Em janeiro de 1908, foi publicada no Brasil a Lei Federal 1.860 que regulava o serviço militar obrigatório, o alistamento, o sorteio militar e reorganizava o exército. Essa lei tornou obrigatória a instrução militar para os alunos maiores de 16 anos em todas as escolas secundárias. Em maio do mesmo ano, um decreto regulamentou que todos os colégios reconhecidos oficialmente pelo governo deviam organizar um batalhão escolar com alunos maiores de 16 anos, aos quais seria ministrada a “instrução obrigatória do Tiro de Guerra e evoluções militares”.
Os Reservistas de 1928, alunos do Ginásio Diocesano de Uberaba, posam para uma foto com os instrutores e o diretor do estabelecimento. Foto de Andrade Photo, acervo familiar.
A treinamento militar, a cargo de instrutores cedidos pelo exército, incluía exercícios de esgrima, tiro com fuzis Mauser e evoluções militares. Os alunos que participassem desses exercícios nos ginásios estariam dispensados do serviço militar, caso fossem sorteados. Em 1917, um novo decreto determinou que – ao final da instrução – os alunos aprovados nos exames receberiam a carteira de reservistas de 2ª categoria. Essa prática vigorou até 1934, quando o Tiro de Guerra deixou de estar vinculado às instituições de ensino.
Foto publicada na Revista Fon-Fon, do Rio de Janeiro, em 1913.
Em Uberaba, o então Ginásio Diocesano, dos Irmãos Maristas, oferecia treinamento militar nas aulas de ginástica do nível Ginasial. Os alunos que concluíam o curso recebiam o certificado de reservistas e ficavam dispensados do serviço militar que, na época, era prestado na 8ª R.A.M. da cidade de Pouso Alegre.
Batalhão de reservistas do Ginásio Diocesano de apresenta na Praça Rui Barbosa, em 1916.
A primeira foto registra a formatura dos reservistas do ano de 1928. Na primeira fila está, ao centro, o Irmão Afonso Estevão, diretor do Ginásio, ladeado pelos instrutores militares.
Grande parte desses alunos residia em Uberaba e muitos foram convocados para lutar nas escaramuças de Revolução de outubro de 1930. No Triângulo Mineiro, as tropas revolucionárias de Minas Gerais enfrentaram as tropas legalistas do Estado de São Paulo nas pontes e nas barrancas do Rio Grande. Essa situação se repetiria na Revolução de 1932.
Entre os que foram convocados em 1930 estava meu avô materno, José Carlos "Juquita" Machado Borges, que aparece muito sério nessa foto, aos 17 anos de idade (é o quarto, da esquerda para a direita, na segunda fila de reservistas de pé na foto). Entre os reservistas está também Alberto Prata, pai do escritor Mário Prata. Meu avô Juquita faleceu em junho de 2004, aos 93 anos. Guardava em sua biblioteca duas ou três balas de fuzil Mauser, lembranças dos tempos das batalhas e revoluções.
(André Borges Lopes)