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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Trilogia Sobre Uberaba



Guido Bilharinho

Trilogia Sobre Uberaba



Primeiros Filmes de Júlio Bressane



CARA A CARA


O Tudo e o Nada

                                                                                                                          Guido Bilharinho






Quando Júlio Bressane (Rio de Janeiro/RJ, 1946-) - um dos mais importantes cineastas do mundo contemporâneo - estreia no longa-metragem com Cara a Cara (1967), a estética cinemanovista está praticamente exaurida, sobrevivendo, ainda, em espécimes realizados apenas pelos seus prógronos, em tentativa de correspondência com a nova realidade objetiva e subjetiva emergente, antagonizadora das bases teóricas e políticas fundadoras do cinema novo.
         As novas gerações jazem política, social e culturalmente sufocadas e alijadas de toda possibilidade de interferência e influência no contexto.
         Cara a Cara emerge, pois, num momento de interseção, no qual a liberdade e os ideais do passado recente, sepultado pelo golpe militar de 1º de abril de 1964 - dito de 31 de março - ainda lutam por espaço de ação e atuação, que lhe seria total e provisoriamente (por alguns anos) interditado. Dos escombros dessa liberdade e desses ideais, momentaneamente reprimidos, origina atitude de impotência, desânimo e até desespero.
         Cara a Cara é considerado filme transicional entre o cinema novo e o cinema marginal que a partir daí se instaura. E o é por conter em si, em amalgamada síntese, a bipolaridade estético-política do cinema brasileiro de então.
         No paralelismo das duas estórias nele desenvolvidas encontra-se a simultânea convivência espaço-temporal do nada com o tudo.
         O protagonista, dilacerado entre desejo inalcançável e existência anônima afogada em rotina, tristeza, miséria e falta de perspectivas, pode muito bem representar a impotência política e social dos segmentos sociais antes impulsivos, esperançosos e dinâmicos, mas, à época, presos de idêntica sintomatologia.
         Em contraste, situa-se o político articulado, elegante, determinado e... inescrupuloso, significando o predomínio e a capacidade de ação e coordenação dos grupos dominantes antes acuados e temerosos.
         O filme reúne e põe lado a lado, pois, as duas faces da mesma moeda brasileira no momento que passa, isto é, na oportunidade de sua própria realização.
         Por ambos os aspectos humano-sociais e políticos abordados traduz visão haurida do cinema novo, que, então, por sinal, lança alguns de seus filmes onde mais diretamente focaliza a atuação dos grupos dominantes em contraposição à ação (ou inação) das classes sociais dominadas.
         Assim, sob tais enfoques, constitui revelação denunciadora das manobras e propósitos dos primeiros e amostragem das condições de vida de elemento símbolo das segundas, formalizando crítica da situação do país.
         Contudo, e isso o distingue e o eleva acima da média, mesmo sendo filme de estreante, não a faz direta, parcial e primariamente. Basta-lhe, a Bressane, recriar os ambientes físico-sociais onde vivem e agem as personagens e, mais importante, o modo de ser de suas duas figuras emblemáticas: o servidor público e o político.
         A disparidade visual, social e cultural que estabelece entre esses mundos torna-se mais profunda e grave por sua proximidade física, mesmo e até por isso, não se tocando, não se encontrando nem, muito menos, se comunicando.
         Essas contiguidade e contemporaneidade ampliam e exacerbam o distanciamento abismal que os separa e aparta.
         Nada mais apropriado para fixar esse antagonismo irremediável do que a impossibilidade de realização do mais orgânico dos impulsos, o sexual.
         O contato desses dois mundos antípodas dá-se por meio do maior dos desencontros possíveis, quando as forças paroxísticas que às vezes governam o ser humano, por emergidas inopinadamente do fundo recalque de sua natureza e dos elementos que a compõem e a conformam, entram em insopitável ebulição, desencadeando o caos, o crime, a violência.
         O abismo entre essas classes, entre as benesses e possibilidades que aureolam uma e as agruras, carências e impossibilidades que manietam, confinam e sufocam outra, é, então, transposto, mesmo sendo verticalmente profundo e horizontalmente amplo.
         No choque daí resultante igualam-se os desiguais, porque, só aí e então, põe lado a lado o que seus representantes realmente são: simples seres humanos.
         Todas as barreiras caem face à tragédia humana, a mais violenta e radical, que, de uma vez por todas e em definitivo, sela a desigualdade, deflagrando o ódio.
         Tal encaminhamento e desfecho da trama poderia, no entanto, constituir e desaguar em mero e espúrio dramalhão, como inúmeros que infestam telas, livros e palcos, ofendendo a inteligência.
         No entanto, no caso, mercê de concepção e propósito conjugados com seguro domínio dos meios expressionais do cinema, tem-se depurado, parcimonioso e adequado tratamento temático e formal, que redunda contido e equilibrado. O uso sofisticado da imagem e das possibilidades dos movimentos e enquadramentos da câmera aliado à seleção rigorosa e criteriosa dos décors de interiores e de locações e aspectos dos exteriores resultam, por sua vez, em construção fílmica de rara beleza imagética num filme de requintada elaboração estética sob a simplicidade de seu aparato infraestrutural.

(do livro Seis Cineastas Brasileiros. Uberaba,
Instituto Triangulino de Cultura, 2012)

(Leia na página Obras-Primas do Cinema Brasileiro
toda segunda-feira novo artigo -

                  

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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).


sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

CINEMA INDEPENDENTE DOS EE.UU. O BALCONISTA


Cinema Independente dos EE.UU.


O BALCONISTA


Guido Bilharinho


O Balconista



O cinema dos Estados Unidos não é representado, como a maioria pensa e a mídia veicula, pelas grandes produções de efeitos especiais portentosos. Isso é produto comercial efêmero, descartável e degradável. Nada significa além do tilintar das caixas registradoras. Mas, em contrapartida, faz enorme mal ao conceito de civilização do país.

Contudo, sua existência e êxito meramente comercial decorrem, tanto lá como em toda parte, da receptividade da maioria da população, intelectualmente ingênua e culturalmente deficiente e despreparada. Essa maioria exige, consome e mantém essa produção, não sendo, pois, apenas problema do país produtor, mas, da sociedade humana de modo geral, em todos os quadrantes, caracterizada principalmente pela desinformação, comodismo mental, desinteresse e falta de curiosidade intelectual.

Para demonstrar que esse fenômeno anti-cultural e anti-artístico não é absoluto no país, está aí grande parte das realizações de seu cinema independente. Em tudo por tudo, antípoda daquela acima referida.

Entre tantos exemplos, cite-se o filme O Balconista (Clerks, EE. UU., 1994), de Kevin Smith (1970-), uma das obras marcantes do cinema contemporâneo. Não por inovações formais, que as não tem, limitando-se, nesse aspecto, a utilizar a câmera apenas com competência, o que não é pouco. Mas, pelo enfoque e tratamento temático.

A captação da realidade humana é das mais adequadas possível, revelando, crua, direta e consistentemente, o mundo social, mental e afetivo de certa juventude contemporânea estadunidense.

A franqueza das colocações, a inteligência, espontaneidade e clareza dos diálogos revelam núcleo social ao mesmo tempo peculiar e permanentemente geral. Naquele, seu estado atual comportamental em dada classe social e determinado local. Neste, o que há de fundamental na natureza humana. Aquilo que, conquanto as diferenças individuais, de classe, de local, de tempo e outras, constitui o cerne nodal da espécie, que o compõe e integra, dando-lhe forma e conteúdo.

É o ser humano a matéria do filme, que não se compraz em mostrar e revelar os protagonistas (o balconista da loja de conveniências, seu colega da vizinha locadora de vídeo e a atual namorada do primeiro), mas, na sua versatilidade e riqueza de criações comportamentais, desnuda diversos tipos de fregueses.

No que tange àqueles, todo seu perfil psicológico e emocional jaz exposto e se é evidente a simpatia do criador por suas criaturas, essa circunstância não impede, ao contrário, aprofunda o corte ontológico de seu modo de ser, descarnando seu invólucro protetor e as expondo tais quais são e como agem.

Já o mesmo não acontece em relação a alguns tipos de fregueses da loja, dos quais são ressaltados graves desvios comportamentais e toda fragilidade humana.


Além de tudo isso, da inteligência (já enfatizada) e da agilidade dialogal, ainda se destacam a fluência narrativa e a naturalidade em que se desenrolam os fatos, se estabelecem os relacionamentos e se armam os diálogos.

O Balconista é uma dessas obras de arte que até se lamenta ter conhecido, porque, ao se fazê-lo, perde-se o prazer de descobri-la, de fruí-la pari passu enquanto desconhecida e novidade, lembrando aquela personagem de Como Era Verde o Meu Vale (How Green is My Valley, EE.UU., 1941), de John Ford, que ao presentear menino acamado exemplar de A Ilha Do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, afirma: “eu quase gostaria de estar no seu lugar se isso significasse ler esse livro pela primeira vez”.


(do livro Cinema Contemporâneo dos Estados Unidos, em preparo)




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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

O PAÍS DO PASSADO


18/04/2016 – 06:29

Este “impeachment” está desde o início condicionado por razões políticas e de oportunidade partidária. Num regime parlamentarista isto não só não seria um problema como faria parte da natureza das coisas.
Escrevo antes de saber o resultado do voto que, na Câmara dos Deputados brasileira, poderá iniciar o processo de impugnação da presidente Dilma Rousseff. Tenho apenas uma certeza: não há um Brasil melhor que possa sair desta iniciativa.
Este “impeachment” está desde o início condicionado por razões políticas e de oportunidade partidária. Num regime parlamentarista isto não só não seria um problema como faria parte da natureza das coisas. Mas de acordo com a Constituição brasileira, que estabelece um regime presidencialista, não pode haver destituição de um presidente sem a prática de determinados crimes. Seguindo atentamente este processo até aqui, não vejo fundamento jurídico sério para considerar que Dilma Rousseff tenha cometido qualquer crime. Um processo que começa por perverter o sentido da Constituição não pode produzir bons resultados.
E essa, por incrível que pareça, é a apenas a melhor das hipóteses.
Quem seguiu os trabalhos parlamentares que decorreram em Brasília não pode deixar de ter ficado espantado com o tribalismo e a falta de decoro do que ali se passou. O circo montado na Câmara dos Deputados pelo seu presidente Eduardo Cunha, ele sim um réu em processos de corrupção e detentor de contas não-declaradas na Suíça e empresas fictícias no Panamá, esconde um sistema político putrefacto que defende com unhas e dentes a sua sobrevivência. Os deputados vociferantes que tentam cavalgar a indignação da população brasileira para destituir Dilma Rousseff não são o início de uma dinâmica de maior exigência contra a corrupção. Pelo contrário, eles são o resultado de um sistema de financiamento partidário corrompido até ao tutano. Não por acaso muitos dos apoiantes do impeachment são citados no processo lava-jato e correm histórias de alguns que esperam por uma presidência de Michel Temer — com autoridade sobre uma Polícia Federal a que Dilma Rousseff deu independência — para poder, sob um manto de “reconciliação do país”, colocar uma pedra sobre o assunto da corrupção política e partidária. Estes deputados não são os glóbulos brancos da República brasileira; só com muita sorte não serão as suas células cancerígenas.
Há quem pense que, afastada Dilma Rousseff, o próximo passo será o de afastar Eduardo Cunha. Pura ilusão. Eduardo Cunha terá assegurada a sua sobrevivência uma vez que tenha posto o chefe do seu partido, Michel Temer, no Palácio do Planalto. Pior do que isso: Cunha será o presidente em exercício de cada vez que Temer se ausentar do país. Nenhum deles, dependente que estará da maioria dos deputados corrompidos do Congresso, fará o mínimo esforço para reformar a política brasileira. Pelo contrário, tudo farão para a manter exatamente como está. Depois das manobras para evitar o julgamento de Eduardo Cunha e fazer subir Michel Temer à presidência, não é agora que esta dupla começará a agir com escrúpulos.
Nos seus anos de presidência, Lula da Silva costumava dizer que o Brasil já não era o “país do futuro” mas sim o país do presente. Esquecia-se de que, para o poder dizer, tinha (como Fernando Henrique Cardoso) compactuado durante os seus governos com as piores práticas e representantes do Brasil do passado. É esse o seu grande erro, que agora o olha de frente na cara.

https://www.publico.pt/mundo/noticia/o-pais-do-passado-1729360


Compartilhado por Guido Bilharinho
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Palavras que nos mobilizam…
A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela. -Max Frich,um arquiteto e escritor suiço do pós-guerra influenciado pelo existencialismo e por Brecht
partilhado no dialogos lusofonos por José Carlos Bramim

OS VENCEDORES

Os Vencedores

Jânio de Freitas
Compartilhado com Guido Bilharinho

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

CINEMA INDEPENDENTE DOS EE.UU. ” OS SUSPEITOS “

Cinema Independente dos EE.UU.
OS SUSPEITOS
OS SUSPEITOS


O filme policial é, em geral, destituído de qualidades cinematográficas. Normalmente enquadra-se num esquema comercial para atendimento de clientela específica, que se contenta e se compraz apenas com a linearidade e o convencionalismo das estórias.

Contudo, a par disso e mesmo assim, a tradição estadunidense do gênero aponta também para direção diversa e até oposta, conforme se dá no noir, quase categoria autônoma onde o fato criminoso não se desvincula de contexto mais abrangente, seja humano ou social, e nem é apresentado esquemática e superficialmente.

Nos dias que correm, o gênero policial tem encontrado, nessa filmografia, bons cultores nos quadros do cinema independente.

Além de outros, destacam-se Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), de Quentin Tarantino, e Amateur (Idem, 1994), de Hal Hartley, exemplos maiores de gênero e de cinema que sempre se têm renovado, mesmo e principalmente quando parecem esgotadas todas suas possibilidades criativas.

Na mesma linha inventiva, incisiva e rigorosa dos paradigmas citados, mas, diferente deles no que tange ao entrecho, fatos e enfoque, destaca-se Os Suspeitos (The Usual Suspects, EE.UU., 1995), de Bryan Singer (1968-).

Conquanto utilizando a mesma espécie de criminoso e iguais métodos policiais, parece-se estar assistindo filme realizado em outro planeta, com seres diferentes, tal o inusitado da mancira de focalizar o assunto, a riqueza da diversidade tipológica, o vigor da linguagem cinematográfica, a eficiência dos cortes e a eficácia da montagem.

Mesclando presente real com passado veraz ou deliberadamente fementido em retrospectos pertinentes, a trama desenvolve-se em intensidade e interesse crescentes numa construção antes de tudo intelectual e poderosa, como raramente se encontra no cinema ou fora dele.

Em todos os elementos cinematográficos, desde o décor, em suas múltiplas ambientações, até a direção e desempenho dos atores, pontilhados por minudentes gestos, posturas e tiques nervosos das personagens, fotografia e iluminação, o filme perfaz composição cinemática completa (e complexa), que elide e everte a linearidade e o convencionalismo, sem deixar de contar uma estória.

E que estória! Até mesmo personagem saída dos fundos esconsos da atividade criminosa mais nefanda, Soze, é, repentina e habilmente introduzida no contexto, como se fosse algo efêmero como cometa que risca os céus, desaparecendo em seguida sem deixar rastros e sem alterar a ordem das coisas.

Isso na natureza, com meteoro distante. Não no filme, com Soze. Desde que surge, mesmo que apenas referenciado, só de relance antevisto e mal percebido em ação, transforma-se em personagem paradigmática e simbólica do filme policial.

O que, antes, parecia (mas não era e nunca fora) simples atos ilegais de quadrilha criminosa já nas garras de polícia onipresente, vai pouco a pouco adensando-se e complicando-se como montagem de quebra-cabeças.

O que parecia não era e o que de fato era não parecia ser. E o enigma e sua solução caminham paralelos numa realização brilhante e consistente como talvez não se tenha visto ainda nesse gênero cinematográfico.

Não há surpresa na revelação pelo modo sutil como ela se insinua. De argúcia e habilidade tais, que, ao espectador desatento, ou afeito apenas a acompanhar ação e fatos, pode passar despercebida.

É que esse filme representa, antes de tudo, construção intelectual cinematográfica e não simples filmagem de ação criminosa, de seus autores e da investigação policial.

Além de tudo, e para atestar que é obra totalizadora, na qual nada é descurado ou secundarizado, as cenas transcorridas no navio explodido e o décor onde se passam constituem momentos inesquecíveis de cinema e do cinema.


(do livro Cinema Contemporâneo dos Estados Unidos, em preparo)




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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

TV. REGIONAL REDE MANCHETE – FUNDAÇÃO CULTURAL DE UBERABA.

Década: 1990
Em 9 de junho, ao completar 35 anos de atividade, a Fundação Cultural promoverá um Fórum para se fazer balanço e perspectivas das Politicas Públicas de Cultura.
Enquanto isto não acontece vamos mostrando  como no passado se via a participação do Poder Público neste setor
Prefeito municipal – Luiz Guaritá Neto – (1992/1996)
Presidente da Fundação Cultural – Lídia Prata
Debate  Cultural – parte 04
Local – TV Regional
Coordenador – Ney Junqueira
Participantes – Lídia Prata, Guido Bilharinho, Jorge Alberto Nabut, Gilberto Rezende e Bethoven Teixeira.
O arquivo pertence ao acervo da Associação Cultural Casa do Folclore e foi postado dia 04 de junho de 2016.

MUSEUS DE UBERABA



Guido Bilharinho


MUSEU DA CAPELA DO COLÉGIO N S. DAS DORES





Desde 1950 as irmãs dominicanas do Colégio Nossa Senhora das Dores em Uberaba vem coletando, conservando e mostrando precioso acervo de suas atividades nas áreas da educação, saúde, pastoral e ação social.


Instalado no interior da Capela do Colégio, nele se encontram mobiliário, material didático, uniformes, mapas, documentos diversos, milhares de fotografias, objetos sacros, utensílios hospitalares e inumeráveis artefatos do cotidiano brasileiro dos últimos cento e vinte anos.


Em 2012, o Museu foi submetido à ampla reforma para atendimento dos requisitos da museologia moderna.


Compõe, e sobremaneira enriquece seu acervo, a Coleção Loreto, formada de amostras geológicas de minerais, rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares, fósseis e diversos outros materiais e objetos arqueológicos, etnográficos, biológicos e históricos, coletados sob a orientação da irmã Loreto nas pesquisas e excursões geológicas que empreendeu, estando a coleção organizada conforme a composição química, formação, origem e proveniência das peças, a maioria de procedência brasileira, mas, havendo também, amostras originárias da França, Itália, Bélgica, Austrália e África.


MUSEU DE ARTE SACRA

INFORMAÇÃO SOBRE UBERABA

livro Informação Sobre Uberaba

Vem de ser lançado o livro Informação Sobre Uberaba, que completa e encerra a coleção “Trilogia Sobre Uberaba”, de Guido Bilharinho, editada com recursos do Fundo Municipal de Cultura, focalizando variados aspectos da cidade em seções singularizadas, contendo, inicialmente, Introdução (fundação, datas históricas mais importantes, livros históricos, evolução econômica e pioneirismo uberabense), seguindo-se-lhe seções abrangentes das principais Instituições Culturais, Museus, Teatros, Cinemas, Jornais, para, depois, ressaltar em Personalidades os uberabenses que alcançaram, por suas atuações e obras, repercussão nacional. Além disso, na seção Chegada da Mojiana analisam-se o significado e a importância para Uberaba e região do transporte ferroviário; em Espaço Urbano focalizam-se o prado de S. Benedito, o bairro Mercês, a av. Leopoldino e a ocupação e mutilação de diversas praças públicas; em Igrejas e Capelas e em Fóruns Judiciais descrevem-se, naquelas, seus principais monumentos religiosos e, nestes, os antigos e atuais fóruns. Já nas seções Resultados Eleitorais e Bibliografia Sobre Uberaba indicam-se, na primeira, as votações obtidas por prefeitos, deputados federais e estaduais uberabenses desde 1945, e, na última, procede-se a levantamento minucioso dos livros e dos principais ensaios e artigos escritos sobre Uberaba de 1825 a 2015. Constitui, pois, livro que atinge multiplicidade de interesses, sintetizando, em lineamentos gerais, dois séculos de desenvolvimento de Uberaba. Completam a obra, de 340 páginas, 58 fotos, inclusive de preciosos panoramas do centro da cidade em 1890 e contemporaneamente, além de inédita foto da praça Rui Barbosa em 1909 e outra, de mesmo ângulo, da década de 1930.


Nas livrarias Lemos & Cruz e Papel Cartaz – Revistaria do Shopping Uberaba Banca de Jornais da Galeria do Ed. Rio Negro

MUSEUS DE UBERABA − II GUIDO BILHARINHO

Museu do Zebu

Uberaba, constituindo o maior centro mundial de criação, aprimoramento e difusão do gado zebu — que de animal exótico até meados do século XIX se transformaria no rebanho por excelência do país — sede do registro genealógico Herd Book Zebu desde 1919, da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro fundada em 1934, que incorporou aquele e, posteriormente, a partir de março de 1967, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e de diversas entidades nacionais das mais importantes raças zebuínas, teria de ter também, como tem, desde 02 de maio de 1984, seu museu do Zebu, único no gênero e no tema, instituído e mantido pela ABCZ.

Situado no parque Fernando Costa, de inicialmente apenas repositório de peças e fotos históricas, o museu passou também a se dedicar à pesquisa histórica e a mostras específicas, a exemplo, entre as mais de trinta já realizadas, da XVI Mostra: Aspectos da Arquitetura Rural no Interior Mineiro – Séculos XIX e XX (1999); XVIII Mostra: Zebu, Um Século de Evolução (2001); XIX Mostra: Pioneiros na Criação e Seleção de Zebu (2002); XX Mostra: Aspirações e Inspirações Artísticas do Zebu (2003); XXI Mostra: ABCZ – ExpoZebu 70 Anos, Uma Retrospectiva (2004); e XXVI Mostra: Pioneiros — Histórias e Estórias de 75 Anos da ExpoZebu (2009).

Por sua vez, o imóvel que abriga o museu, situado à esquerda da entrada principal do parque, de construção inicialmente simples, teve seus 120 m2 originais ampliados em abril de 1995 para 980 m2, sendo 580 m2 de área útil e os restantes ocupados por pátios e jardins.

Em 2002, o acervo do museu atingiu aproximadamente 500 peças (antigas esporas, estribos, ferretes, cangalhas, bruacas, moenda de cana, instrumentos agrícolas, viatura, selaria, armaria, mobiliário e peças têxteis utilizadas nas atividades pecuárias); 5.000 documentos (entre eles exemplar da preciosa narrativa Do Brasil à Índia, de autoria de Teófilo de Godói, o triangulino que primeiro foi à Índia buscar zebus em 1893 (e não 1898, como se propala); e, em setembro de 2013, aproximadamente 200.000 fotografias (tanto de fatos da História do Zebu como de exemplares das diversas raças zebuínas).

Além disso, o museu, à semelhança das bibliotecas modernas, vem promovendo eventos e atividades nas áreas educativa, social e cultural.

MUSEU CHICO XAVIER UBERABA


Francisco Cândido Xavier – Chico Xavier, um dos mais admirados e cultuados seres humanos do país, veio de Pedro Leopoldo, sua cidade natal, residir em Uberaba em 1959, onde, por suas atitudes, obras e atuação atingiu fama universal.
Após 30 de junho de 2002, data de seu falecimento, a casa em que residia desde 1975 foi transformada em museu.

MUSEU DE ARTE DECORATIVA UBERABA


Em agosto de 2000 foi doada ao município a chácara dos Eucaliptos, no bairro dos Estados Unidos, outrora pertencente a José Maria do Reis.
A sede, construída por volta de 1916, ela própria de inestimável valor arquitetônico, foi destinada ao museu de Arte Decorativa, nela instalado em abril de 2002 e inaugurado com exposição de obras de Reis Júnior, pintor uberabense, um dos quinze filhos de José Maria dos Reis e Artemira de Sousa Reis, autor, entre centenas de outros quadros, do esplêndido Retirada da Laguna, tela que lhe foi encomendada pelo então agente executivo de Uberaba, João Henrique Sampaio Vieira da Silva.
O acervo do museu compreende móveis, porcelanas e pinturas, tendo recebido doação da Fosfértil/Ultrafértil compreendendo mobiliário, imaginária, pintura, escultura, louças e lustres. Dependendo de sua direção, no museu realizam-se exposições, lançamentos de livros e outros eventos culturais, a exemplo da exposição, ainda em 2002, de parte do mobiliário da coleção de Beatriz e Mário Pimenta Camargo.
(do livro recém-lançado Informação Sobre Uberaba,
editado com recursos do Fundo Municipal de Cultura)
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

MEMORIAL DO COMÉRCIO


Em maio de 2012 foi inaugurado oficialmente pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberaba o memorial do Comércio, visando reunir, conservar e catalogar a infinidade de objetos utilizados nas diversas práticas comerciais.
                   Assim, desde logo o museu passou a contar por meio de doações com caixas registradoras, máquinas de somar, balanças, bicicletas de entrega, tesouras, cédulas, moedas, fotografias, aparelhos telefônicos, máquinas de escrever, fitas métricas, entre outros objetos.
                   Uma das aquisições mais importantes em 2013 consistiu no painel referente à 1ª marcenaria do Triângulo e à loja Americana de Donato Cicci, inauguradas em 1911, painel montado e doado por Dorival Cicci, filho de Donato.
                   O memorial ocupa dependências na própria sede da CDL, na rua Luís Soares [Pinheiro], 520 – vila Olímpica.
(do livro recém-lançado Informação Sobre Uberaba,
editado com recursos do Fundo Municipal de Cultura)
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

FILMES DO IRÃ


A MAÇÃ


As Situações e Suas Circunstâncias


Guido Bilharinho
FILMES DO IRÃ



Uma das particularidades mais acentuadas, senão a mais reiterada de todos os possíveis e variáveis aspectos a serem considerados no cinema iraniano contemporâneo, é a eleição da temática familiar.


A abordagem das situações e suas circunstâncias concentra-se geralmente num acontecimento específico, problematizado ficcionalmente. Essa orientação possibilita extremada contenção fática, redundando em decorrente economia de meios e modos.


Se a primeira condição permite a viabilização cinematográfica dados seus baixos custos, a segunda restringe seu alcance formal e também técnico, embora este, do ponto de vista cultural e artístico, seja secundário, por instrumental.


Já no que tange à forma, a limitação atinge o cerne do fazer artístico, daí decorrendo, como vem acontecendo nessa filmografia, com algumas exceções, a prevalência da estória sobre a elaboração artística, em descumprimento à sua regra básica, que é sua razão de ser, isto é, a produção de beleza para atendimento do prazer estético, a mais alta consecução da inteligência e sensibilidade humanas.


Na ficção, que é o caso, sobreleva ainda seu urdimento, conteúdo e desdobramento, na apreensão e respeito às verdades da natureza humana.


Se no primeiro caso, o filme A Maçã (Sib, Irã, 1998), de Samira Makhmalbaf (1980-), deixa de atender aos requisitos mais imperativos da formalização artística, no segundo alcança o desiderato a que se propôs de construção e exposição de situação humana e familiar específica.


Se essa característica impõe-se desde logo e em todo seu decorrer, não é ela propriamente que deve ser notada e realçada, mas, sim, o depuramento com que se desenvolve e a espontaneidade e autenticidade demonstradas, que emocionam e encantam.


O drama familiar focalizado forma cosmologia peculiar, em que seus elementos constitutivos (casal e duas filhas gêmeas), orbitam em coordenadas próprias, perfeitamente entrosadas, até que a interferência do mundo exterior denuncia sua anormalidade.


A partir daí, a ação reparte-se em pelo menos dois níveis distintos, que se comunicam e se influenciam, determinando alteração no conspecto sedimentado. O núcleo familiar sofre, pois, acentuada mutação sob a ação externa, obrigando-o a sair de seu enclausuramento e a contactar e relacionar-se com o mundo, o outro elemento dessa confluência de situações e ações.


Além da delicadeza e sutileza com que se processa essa etapa da ação fílmica, ressalta-se a poetização de atos, gestos e do descarnado décor, em procedimento imagético que os valoriza para além da vizualização direta e imediata.


À frente da imagem não está somente o olhar mecânico da câmera, porém, o olhar humano e sensível do artista, atingindo o clímax na cena final, emblemática, que se descurada da estetização da imagem e da composição de sua sucessividade, não olvida a elaboração dos conteúdos que viabiliza.



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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).

OBRAS-PRIMAS DO CINEMA BRASILEIRO






TODA   SEMANA,   A   PARTIR   DE   CADA   SEGUNDA-FEIRA,   JÁ   NO PRÓXIMO DIA 07, ARTIGOS SOBRE AS OBRAS-PRIMAS DO CINEMA BRASILEIRO POR ORDEM CRONOLÓGICA DA REALIZAÇÃO DOS FILMES.
ESSE LEVANTAMENTO VAI REVELAR UMA DAS MAIS TALENTOSAS E CONSISTENTES FILMOGRAFIAS DO MUNDO.
NFACEBOOK DE GUIDO BILHARINHO: 

A RECEPÇÃO - PARTICIPAÇÃO NO CINEMA


A RECEPÇÃO -PARTICIPAÇÃO NO CINEMA


Guido Bilharinho


Muito já se escreveu - embora pouco se leu - sobre o papel antropológico da experiência cinematográfica na órbita de sua recepção-participação psíquica e afetiva. Edgar Morin é incisivo nessa questão, ao afirmar que “não podendo exprimir-se por atos, a participação do espectador interioriza-se. A cinestesia do espetáculo escoa-se na coenestesia do espetáculo, isto é, na sua subjetividade, arrastando consigo as projeções-identificações. A ausência de participação prática determina portanto uma participação afetiva intensa: operam-se verdadeiras transferências entre a alma do espectador e o espetáculo da tela” (“A Alma do Cinema”, in A Experiência do Cinema, antologia de textos teóricos organizada por Ismail Xavier. 2ª ed. Rio de Janeiro, Edições Graal/Embrafilme, 1991, p. 154).


Isso explica muito o sucesso do espetáculo cinematográfico quando consegue galvanizar a emoção do público. Explica e até justifica, mas, nada tem a ver com o aspecto artístico. Arte é uma coisa e espetáculo outra, no só totalmente diversas como antinômicas.


A arte dirige-se à inteligência e à sensibilidade, exigindo espectador intelectualmente armado, vigilantemente atento, autonomamente crítico, que não se deixa envolver pela emoção destilada pela realização cinematográfica. Ao invés de a ela se render e se subordinar emocionalmente, a submete racionalmente, tendo muitas vezes, nesse processo, de vencer manifestações de empatia provocadas pelo poder exercido pela imagem em movimento.


Nesse caso, a passividade que caracteriza o espectador em geral é substituída pela participação, que equivale e muitas vezes suplanta os limites da realização fílmica. Esta, depois de terminada, pronta e acabada, no mais pode ter ampliados ou aprofundados seus significados e implicações. Já o espectador consciente possui durante - e principalmente após a projeção - amplo campo de manobras para exercício de análise, comparações e avaliações.


Claro que para atingir esse grau de independência e percepção o espectador deve ser intelectualmente ativo, tendo interesse em compreender para ter condições de entender o mecanismo ora negativo ora, muito raramente, positivo que está na base da obra cinematográfica e permeia sua própria origem, condicionando-a e determinando sua natureza.


Se anteriormente o público era envolvido pelo isolamento e pela penumbra do ambiente das casas de exibição (cinemas de rua) em que até sua disposição de ir e o respectivo deslocamento até elas já o afetavam, provocando o que Hugo Maueshofer, no ensaio Psychology of Film Experience, diagnostica como "mudança psicológica da consciência que acompanha automaticamente o simples ato de ir ao cinema" (op. cit., p. 375), hoje, o vídeo, o dvd e a divulgação televisiva antepõem-se ou pelo menos atenuam esse encapsulamento uterino.


A sala residencial iluminada e as interrupções ou sua possibilidade real e concreta - intervalos comerciais, telefonemas, movimentação de circunstantes - não mais permitem o isolamento, propiciando, pois, relativa libertação do espectador que automaticamente torna mais objetiva sua convivência com o filme assistido, facultando-lhe distanciamento e liberdade que, no entanto, necessitam ser aproveitados e explorados em prol de sua independência intelectual, que, no entanto, só será efetiva se respaldada por consciência do mundo adquirida pelo estudo e reflexão.


(do livro inédito Ficção e Cinema)






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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).