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terça-feira, 1 de março de 2022

CONHECER PARA AMAR! UBERABA 202 ANOS

Por volta de 1700, descobriu-se o ouro em Minas Gerais. A povoação do Brasil deixou de ser quase exclusiva das faixas litorâneas, estendendo-se rapidamente para a região das minas. A febre do ouro iniciava-se.
Nos seus primórdios, antes da chegada dos Bandeirantes paulistas, a região do “Sertão da Farinha Podre”, atual Triângulo Mineiro, era povoada por índios e quilombolas, negros fugidos do cativeiro.

Cidade de Uberaba - Foto Antônio Carlos Prata.

Com a descoberta de ouro na província de Goiás, e depois em Cuiabá, começaram os esforços para construir um caminho ligando São Paulo às minas goianas e matogrossenses. Foi entre 1722 e 1725 que os sertanistas paulistas, sob a liderança de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o lendário Anhangüera, descobriram as minas de Goiás e, conseqüentemente, formaram-se arraiais e vilas naquela região. Esta estrada passava nas proximidades onde Uberaba surgiria.

Com a chegada do branco, os índios da região, não pacificamente, foram sendo expatriados ou “civilizados”, como convinha aos desbravadores. Aldeias de índios amistosos aos exploradores foram sendo instaladas, nas margens da estrada Anhanguera para segurança dos viajantes.
Transformações na economia mineradora de Minas Gerais, como a descoberta de ouro e diamantes no Sertão da Farinha Podre ( lugar conhecido como Desemboque), motivaram as imigrações para a região, principalmente daqueles que moravam nas imediações das vilas produtoras de ouro em plena decadência.

Desemboque exerceu importante função como centro de expansão populacional. Foi dali que saíram expedições que possibilitaram o surgimento das vilas de Araxá, Uberaba, Prata e Patrocínio entre outras.

A formação da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba surgiu com a expansão das fronteiras de exploração a Oeste do Desemboque. Em 1812 o sertanista José Francisco de Azevedo instalou um pequeno núcleo colonial, nas cabeceiras do Ribeirão do Lajeado (dos Ribeiros). Este núcleo era formado por algumas cabanas, habitadas por colonizadores emigrados de Desemboque. Denominou-se, o local, Arraial da Capelinha.

Em 1809 o Sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva Oliveira, obteve o título de Regente Geral, e Curador dos índios, do Sertão da Farinha Podre. Realizou duas entradas para explorar a região: uma em 1810 e outra em 1812. Estas expedições eram realizadas juntamente com alguns geralistas que procuravam lugares para estabelecer fazendas, atraídos pelas notícias de alta fertilidade das terras.

Algum tempo depois, por volta de 1816, Major Eustáquio construiu uma casa de morada, na margem do Córrego das Lages, imediações da Estrada de Anhanguera e, cerca de três quilômetros dali, córrego acima, ainda à margem esquerda, construiu um retiro para suas criações, que deu origem ao lugar conhecido por Paragem de Santo Antônio.

A partir da construção deste retiro, moradores do Arraial da Capelinha, e de outros lugares próximos, migraram para aquele novo sítio. Esse foi o núcleo que originou a cidade de Uberaba. O arraial cresceu rapidamente. O comércio foi se firmando, as fazendas tomando importância, a vida social e econômica se configurou.

Nos anos 1990, historiadores do Arquivo Público de Uberaba, buscando atender reivindicações para mudança da data de aniversário da cidade em 2 de mao, que coincidia com o Dia do Trabalhador no dia 1º e Inauguração da Expozebu no dia 3, gerando transtornos ao comércio devido ao feriado prolongado. Pesquisas foram realizadas para identificar outra data de relevância histórica.

Chegou-se ao dia 2 de março, data do decreto régio que estabeleceu a criação da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba, em 1820.
Este foi um breve relato das origens de nossa cidade.

Parabéns para os uberabenses que ao longo dos anos vem cumprido sua cidadania, preservando os valores culturais de nossa terra, lutando por uma cidade que ofereça a cada dia, melhores condições de vida aos seus habitantes.

Comemorar os 202 anos é uma forma de reafirmamos nossa memória, nossa identidade histórica. Oportunidade para congratular a todos sem distinção, em qualquer tempo, que em seu cotidiano, muitas vezes sem perceber, tecem a trama da história. Vale a pena comemorar, não vale?

Parabéns Uberaba! Parabéns uberabenses! Parabéns por sua história, cultura e beleza.


Luciana Maluf Vilela
Historiadora

domingo, 3 de janeiro de 2021

HISTÓRIA DE UBERABA

Uberaba está inserida em uma região que já pertenceu à Capitania do Espírito Santo, São Paulo, Goiás e finalmente Minas Gerais.

De 1660 a 1670 a Região do Triângulo Mineiro, onde está localizada a cidade de Uberaba, era conhecida como Sertão do Novo Sul, Sertão Grande, Sertão Sul e Geral Grande. Posteriormente, passou a ser conhecida como “Sertão da Farinha Podre”, termo nascido em 1807, quando uma bandeira saiu do Desemboque e invadiu os sertões do Pontal do Triângulo Mineiro até as margens do Rio Grande. Para justificar a denominação “Sertão da Farinha Podre” os viajantes deixavam sacos de farinha no caminho para se alimentarem na volta. Ao retornarem ao local encontravam a farinha apodrecida. Outra explicação mais plausível para a denominação é que seria originária de uma região portuguesa de onde vieram alguns portugueses exploradores.

Finalmente, em 1884 a região ficou conhecida como Triângulo Mineiro, denominação idealizada pelo Dr. Raymond Henrique Des Genettes, médico francês, jornalista e político, radicado em Uberaba, por saber que a região situava-se entre os rios Grande e Paranaíba, terminava na junção desses dois rios, formando o Rio Paraná, e apresentava a forma aproximada de um triângulo.

Os primeiros habitantes da região foram os índios tupis, depois os tremembés, os caiapós e os araxás, de tradições seminômades, cujas tribos se movimentavam de um local para outro. Eles viviam em grupos de poucas famílias, com simplicidade e sobreviviam do que a natureza oferecesse.

Portugal passou a ter interesse pela Região a partir dos fins do século XVI, tendo como objetivo encontrar os minerais preciosos, amansar os índios e, se fosse preciso, até exterminá-los para que as metas da Coroa Portuguesa fossem cumpridas.

A primeira investida do colonizador português, ou seja, do homem branco, sobre a Região do Triângulo Mineiro, começou em fins do Século XVI, precisamente a partir do ano de 1590, data da primeira “bandeira” (expedição), chefiada pelo capitão Sebastião Marinho, que partiu de São Paulo e atingiu o Rio Tocantins, em Goiás.

Por volta de 1600 surgiu a Aldeia de Santana do Rio das Velhas (hoje Araguari), considerado o primeiro núcleo de povoamento branco na área que seria o futuro Estado de Minas Gerais, fundado pelos padres jesuítas com o objetivo de aculturar os índios, ou seja, catequizá-los.

Posteriormente, inúmeras “bandeiras” paulistas foram organizadas ao longo dos séculos XVII e XVIII, com a mesma finalidade. As mais significativas para a Região do Triângulo Mineiro são descritas abaixo:
-Em 1615 partiu de São Paulo uma “bandeira” liderada por Antônio Pedroso de Alvarenga que atravessou a Região do Triângulo Mineiro com destino a Goiás.

-Outra “bandeira” partiu de São Paulo em 1682 e também atravessou o Triângulo Mineiro até alcançar Goiás, sendo liderada por Bartolomeu Bueno da Silva (o velho Anhanguera) que levou seu filho Bartolomeu Bueno da Silva Filho de apenas 12 anos.

-Em 1722 partiu outra “bandeira” de São Paulo rumo a Goiás, visando para a abertura de uma estrada para a exploração de minas de ouro, prata e pedras preciosas. Essa missão ficou a cargo de Bartolomeu Bueno da Silva Filho (filho de Anhanguera). Ao passarem pela região se depararam com os índios caiapós. Essa expedição era composta por 152 homens, entre os quais 20 índios carregadores, 3 religiosos, 20 índios, 1 mascate francês e 39 cavalos. Ela partiu de São Paulo seguindo os rios Atibaia, Camanducaia, Moji-Guaçu, Grande (Porto da Espinha), passando em Uberaba, a sessenta metros dos fundos do atual cemitério São João Batista. Depois a expedição continuou a viagem em direção ao Rio das Velhas e penetrou em Goiás pelo Rio Corumbá. Segundo alguns relatos da época, a expedição passou por terras de Uberaba. Esta rota ficou conhecida como Estrada Real ou Anhanguera, que consistia em um importante caminho para que as autoridades portuguesas implantassem a colonização, a produção e escoamento dos minerais preciosos. Na verdade, a maioria das riquezas minerais do Brasil-Colônia foi levada para Portugal e utilizada para o pagamento de suas dívidas em relação à Inglaterra.

-Posteriormente, a expedição do filho de Anhanguera fundou em 1725 o povoado de Vila Boa em Goiás. Dessa forma foi aberta a estrada que passava pelas terras de Uberaba. Por esse feito, Bartolomeu Bueno da Silva Filho recebeu como recompensa a nomeação de Capitão-Mor Regente das minas de Goiás e o direito de conceder “sesmarias” (concessão de terras para povoamento).

-Em 1727, Antônio de Araújo Lanhoso foi o primeiro homem branco que se fixou na região de Uberaba e um dos primeiros a receber sesmarias ao longo da estrada de Anhanguera, a 15 km de Uberaba, no córrego do Lanhoso, que corre paralelo à rodovia para Uberlândia. 

-Outra estrada denominada Picada de Goiás foi aberta em 1736, saindo de Minas Gerais e passando do lado oriental da Serra da Canastra, atingindo terras de Araxá em direção à Vila Boa. A estrada foi terminada em 1738, ligando as minas goianas a São João Del Rei e Vila Rica. Ao longo dessas estradas foram concedidas também sesmarias, ou seja, terras que aos poucos foram sendo ocupadas pelo colonizador branco.

 Uberaba tem, então, a sua origem na ocupação do Triângulo Mineiro, que ficou sob a jurisdição de Goiás até 1816, quando a região passou a pertencer à província de Minas Gerais, de acordo com o Alvará de D. João VI, de 04/04/1816.

  A exploração e o povoamento de todo o Triângulo Mineiro, de modo geral, ocorreu, como em todo o “Brasil-Colônia”, pelo amansamento e extermínio das populações indígenas e dos negros nos quilombos. As estradas para a Região do Triângulo Mineiro e Goiás tornaram-se palco de batalhas entre os exploradores dos sertões e os índios. A invasão de terras indígenas provocou muitas vezes sangrentas guerras contra os caiapós, no antigo Sertão da Farinha Podre (Triângulo Mineiro). Vários quilombos também foram ameaçados pelos exploradores brancos.

Diante dessa insegurança, o governo de Goiás viabilizou o policiamento das estradas e nomeou, em 1742, o coronel Antônio Pires de Campos Filho para policiar, amansar e até mesmo exterminar os índios caiapós da região do Triângulo Mineiro. Fato constatado com a matança dos caiapós, sendo em sua maioria derrotados, submetidos e alojados também com tribos bororo, do Mato Grosso, em 18 aldeias ao longo da estrada. Uma dessas aldeias de índios mansos (Aldeia de Uberaba Falso) ficava onde se fundou Uberaba, próxima à Barra do Córrego da Lage. O coronel instalou apenas quatro dessas 18 aldeias ao longo da Estrada de Anhanguera para proteger as caravanas que nela trafegavam. Mais tarde, em 1751, o coronel Pires de Campos faleceu em Paracatu, vítima de uma flechada, ocasionando septicemia.

Em 1766 foi criado o Julgado de Nossa Senhora do Desterro das Cabeceiras do Rio das Velhas (Desemboque), sob a administração de Goiás, abrangendo a região do Triângulo e quase todo o sul de Goiás. Era um local rico em minas auríferas e de intensa exploração. A posse desse arraial pelo governo de Goiás era vantajosa aos moradores de Minas Gerais, pois estavam livres do pagamento de imposto sobre minerais, denominado "derrama", cobrado em Minas Gerais. Desemboque teve o seu esplendor até 1781, quando as minas auríferas se esgotaram. Algum tempo depois grande número de pessoas migrou para outras terras, ou seja, para o Arraial de Uberaba, fundado por Major Eustáquio. Portanto, a história do Desemboque é de fundamental importância para compreender o povoamento de Uberaba.
-Em 1807 um grupo de homens (Januário Luís da Silva, Pedro Gonçalves da Silva, José Gonçalves Heleno, Manuel Francisco, Manuel Bernardes Ferreira e outros) oriundos de Desemboque adentrou e ficou no Córrego da Lage. Segundo o historiador Borges Sampaio, o cirurgião prático Pedro Gonçalves da Silva, cujo apelido era Pedro Panga, aproveitando-se da vizinhança de índios mansos, se fixou e construiu, em 1809, uma casa, próxima de onde se encontra atualmente o Hospital Dr. Hélio Angotti.
Prosseguindo a exploração das terras, o governo de Goiás para dinamizar a administração dos Sertões, nomeou em 1809, Antônio Eustáquio da Silva Oliveira (major Eustáquio), para a função de comandante “Regente do Sertão da Farinha Podre” (Triângulo Mineiro) e, em 1811 foi nomeado por Ato Governamental, “curador de índios”. Ele era natural de Ouro Preto e residente em Desemboque.

-Em 1810, major Eustáquio organizou no Desemboque uma “bandeira”, passando por terras de Uberaba e seguindo até o Rio da Prata, formado pelos rios Piracanjuba e do Peixe.

-Outra expedição chefiada por José Francisco Azevedo, atingiu a cabeceira do Ribeirão Lajeado, fundando o arraial da Capelinha em 1812, aproximadamente a 15 km do Rio Uberaba, próximo ao povoado de Santa Rosa. O povoado chegou a ter vinte casas e foi erguida uma capelinha com as imagens de Santo Antônio e São Sebastião. O Arraial era conhecido como Lageado ou Capelinha. Entretanto, não se desenvolveu por falta de água e terras férteis, conforme constatou major Eustáquio em visita ao local.

-Para prosseguir a colonização, o “Regente dos Sertões” major Antonio Eustáquio da Silva Oliveira (conhecido como major Eustáquio e fundador de Uberaba), comandou outra expedição em fins de 1812, composta por 30 homens, com o objetivo de procurar novas terras para se estabelecerem. A expedição chegou ao Rio Uberaba e fixou-se na margem esquerda do Córrego das Lages com o Rio Uberaba, onde foi edificada a Chácara da Boa Vista (hoje Fazenda Experimental da Epamig na Univerdecidade). Major Eustáquio constatou que Uberaba tinha três condições para o povoamento: recursos hídricos, terras férteis e posição estratégica favorável. Junto com o major Eustáquio (considerado o fundador de Uberaba) vieram fazendeiros e aventureiros que passaram a produzir e comercializar com as caravanas que ligavam Goiás a São Paulo. Em 1816 o major Eustáquio construiu um retiro para o gado, uma tenda de ferreiro e a sua residência na Praça Rui Barbosa. A sua função consistia em dar proteção para os colonos e índios mansos, além de expulsar para longe do arraial os índios bravos e quilombolas. Consequentemente, grande número de pessoas e famílias do arraial da Capelinha e do Desemboque, sabendo das condições propícias do arraial de Uberaba, e do prestígio e segurança que o comandante major Eustáquio oferecia, migraram para o novo arraial. Era uma população muito heterogênea: mineiros que se estabeleceram como fazendeiros, boiadeiros, mascates, comerciantes, criadores de gado, ferreiros e até criminosos foragidos. Os moradores construíram suas casas térreas de pau-a-pique ao redor do retiro de major Eustáquio, formando a “Rua Grande” (atualmente Rua Manoel Borges e Vigário Silva). Edificaram suas casas e estabelecimentos comerciais acompanhando as ondulações dos terrenos e serpenteando os pequenos regatos. Os moradores do Arraial da Capelinha trouxeram para Uberaba os seus santos protetores e com autorização do major Eustáquio construíram uma Capela (atual Praça Frei Eugênio, hoje Escola Estadual Minas Gerais), tendo como oragos Santo Antônio e São Sebastião. Posteriormente a capela foi transformada em Matriz, com a criação da Paróquia, benzida em 1818 pelo vigário do Desemboque Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick. Assim foi estabelecido o reconhecimento do povoado pela Igreja, instituição que tinha prestígios decisórios junto aos governos. A Igreja Católica estava unida ao Estado e a bênção de uma capela oficializava, na administração, o nome do Arraial, que passou a chamar-se “Arraial de Santo Antônio e São Sebastião da Farinha Podre”, designação ostentada até 1820.

Segundo o historiador Borges Sampaio, “o Arraial se desenvolveu e tinha 30 casas e já contava com 1.621 habitantes, dos quais 417 eram escravos”, o que demonstra a riqueza dos proprietários de terras e a grande exploração da mão-de-obra escrava. A atividade econômica predominante era a agricultura de subsistência, necessária para alimentar a sua população, além das tropas que passavam pelo arraial. Em 1819 havia criadores com 500 e até 1.000 cabeças de gado, fato que demonstra grande atividade pecuarista. As casas eram construídas com material simples e sem jardim, erguendo-se no alinhamento das ruas e serpenteando a naturalidade dos córregos.

O colonizador branco foi ocupando as terras à medida que os índios eram aculturados ou expulsos de suas terras formando-se extensas propriedades, devido o baixo valor da terra e a isenção de impostos sobre elas. 

O arraial foi crescendo e isso permitiu que em 2 de março de 1820, o rei D. João VI decretasse a elevação do Arraial de Santo Antônio e São Sebastião à condição de Freguesia (Paróquia). (documento oficial mais antigo de Uberaba)

Freguesia era o termo eclesiástico que designava o território de atuação de um vigário. Com isso ocorreu um desligamento dos laços religiosos que subordinavam o Arraial de Santo Antônio e São Sebastião (Uberaba) à Vila do Desemboque. O decreto constituiu um grande avanço para a comunidade. Significou a emancipação e gerência própria em assuntos de ordem civil, militar e religiosa. Foi o reconhecimento oficial tanto pela Igreja, quanto pelo Governo Real. Dada a importância histórica de 02/03/1820, quando a cidade foi elevada à Freguesia, (Decreto: documento oficial mais antigo do Município), instituiu-se oficialmente tal data para que se comemorasse o aniversário de Uberaba a partir de 1995.

A Catedral (Igreja do Sagrado Coração de Jesus) também comemora 199 anos em 2019, pois em 1820 foi criada por decreto, a Freguesia (termo eclesiástico), que deu autonomia em relação a Desemboque em assuntos eclesiásticos na Freguesia. 

O fundador e comandante de Uberaba major Eustáquio e os fazendeiros mais importantes passaram a exigir a criação da Câmara Municipal. Entretanto, o fundador de Uberaba faleceu em 1832 e assumiu a liderança da Freguesia o seu irmão capitão Domingos da Silva Oliveira. Nessa época o Governo Regencial (1831 a 1840) implantou no Brasil uma política descentralizadora, viabilizando a elevação de Vila em muitos locais do País. A Freguesia de Uberaba em pouco tempo mostrava grande desenvolvimento e já contava com um número considerável de habitantes: agricultores, pecuaristas, comerciantes e de outras profissões, reunindo as condições para ser elevada à condição de Vila. Devido a esses fatos o Governo Provincial de Minas Gerais elevou Uberaba (Freguesia) à condição de Município (Vila) de Santo Antônio de Uberaba em 02 de fevereiro de 1836, tornando-se autônomo, com território demarcado e com a Câmara Municipal. Esta foi instalada em 1837, em um prédio na Praça Rui Barbosa, que também abrigou a cadeia, uma tradição dos tempos coloniais. Os primeiros vereadores eleitos eram comerciantes prósperos, fazendeiros e representantes do clero. A Vila cresceu e assumiu importância pela posição geográfica e pela grande atividade econômica.

Uberaba, em 1840 passou a sediar uma Comarca pela Lei provincial mineira nº 171, com a finalidade de implantar a justiça na região, tendo como primeiro juiz de Direito Joaquim Caetano da Silva Guimarães.

O crescimento econômico e populacional da Vila de Santo Antônio de Uberaba viabilizou em 1846 a conquista de um Colégio Eleitoral, vindo a ser sede de grande colégio, que era responsável pela nomeação de um Deputado Geral e de um suplente para a Assembléia Legislativa. Tornou-se um importante centro comercial, com uma população de aproximadamente duas mil pessoas e 337 habitações.

Em 1850 teve início a industrialização, com a implantação da fábrica de chapéus por Luís Soares Pinheiro.

A primeira escola pública feminina de Uberaba foi criada em 1953 e o engenheiro Fernando Vaz de Melo funda em 1854 o 1º estabelecimento de ensino Secundário de Uberaba.
A Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus, situada na Praça Rui Barbosa, iniciou a celebração dos atos paroquiais em 1856, muito antes do término de sua construção iniciada em 1827.
Devido ao seu grande crescimento de Uberaba que era uma vila, mereceu o título de Cidade em 02 de maio de 1856, pela Lei Provincial Mineira nº 759.

A Igreja Santa Rita, construída em 1856, é a primeira edificação de Uberaba tombada em 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan pelo seu grande valor histórico, arquitetônico e cultural.

Na década de 1860 a cidade tentou produzir algodão para a exportação, atendendo os interesses das indústrias de tecelagem. 

Teatro São Luiz, localizado na Praça Rui Barbosa entrou em funcionamento em 1864 promovendo eventos e espetáculos.

Em 1865 passou a funcionar o primeiro Centro Espírita de Uberaba, por iniciativa do professor João Augusto Chaves.

Sabe-se que a história e o desenvolvimento de Uberaba na década de 1870 estão diretamente ligados à guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1865 a 1870, com o consequente bloqueio do Rio da Prata que desviou todo o trânsito destinado à Província de Mato Grosso para Uberaba, esta passou a ter sua atividade comercial intensamente ampliada e serviu como ponto de passagem das tropas rumo ao Mato Grosso. Aconteceu em Uberaba o encontro de tropas que compuseram o Corpo Expedicionário, tendo como um dos membros o visconde de Taunay. Houve a construção do Cruzeiro do Cachimbo, próximo do 4º Batalhão, considerado um marco histórico pela celebração da missa em intenção ao Corpo Expedicionário que seguiu para a guerra do Paraguai. Hoje, o Cruzeiro do Cachimbo é um bem tombado pelo Conphau e instalado na Praça Magalhães Pinto.

O jornal Gazeta de Uberaba foi fundado em 27/04/1879 por João Caetano de Oliveira e Sousa e Tobias Antônio Rosa.

Entre 1881 e 1882 foi construída a igreja em homenagem a Nossa Senhora da Abadia, padroeira de Uberaba. A primeira festa ocorreu em 15 de agosto de 1882 e as obras foram concluídas em 1899.
Em 1882 foi inaugurada a iluminação pública por meio de vinte e cinco lampiões a querosene.
A Fábrica de Tecidos do Cassu foi fundada em 1882 pelos irmãos Zacarias. Mais tarde, a fábrica, foi denominada Cia. Têxtil do Triângulo Mineiro e funcionou até 1993.

O Colégio Nossa Senhora das Dores foi fundado em 1885, pelas irmãs dominicanas, e está em pleno funcionamento até hoje.

O progresso de Uberaba se acentuou com a inauguração da Estrada de Ferro em 1889, um acontecimento que viabilizou:

- A partir de 1890, desenvolvimento da pecuária zebuína a pecuária que buscou melhoria da qualidade bovina, nascendo a zebuinocultura, que projetou o criatório uberabense e transformou Uberaba em centro difusor de tecnologia e pesquisa genética das raças de origem indiana;

- O desenvolvimento comercial e intercâmbio com os grandes centros de Minas Gerais e São Paulo;
- A aceleração da urbanização. Crescimento de edificações urbanas e comerciais;

- A vinda do imigrante europeu para a Uberaba. Os primeiros imigrantes foram os italianos que criaram inclusive um consulado na cidade. Depois vieram os portugueses, espanhóis, árabes, alemães, chineses, japoneses. Consequentemente, acentuou-se o desenvolvimento cultural e econômico de Uberaba que passou a refletir na estrutura urbana, onde surgiram requintadas construções no estilo eclético. Muitas dessas edificações foram projetadas e construídas pelos imigrantes italianos e espanhóis que trouxeram de seus países de origem a técnica e a experiência. Muitos fazendeiros uberabenses transferiram suas residências do campo para a cidade e passaram a morar nos palacetes em estilo eclético. Estas requintadas residências constituíam locais de encontros políticos, sociais e festivos, eventos que permitiram muitas decisões que definiram a história do município.

A população do município crescia, assim como os atos ilegais e devido a isso era preciso um aparato policial para resguardar os cidadãos uberabenses. Em 06 de maio de 1890 o governador de Minas Gerais, João Pinheiro da Silva, institui um decreto s/nº, que em seu artigo 8º organizou “quatro corpos militares” e estabeleceu os locais de estacionamento, com o objetivo de dar maior segurança para as regiões de Minas Gerais.

- Primeiro Corpo - Capital (Ouro Preto);
- Segundo Corpo - Uberaba (Triângulo Mineiro);
- Terceiro Corpo - Juiz de Fora;
- Quarto Corpo –Diamantina.


Uberaba foi contemplada com o Segundo Corpo Militar, respondendo por todo o Triângulo Mineiro. Entretanto, teve uma efêmera permanência na cidade, pois o Decreto nº 1.631 de 26/08/1903, assinado pelo Dr. Francisco Sales, o transferiu para a capital do Estado de Minas Gerais, a população de Uberaba desassistida de proteção militar. Apenas permaneceu em Uberaba um pequeno efetivo da corporação. Foi somente em 25 de novembro de 1909 que a Força Militar se estabeleceu definitivamente na cidade, quando foi criado o 4º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, sediado em Uberaba. Inicialmente, a força policial se estabeleceu em um prédio na Rua Arthur Machado até o ano de 1932. Depois o 4º Batalhão foi instalado na Praça Frei Eugênio (Prédio do Senai) até 1947, quando foi instalado definitivamente em prédio próprio na Praça Magalhães Pinto e permanece, até a presente data.

O Instituto Zootécnico de Uberaba, proposto por Alexandre Barbosa, foi inaugurado no dia 5 de agosto de 1895, com a finalidade de formar profissionais cientificamente preparados para orientar a produção pecuária. O Instituto foi instalado em uma fazenda desapropriada pelo governo do estado de Minas Gerais para abrigar essa nova instituição de ensino.

Em 1899 foi fundado o Clube Lavoura e Comércio com o objetivo de defender a lavoura e a pecuária, combatendo os altos impostos e as interferências do novo governo republicano na atividade rural. Foi lançado o jornal Lavoura e Comércio que, em seu primeiro número, ocupou toda sua primeira página, expondo os ideais dos ruralistas.

O Colégio Marista iniciou o ensino para 86 alunos internos e externos, em 1903, por iniciativa dos irmãos maristas que vieram da França.

Em 1904 inaugurou-se a Igreja São Domingos, um marco para os dominicanos, pelo fato de ser a primeira igreja da ordem dominicana construída no Brasil.

Em 1905 foi implantada a energia elétrica pela empresa Ferreira, Caldeira & Cia, fato que impulsionou o desenvolvimento da cidade.

Em 1906, tiveram início as exposições de gado bovino, que foram muito prestigiadas, notadamente pelo Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas, nas décadas de 1930 a 1950.

A Diocese de Uberaba foi criada em 1907, tendo como primeiro bispo D. Eduardo Duarte Silva e foi elevada à categoria de Arquidiocese em 1962.

O Agente Executivo Felipe Aché criou em 1909 a primeira Biblioteca Pública Municipal de Uberaba, denominada “Bernardo Guimarães”, estabelecendo-a em um porão da Câmara Municipal de Uberaba, um fato que denotou na época a pequena importância dada à educação e à cultura do município.
Em 1909 foi inaugurado pelo estado de Minas Gerais o primeiro grupo escolar de Uberaba, denominado Grupo Escolar Brasil, localizado até hoje na Praça Comendador Quintino.

Pela iniciativa de José Maria dos Reis, o governo do Estado de Minas Gerais criou, em 1917, a primeira instituição de ensino agrícola de Uberaba, denominada Aprendizado Agrícola Borges Sampaio.

Em 1926 criou-se a primeira instituição de ensino superior na área da saúde bucal e da farmacologia, conhecida como Escola de Farmácia e Odontologia, que recebia alunos das mais diversas regiões do Brasil e até do exterior.

Os primeiros protestantes de Uberaba foram os metodistas, cujos missionários iniciaram seus trabalhos em 23/08/1896 nas casas de fiéis e amigos. O templo foi inaugurado em 1924, na Rua Moreira César, no bairro Fabrício.

Mário Palmério fundou em 1947 a Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, oportunizando mais tarde o ensino em outras áreas do conhecimento, na década de 1950, com as Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube) e, desde 1988 Universidade de Uberaba (Uniube).

Em 1949 as irmãs dominicanas fundaram a Faculdade de Filosofia e Letras São Tomás de Aquino.
As irmãs concepcionistas chegaram a Uberaba em 1949 e em 1961 inauguraram a Igreja da Medalha Milagrosa.

A Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro se estabeleceu em 1954 e foi transformada em Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 2005, oferecendo cursos em diversas áreas do conhecimento.

Nas décadas de 1970 e 1980 foram instalados os primeiros distritos industriais da cidade, apoiados com investimentos do Governo Federal.

Na década de 1990 nasceu a Univerdecidade-Parque Tecnológico de Uberaba para viabilizar a pesquisa e o ensino técnico-profissionalizante, relacionados à ciência da informação e à agroindústria, notadamente para a genética vegetal e animal.

O Centro de Pesquisas Paleontólogicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros foram criados em 1992. O museu é um dos mais importantes do Brasil, possuindo fósseis de 65 a 72 milhões de anos de idade. Localizado em Peirópolis, o museu é conhecido pela população regional e por visitantes de outros estados e países.

Uberaba conta com marcos reconhecidos no Brasil e no mundo: a expressão espiritual de Chico Xavier, o desenvolvimento da pecuária zebuína e a paleontologia.

Nos primórdios da sua história fora um Arraial, e hoje, no terceiro milênio (Século XXI) representa um centro comercial dinâmico; uma agricultura produtiva; uma pecuária seletiva, com importação de reprodutores e matrizes da Índia; um parque industrial diversificado, uma estrutura de ensino desenvolvida; uma planejada estrutura urbana, com características culturais sui generis, que têm atendido as demandas nos aspectos econômicos, culturais e de serviços essenciais à população.


Marta Zednik de Casanova
Superintendente do Arquivo Público de Uberaba

sábado, 26 de dezembro de 2020

Fundação Cultural e Catedral lançam livro sobre os 200 anos de Uberaba

Como mais uma ação do ‘Uberaba 200 Anos’, a história da Igreja Matriz de Uberaba foi registrada em livro que será lançado nesta terça-feira (22), às 19h30 na Catedral Metropolitana. A obra retrata a história do surgimento da cidade a partir de análise histórica científica, os momentos do povoamento do Sertão da Farinha Podre e a instalação das primeiras famílias com a presença do cristianismo. Passa pelo surgimento da Matriz, apresentando estudos arquitetônicos e párocos que estiveram na Igreja, chegando à atualidade, contando as ações da paróquia. A ação está sendo desenvolvida pela Fundação Cultural de Uberaba Antônio Carlos Marques e Catedral Metropolitana em parceria com a Câmara Municipal de Uberaba.

De acordo com o presidente da Fundação Marcelo Palis, é uma grande oportunidade dos uberabenses saberem sobre os patrimônios de Uberaba. “O prefeito Paulo Piau acatou a ideia, pois o livro não traz só a história da Catedral, mas também, o contexto social. A Prefeitura Municipal de Uberaba apoia ações que beneficiam todos os segmentos, como por exemplo, temos o Memorial Chico Xavier e a Igreja Metodista, ambos em processo de reforma, e agora o lançamento desse livro”.

O pároco da Catedral Monsenhor Valmir explicou sobre a necessidade dessa obra para Uberaba. “Mais que um edifício. O que se comemora, vai além da data. Envolve mais que dados. A cidade tem na construção da igreja no alto do morro, um começo matricial. A matriz é o lugar onde algo é gerado. Isso vale para a língua portuguesa e para a cidade também. As ruas que levam ao edifício recebem os nomes dos padroeiros originais. São Sebastião e Santo Antônio indicam o caminho geograficamente. São eles também que apontam referências para as crenças mais íntimas dos pioneiros dessa terra. A análise da arquitetura e da iconografia depende de reflexões sobre o povo que a produziu. As escolhas estéticas de cada detalhe assinalam a cultura da região. A construção que viria a ser identificada como a Catedral, é antes disso, a matriz que origina e serve de fonte para a formação da cidade. Metropolitana que é, representa materialmente as origens do grupo civil, do núcleo inicial. Hoje, tão expandida, a população urbana pode ter mudado suas percepções simbólicas e religiosas, mas mantém o contato com essa genitora. Sabe que ali está erguida a matriz há 200 anos. Os primeiros 200 anos de muitos mais”.

O livro terá 280 páginas, trazendo fatos de 1885 a 2020, com imagens. Foi escrito por vários historiadores, coordenados pela historiadora Cida Manzan.

Jorn. Izabel Durynek
Assessoria de Comunicação – FCU


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

História de Uberaba

Uberaba está inserida em uma região que já pertenceu à Capitania do Espírito Santo, São Paulo, Goiás e finalmente Minas Gerais. 


De 1660 a 1670 a Região do Triângulo Mineiro, onde está localizada a cidade de Uberaba, era conhecida como Sertão do Novo Sul, Sertão Grande, Sertão Sul e Geral Grande. Posteriormente, passou a ser conhecida como “Sertão da Farinha Podre”, termo nascido em 1807, quando uma bandeira saiu do Desemboque e invadiu os sertões do Pontal do Triângulo Mineiro até as margens do Rio Grande. Para justificar a denominação “Sertão da Farinha Podre” os viajantes deixavam sacos de farinha no caminho para se alimentarem na volta. Ao retornarem ao local encontravam a farinha apodrecida. Outra explicação mais plausível para a denominação é que seria originária de uma região portuguesa de onde vieram alguns portugueses exploradores. 

Centro de Uberaba - Foto - Arquivo Público Mineiro. Ano:1900

Finalmente, em 1884 a região ficou conhecida como Triângulo Mineiro, denominação idealizada pelo Dr. Raymond Henrique Des Genettes, médico francês, jornalista e político, radicado em Uberaba, por saber que a região situava-se entre os rios Grande e Paranaíba, terminava na junção desses dois rios, formando o Rio Paraná, e apresentava a forma aproximada de um triângulo. 

Os primeiros habitantes da região foram os índios tupis, depois os tremembés, os caiapós e os araxás, de tradições seminômades, cujas tribos se movimentavam de um local para outro. Eles viviam em grupos de poucas famílias, com simplicidade e sobreviviam do que a natureza oferecesse. 

Portugal passou a ter interesse pela Região a partir dos fins do século XVI, tendo como objetivo encontrar os minerais preciosos, amansar os índios e, se fosse preciso, até exterminá-los para que as metas da Coroa Portuguesa fossem cumpridas. 

A primeira investida do colonizador português, ou seja, do homem branco, sobre a Região do Triângulo Mineiro, começou em fins do Século XVI, precisamente a partir do ano de 1590, data da primeira “bandeira” (expedição), chefiada pelo capitão Sebastião Marinho, que partiu de São Paulo e atingiu o Rio Tocantins, em Goiás. 

Por volta de 1600 surgiu a Aldeia de Santana do Rio das Velhas (hoje Araguari), considerado o primeiro núcleo de povoamento branco na área que seria o futuro Estado de Minas Gerais, fundado pelos padres jesuítas com o objetivo de aculturar os índios, ou seja, catequizá-los. 

Posteriormente, inúmeras “bandeiras” paulistas foram organizadas ao longo dos séculos XVII e XVIII, com a mesma finalidade. As mais significativas para a Região do Triângulo Mineiro são descritas abaixo: 

– Em 1615 partiu de São Paulo uma “bandeira” liderada por Antônio Pedroso de Alvarenga que atravessou a Região do Triângulo Mineiro com destino a Goiás. 

– Outra “bandeira” partiu de São Paulo em 1682 e também atravessou o Triângulo Mineiro até alcançar Goiás, sendo liderada por Bartolomeu Bueno da Silva (o velho Anhanguera) que levou seu filho Bartolomeu Bueno da Silva Filho de apenas 12 anos. 

– Em 1722 partiu outra “bandeira” de São Paulo rumo a Goiás, visando para a abertura de uma estrada para a exploração de minas de ouro, prata e pedras preciosas. Essa missão ficou a cargo de Bartolomeu Bueno da Silva Filho (filho de Anhanguera). Ao passarem pela região se depararam com os índios caiapós. Essa expedição era composta por 152 homens, entre os quais 20 índios carregadores, 3 religiosos, 20 índios, 1 mascate francês e 39 cavalos. Ela partiu de São Paulo seguindo os rios Atibaia, Camanducaia, Moji-Guaçu, Grande (Porto da Espinha), passando em Uberaba, a sessenta metros dos fundos do atual cemitério São João Batista. Depois a expedição continuou a viagem em direção ao Rio das Velhas e penetrou em Goiás pelo Rio Corumbá. Segundo alguns relatos da época, a expedição passou por terras de Uberaba. Esta rota ficou conhecida como Estrada Real ou Anhanguera, que consistia em um importante caminho para que as autoridades portuguesas implantassem a colonização, a produção e escoamento dos minerais preciosos. Na verdade, a maioria das riquezas minerais do Brasil-Colônia foi levada para Portugal e utilizada para o pagamento de suas dívidas em relação à Inglaterra. 

– Posteriormente, a expedição do filho de Anhanguera fundou em 1725 o povoado de Vila Boa em Goiás. Dessa forma foi aberta a estrada que passava pelas terras de Uberaba. Por esse feito, Bartolomeu Bueno da Silva Filho recebeu como recompensa a nomeação de Capitão-Mor Regente das minas de Goiás e o direito de conceder “sesmarias” (concessão de terras para povoamento). 

– Em 1727,Antônio de Araújo Lanhoso foi o primeiro homem branco que se fixou na região de Uberaba e um dos primeiros a receber sesmarias ao longo da estrada de Anhanguera, a 15 km de Uberaba, no córrego do Lanhoso, que corre paralelo à rodovia para Uberlândia. 

– Outra estrada denominada Picada de Goiás foi aberta em 1736, saindo de Minas Gerais e passando do lado oriental da Serra da Canastra, atingindo terras de Araxá em direção à Vila Boa. A estrada foi terminada em 1738, ligando as minas goianas a São João Del Rei e Vila Rica. Ao longo dessas estradas foram concedidas também sesmarias, ou seja, terras que aos poucos foram sendo ocupadas pelo colonizador branco. 

Uberaba tem, então, a sua origem na ocupação do Triângulo Mineiro, que ficou sob a jurisdição de Goiás até 1816, quando a região passou a pertencer à província de Minas Gerais, de acordo com o Alvará de D. João VI, de 04/04/1816. 

A exploração e o povoamento de todo o Triângulo Mineiro, de modo geral, ocorreu, como em todo o “Brasil-Colônia”, pelo amansamento e extermínio das populações indígenas e dos negros nos quilombos. As estradas para a Região do Triângulo Mineiro e Goiás tornaram-se palco de batalhas entre os exploradores dos sertões e os índios. A invasão de terras indígenas provocou muitas vezes sangrentas guerras contra os caiapós, no antigo Sertão da Farinha Podre (Triângulo Mineiro). Vários quilombos também foram ameaçados pelos exploradores brancos. 

Diante dessa insegurança, o governo de Goiás viabilizou o policiamento das estradas e nomeou, em 1742, o coronel Antônio Pires de Campos Filho para policiar, amansar e até mesmo exterminar os índios caiapós da região do Triângulo Mineiro. Fato constatado com a matança dos caiapós, sendo em sua maioria derrotados, submetidos e alojados também com tribos bororo, do Mato Grosso, em 18 aldeias ao longo da estrada. Uma dessas aldeias de índios mansos (Aldeia de Uberaba Falso) ficava onde se fundou Uberaba, próxima à Barra do Córrego da Lage. O coronel instalou apenas quatro dessas 18 aldeias ao longo da Estrada de Anhanguera para proteger as caravanas que nela trafegavam. Mais tarde, em 1751, o coronel Pires de Campos faleceu em Paracatu, vítima de uma flechada, ocasionando septicemia. 

Em 1766 foi criado o Julgado de Nossa Senhora do Desterro das Cabeceiras do Rio das Velhas (Desemboque), sob a administração de Goiás, abrangendo a região do Triângulo e quase todo o sul de Goiás. Era um local rico em minas auríferas e de intensa exploração. A posse desse arraial pelo governo de Goiás era vantajosa aos moradores de Minas Gerais, pois estavam livres do pagamento de imposto sobre minerais, denominado “derrama”, cobrado em Minas Gerais. Desemboque teve o seu esplendor até 1781, quando as minas auríferas se esgotaram. Algum tempo depois grande número de pessoas migrou para outras terras, ou seja, para o Arraial de Uberaba, fundado por Major Eustáquio. Portanto, a história do Desemboque é de fundamental importância para compreender o povoamento de Uberaba. 

– Em 1807 um grupo de homens (Januário Luís da Silva, Pedro Gonçalves da Silva, José Gonçalves Heleno, Manuel Francisco, Manuel Bernardes Ferreira e outros) oriundos de Desemboque adentrou e ficou no Córrego da Lage. Segundo o historiador Borges Sampaio, o cirurgião prático Pedro Gonçalves da Silva, cujo apelido era Pedro Panga, aproveitando-se da vizinhança de índios mansos, se fixou e construiu, em 1809, uma casa, próxima de onde se encontra atualmente o Hospital Dr. Hélio Angotti. 

Prosseguindo a exploração das terras, o governo de Goiás para dinamizar a administração dos Sertões, nomeou em 1809, Antônio Eustáquio da Silva Oliveira (major Eustáquio), para a função de comandante “Regente do Sertão da Farinha Podre” (Triângulo Mineiro) e, em 1811 foi nomeado por Ato Governamental, “curador de índios”. Ele era natural de Ouro Preto e residente em Desemboque. 

– Em 1810, major Eustáquio organizou no Desemboque uma “bandeira”, passando por terras de Uberaba e seguindo até o Rio da Prata, formado pelos rios Piracanjuba e do Peixe. 

– Outra expedição chefiada por José Francisco Azevedo, atingiu a cabeceira do Ribeirão Lajeado, fundando o arraial da Capelinha em 1812, aproximadamente a 15 km do Rio Uberaba, próximo ao povoado de Santa Rosa. O povoado chegou a ter vinte casas e foi erguida uma capelinha com as imagens de Santo Antônio e São Sebastião. O Arraial era conhecido como Lageado ou Capelinha. Entretanto, não se desenvolveu por falta de água e terras férteis, conforme constatou major Eustáquio em visita ao local. 

– Para prosseguir a colonização, o “Regente dos Sertões” major Antonio Eustáquio da Silva Oliveira (conhecido como major Eustáquio e fundador de Uberaba), comandou outra expedição em fins de 1812, composta por 30 homens, com o objetivo de procurar novas terras para se estabelecerem. A expedição chegou ao Rio Uberaba e fixou-se na margem esquerda do Córrego das Lages com o Rio Uberaba, onde foi edificada a Chácara da Boa Vista (hoje Fazenda Experimental da Epamig na Univerdecidade). Major Eustáquio constatou que Uberaba tinha três condições para o povoamento: recursos hídricos, terras férteis e posição estratégica favorável. Junto com o major Eustáquio (considerado o fundador de Uberaba) vieram fazendeiros e aventureiros que passaram a produzir e comercializar com as caravanas que ligavam Goiás a São Paulo. Em 1816 o major Eustáquio construiu um retiro para o gado, uma tenda de ferreiro e a sua residência na Praça Rui Barbosa. A sua função consistia em dar proteção para os colonos e índios mansos, além de expulsar para longe do arraial os índios bravos e quilombolas. Consequentemente, grande número de pessoas e famílias do arraial da Capelinha e do Desemboque, sabendo das condições propícias do arraial de Uberaba, e do prestígio e segurança que o comandante major Eustáquio oferecia, migraram para o novo arraial. Era uma população muito heterogênea: mineiros que se estabeleceram como fazendeiros, boiadeiros, mascates, comerciantes, criadores de gado, ferreiros e até criminosos foragidos. Os moradores construíram suas casas térreas de pau-a-pique ao redor do retiro de major Eustáquio, formando a “Rua Grande” (atualmente Rua Manoel Borges e Vigário Silva). Edificaram suas casas e estabelecimentos comerciais acompanhando as ondulações dos terrenos e serpenteando os pequenos regatos. Os moradores do Arraial da Capelinha trouxeram para Uberaba os seus santos protetores e com autorização do major Eustáquio construíram uma Capela (atual Praça Frei Eugênio, hoje Escola Estadual Minas Gerais), tendo como oragos Santo Antônio e São Sebastião. Posteriormente a capela foi transformada em Matriz, com a criação da Paróquia, benzida em 1818 pelo vigário do Desemboque Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick. Assim foi estabelecido o reconhecimento do povoado pela Igreja, instituição que tinha prestígios decisórios junto aos governos. A Igreja Católica estava unida ao Estado e a bênção de uma capela oficializava, na administração, o nome do Arraial, que passou a chamar-se “Arraial de Santo Antônio e São Sebastião da Farinha Podre”, designação ostentada até 1820. 

Segundo o historiador Borges Sampaio, “o Arraial se desenvolveu e tinha 30 casas e já contava com 1.621 habitantes, dos quais 417 eram escravos”, o que demonstra a riqueza dos proprietários de terras e a grande exploração da mão-de-obra escrava. A atividade econômica predominante era a agricultura de subsistência, necessária para alimentar a sua população, além das tropas que passavam pelo arraial. Em 1819 havia criadores com 500 e até 1.000 cabeças de gado, fato que demonstra grande atividade pecuarista. As casas eram construídas com material simples e sem jardim, erguendo-se no alinhamento das ruas e serpenteando a naturalidade dos córregos. 

O colonizador branco foi ocupando as terras à medida que os índios eram aculturados ou expulsos de suas terras formando-se extensas propriedades, devido o baixo valor da terra e a isenção de impostos sobre elas. 

O arraial foi crescendo e isso permitiu que em 2 de março de 1820, o rei D. João VI decretasse a elevação do Arraial de Santo Antônio e São Sebastião à condição de Freguesia (Paróquia). (documento oficial mais antigo de Uberaba) 

Freguesia era o termo eclesiástico que designava o território de atuação de um vigário. Com isso ocorreu um desligamento dos laços religiosos que subordinavam o Arraial de Santo Antônio e São Sebastião (Uberaba) à Vila do Desemboque. O decreto constituiu um grande avanço para a comunidade. Significou a emancipação e gerência própria em assuntos de ordem civil, militar e religiosa. Foi o reconhecimento oficial tanto pela Igreja, quanto pelo Governo Real. Dada a importância histórica de 02/03/1820, quando a cidade foi elevada à Freguesia, (Decreto: documento oficial mais antigo do Município), instituiu-se oficialmente tal data para que se comemorasse o aniversário de Uberaba a partir de 1995. 

A Catedral (Igreja do Sagrado Coração de Jesus) também comemora 199 anos em 2019, pois em 1820 foi criada por decreto, a Freguesia (termo eclesiástico), que deu autonomia em relação a Desemboque em assuntos eclesiásticos na Freguesia. 

O fundador e comandante de Uberaba major Eustáquio e os fazendeiros mais importantes passaram a exigir a criação da Câmara Municipal. Entretanto, o fundador de Uberaba faleceu em 1832 e assumiu a liderança da Freguesia o seu irmão capitão Domingos da Silva Oliveira. Nessa época o Governo Regencial (1831 a 1840) implantou no Brasil uma política descentralizadora, viabilizando a elevação de Vila em muitos locais do País. A Freguesia de Uberaba em pouco tempo mostrava grande desenvolvimento e já contava com um número considerável de habitantes: agricultores, pecuaristas, comerciantes e de outras profissões, reunindo as condições para ser elevada à condição de Vila. Devido a esses fatos o Governo Provincial de Minas Gerais elevou Uberaba (Freguesia) à condição de Município (Vila) de Santo Antônio de Uberaba em 02 de fevereiro de 1836, tornando-se autônomo, com território demarcado e com a Câmara Municipal. Esta foi instalada em 1837, em um prédio na Praça Rui Barbosa, que também abrigou a cadeia, uma tradição dos tempos coloniais. Os primeiros vereadores eleitos eram comerciantes prósperos, fazendeiros e representantes do clero. A Vila cresceu e assumiu importância pela posição geográfica e pela grande atividade econômica. 

Uberaba, em 1840 passou a sediar uma Comarca pela Lei provincial mineira nº 171, com a finalidade de implantar a justiça na região, tendo como primeiro juiz de Direito Joaquim Caetano da Silva Guimarães. 

O crescimento econômico e populacional da Vila de Santo Antônio de Uberaba viabilizou em 1846 a conquista de um Colégio Eleitoral, vindo a ser sede de grande colégio, que era responsável pela nomeação de um Deputado Geral e de um suplente para a Assembléia Legislativa. Tornou-se um importante centro comercial, com uma população de aproximadamente duas mil pessoas e 337 habitações. 

Em 1850 teve início a industrialização, com a implantação da fábrica de chapéus por Luís Soares Pinheiro. 

A primeira escola pública feminina de Uberaba foi criada em 1953 e o engenheiro Fernando Vaz de Melo funda em 1854 o 1º estabelecimento de ensino Secundário de Uberaba. 

A Catedral Metropolitana do Sagrado Coração de Jesus, situada na Praça Rui Barbosa, iniciou a celebração dos atos paroquiais em 1856, muito antes do término de sua construção iniciada em 1827. 

Devido ao seu grande crescimento de Uberaba que era uma vila, mereceu o título de Cidade em 02 de maio de 1856, pela Lei Provincial Mineira nº 759. 

A Igreja Santa Rita, construída em 1856, é a primeira edificação de Uberaba tombada em 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan pelo seu grande valor histórico, arquitetônico e cultural. 

Na década de 1860 a cidade tentou produzir algodão para a exportação, atendendo os interesses das indústrias de tecelagem. 

Teatro São Luiz, localizado na Praça Rui Barbosa entrou em funcionamento em 1864 promovendo eventos e espetáculos. 

Em 1865 passou a funcionar o primeiro Centro Espírita de Uberaba, por iniciativa do professor João Augusto Chaves. 

Sabe-se que a história e o desenvolvimento de Uberaba na década de 1870 estão diretamente ligados à guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1865 a 1870, com o consequente bloqueio do Rio da Prata que desviou todo o trânsito destinado à Província de Mato Grosso para Uberaba, esta passou a ter sua atividade comercial intensamente ampliada e serviu como ponto de passagem das tropas rumo ao Mato Grosso. Aconteceu em Uberaba o encontro de tropas que compuseram o Corpo Expedicionário, tendo como um dos membros o visconde de Taunay. Houve a construção do Cruzeiro do Cachimbo, próximo do 4º Batalhão, considerado um marco histórico pela celebração da missa em intenção ao Corpo Expedicionário que seguiu para a guerra do Paraguai. Hoje, o Cruzeiro do Cachimbo é um bem tombado pelo Conphau e instalado na Praça Magalhães Pinto. 

O jornal Gazeta de Uberaba foi fundado em 27/04/1879 por João Caetano de Oliveira e Sousa e Tobias Antônio Rosa. 

Entre 1881 e 1882 foi construída a igreja em homenagem a Nossa Senhora da Abadia, padroeira de Uberaba. A primeira festa ocorreu em 15 de agosto de 1882 e as obras foram concluídas em 1899. 

Em 1882 foi inaugurada a iluminação pública por meio de vinte e cinco lampiões a querosene. 

A Fábrica de Tecidos do Cassu foi fundada em 1882 pelos irmãos Zacarias. Mais tarde, a fábrica, foi denominada Cia. Têxtil do Triângulo Mineiro e funcionou até 1993. 

O Colégio Nossa Senhora das Dores foi fundado em 1885, pelas irmãs dominicanas, e está em pleno funcionamento até hoje. 

O progresso de Uberaba se acentuou com a inauguração da Estrada de Ferro em 1889, um acontecimento que viabilizou: 

– A partir de 1890, desenvolvimento da pecuária zebuínaa pecuária que buscou melhoria da qualidade bovina, nascendo a zebuinocultura, que projetou o criatório uberabense e transformou Uberaba em centro difusor de tecnologia e pesquisa genética das raças de origem indiana; 

– O desenvolvimento comercial e intercâmbio com os grandes centros de Minas Gerais e São Paulo; 

– A aceleração da urbanização. Crescimento de edificações urbanas e comerciais; 

– A vinda do imigrante europeu para a Uberaba. Os primeiros imigrantes foram os italianos que criaram inclusive um consulado na cidade. Depois vieram os portugueses, espanhóis, árabes, alemães, chineses, japoneses. Consequentemente, acentuou-se o desenvolvimento cultural e econômico de Uberaba que passou a refletir na estrutura urbana, onde surgiram requintadas construções no estilo eclético. Muitas dessas edificações foram projetadas e construídas pelos imigrantes italianos e espanhóis que trouxeram de seus países de origem a técnica e a experiência. Muitos fazendeiros uberabenses transferiram suas residências do campo para a cidade e passaram a morar nos palacetes em estilo eclético. Estas requintadas residências constituíam locais de encontros políticos, sociais e festivos, eventos que permitiram muitas decisões que definiram a história do município. 

A população do município crescia, assim como os atos ilegais e devido a isso era preciso um aparato policial para resguardar os cidadãos uberabenses. Em 06 de maio de 1890 o governador de Minas Gerais, João Pinheiro da Silva, institui um decreto s/nº, que em seu artigo 8º organizou “quatro corpos militares” e estabeleceu os locais de estacionamento, com o objetivo de dar maior segurança para as regiões de Minas Gerais. 

– Primeiro Corpo – Capital (Ouro Preto); 

– Segundo Corpo – Uberaba (Triângulo Mineiro); 

– Terceiro Corpo – Juiz de Fora; 

– Quarto Corpo –Diamantina. 

Uberaba foi contemplada com o Segundo Corpo Militar, respondendo por todo o Triângulo Mineiro. Entretanto, teve uma efêmera permanência na cidade, pois o Decreto nº 1.631 de 26/08/1903, assinado pelo Dr. Francisco Sales, o transferiu para a capital do Estado de Minas Gerais, a população de Uberaba desassistida de proteção militar. Apenas permaneceu em Uberaba um pequeno efetivo da corporação. Foi somente em 25 de novembro de 1909 que a Força Militar se estabeleceu definitivamente na cidade, quando foi criado o 4º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, sediado em Uberaba. Inicialmente, a força policial se estabeleceu em um prédio na Rua Arthur Machado até o ano de 1932. Depois o 4º Batalhão foi instalado na Praça Frei Eugênio (Prédio do Senai) até 1947, quando foi instalado definitivamente em prédio próprio na Praça Magalhães Pinto e permanece, até a presente data. 

O Instituto Zootécnico de Uberaba, proposto por Alexandre Barbosa, foi inaugurado no dia 5 de agosto de 1895, com a finalidade de formar profissionais cientificamente preparados para orientar a produção pecuária. O Instituto foi instalado em uma fazenda desapropriada pelo governo do estado de Minas Gerais para abrigar essa nova instituição de ensino. 

Em 1899 foi fundado o Clube Lavoura e Comércio com o objetivo de defender a lavoura e a pecuária, combatendo os altos impostos e as interferências do novo governo republicano na atividade rural. Foi lançado o jornal Lavoura e Comércio que, em seu primeiro número, ocupou toda sua primeira página, expondo os ideais dos ruralistas. 

O Colégio Marista iniciou o ensino para 86 alunos internos e externos, em 1903, por iniciativa dos irmãos maristas que vieram da França. 

Em 1904 inaugurou-se a Igreja São Domingos, um marco para os dominicanos, pelo fato de ser a primeira igreja da ordem dominicana construída no Brasil. 

Em 1905 foi implantada a energia elétrica pela empresa Ferreira, Caldeira & Cia, fato que impulsionou o desenvolvimento da cidade. 

Em 1906, tiveram início as exposições de gado bovino, que foram muito prestigiadas, notadamente pelo Presidente da República Getúlio Dorneles Vargas, nas décadas de 1930 a 1950. 

A Diocese de Uberaba foi criada em 1907, tendo como primeiro bispo D. Eduardo Duarte Silva e foi elevada à categoria de Arquidiocese em 1962. 

O Agente Executivo Felipe Aché criou em 1909 a primeira Biblioteca Pública Municipal de Uberaba, denominada “Bernardo Guimarães”, estabelecendo-a em um porão da Câmara Municipal de Uberaba, um fato que denotou na época a pequena importância dada à educação e à cultura do município. 

Em 1909 foi inaugurado pelo estado de Minas Gerais o primeiro grupo escolar de Uberaba, denominado Grupo Escolar Brasil, localizado até hoje na Praça Comendador Quintino. 

Pela iniciativa de José Maria dos Reis, o governo do Estado de Minas Gerais criou, em 1917, a primeira instituição de ensino agrícola de Uberaba, denominada Aprendizado Agrícola Borges Sampaio. 

Em 1926 criou-se a primeira instituição de ensino superior na área da saúde bucal e da farmacologia, conhecida como Escola de Farmácia e Odontologia, que recebia alunos das mais diversas regiões do Brasil e até do exterior. 

Os primeiros protestantes de Uberaba foram os metodistas, cujos missionários iniciaram seus trabalhos em 23/08/1896 nas casas de fiéis e amigos. O templo foi inaugurado em 1924, na Rua Moreira César, no bairro Fabrício. 

Mário Palmério fundou em 1947 a Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, oportunizando mais tarde o ensino em outras áreas do conhecimento, na década de 1950, com as Faculdades Integradas de Uberaba (Fiube) e, desde 1988 Universidade de Uberaba (Uniube). 

Em 1949 as irmãs dominicanas fundaram a Faculdade de Filosofia e Letras São Tomás de Aquino. 

As irmãs concepcionistas chegaram a Uberaba em 1949 e em 1961 inauguraram a Igreja da Medalha Milagrosa. 

A Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro se estabeleceu em 1954 e foi transformada em Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 2005, oferecendo cursos em diversas áreas do conhecimento. 

Nas décadas de 1970 e 1980 foram instalados os primeiros distritos industriais da cidade, apoiados com investimentos do Governo Federal. 

Na década de 1990 nasceu a Univerdecidade-Parque Tecnológico de Uberaba para viabilizar a pesquisa e o ensino técnico-profissionalizante, relacionados à ciência da informação e à agroindústria, notadamente para a genética vegetal e animal. 

O Centro de Pesquisas Paleontólogicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossaurosforam criados em 1992. O museu é um dos mais importantes do Brasil, possuindo fósseis de 65 a 72 milhões de anos de idade. Localizado em Peirópolis, o museu é conhecido pela população regional e por visitantes de outros estados e países. 

Uberaba conta com marcos reconhecidos no Brasil e no mundo: a expressão espiritual de Chico Xavier, o desenvolvimento da pecuária zebuína e a paleontologia. 

Nos primórdios da sua história fora um Arraial, e hoje, no terceiro milênio (Século XXI) representa um centro comercial dinâmico; uma agricultura produtiva; uma pecuária seletiva, com importação de reprodutores e matrizes da Índia; um parque industrial diversificado, uma estrutura de ensino desenvolvida; uma planejada estrutura urbana, com características culturais sui generis, que têm atendido as demandas nos aspectos econômicos, culturais e de serviços essenciais à população. 


Marta Zednik de Casanova
Superintendente do Arquivo Público de Uberaba


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Cidade de Uberaba

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

HENRIQUE DES GENETTES: UM AVENTUREIRO FRANCÊS NO SERTÃO DA FARINHA PODRE

Durante quase todo o século XIX, o “Sertão da Farinha Podre” e o sul da Província de Goiás compunham uma gigantesca terra de ninguém. Cenário único, misturava o pioneirismo violento das cidades do Velho Oeste americano – eternizadas nos filmes de bang-bang – com cenários selvagens e misteriosos das imensidões inexploradas da África. Poderia já ter rendido um sem número de romances, filmes e documentários. Tínhamos por aqui até mesmo alguns dos personagens mais curiosos desse tipo de narrativa: os aventureiros europeus que – sabe-se lá por quais motivos – deixavam o Velho Continente e vinham parar no que era, então, um legítimo fim-de-mundo.

Uberaba teve a sua cota de aventureiros. Um dos mais curiosos foi o francês Henrique Raimundo Des Genettes que, em sua longa existência pelos sertões, foi médico, cronista, explorador, mineralogista, geógrafo, líder político, administrador público, advogado, militar, jornalista, teatrólogo, educador e – finalmente – padre. Mas, ao contrário dos cowboys e desbravadores do cinema, esse herói sertanejo estava longe de ter o “physique du rôle” dos galãs de Hollywood. O memorialista Visconde de Taunay, a caminho da Guerra do Paraguai em 1865, o conheceu em Uberaba e foi impiedoso no relato: “apareceu-nos o Dr. Des Genettes a cavalo, carregando a sua fardinha esquisita de cirurgião da Guarda Nacional; feio, muito miudinho, muito magro, com os olhos esbugalhados sobre os quais havia uma enorme pala de boné (...) pronunciou um discurso engasgado, com pronunciado sotaque francês. Estava tão comovido que os joelhos lhe tremiam. (...) levou-me a tomar chá em sua casa, onde cantou ao violão ridículo dueto com a mulher. Conhecia alguma coisa de mineralogia e mostrou-me alguns cadernos destinados à imprensa”.

Talvez Taunay houvesse sido mais generoso se tivesse conhecimento da história prévia desse homenzinho, que tinha então 64 anos de idade e um nome de batismo imponente: François Henri Raimond Trigant Des Genettes. De sua vida na França sabe-se pouco. Nasceu em Pauillac, região de Bordeaux, em 1801. Seria descendente de Nicolas Dufriche, Barão Desgenettes, famoso médico das tropas de Napoleão, caído em desgraça após a derrota de Waterloo. Teria estudado Medicina na Universidade de Brest, mas não se sabe se concluiu o curso e os motivos que o trouxeram ao Brasil, onde chegou em 1835, como tripulante do navio francês MInerva – do qual foi expulso após matar, em duelo, um dos oficiais de bordo. Quatro anos depois, naturalizou-se brasileiro e foi morar em Ouro Preto, onde teve um breve casamento. Já viúvo, participou ativamente da Revolução Liberal de 1842, tendo ficado algum tempo preso junto com Teófilo Otoni, após a derrota do movimento.

Dois anos mais tarde, Des Genettes foi encarregado pelo governo imperial para explorar reservas salinas e nitreiras no Triângulo Mineiro. Na ocasião, visitou as cavernas de Sacramento e foi pioneiro em indicar as corredeiras de Jaguara como o melhor local para a construção de uma ponte sobre o Rio Grande – recomendação seguida quatro décadas depois pela Companhia Mogiana. Casou-se novamente em Araxá e tornou-se um dos primeiros moradores do garimpo de Bagagem (atual Estrela do Sul), de onde partia para pesquisar as reservas minerais do sul de Goiás e da Serra dos Cristais. Realizou também estudos sobre as possibilidades de navegação nos rios Pardo e Mogi Guaçu, em São Paulo, como alternativas de transporte rumo ao Triângulo.

Des Genettes - Foto: Arquivo Público Mineiro.

Des Genettes teria se mudado para Uberaba em 1854, onde estabeleceu-se como médico e boticário, em um sobrado na Rua Municipal (atual Manoel Borges). Tornou-se amigo do também farmacêutico e historiador português Antonio Borges Sampaio, com quem compartilhava a atração eclética pelas ciências humanas e naturais. Elegeu-se vereador, presidiu a Câmara Municipal e foi Agente Executivo (equivalente a prefeito) entre 1865 e 67. Fundou e lecionou em diversas escolas, apoiou a criação do Teatro São Luiz e escreveu peças para serem lá representadas. Esporadicamente, exerceu tarefas de defensor público e delegado de polícia. Organizou na região o recrutamento dos Batalhões Patrióticos que seguiram para a Guerra do Paraguai, ocasião em que conheceu Taunay. Foi um dos primeiros a propor a mudança do nome da região para "Triângulo Mineiro", e também a sua separação de Minas e incorporação à província de São Paulo.

Um dos seus maiores feitos foi a fundação de uma tipografia e do primeiro jornal uberabense: “O Paranaíba”, lançado em 1º de agosto de 1874 e logo renomeado “Echos do Sertão”. Dois anos mais tarde, após a morte da esposa, mudou-se para Goiás. Ordenou-se Padre em Pirenópolis, fundou e dirigiu escolas em Catalão* e Paracatu, onde elegeu-se deputado provincial. Em 1879, envolveu-se em uma confusão ao reprovar em seu colégio o filho de um delegado de polícia de Paracatu. Inconformado, o delegado queria expulsá-lo da cidade, onde só permaneceu graças ao apoio do Juiz de Direito da comarca, que lhe concedeu um "habeas corpus". Des Genettes faleceu dez anos depois, em 1889, no Distrito de Santo Antônio do Cavalheiro, nas imediações de Ipameri, do qual foi um dos fundadores.

(André Borges Lopes – artigo publicado originalmente na coluna "Binóculo Reverso" do Jornal de Uberaba, em 1ª/09/2019)

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Cidade de Uberaba

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

DESEMBOQUE

SERTÃO DA FARINHA PODRE, fato curioso e folclórico que marcou para sempre estas paragens, um saco de farinha deixado como reserva para a volta de uma expedição exploradora por volta dos finais do séc. XVII ou início do séc. XVIII, que encontrado estragado, tornou conhecida esta grande mesopotâmia hoje nosso Triângulo Mineiro. Compreendia terras férteis e numerosos e caudalosos cursos d’água, onde vislumbrava-se promessa de muitas riquezas através dos metais e pedras preciosas, habitada por diversas tribos indígenas e grandes e resistentes quilombos.
“Entre os diversos povos indígenas que habitavam essa região citam-se os Bororo, Pareci, Karajá, Araxá e, principalmente os Kaiapó, que maior resistência ofereceu à colonização. Esses povos Kaiapó, classificados por Darcy Ribeiro como meridionais, eram de família Jê e se dividiam em numerosas tribos, ocupando um vasto território denominado Caiapônia.” (Ribeiro, Darcy in Século 30. 1989).
Nas primeiras décadas do século XVIII, descobriu-se o ouro Goiano e, já em 1722, estava aberta a estrada que ficou conhecida pelo nome de Anhanguera, por ter sido este bandeirante um dos primeiros a penetrar aquelas remotas paragens. O caminho abre espaço para o afluxo de levas de aventureiros, atraídos pela possibilidade da riqueza fácil propiciada pela posse do precioso metal. (PONTES, 1970)
Afamados sertanistas trilharam tais caminhos, a exemplo de Antônio Pires de Campos, cujo nome se liga a descoberta da região. Já em 1718 esses bandeirantes atingiram o Rio Cuiabá, no Mato Grosso, em expedição de caça aos índios, com ele empreendendo grandes combates e tentativas de organização e controle de aldeias.
Outro famoso bandeirante, Bartolomeu Bueno da Silva, o filho de Anhanguera, atravessara o Jeticaí (Rio Grande), fazendo escala pela Ilha da Espinha, e alcançando as terras da Farinha Podre, em território Kaiapó, transpõe o vau do roncador, no Uberaba legítimo, em direção ao Rio das Abelhas, costeia a picada de Goiás Paulista, atingindo o Rio das Pedras, e daí o Paranaíba. (PONTES, 1970)
A exploração efetiva do território, porém, somente se deu a partir de meados do século XVIII. A fixação do Arraial de Nossa Senhora do Desterro das cabeceiras do Rio das Velhas, (atual Rio Araguari), desempenha papel capital nesse processo, tendo resultado do assentamento de colonizadores e exploradores provenientes, principalmente, da Capitania de Minas.
A povoação constituiu o grande pólo irradiador de expedições colonizadoras para toda extensão da Farinha Podre e seu surgimento ligou-se não somente à exploração de ouro e diamantes ali encontrados, mas também a necessidade de um ponto estratégico que facilitasse a ligação e o comércio com a capitania de Goiás.
Distrito de Desemboque em 1966, (Matriz de N. Sra do Desterro).
Fotografia do acervo de Jorge Alberto Nabut
(Arquivo Público de Uberaba)