fábrica das Botinas Zebu.
Foto2
Foto: Autoria desconhecida
Acervo: Arquivo Público de Uberaba

PRIMEIRA EXPOSIÇÃO PROMOVIDA PELO GOVERNO MUNICIPAL ONDE SE DESTACAVA O ZEBU EM 1911 NO PRADO DO JOCKEY CLUB, ONDE HOJE ESTÃO OS PAVILHÕES QUE FUNCIONARAM A FÁBRICA DAS BOTINAS ZEBU.

Prado

Primeira Exposição promovida pelo governo Municipal onde se destacava o Zebu em 1911 no Prado do Jockey Club, onde hoje estão os pavilhões que funcionaram a fábrica das Botinas Zebu.

Foto: Autoria desconhecida
Acervo: Arquivo Público de Uberaba



terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O DIA QUE CHICO XAVIER, PEIRÓPOLIS E ZEBU QUASE VIRARAM ESCOLA DE SAMBA

Encerro, hoje, reminiscências do carnaval de Uberaba, com um fato acontecido em 2014. Um daqueles malandros de escolas de samba do Rio de Janeiro, veio a Uberaba “oferecendo” um samba enredo envolvendo os principais pontos turísticos da cidade. Chico Xavier, Peirópolis e Zebu, para desfile na “Marquês de Sapucaí”. O preço, módico, da promoção seria “ apenas” de 10 MILHÕES DE REAIS ! Nossas autoridades municipais entusiasmaram-se com a “proposta” e, não fosse a gritaria de uma parte da imprensa, o “negócio” teria saído… As “otoridades” ficaram tristes por não ter realizado o evento, mas, prometendo para o ano seguinte(2015), que o assunto seria estudado com muito carinho. Felizmente, a vontade gorou. Dias após a desistência uberabense, encontro na caixa postal aqui de casa, o “poeminha” que guardei com carinho e que, agora, vou torná-la pública. Além de real e sincera, encerra uma boa dose de humor:
O DIA QUE CHICO XAVIER, PEIRÓPOLIS E ZEBU QUASE VIRARAM ESCOLA DE SAMBA
I
Noite dessa sonhei que apanhei
De dor, saudade, males outros e infelicidade
Quis reagir- qual nada- em vão – meio tarde
Zombavam da minha dor. Gritei !
Il
UBERABA- como fazem maldade com Você !
Filhos que nem dessa terra são, judiam de ti
Quanta amargura, desventura, não posso esquecer
Tôlo, bobo, tapas, bofetões, sem reagir, não esqueci
III
Agora, eles querem um carnaval bacana
Não mais no Tutunas, nem no ciclo- parque
Querem voar mais longe- pasmem ! – Copacabana
Misturar dinossauro- religião e carne de charque
IV
Casar Chico Xavier com dinos jurássicos
Zebu chupar cana com gás e amônia
Montar fantasias com laços elásticos
Gastar nosso dinheirinho sem cerimônia
V
Quanta insensatez – descaramento- Deus meu !
Ridículo tem limite – vergonha , um pouco mais
Moral, costume, honestidade, tudo morreu?
Desfaçatez ganha força … pudor nunca é demais…
VI
Dinheiro do povo é dinheiro sagrado
Não se joga no ralo da inutilidade
Pobre trabalha e o seu labor é suado
Nunca servir à imoralidade e desonestidade
VII
Quem quiser carnaval, faça do próprio bolso
Cortesia com chapéu alheio é feio
Não deve ser usado para estranho reembolso
É como roubar dos pássaros seu mavioso gorgeio !
VIII
Chico não precisa de samba enredo
Peirópolis quer turismo e atenção
Zebu é mais conhecido que floresta de arvoredo
UBERABA quer progresso – não enredo e ilusão
IX
Chegou a hora de dizer não aos patrões
Pão e circo podem esperar um pouco mais
Nossos problemas carecem soluções
Basta de burrocracia e preguiça formais
X
No desfile da Sapucaí- que é aquilo ?
Chico Xavier – dono de fazenda de dinos ?
Zebu – pastando e flutuando sobre a cana ?
Fazendeiros de chapéu aba larga, ultra finos?
Peirópolis faceira- rainha jurássica- mostrada soberana…
XII
Preocupante é o desfecho do terrível desfile-enredo
Dinossauro procurando o boi zebu
Chico Xavier – divertindo-se – alegremente- no folguedo
O boi escondendo o rabo, à evitar um maior rebu
XIII
Não vi peixe sentado em nelore de tonelada
Chico Xavier, sorridente, não puxava dinossauro pela corrente
Estava de volta a minha Uberaba , hospitaleira, ordeira e decente!
Acordei do pesadelo, confesso, sem nenhuma mágoa guardada…

Luiz Gonzaga de Oliveira

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

CHICO XAVIER E ROBERTO CARLOS EM 2 DE JANEIRO DE 1973 EM SHOW BENEFICENTE.




Notícias do Lavoura e Comércio: Em 1973 destacava-se numa mesma página do diário dois entre importantes símbolos da memória de Uberaba – Chico Xavier e o Zebu


A semana passada Uberaba foi destaque por duas importantes notícias que tomaram conta do noticiário da imprensa mineira e nacional, um foi a inauguração do Memorial Chico Xavier e a entrega da Comenda Chico Xavier e a outra foi a realização da maior exportação da história de Minas Gerais de bovinos vivos para a Turquia, uma logística enorme que envolveu o transporte de 4750 animais em 160 a 180 caminhões de Uberaba até o Porto de São Sebastião.


Estes dois assuntos foram pauta logo no início de novo ano de 1973, pois em 2 de janeiro, o jornal diário uberabense Lavoura e Comércio, destacava-se um show promovido em São Paulo pelo cantor Roberto Carlos em parceria com o médium Chico Xavier, cuja renda seria revertida a assistência de pessoas carentes pela Comunhão Espírita Uberabense.


A outra notícia dava conta de uma exportação de Uberaba para a Bolívia de 380 zebuínos das raças Gir e Nelore em vagões da antiga Fepasa.


Fonte:Lavoura e Comércio

MUSEUS DE UBERABA − II GUIDO BILHARINHO

Museu do Zebu

Uberaba, constituindo o maior centro mundial de criação, aprimoramento e difusão do gado zebu — que de animal exótico até meados do século XIX se transformaria no rebanho por excelência do país — sede do registro genealógico Herd Book Zebu desde 1919, da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro fundada em 1934, que incorporou aquele e, posteriormente, a partir de março de 1967, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e de diversas entidades nacionais das mais importantes raças zebuínas, teria de ter também, como tem, desde 02 de maio de 1984, seu museu do Zebu, único no gênero e no tema, instituído e mantido pela ABCZ.

Situado no parque Fernando Costa, de inicialmente apenas repositório de peças e fotos históricas, o museu passou também a se dedicar à pesquisa histórica e a mostras específicas, a exemplo, entre as mais de trinta já realizadas, da XVI Mostra: Aspectos da Arquitetura Rural no Interior Mineiro – Séculos XIX e XX (1999); XVIII Mostra: Zebu, Um Século de Evolução (2001); XIX Mostra: Pioneiros na Criação e Seleção de Zebu (2002); XX Mostra: Aspirações e Inspirações Artísticas do Zebu (2003); XXI Mostra: ABCZ – ExpoZebu 70 Anos, Uma Retrospectiva (2004); e XXVI Mostra: Pioneiros — Histórias e Estórias de 75 Anos da ExpoZebu (2009).

Por sua vez, o imóvel que abriga o museu, situado à esquerda da entrada principal do parque, de construção inicialmente simples, teve seus 120 m2 originais ampliados em abril de 1995 para 980 m2, sendo 580 m2 de área útil e os restantes ocupados por pátios e jardins.

Em 2002, o acervo do museu atingiu aproximadamente 500 peças (antigas esporas, estribos, ferretes, cangalhas, bruacas, moenda de cana, instrumentos agrícolas, viatura, selaria, armaria, mobiliário e peças têxteis utilizadas nas atividades pecuárias); 5.000 documentos (entre eles exemplar da preciosa narrativa Do Brasil à Índia, de autoria de Teófilo de Godói, o triangulino que primeiro foi à Índia buscar zebus em 1893 (e não 1898, como se propala); e, em setembro de 2013, aproximadamente 200.000 fotografias (tanto de fatos da História do Zebu como de exemplares das diversas raças zebuínas).

Além disso, o museu, à semelhança das bibliotecas modernas, vem promovendo eventos e atividades nas áreas educativa, social e cultural.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Chico Cavalcante

Se Uberaba é conhecida como a capital mundial do Zebu, é por causa de homens como Chico Cavalcante.

Pedimos licença para publicar um editorial diferente nessa edição. É, na verdade, uma homenagem a um homem que faz parte da história de Uberaba – e, também, do Brasil. Trata-se de Francisco Cavalcante, um dos pioneiros responsáveis por difundir o gado do tipo Zebu por todo o território nacional. Se Uberaba é conhecida como a capital mundial do Zebu, é por causa de homens como Chico Cavalcante.


Ele foi chefe de comitiva na época em que o gado zebuíno começou a se “espalhar” por todo o Brasil. Naqueles idos, o transporte era nos barcos a vapor ou nas comitivas. Hoje com 102 anos, seu Chico é o único chefe de comitivas daqueles tempos ainda vivo. Em que pese a idade avançada e o físico frágil, seu Chico está lúcido e faz suas caminhadas. Não escuta e não enxerga mais tão bem, mas ainda gosta de assistir o futebol ou ouvir músicas antigas.
A criação e comércio do Zebu hoje são sinônimos de cifras astronômicas. Originária da Índia, a raça é encontrada em países de todo o mundo, por conta de sua resistência e facilidade de adaptação ao ambiente. Contando os vários cruzamentos para a produção de carne e leite, o Zebu corresponde a 80% do rebanho bovino do Brasil. Nem sempre foi assim.
Os primeiros registros do “gado trazido da Índia, com uma corcova que dava aparência de deformado”, datam de 1855, no Rio de Janeiro. Em 1900, os irmãos uberabenses Antônio e Zacarias Borges Araújo viram pela primeira vez o Zebu pela primeira vez, na fazenda de Manuel Lengruber, em Niterói. Maravilhados, perguntaram se o proprietário não lhes venderia ao menos um exemplar. Lengruber não vendeu, porém, indicou onde poderiam comprar. Os irmãos Borges adquiriram então o “Lontra”, touro guzerá que foi o primeiro trazido para Uberaba, que tem até monumento em sua homenagem na praça Dom Eduardo. Depois de Lontra vieram muitos outros, uma vez que a novidade atraía adeptos por onde passava.


Começava assim a trajetória do Zebu no Brasil. Antes, o gado era conhecido apenas em certos locais,

mas depois de chegar a Uberaba, foi difundido em todo o país. A espécie era vista como uma novidade, coisa do outro mundo. Até então o tipo de gado que havia era curraleiro, pé-duro, dentre outras espécies europeias.


Nascido em Veríssimo, o boiadeiro Francisco Cavalcante, com 12 anos, trocava os bois de laranja com os quais brincava pelos bois de verdade. Chegou a viajar com o pai até Porto Suarez, na Bolívia, levando 200 reses. Com 18 anos, veio para Uberaba para fazer o Tiro de Guerra. Certo dia, o jovem Francisco foi o responsável por conduzir mais de 100 soldados ao circo que estava na cidade. Enquanto todos ficaram nas arquibancadas, ele ficava andando e conheceu Alda. “Eu passava, a moça ficava olhando o sargentinho, eu olhei pra ela… e deu casamento”, conta. Do casório tiveram dois filhos, que deram cinco netos e um bisneto. Hoje viúvo, seu Chico também perdeu um filho. A filha Lúcia mora no andar de cima da casa na Leopoldino de Oliveira, uma das primeiras da região, hoje “escondida” no meio de prédios.


Na década de 1940, todo o Brasil já conhecia o novo gado. O Zebu inspirava músicas, patrocinava concursos, abria cassinos, atraía bancos – o número de agências de Uberaba passou de quatro para dez, entre 1935 e 1945. Em 1946 houve a primeira exposição da espécie, na Fazenda Cassu.




Chico Cavalcante não tinha um patrão fixo: trabalhava para quem o chamava e pagava melhor. Seus feitos são impressionantes. “Eu levei duas mil novilhas pra Bolívia. Levei 300 touros na água de Uberaba pro Pantanal, do Pantanal pra Rondonópolis… ixi, tem muita coisa”, diz o boiadeiro. O que mais impressiona não são as distâncias, mas sim como ele ia: com a cara e a coragem. Um exemplo é uma viagem que fez ao Maranhão. Um dos empregadores que mais confiavam nele era Lamartine Mendes, um dos maiores criadores do Brasil, que dá seu nome ao Museu do Zebu, no Parque Fernando Costa. Em 1961, Lamartine intermediou um negócio e um político veio comprar 700 novilhas, para expandir a criação de nelore no Maranhão. Seu Chico e sua tropa levaram o gado até a ponte do Estreito, na divisa com Goiás (hoje Tocantins), com a responsabilidade da marca (o que quer dizer que, se um boi morresse, tinha que ser retirada a marca para entregá-la ao dono).


Antes, Chico conversou com o doutor Randolfo Borges.



-Chico, cê vai lá?


-Vou, doutor, se Deus quiser.



-Chico, você sabe que vai levar 700 novilhas no Maranhão?



-Vou, se Deus quiser.



-Você já foi lá?



-Não.


-Alguém te ensinou o caminho?


-Não. Mas, doutor, eu tenho boca, então eu pergunto, eu vou.



-Então vou te ensinar o caminho. Você já viu quando a mulher pega uma galinha pra sapecar, com fogo, ela pega no bico e nas pernas e vai virando pra sapecar?




-Sei.



-Então ocê entra aqui no cu dela e sai no bico. Aí cê chega lá.


Em 1972 seu Chico decidiu não ser mais comissário de boi, mas fazendeiro, e foi com a família pro Cisco, um povoado perto de Frutal. “Meu cunhado comprou uma fazenda pra nóis por 220 contos, financiada. Tínhamos uns 400 bezerro. Vendemos tudo e em um ano num tinha como pagá o banco. Um dia vi meu cunhado, que tinha o apelido de Mascate, feito uma onça fazendo conta”.

-Chico, nóis vai vendê a bezerrada, pagá a prestação, e do jeito que tá o gado, vamo levá mil ano pra pagá nossas dívida.


-Mascate, vamu fazê uma coisa? Eu sô sua muié e o que ocê fizé eu assino embaixo.


-Chico, vamo vendê a fazenda?


-Se eu já falei que sô sua muié.


-O seu Abido disse que quando nóis quiser vender a fazenda, ele compra.


“Fomos lá e dissemos: ‘Seu Abido, nós temo que vendê e ir lá pagá o banco, pra poder te dar essa escritura’, e ele: ‘Eu sei que ocês é muito homem, Abido dá o dinheiro, vai lá paga banco’. Saímo pro Banco do Brasil, chegamo lá tá um coronel, conversando com o gerente, papapá, papapá, e o Mascate já tava feito uma cobra, quando eu vi, ele levantou e entrou: ‘O senhor tem muito negócio a tratar co o gerente aí? Se não tem, o senhor despacha que eu tenho assunto pra tratar com ele’. Pagamos a conta, demos a escritura pro seu Abido e sobrou pra mim uma maleita, quatro cavalo, uma cama véia e um Ford 1000. Pro Mascate acho que não sobrou nada”.

Aos poucos seu Chico foi refazendo a vida e, além da casa na Leopoldino, tinha seu sitiozinho – e não abria mão de continuar trabalhando nele, até quando podia. Com 100 anos, ainda andava a cavalo.

O nome Francisco Cavalcante Nascimento deveria constar nos livros de história ao lado de Teófilo de Godoy, Pylades Prata, Edilson Lamartine Mendes, João Martins Borges e outros criadores. Seu Chico foi apenas um humilde cavaleiro, mas são homens como ele os responsáveis pela propagação do Zebu, e não os “doutores” que fechavam negócios apenas. Se o Zebu atingiu o patamar que tem, é por dois motivos. Os ricos fazendeiros tinham o dinheiro. E os boiadeiros como Chico Cavalcante, a coragem.


Wagner Ghizzoni Júnior