Mostrando postagens com marcador Guido Bilharinho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Guido Bilharinho. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Filmes Soviéticos Década 1920


OUTUBRO
A Arte da Realidade


Guido Bilharinho

Filmes Soviéticos 
Em 1927, no décimo aniversário da revolução soviética, Sergei Eisenstein (1898-1948), auxiliado por Grégori Alexandrov (1903-1983), realiza Outubro (Oktiabr, U.R.S.S., 1927) atinente à tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques.
         Do ponto de vista puramente artístico e cinematográfico, é obra brilhante, como todas suas realizações. Salientam-se nela - pela extrema modernidade, agilidade e adequação - os cortes e a montagem.

         O estilo vigoroso de Eisenstein impõe-se desde a primeira tomada e prossegue até o final sem qualquer pausa. A angulação e o enquadramento são perfeitos, contribuindo, como tudo o mais, para dar ao filme ritmo frenético e vibrante, característica, também, de A Greve (Stacka, U.R.S.S., 1924) e de O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, U.R.S.S., 1925).

         Tais particularidades são tão fortes e pessoais, que qualquer indivíduo afeiçoado ao cinema, depois de conhecer um de seus filmes ou parte de um deles, tem condições de identificar, de imediato, sua autoria.

         Eisenstein, como nenhum outro, imprime à sua obra o tonus e o significado mais profundo dos fatos, transmitindo, por força disso, sua atmosfera e ambientação. Seu realismo não se limita, como usualmente ocorre, a captar apenas a realidade, mas, captando-a, em imprimir-lhe − mais do que exprimir-lhe − um sentido, que preexiste ao momento enfocado e persiste depois.

         As pessoas que desfilam, agem e atuam frente às câmeras não parecem representar simples personagens ou atores encarnando figuras de ficção, mas, os próprios responsáveis pelos eventos.

         Não se tem a impressão de se assistir a uma narrativa, a uma reconstrução ou equivalência dos fatos, mas, à própria realidade explodindo viva, presentificada, na tela. Assim, por pautar-se por acentuado grau de realismo, objetividade e verossimilhança, Outubro insere o espectador no vórtice dos acontecimentos, fazendo-o sentir-se como se os estivesse presenciando no momento em que se desenvolvem.

         O filme, por isso, não é documentário e nem configura ficção, inserindo-se num tertius genus, que apreende a realidade significante e significada, extrapolando os limites documentais de fatos apenas mostrados e a construção, normalmente livre, arbitrária e subjetiva, de entrecho ficcional.

         Se Eisenstein, tanto em Outubro, como nas demais obras citadas, se atém à impositiva faticidade, a ela acrescenta a criatividade do artista e, sem transfigurá-la ou mistificá-la, a constrói, muito mais do que a reconstrói, em toda riqueza de sua complexidade momentânea e simultaneamente histórica.

         Contudo, para conseguir erigir sua epopeia cinematográfica, sacrifica todo didatismo e repele qualquer esquematismo, pelo que só quem viveu os fatos ou deles já possui alguma informação está apto a acompanhá-los e entendê-los, nem que seja parcialmente.

(do livro Clássicos do Cinema Mudo. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2003)

______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando mensalmente desde setembro último um livro no blog: https://guidobilharinho.blogspot.com.br.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Jerry Lewis - Ator e Diretor


O BAGUNCEIRO ARRUMADINHO
E O PROFESSOR ALOPRADO
Os Meros Pretextos


Guido Bilharinho

Jerry Lewis - Ator e Diretor
Jerry Lewis, como Chaplin, foi ator e diretor. Como ele, iniciou a carreira cinematográfica sendo dirigido para, depois, auto-dirigir-se.

         Em ambos, há que se distinguir um do outro ou um e outro. Como atores cômicos ninguém os superou em suas épocas.

         Em Lewis, o contorcionismo corporal, versatilidade e adaptabilidade facial às situações e a flexibilidade comportamental atingem graus e momentos inexcedíveis.

         Em dois dos filmes que atuou, O Bagunceiro Arrumadinho (The Disordely Ordely, EE.UU., 1965), de Frank Tashlin (1913-1974), e O Professor Aloprado (The Nutty Professor, EE.UU., 1963), que dirige, aqui destacados exemplificativamente, essas características são facilmente perceptíveis, tanto quanto em outros filmes, com maior ou menor incidência.

         Mesmo descontando-se os efeitos especiais proporcionados pelo cinema, talvez mais do que em qualquer outro de seus filmes (como ator e/ou como ator/diretor), é mais notável em O Professor Aloprado sua versatilidade, extremada em tipos totalmente diferentes e antagônicos como do professor e de Buddy Love. Tudo que um não era e não tinha o outro não só apresentava como o fazia em grau acentuado. Presença, voz, aparência, atitudes, comportamento, desenvoltura, visão do mundo ou da vida, mostram-se tão diferenciados e antípodas que dificilmente poder-se-ia imaginar possível na mesma pessoa antes de se assistir a esse filme.

         Em O Bagunceiro Arrumadinho enfatiza-se sua capacidade de transformar os atos e funções comezinhos e de fácil desincumbência em acontecimentos inusitados quando não inauditos, amalgamando-se nessa atuação atributos interpretativos, conteúdo, forma e consequência de seu desempenho perfazendo interação tão absoluta quanto, em decorrência, perfeita. Como mágico que transforma objetos e corpos, Lewis altera os fatos, infundindo-lhes natureza distinta da que sua congenialidade impõe. Um mundo prático e ordenado transforma-se num caos, porém, como o título original indica, caos ordenado e, de tão ordenado, previsível.

         Em O Professor Aloprado, da mesma forma, modifica-se a natureza, só que, desta vez, do próprio indivíduo.

         Por sinal, tanto faz Lewis ser dirigido como dirigir-se, porque o destacável, antes de tudo, é sua performance.

         Porém, cinematograficamente, esses filmes, tanto quanto os demais, carecem de importância. Do mesmo modo que ocorre com Chaplin, apenas constituem espaço e possibilidade de suas exibições como atores cômicos, que, sem o cinema, seriam exercidas nos palcos de circos e teatros, como, aliás, percebeu um crítico paulista, anteriormente citado, Paulo Emílio Sales Gomes, em relação a Chaplin, no artigo “Chaplin é Cinema?”.

         Os filmes propriamente nada contêm de cinematográfica e artisticamente relevante ou mesmo irrelevante, visto que se situam fora dos parâmetros estéticos, por miméticos, convencionais e lineares, objetivando apenas divertir.
         Sua perfeição técnica, competência direcional e a utilização dos recursos da câmera não lhes imprime nenhum dos atributos que caracterizam a obra de arte, não obstante merecerem ser salientadas apenas como tais, sem outras implicações.

         Do ponto de vista temático também nada aduzem de importante, conquanto assimilem e dêem curso adequado, ainda que superficial, a certas contradições do dualismo da natureza humana (do bem e do mal, do médico e do monstro, perfilhadas em O Professor Aloprado) e das descobertas freudianas do recalque de traumas e suas consequências e a possibilidade de sua resolução com a libertação do indivíduo das amarras que o bloqueiam.

         Ambos os filmes assentam-se, todavia, em esquema romântico bastante idealizado, no interior do qual essas questões básicas da condição humana diluem-se por sua instrumentalização meramente pretextual.

______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br/) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando atualmente no Facebook os livros Obras-Primas do Cinema Brasileiro e Brasil: Cinco Séculos de História.

sábado, 2 de setembro de 2017

Jerry Lewis - Ator e Diretor



MOCINHO ENCRENQUEIRO

Realidade e Comicidade


Guido Bilharinho


A comicidade de Jerry Lewis (1926-2017), ator e cineasta, advém da conjunção de dois fatores, que compõem distintos níveis estruturais de seus filmes.

           Um, a subversão da normalidade, que direciona a narrativa, imprimindo-lhe orientação precisa e coordenada visando extrair dos fatos a hilaridade ao interferir na sua articulação interna.

          Outro, sua performance como ator, implicando em desenvolvida capacidade histriônica e atilada percepção dos meios e modos corporais, faciais e comportamentais apropriados.

         Isoladamente, cada um desses elementos não produziria o resultado pretendido e alcançado, visto que as situações vivenciadas exigem ambos para agasalhar seus tipos e maneira de agir.

  Há, pois, perfeito entrosamento entre eles, num inter-relacionamento (personagem/acontecimento/comportamento) orgânico e organizado, estabelecido segundo as normas indicadas e ditadas pelas possibilidades pessoais de Lewis.

         Sem ele, as ocorrências expostas careceriam de comicidade, já que, além da mencionada adequação entre indivíduo/personagem/fato, as subverte, circunstância que, se inocorrente, também não atingiria o efeito pretendido.

         O filme Mocinho Encrenqueiro (The Errand Boy, EE.UU., 1961), que Lewis dirige e no qual atua, enquadra-se nessa fórmula, que se o é, decorre de criação própria que, por sua vez, atende e corresponde à sua faculdade de estar e se posicionar no mundo, categoria superior à simples representação ou ao modo peculiar de ser e agir.

         A ação transcorrida em grande estúdio cinematográfico hollywoodiano é sucessão ininterrupta de atos procedimentais subvertedores, que, alguns, refugindo à sua iniciativa por conter carga própria de comicidade (as duas cenas do elevador), mas que sem sua presença não seriam tão significativas e, certamente, nem seriam divertidas, como as milhares de cenas de elevador, se também não fosse a sina da personagem de atrair sobre si certas dificuldades.

      Nas principais situações de alta comicidade, algumas resultam exclusivamente de seu modo de agir (cenas dos pacotes, da entrega do roteiro de filme, do relógio de ponto, do manequim e do acompanhamento musical na sala de reunião da diretoria de estúdio), outras repartem-se entre sua atuação e a de outras personagens, cujos comportamentos também contêm doses de humorismo (o “almoço” na própria repartição e a venda dos feijãozinhos às crianças).

   A sequência do acompanhamento musical é antológica, revelando não só suas habilidades histriônicas como domínio dos ritmos musicais, permitindo esses elementos que se tenha uma das mais brilhantes cenas de pura interpretação, na qual a adequação e a sincronização gestual e facial de Lewis com o ritmo musical são perfeitas.

      À semelhança do ocorrente em outros de seus filmes, nesse acontecem também lances românticos alheios às influências jocosas, nos diálogos com os bonecos do palhacinho e da magnólia, que fogem inteiramente da ambiência fílmica, revelando outra (ou a outra) faceta da personagem.

      De todo modo, os acontecimentos fílmicos e a performance de Lewis não são cinematográficos, tendo valor próprio, independentemente do meio utilizado para sua consecução e expressão, podendo manifestar-se em palco de teatro, arena de circo, cena de rua ou estúdio de cinema, aplicando-se-lhe o que de Chaplin observou um crítico paulista, Paulo Emílio Sales Gomes, “Chaplin é Cinema?”. Mas, sem dúvida, o cinema não só os ampliam como infundem-lhes perspectivas de aproximação e movimentação inexistentes nos demais espaços.
______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br) e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando atualmente no Facebook os livros Obras-Primas do Cinema Brasileiro e Brasil: Cinco Séculos de História.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

BLOG DA REVISTA DE POESIA DIMENSÃO

 Guido Bilharinho      

Revista de Poesia DIMENSÃO
A revista DIMENSÃO foi editada em Uberaba de 1980 a 2000, sendo lançados 30 números, alguns duplos. Sua digitalização pela então aluna Taís Iniz de Paiva em projeto do Curso de Letras da Universidade Federal do Triângulo Mineiro idealizado e coordenado pelo professor Osíris Borges Filho permitiu a presente disponibilização. Pelo poeta uruguaio Clemente Padín foi considerada, juntamente com a DOCK francesa e a TEXTURAS espanhola, uma das três mais importantes revistas de poesia de sua época.

   

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Primeiros Filmes de Júlio Bressane


MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA
Os Fios das Tragédias


Guido Bilharinho




         Os ficcionistas de modo geral, quando verdadeiramente artistas, mais do que representar ou recriar a vida, a criam em sua obra, aduzindo, como disse o poeta (Arici Curvelo, em “Às Vezes”), mais vida às existentes, engendrando novas realidades que se somam e expandem as realidades existentes.

         É o caso do filme Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane.

         Nele desfila série de dramas familiares desaguados em tragédias.

         A partir do drama dantesco do filho assassinar friamente e a navalhadas seus pais e, após, ir tranquilamente ao cinema, Bressane articula diversas ocorrências semelhantes, sempre nos limites da organização familiar e sempre, também, em cima da insatisfação ou da condição amorosa e sexual.

         A princípio poder-se-ia tentar ver nessa opção ficcional inspiração e influência das obras de Nélson Rodrigues que perfilham semelhantes preocupações.

         Nada mais diferente, porém.

         A começar que a dramaticidade bressaniana é altamente elaborada, tanto do ponto de vista concepcional quanto expressional, conforme binômio propugnado por Hegel.

         Ao contrário, pois, da obra de Nélson Rodrigues, confrangida quase sempre em estreitos limites conceituais, a de Bressane finca suas raízes nos arquétipos universais mais autorizados da criação artística – não de simples recriação, como dito – fundamentada na estrutura psicossomática mais profunda, geral e permanente do ser humano.

         E o faz mediante construção estética na qual a narrativa apresenta alto grau de sutileza, refratária à apelação usual no tratamento dessa temática.

         Se os protagonistas das estórias que cria perdem-se em atos violentos contra seus entes próximos ou contra si próprios, a motivação que os leva a essas atitudes drásticas – inimagináveis num contexto familiar – e a criação cinemática dos fatos não descambam para descontrole emocional patológico, mantendo domínio de seus elementos deflagradores tanto quanto das circunstâncias em que se desenrolam e das modalidades que assumem.

         Há um fio condutor comum a todas essas ocorrências, seja a insatisfação sexual e convivencial da personagem casada que se isola com a amiga em sua propriedade de recreio e lazer; seja a procura de satisfazimento sexual emocional da jovem com sua amiga; ou, ainda, o ambiente sufocante do lar do assassino dos pais e a constante irritabilidade de seu pai; ou, finalmente, o paroxismo revoltoso do marido relapso face às invectivas agressivas da esposa.

         Essa constante detectada em todos os episódios apresenta, no entanto, características próprias em cada caso, não obstante seu extravamento paroxístico e violento, condição ou peculiaridade da espécie humana quando submetida a graus diversos de pressão e contrariedades viscerais, nos limites e circunstâncias da formação e estrutura pessoal das personagens, como, aliás, nem poderia deixar de ser, já que todo ser humano constitui pequeno mundo que se articula, nos relacionamentos e convivências, com outros micro mundos semelhantes.

         Ressalta-se no filme, além disso, a economia da construção ficcional, sintetizando em poucas cenas a ambiência comportamental, convivencial e conflitiva das personagens, perfeitamente contextualizada.

         Por fim, o jovem que assassina seus pais vai ao cinema assistir Perdidos de Amor (1953), dirigido por Eurídes Ramos, com argumento de J.B. Tanko, película que possivelmente indica (a conferir) a chave ficcional (ou uma delas) do filme ora comentado.

(do livro Seis Cineastas Brasileiros. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2012)

______Matou a Família e Foi ao Cinema
______

       
(Obras-Primas do Cinema Brasileiro:
toda segunda-feira novo artigo -

______________

Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

ENSAIOS DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA



                                                DE GUIDO BILHARINHO



Uberaba (livraria Lemos & Cruz, av. Maranhão, 1419) Outras Cidades (pelo e-mail
guidobilharinho@yahoo.com.br, mediante cheque ou vale postal para Caixa Postal 140 - Uberaba,
38001-970 - ou depósito CEF, Ag. 2854, c/c 01000101-2). Valor único: R$ 23,00 o exemplar.
O FILME MUSICAL
(de 2006 - 292 p.)
Análises dos principais musicais do cinema, a
exemplo de O Picolino, Os Sapatinhos Vermelhos,
Sinfonia de Paris, Cantando na Chuva, A Roda da
Fortuna, Cármem Jones, Sete Noivas Para Sete Irmãos,
Cinderela em Paris, Amor, Sublime Amor, Cabaret,
Hair, Fama e Chorus Line, entre outros.


.

O FILME DRAMÁTICO EUROPEU




(de 2010 - 360 p.)






Análises de filmes dos cineastas René Clair, Jean Vigo, Jacques Feyder, Jean Renoir, Alain Resnais,Jacques Tati, Claude Chabrol, De Sica, Rossellini,Bertolucci, Ettore Scola, Carlos Saura, Almodóvar,David Lean, Carol Reed, Fritz Lang, Wim Wenders,Karel Reisz, Cacoyannis, Carl Dreyer, Lars Von Trier,Max Ophuls, Andrzej Wajda, Costa Gravas e outros.




O CINEMA DE BUÑUEL,


KUROSAWA E VISCONTI

(de 2013 - 292 p.)


Apresentação e análise das filmografias desses cineastas desde os filmes iniciais surrealistas de Buñuel, realistas de Kurosawa e neorrealistas de Visconti.
               

Uberaba (livraria Lemos & Cruz, av. Maranhão, 1419) Outras Cidades (pelo e-mail
guidobilharinho@yahoo.com.br, mediante cheque ou vale postal para Caixa Postal 140 - Uberaba,
38001-970 - ou depósito CEF, Ag. 2854, c/c 01000101-2). Valor único: R$ 23,00 o exemplar.

Trilogia Sobre Uberaba



Guido Bilharinho

Trilogia Sobre Uberaba



Primeiros Filmes de Júlio Bressane



CARA A CARA


O Tudo e o Nada

                                                                                                                          Guido Bilharinho






Quando Júlio Bressane (Rio de Janeiro/RJ, 1946-) - um dos mais importantes cineastas do mundo contemporâneo - estreia no longa-metragem com Cara a Cara (1967), a estética cinemanovista está praticamente exaurida, sobrevivendo, ainda, em espécimes realizados apenas pelos seus prógronos, em tentativa de correspondência com a nova realidade objetiva e subjetiva emergente, antagonizadora das bases teóricas e políticas fundadoras do cinema novo.
         As novas gerações jazem política, social e culturalmente sufocadas e alijadas de toda possibilidade de interferência e influência no contexto.
         Cara a Cara emerge, pois, num momento de interseção, no qual a liberdade e os ideais do passado recente, sepultado pelo golpe militar de 1º de abril de 1964 - dito de 31 de março - ainda lutam por espaço de ação e atuação, que lhe seria total e provisoriamente (por alguns anos) interditado. Dos escombros dessa liberdade e desses ideais, momentaneamente reprimidos, origina atitude de impotência, desânimo e até desespero.
         Cara a Cara é considerado filme transicional entre o cinema novo e o cinema marginal que a partir daí se instaura. E o é por conter em si, em amalgamada síntese, a bipolaridade estético-política do cinema brasileiro de então.
         No paralelismo das duas estórias nele desenvolvidas encontra-se a simultânea convivência espaço-temporal do nada com o tudo.
         O protagonista, dilacerado entre desejo inalcançável e existência anônima afogada em rotina, tristeza, miséria e falta de perspectivas, pode muito bem representar a impotência política e social dos segmentos sociais antes impulsivos, esperançosos e dinâmicos, mas, à época, presos de idêntica sintomatologia.
         Em contraste, situa-se o político articulado, elegante, determinado e... inescrupuloso, significando o predomínio e a capacidade de ação e coordenação dos grupos dominantes antes acuados e temerosos.
         O filme reúne e põe lado a lado, pois, as duas faces da mesma moeda brasileira no momento que passa, isto é, na oportunidade de sua própria realização.
         Por ambos os aspectos humano-sociais e políticos abordados traduz visão haurida do cinema novo, que, então, por sinal, lança alguns de seus filmes onde mais diretamente focaliza a atuação dos grupos dominantes em contraposição à ação (ou inação) das classes sociais dominadas.
         Assim, sob tais enfoques, constitui revelação denunciadora das manobras e propósitos dos primeiros e amostragem das condições de vida de elemento símbolo das segundas, formalizando crítica da situação do país.
         Contudo, e isso o distingue e o eleva acima da média, mesmo sendo filme de estreante, não a faz direta, parcial e primariamente. Basta-lhe, a Bressane, recriar os ambientes físico-sociais onde vivem e agem as personagens e, mais importante, o modo de ser de suas duas figuras emblemáticas: o servidor público e o político.
         A disparidade visual, social e cultural que estabelece entre esses mundos torna-se mais profunda e grave por sua proximidade física, mesmo e até por isso, não se tocando, não se encontrando nem, muito menos, se comunicando.
         Essas contiguidade e contemporaneidade ampliam e exacerbam o distanciamento abismal que os separa e aparta.
         Nada mais apropriado para fixar esse antagonismo irremediável do que a impossibilidade de realização do mais orgânico dos impulsos, o sexual.
         O contato desses dois mundos antípodas dá-se por meio do maior dos desencontros possíveis, quando as forças paroxísticas que às vezes governam o ser humano, por emergidas inopinadamente do fundo recalque de sua natureza e dos elementos que a compõem e a conformam, entram em insopitável ebulição, desencadeando o caos, o crime, a violência.
         O abismo entre essas classes, entre as benesses e possibilidades que aureolam uma e as agruras, carências e impossibilidades que manietam, confinam e sufocam outra, é, então, transposto, mesmo sendo verticalmente profundo e horizontalmente amplo.
         No choque daí resultante igualam-se os desiguais, porque, só aí e então, põe lado a lado o que seus representantes realmente são: simples seres humanos.
         Todas as barreiras caem face à tragédia humana, a mais violenta e radical, que, de uma vez por todas e em definitivo, sela a desigualdade, deflagrando o ódio.
         Tal encaminhamento e desfecho da trama poderia, no entanto, constituir e desaguar em mero e espúrio dramalhão, como inúmeros que infestam telas, livros e palcos, ofendendo a inteligência.
         No entanto, no caso, mercê de concepção e propósito conjugados com seguro domínio dos meios expressionais do cinema, tem-se depurado, parcimonioso e adequado tratamento temático e formal, que redunda contido e equilibrado. O uso sofisticado da imagem e das possibilidades dos movimentos e enquadramentos da câmera aliado à seleção rigorosa e criteriosa dos décors de interiores e de locações e aspectos dos exteriores resultam, por sua vez, em construção fílmica de rara beleza imagética num filme de requintada elaboração estética sob a simplicidade de seu aparato infraestrutural.

(do livro Seis Cineastas Brasileiros. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2012)

(Leia na página Obras-Primas do Cinema Brasileiro
toda segunda-feira novo artigo -

                  

______________

Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).


sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

CINEMA INDEPENDENTE DOS EE.UU. O BALCONISTA


Cinema Independente dos EE.UU.


O BALCONISTA


Guido Bilharinho


O Balconista



O cinema dos Estados Unidos não é representado, como a maioria pensa e a mídia veicula, pelas grandes produções de efeitos especiais portentosos. Isso é produto comercial efêmero, descartável e degradável. Nada significa além do tilintar das caixas registradoras. Mas, em contrapartida, faz enorme mal ao conceito de civilização do país.

Contudo, sua existência e êxito meramente comercial decorrem, tanto lá como em toda parte, da receptividade da maioria da população, intelectualmente ingênua e culturalmente deficiente e despreparada. Essa maioria exige, consome e mantém essa produção, não sendo, pois, apenas problema do país produtor, mas, da sociedade humana de modo geral, em todos os quadrantes, caracterizada principalmente pela desinformação, comodismo mental, desinteresse e falta de curiosidade intelectual.

Para demonstrar que esse fenômeno anti-cultural e anti-artístico não é absoluto no país, está aí grande parte das realizações de seu cinema independente. Em tudo por tudo, antípoda daquela acima referida.

Entre tantos exemplos, cite-se o filme O Balconista (Clerks, EE. UU., 1994), de Kevin Smith (1970-), uma das obras marcantes do cinema contemporâneo. Não por inovações formais, que as não tem, limitando-se, nesse aspecto, a utilizar a câmera apenas com competência, o que não é pouco. Mas, pelo enfoque e tratamento temático.

A captação da realidade humana é das mais adequadas possível, revelando, crua, direta e consistentemente, o mundo social, mental e afetivo de certa juventude contemporânea estadunidense.

A franqueza das colocações, a inteligência, espontaneidade e clareza dos diálogos revelam núcleo social ao mesmo tempo peculiar e permanentemente geral. Naquele, seu estado atual comportamental em dada classe social e determinado local. Neste, o que há de fundamental na natureza humana. Aquilo que, conquanto as diferenças individuais, de classe, de local, de tempo e outras, constitui o cerne nodal da espécie, que o compõe e integra, dando-lhe forma e conteúdo.

É o ser humano a matéria do filme, que não se compraz em mostrar e revelar os protagonistas (o balconista da loja de conveniências, seu colega da vizinha locadora de vídeo e a atual namorada do primeiro), mas, na sua versatilidade e riqueza de criações comportamentais, desnuda diversos tipos de fregueses.

No que tange àqueles, todo seu perfil psicológico e emocional jaz exposto e se é evidente a simpatia do criador por suas criaturas, essa circunstância não impede, ao contrário, aprofunda o corte ontológico de seu modo de ser, descarnando seu invólucro protetor e as expondo tais quais são e como agem.

Já o mesmo não acontece em relação a alguns tipos de fregueses da loja, dos quais são ressaltados graves desvios comportamentais e toda fragilidade humana.


Além de tudo isso, da inteligência (já enfatizada) e da agilidade dialogal, ainda se destacam a fluência narrativa e a naturalidade em que se desenrolam os fatos, se estabelecem os relacionamentos e se armam os diálogos.

O Balconista é uma dessas obras de arte que até se lamenta ter conhecido, porque, ao se fazê-lo, perde-se o prazer de descobri-la, de fruí-la pari passu enquanto desconhecida e novidade, lembrando aquela personagem de Como Era Verde o Meu Vale (How Green is My Valley, EE.UU., 1941), de John Ford, que ao presentear menino acamado exemplar de A Ilha Do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, afirma: “eu quase gostaria de estar no seu lugar se isso significasse ler esse livro pela primeira vez”.


(do livro Cinema Contemporâneo dos Estados Unidos, em preparo)




______________


Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

O PAÍS DO PASSADO


18/04/2016 – 06:29

Este “impeachment” está desde o início condicionado por razões políticas e de oportunidade partidária. Num regime parlamentarista isto não só não seria um problema como faria parte da natureza das coisas.
Escrevo antes de saber o resultado do voto que, na Câmara dos Deputados brasileira, poderá iniciar o processo de impugnação da presidente Dilma Rousseff. Tenho apenas uma certeza: não há um Brasil melhor que possa sair desta iniciativa.
Este “impeachment” está desde o início condicionado por razões políticas e de oportunidade partidária. Num regime parlamentarista isto não só não seria um problema como faria parte da natureza das coisas. Mas de acordo com a Constituição brasileira, que estabelece um regime presidencialista, não pode haver destituição de um presidente sem a prática de determinados crimes. Seguindo atentamente este processo até aqui, não vejo fundamento jurídico sério para considerar que Dilma Rousseff tenha cometido qualquer crime. Um processo que começa por perverter o sentido da Constituição não pode produzir bons resultados.
E essa, por incrível que pareça, é a apenas a melhor das hipóteses.
Quem seguiu os trabalhos parlamentares que decorreram em Brasília não pode deixar de ter ficado espantado com o tribalismo e a falta de decoro do que ali se passou. O circo montado na Câmara dos Deputados pelo seu presidente Eduardo Cunha, ele sim um réu em processos de corrupção e detentor de contas não-declaradas na Suíça e empresas fictícias no Panamá, esconde um sistema político putrefacto que defende com unhas e dentes a sua sobrevivência. Os deputados vociferantes que tentam cavalgar a indignação da população brasileira para destituir Dilma Rousseff não são o início de uma dinâmica de maior exigência contra a corrupção. Pelo contrário, eles são o resultado de um sistema de financiamento partidário corrompido até ao tutano. Não por acaso muitos dos apoiantes do impeachment são citados no processo lava-jato e correm histórias de alguns que esperam por uma presidência de Michel Temer — com autoridade sobre uma Polícia Federal a que Dilma Rousseff deu independência — para poder, sob um manto de “reconciliação do país”, colocar uma pedra sobre o assunto da corrupção política e partidária. Estes deputados não são os glóbulos brancos da República brasileira; só com muita sorte não serão as suas células cancerígenas.
Há quem pense que, afastada Dilma Rousseff, o próximo passo será o de afastar Eduardo Cunha. Pura ilusão. Eduardo Cunha terá assegurada a sua sobrevivência uma vez que tenha posto o chefe do seu partido, Michel Temer, no Palácio do Planalto. Pior do que isso: Cunha será o presidente em exercício de cada vez que Temer se ausentar do país. Nenhum deles, dependente que estará da maioria dos deputados corrompidos do Congresso, fará o mínimo esforço para reformar a política brasileira. Pelo contrário, tudo farão para a manter exatamente como está. Depois das manobras para evitar o julgamento de Eduardo Cunha e fazer subir Michel Temer à presidência, não é agora que esta dupla começará a agir com escrúpulos.
Nos seus anos de presidência, Lula da Silva costumava dizer que o Brasil já não era o “país do futuro” mas sim o país do presente. Esquecia-se de que, para o poder dizer, tinha (como Fernando Henrique Cardoso) compactuado durante os seus governos com as piores práticas e representantes do Brasil do passado. É esse o seu grande erro, que agora o olha de frente na cara.

https://www.publico.pt/mundo/noticia/o-pais-do-passado-1729360


Compartilhado por Guido Bilharinho
___________________________________________________
Palavras que nos mobilizam…
A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela. -Max Frich,um arquiteto e escritor suiço do pós-guerra influenciado pelo existencialismo e por Brecht
partilhado no dialogos lusofonos por José Carlos Bramim

OS VENCEDORES

Os Vencedores

Jânio de Freitas
Compartilhado com Guido Bilharinho

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

CINEMA INDEPENDENTE DOS EE.UU. ” OS SUSPEITOS “

Cinema Independente dos EE.UU.
OS SUSPEITOS
OS SUSPEITOS


O filme policial é, em geral, destituído de qualidades cinematográficas. Normalmente enquadra-se num esquema comercial para atendimento de clientela específica, que se contenta e se compraz apenas com a linearidade e o convencionalismo das estórias.

Contudo, a par disso e mesmo assim, a tradição estadunidense do gênero aponta também para direção diversa e até oposta, conforme se dá no noir, quase categoria autônoma onde o fato criminoso não se desvincula de contexto mais abrangente, seja humano ou social, e nem é apresentado esquemática e superficialmente.

Nos dias que correm, o gênero policial tem encontrado, nessa filmografia, bons cultores nos quadros do cinema independente.

Além de outros, destacam-se Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), de Quentin Tarantino, e Amateur (Idem, 1994), de Hal Hartley, exemplos maiores de gênero e de cinema que sempre se têm renovado, mesmo e principalmente quando parecem esgotadas todas suas possibilidades criativas.

Na mesma linha inventiva, incisiva e rigorosa dos paradigmas citados, mas, diferente deles no que tange ao entrecho, fatos e enfoque, destaca-se Os Suspeitos (The Usual Suspects, EE.UU., 1995), de Bryan Singer (1968-).

Conquanto utilizando a mesma espécie de criminoso e iguais métodos policiais, parece-se estar assistindo filme realizado em outro planeta, com seres diferentes, tal o inusitado da mancira de focalizar o assunto, a riqueza da diversidade tipológica, o vigor da linguagem cinematográfica, a eficiência dos cortes e a eficácia da montagem.

Mesclando presente real com passado veraz ou deliberadamente fementido em retrospectos pertinentes, a trama desenvolve-se em intensidade e interesse crescentes numa construção antes de tudo intelectual e poderosa, como raramente se encontra no cinema ou fora dele.

Em todos os elementos cinematográficos, desde o décor, em suas múltiplas ambientações, até a direção e desempenho dos atores, pontilhados por minudentes gestos, posturas e tiques nervosos das personagens, fotografia e iluminação, o filme perfaz composição cinemática completa (e complexa), que elide e everte a linearidade e o convencionalismo, sem deixar de contar uma estória.

E que estória! Até mesmo personagem saída dos fundos esconsos da atividade criminosa mais nefanda, Soze, é, repentina e habilmente introduzida no contexto, como se fosse algo efêmero como cometa que risca os céus, desaparecendo em seguida sem deixar rastros e sem alterar a ordem das coisas.

Isso na natureza, com meteoro distante. Não no filme, com Soze. Desde que surge, mesmo que apenas referenciado, só de relance antevisto e mal percebido em ação, transforma-se em personagem paradigmática e simbólica do filme policial.

O que, antes, parecia (mas não era e nunca fora) simples atos ilegais de quadrilha criminosa já nas garras de polícia onipresente, vai pouco a pouco adensando-se e complicando-se como montagem de quebra-cabeças.

O que parecia não era e o que de fato era não parecia ser. E o enigma e sua solução caminham paralelos numa realização brilhante e consistente como talvez não se tenha visto ainda nesse gênero cinematográfico.

Não há surpresa na revelação pelo modo sutil como ela se insinua. De argúcia e habilidade tais, que, ao espectador desatento, ou afeito apenas a acompanhar ação e fatos, pode passar despercebida.

É que esse filme representa, antes de tudo, construção intelectual cinematográfica e não simples filmagem de ação criminosa, de seus autores e da investigação policial.

Além de tudo, e para atestar que é obra totalizadora, na qual nada é descurado ou secundarizado, as cenas transcorridas no navio explodido e o décor onde se passam constituem momentos inesquecíveis de cinema e do cinema.


(do livro Cinema Contemporâneo dos Estados Unidos, em preparo)




______________


Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

TV. REGIONAL REDE MANCHETE – FUNDAÇÃO CULTURAL DE UBERABA.

Década: 1990
Em 9 de junho, ao completar 35 anos de atividade, a Fundação Cultural promoverá um Fórum para se fazer balanço e perspectivas das Politicas Públicas de Cultura.
Enquanto isto não acontece vamos mostrando  como no passado se via a participação do Poder Público neste setor
Prefeito municipal – Luiz Guaritá Neto – (1992/1996)
Presidente da Fundação Cultural – Lídia Prata
Debate  Cultural – parte 04
Local – TV Regional
Coordenador – Ney Junqueira
Participantes – Lídia Prata, Guido Bilharinho, Jorge Alberto Nabut, Gilberto Rezende e Bethoven Teixeira.
O arquivo pertence ao acervo da Associação Cultural Casa do Folclore e foi postado dia 04 de junho de 2016.

MUSEUS DE UBERABA



Guido Bilharinho


MUSEU DA CAPELA DO COLÉGIO N S. DAS DORES





Desde 1950 as irmãs dominicanas do Colégio Nossa Senhora das Dores em Uberaba vem coletando, conservando e mostrando precioso acervo de suas atividades nas áreas da educação, saúde, pastoral e ação social.


Instalado no interior da Capela do Colégio, nele se encontram mobiliário, material didático, uniformes, mapas, documentos diversos, milhares de fotografias, objetos sacros, utensílios hospitalares e inumeráveis artefatos do cotidiano brasileiro dos últimos cento e vinte anos.


Em 2012, o Museu foi submetido à ampla reforma para atendimento dos requisitos da museologia moderna.


Compõe, e sobremaneira enriquece seu acervo, a Coleção Loreto, formada de amostras geológicas de minerais, rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares, fósseis e diversos outros materiais e objetos arqueológicos, etnográficos, biológicos e históricos, coletados sob a orientação da irmã Loreto nas pesquisas e excursões geológicas que empreendeu, estando a coleção organizada conforme a composição química, formação, origem e proveniência das peças, a maioria de procedência brasileira, mas, havendo também, amostras originárias da França, Itália, Bélgica, Austrália e África.


MUSEU DE ARTE SACRA

INFORMAÇÃO SOBRE UBERABA

livro Informação Sobre Uberaba

Vem de ser lançado o livro Informação Sobre Uberaba, que completa e encerra a coleção “Trilogia Sobre Uberaba”, de Guido Bilharinho, editada com recursos do Fundo Municipal de Cultura, focalizando variados aspectos da cidade em seções singularizadas, contendo, inicialmente, Introdução (fundação, datas históricas mais importantes, livros históricos, evolução econômica e pioneirismo uberabense), seguindo-se-lhe seções abrangentes das principais Instituições Culturais, Museus, Teatros, Cinemas, Jornais, para, depois, ressaltar em Personalidades os uberabenses que alcançaram, por suas atuações e obras, repercussão nacional. Além disso, na seção Chegada da Mojiana analisam-se o significado e a importância para Uberaba e região do transporte ferroviário; em Espaço Urbano focalizam-se o prado de S. Benedito, o bairro Mercês, a av. Leopoldino e a ocupação e mutilação de diversas praças públicas; em Igrejas e Capelas e em Fóruns Judiciais descrevem-se, naquelas, seus principais monumentos religiosos e, nestes, os antigos e atuais fóruns. Já nas seções Resultados Eleitorais e Bibliografia Sobre Uberaba indicam-se, na primeira, as votações obtidas por prefeitos, deputados federais e estaduais uberabenses desde 1945, e, na última, procede-se a levantamento minucioso dos livros e dos principais ensaios e artigos escritos sobre Uberaba de 1825 a 2015. Constitui, pois, livro que atinge multiplicidade de interesses, sintetizando, em lineamentos gerais, dois séculos de desenvolvimento de Uberaba. Completam a obra, de 340 páginas, 58 fotos, inclusive de preciosos panoramas do centro da cidade em 1890 e contemporaneamente, além de inédita foto da praça Rui Barbosa em 1909 e outra, de mesmo ângulo, da década de 1930.


Nas livrarias Lemos & Cruz e Papel Cartaz – Revistaria do Shopping Uberaba Banca de Jornais da Galeria do Ed. Rio Negro

MUSEUS DE UBERABA − II GUIDO BILHARINHO

Museu do Zebu

Uberaba, constituindo o maior centro mundial de criação, aprimoramento e difusão do gado zebu — que de animal exótico até meados do século XIX se transformaria no rebanho por excelência do país — sede do registro genealógico Herd Book Zebu desde 1919, da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro fundada em 1934, que incorporou aquele e, posteriormente, a partir de março de 1967, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e de diversas entidades nacionais das mais importantes raças zebuínas, teria de ter também, como tem, desde 02 de maio de 1984, seu museu do Zebu, único no gênero e no tema, instituído e mantido pela ABCZ.

Situado no parque Fernando Costa, de inicialmente apenas repositório de peças e fotos históricas, o museu passou também a se dedicar à pesquisa histórica e a mostras específicas, a exemplo, entre as mais de trinta já realizadas, da XVI Mostra: Aspectos da Arquitetura Rural no Interior Mineiro – Séculos XIX e XX (1999); XVIII Mostra: Zebu, Um Século de Evolução (2001); XIX Mostra: Pioneiros na Criação e Seleção de Zebu (2002); XX Mostra: Aspirações e Inspirações Artísticas do Zebu (2003); XXI Mostra: ABCZ – ExpoZebu 70 Anos, Uma Retrospectiva (2004); e XXVI Mostra: Pioneiros — Histórias e Estórias de 75 Anos da ExpoZebu (2009).

Por sua vez, o imóvel que abriga o museu, situado à esquerda da entrada principal do parque, de construção inicialmente simples, teve seus 120 m2 originais ampliados em abril de 1995 para 980 m2, sendo 580 m2 de área útil e os restantes ocupados por pátios e jardins.

Em 2002, o acervo do museu atingiu aproximadamente 500 peças (antigas esporas, estribos, ferretes, cangalhas, bruacas, moenda de cana, instrumentos agrícolas, viatura, selaria, armaria, mobiliário e peças têxteis utilizadas nas atividades pecuárias); 5.000 documentos (entre eles exemplar da preciosa narrativa Do Brasil à Índia, de autoria de Teófilo de Godói, o triangulino que primeiro foi à Índia buscar zebus em 1893 (e não 1898, como se propala); e, em setembro de 2013, aproximadamente 200.000 fotografias (tanto de fatos da História do Zebu como de exemplares das diversas raças zebuínas).

Além disso, o museu, à semelhança das bibliotecas modernas, vem promovendo eventos e atividades nas áreas educativa, social e cultural.

MUSEU CHICO XAVIER UBERABA


Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier, um dos mais admirados e cultuados seres humanos do país, veio de Pedro Leopoldo, sua cidade natal, residir em Uberaba em 1959, onde, por suas atitudes, obras e atuação atingiu fama universal.
Após 30 de junho de 2002, data de seu falecimento, a casa em que residia desde 1975 foi transformada em museu.

MUSEU DE ARTE DECORATIVA UBERABA


Em agosto de 2000 foi doada ao município a chácara dos Eucaliptos, no bairro dos Estados Unidos, outrora pertencente a José Maria do Reis.
A sede, construída por volta de 1916, ela própria de inestimável valor arquitetônico, foi destinada ao museu de Arte Decorativa, nela instalado em abril de 2002 e inaugurado com exposição de obras de Reis Júnior, pintor uberabense, um dos quinze filhos de José Maria dos Reis e Artemira de Sousa Reis, autor, entre centenas de outros quadros, do esplêndido Retirada da Laguna, tela que lhe foi encomendada pelo então agente executivo de Uberaba, João Henrique Sampaio Vieira da Silva.
O acervo do museu compreende móveis, porcelanas e pinturas, tendo recebido doação da Fosfértil/Ultrafértil compreendendo mobiliário, imaginária, pintura, escultura, louças e lustres. Dependendo de sua direção, no museu realizam-se exposições, lançamentos de livros e outros eventos culturais, a exemplo da exposição, ainda em 2002, de parte do mobiliário da coleção de Beatriz e Mário Pimenta Camargo.
(do livro recém-lançado Informação Sobre Uberaba,
editado com recursos do Fundo Municipal de Cultura)
______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.