segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Dia da Consciência Negra, vamos homenagear o líder da resistência à escravidão: Zumbi dos Palmares.

No dia em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, vamos homenagear o líder da resistência à escravidão: Zumbi dos Palmares.

Zumbi liderou o Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas no Brasil Colonial. Embora tenha nascido livre, Zumbi foi capturado aos sete anos de idade e entregue a um padre católico, do qual recebeu o batismo e foi nomeado Francisco.

Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

Desde 2003, com a aprovação da Lei 10.639, que instituiu o ensino da História e Cultura Afro-Brasileiras nas escolas, a data foi incluída no calendário escolar como o Dia Nacional da Consciência Negra. 

Viva Zumbi! Viva Dandara! Viva a Consciência Negra!


Valmir Assunção

domingo, 19 de novembro de 2017

Consciência Negra: um longo caminho para a liberdade




Da abolição da escravidão às cotas raciais, as lutas pela liberdade começaram há séculos e ainda não foram concluídas. Ainda há um longo caminho para o fim da discriminação racial.  Dia da consciência negra. Inscreva-se http://bit.ly/canaldoAndre

Prof. André Azevedo da Fonseca

Igreja Nossa Senhora do Rosário: 83 anos de História (1841 – 1924)

Dia da Consciência Negra, e assim trago um pouco da história da antiga Igreja do Rosário que foi demolida em 1924.

          A construção desse templo data-se em 1841 durante o período Imperial o qual, dentre tantas características, também foram marcado como um período escravocrata, e assim, continuava a pratica comum, de haver duas igrejas distintas, uma para negros ou conforme a expressão da época  “Homens de cor”e outras para os brancos, assim também, a construção que situou na atual Av.Presidente Vargas, no Alto do Rosário (atual bairro Estados Unidos),com a frente para a rua do Comércio, atual Artur Machado.

         Evidentemente, a participação nesse templo era majoritariamente negra e a após a sanção da Lei Áurea em 1888, também foi espaço de comemorações por parte dos negros,bem como a presença de Irmandades, que levavam como nome, São Benedito e Nossa Senhora do  Rosário.E,ao fazermos uma breve pesquisa no Lavoura e Comércio, que foi de grande circulação na cidade de Uberaba e também cidades vizinhas, encontra-se o registro de diversa comemorações dos dias 13 de Maio, por algum anos, inclusive com celebrações das festas religiosas, de São Benedito e também de Nossa Senhora do Rosário ,que eram organizadas pelas Irmandades.

Fundo da Igreja Nossa Senhora do Rosário

      Com o passar dos anos, e que mais que houvesse grande movimentação nesse templo, além de remeter a um passado histórico e principalmente de grande memoria dos negros, a deterioração do templo avançou, sobre tudo pela falta de recursos necessários e também, de certa maneira por pressões políticas, sejam elas ligadas ao  desenvolvimento  ou ainda, de cunho urbanístico ou de embelezamento, o templo foi demolido, sem consulta prévia a sociedade, por sanção do atual prefeito da cidade na época,Leopoldino de Oliveira, como apresenta a historiadora Raniele Oliveira (2012,p.4).
Escadaria da Igreja Nossa Senhora do Rosário

        Desta maneira, como já havia sido construída da Igreja de São Domingos, a grande manifestação religiosa daquele lugar, de certa maneira se convergiu para a nova Igreja e a antiga Igreja do Rosário ficou marcada na memória dos uberabenses.

Igreja Nossa Senhora do Rosário

      Atualmente, podemos remeter de certa maneira a esse passado e, ao transitarmos na Av.Presidente Vargas, podemos identificar um monumento do Zumbi dos Palmares, um dos símbolos da resistência à  escravidão negro,que faz memoria a todo esse passado histórico ,marcado pela resistência negra, na cidade de Uberaba.


Amanda Oliveira  

Historiadora 
                                                                                                                                         
                                                                                                                                                                                            
                

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Festa de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa

De 17 a 27 de novembro de 2017

PROGRAMAÇÃO RELIGIOSA
Para mais informações, 
acesse:https://www.facebook.com/medalhamilagrosauberaba/photos/a.450216338338488.124374.449290095097779/2000617096631730/?type=3&theater

Site: www.mosteiroimaculadaconceicao.org.br

VOCAÇÃO

No Cassú, povoado onde nasci, nas barrancas do rio Uberaba,com os meus sete para oito anos, meu brinquedo predileto era ligar duas latinhas de extrato de tomate,com pedaços de linha que tirava da velha máquina de costura,marca “Singer”, de mamãe e pronto ! levava à boca uma delas ,”fingindo” ser microfone e meu primo-irmão,Jair,na outra ponta, ouvia-me e dava o sinal que estava tudo certo...Os outros primos,Adilson,cantava músicas de Tonico e Tinoco,Cacildo,cavalgava no “timochenko”, velho cavalo de serventia da família, dizendo-se futuro “jóquei do Prado”,então existente na “distante” Uberaba. Felipe,”pintava a cara”, pois queria ser palhaço de circo. Horacinho,envolvido no velho velocípede quebrado, dizia ser “corredor de corrida”...O Toninho,coitado,só levava “cascudo”; era o menor dos primos...

Na infância, a gente quer ser tudo na vida.Padre, médico,professor,”retratista”, amansador de cavalo, jogador e futebol, locutor de rádio... ops !Para !Aí, alguém pergunta: -você quer ser isso, por prazer ou por dinheiro ?” Tenho comigo que a “outra pergunta,vem embutida”:- “Afinal, qual é a sua verdadeira vocação ?” Vocação,do latim “vocare”, que quer dizer “chamar”. Ao se fazer algo por vocação, é ser chamado por uma voz interior, bem escondidinha no fundo do coração e de uma entidade superior : Deus !

Primário,secundário,pré-universitário,universitário e... pronto !Depois de comerciário,bancário,advogado,empregado público por acaso e a convite, o que gosto mesmo, amo de paixão, é da comunicação. Nela, quase me realizo,pois, ninguém se realiza por inteiro...Rádio,jornal,revista, televisão e, hoje, nessa” ferramenta” sensacional, a “internet”e suas redes sociais...Livros ? escrevi quatro.Tem mais três “na forma” e sinto estar “parindo”mais um “filho” do coração.

Escrever, falar, interagir, ouvir, dialogar, contactar, criticar, elogiar, contar, opinar, bater, apanhar, vencer, perder, são minha “vozes” do cotidiano. Sempre de mãos limpas, diga-se. Se isso for vocação, essa é a minha. Com muito amor,seriedade e decência.


Luiz Gonzaga de Oliveira

SONHO DE CARNAVAL

Era uma noite enluarada, quase se escondendo, pois o sol, estava chegando. Estrelas mil cintilavam pelo azul anil; a madrugada quente, fervilhava meu coração. Sei lá, estava muito alegre. Levantei-me apressado.Rosto lavado,roupa trocada, barba feita. Vestí a minha melhor “farpela”.Meus sapatos engraxados,brilhavam.Tanque cheio, lá vou eu para a passeata no velho e bem conservado “carango”,uns dez anos de uso, só na minha mão...Fogos espocavam por toda a cidade. Dos rincões do “São Benedito”, ouviam-se os rojões que vinham do “Abadião”.Entrei no querido “carango”, ouvindo o barulho dos fogos nas bandas das “Mercês”,que ecoava no “Fabricio”, passando pelo “Boa vista” e terminando nos “Estados Unidos...

A terrinha estava em festas! Festa,não! Festão !A “ sagrada”, tinha acabado de ganhar uma espetacular e sonhada “planta de amônia”! Minha santa ignorância quis saber do que se tratava essa grande conquista que arrebatara de tanta alegria, a nossa cidade. Amônia?Planta?Na mesma hora um competente secretário municipal, foi me ensinando:-Planta é a fábrica ! Dois mil empregos,diretos!Amônia é o produto que está em falta no Brasil e absoluto componente para compor os nossos nitrogenados (?).Será produzido em Uberaba, entendeu, seu burro !”Fiz sinal com a cabeça que havia entendido.-“Ah! muito bom”...

A carreata, com dezenas de carros,percorria ruas e avenidas da santa terrinha.Um barulhento “trio elétrico” tocava o hino da cidade,depois o hino do Uberaba Sport,seguido do hino do Nacional,vindo depois o hino do Independente, do Conservatório,o samba”Uberaba-bão” tema de campanha do Chico Veludo.Um locutor de voz forte e eufórico ( se não me engano era a do Eustáquio Rocha...), bradava com toda a força dos pulmões ,que chegara a redenção de Uberaba !O Brasil estava à salvo com a “planta de amônia”!O governo municipal,auxiliado pelos nossos deputados, estaduais e federais, venceram, depois de luta indômita, a batalha consagradora! A “ planta de amônia” era de Uberaba e ninguém tasca !

O gás necessário para implantação da indústria,estava resolvido ! O governo de Minas, tão “amigo” e puxa-saco da nossa região, já tinha dado a “ ordem de serviço” para o gasoduto de Queluzito (região de Betim) “abastecer” a “planta de amônia de Uberaba”..empreendimento que iria multiplicar outra indústrias instaladas e por se instalar no trecho...De dez a quinze cidades, cresceriam com a passagem do “duto” pelas suas cidades. Euforia !Beleza !

O “trio elétrico” da Prefeitura ,tocava música do”gás total”. A Escola de Samba do Cabuçu (“c” cedilha,viu...)estava com o “enredo” pronto para o próximo carnaval:-“Uberaba na era do gás total”!Alguns carros alegóricos,desenhados:Chico Xavier,montado num boi zebu; Mário Palmério,ao piano,dedilhando em marcha-rancho, a sua “Saudade”, Antenógenes Silva, na sanfona,tocando em ritmo de samba-batucada,”Saudade de Uberaba”,Fidélis Reis,altivo,à porta de uma maquete do SENAI, Joubert de Carvalho,faceiro,a vontade..”De papo pró á...”

A “Marquez do Sapucaí,apinhada e uberabenses, delirava ! “Que cidade maravilhosa, quanta coisa linda meu Deus !Essa fábrica (planta)será a redenção do Brasil, em insumos e fertilizantes”, cantava a massa ignara, dependurada nas arquibancadas da Sapucai”. O locutor do desfile (não era mais o Eustáquio Rocha...)anunciava:-“Uberaba cumpre o que promete !”

Acordei ! Olhos remelentos e nariz escorrendo.A bruma seca,chegou !              

Luiz Gonzaga de Oliveira

Uma das memórias mais lúcidas de Uberaba

Luiz Gonzaga Oliveira e Janaína Sudário
          
     Querido Luiz Gonzaga Oliveira! São tantas felicitações neste SEU dia, mas preferi transformá-las em agradecimento. Conhecer você e ter desfrutado da sua inteligência, além da maravilhosa companhia, foi e será muito importante para mim. A sua história, tão bem contada e vivida, é um exemplo. Mais que textos muito bem escritos, aos quais você dá o seu toque peculiar de humor, sarcasmo e realidade, você escreve belíssimos capítulos que traduzem o homem, o marido, o pai, o profissional e o amigo que você é. Feliz aniversário, meu ídolo, meu amigo, minha inspiração: GONZAGA!

Jornalista Janaína Sudário 
                                

LEMBRANDO O ÓBVIO

Recentemente César Vannucci,um dos maiores nomes do jornalismo mineiro, uberabense de cepa, esteve na terrinha proferindo palestras na ADESG e na ALTM. Como sempre, sucesso absoluto.Mas, não são as “falas” do César que quero lembrar.Madrugada a dentro, lembrando e relembrando “coisas da terrinha”, enveredamos pela lembrança de nomes da saudosa e outrora sempre combativa imprensa uberabense.

Começamos pelo Raul Jardim, um dos donos do falecido “Lavoura e Comércio”, mais de 100 anos de circulação na cidade e região.A saudade foi relembrando nomes, Rui Miranda, Maurilio Cunha Campos, Jorge Zaidan, Joel Lóes, Rui Mesquita, Rui Novaes, José Veloso Guimarães, Santino Gomes de Matos, José Mendonça, Ramon Rodrigues, Farah Zaidan, Geraldo Barbosa, entre outros brilhantes jornalistas que descansam na Paz Celestial.

O “papo”girou sobre o Raul, de fulgurante e fulminante raciocínio de profissional brilhante.Mesmo doente, ( a doença atropela, a doença aniquila, mata !)Amigo dos amigos , lealdade ímpar,Raul sempre foi um jornalista independente, sem cabresto, fiel aos seus ideais.Teve inimigos? Não sei. Adversários ? Claro ! Raul transcendeu em amor ao próximo, servo da Justiça, paladino da liberdade! Raul, poderia ter sido um homem rico de posses materiais,avarento, vendilhão, apegado ao dinheiro,prostituto de ambições desmedidas.Não ! Preferia a singeleza das palavras ,atitudes dignas, honestidade de propósitos e princípios.Despido de bens pessoais,acendrado amor a sua Uberaba. Merecia maior respeito. Uberaba muito lhe deve.

No “outro” jornal, o “Correio Católico”, (chegou a ter 12 mil assinantes na cidade e região !), “sepultado” de forma impiedosa, por razões até hoje desconhecidas, um profissional se pontificava com méritos inatingíveis:Jorge Zaidan, mestre dos mestres! Modelo de homem que veio à Terra ( e Deus perdeu a fôrma...) para servir e nunca ser servido. Nasceu com o estigma de bom, humano, decente,correto, líder , servidor emérito, olhava o próximo como a si mesmo.Só fazia o bem. Suas mãos só atiravam flores.Jorge, morreu muito novo, embora os bons não morrem...moram no plano espiritual, espargindo amor, alegria, justiça, bem querer, onde, à direita do Pai, tem assento permanente.

A”leva” dos bons jornalistas no Céu,é grande e nos deixou exemplares lições.Os artigos de Juvenal Arduini, a coragem do Padre Fialho, ..quem ousava contestar as aulas literárias de Santino Gomes de Matos ?Quem se atrevia duvidar das reportagens-bomba do intrépido Rui Mesquita,que morreu no Rio de Janeiro,chefiando a redação do “Repórter Esso”,da Rádio Nacional ?Quem não se contemplava com as verdadeiras homilias de D.Alexandre, no “roda pé”, do “Correio Católico?”. Quem não se “abastecia” lendo as noticias esportivas de Ramon Rodrigues,no”Lavoura”?e a lidíssima coluna social,”Observatório”, de “Galileu”, pseudônimo do imortal Ataliba Guaritá Neto ?Os sensatos e ponderados comentários esportivos de Farah Zaidan, no “Correio Católico”? Joel Lóes, deixou o “Correio” e foi brilhar como editor-chefe deTurismo, do tradicional e centenário” Estadão”?.

Reputações ilibadas e credibilidade junto a milhares de leitores, esses jornalistas uberabenses, conquistaram a confiança dos leitores, sem recorrer a empregos oficiais (Prefeitura,Câmara,Autarquias, Fundações,Arquivos e etc...)

O “papo-saudade”entre César e eu,varou a noite.Geraldo Barbosa,acamado e Padre Prata,em viagem,foram,gostosamente, lembrados.Nós dois, da “velha guarda”,ainda na ativa profissional, acobertados pela Lei 972, da revolução. Jornalismo, além da devoção e vocação, é um ato de doação “...Hoje...bem...hoje...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                                                            

DEFESA PRÁ LÁ DE BEM FEITA

Uberaba sempre foi pródiga em tipos populares que perambulavam pelas ruas da cidade.A maioria inofensiva e muito benquista pela população.”Maria Carrapato”, “Irmão da Padaria”, “Coronel Delcides”, “Maria Boneca”, “Babinha” ( o terror dos bebuns...),”Violão”, “Chupa Ovo” e outras tantas singulares figuras. Porém, um deles, “Fumanchu”, marcou época. Conto-lhes :

José Estanislau de Jesus - "Fumanchu"-
Foto/Uberaba em Fotos.

Num distante domingo de sol do ano de 1977, era tradição dar “uma voltinha” no centro da cidade, principalmente quando havia jogo do Uberaba pelo campeonato brasileiro. Orgulhosamente,àquele tempo, o Uberaba participava.Era o esperado Uberaba x Santos F.C.Mal os jogadores santistas acordavam dos seus aposentos no finado “Grande Hotel”, um barulho infernal de sopros, buzinas ,bumbos e “caixas”, invadia a área central da terrinha.Uma meia dúzia de chiques e confortáveis ônibus,”despejava” bem defronte ao falecido”Metrópole”, à porta do saudoso”Buraco da Onça”, a barulhenta torcida do Santos.A “Sangue santista”,”Força Jovem”e “Garra Peixe”, desfilavam com os bumbos,taróis,tamborins e reco-reco e alguns outros instrumentos de sopro, começaram a grande batucada, infernizando o Romeu e o jovem “Cebolinha”,no atendimento aos fregueses habituais do “Buraco da Onça”, na cervejinha dominical.

Ao tempo,nesse momento, descendo a Artur Machado,em direção à Leopoldino, onde estavam,além do “Buraco”, o “Guarani” e o “Tip-Top”,bares tradicionais da cidade, passos lentos e cambaleantes,aparece o “Fumanchu”,”negrão” forte,engraxate nas horas vagas, educado,bem falante,embora vivesse sozinho,ninguém soube onde nascera e de onde viera.O certo é que tomou-se de amores por Uberaba ,aqui “sentou praça”e nunca mais saiu.Até morrer !

De megafone em punho,tradição por ele ostentada,voz rouca e cansada pelos pileques a madrugada,como fazia,costumeiramente, em jogos do Uberaba,gritava a plenos pulmões:- “Hoje tem Uberaba no “Uberabão”.Tem zebu comendo o Peixão(apelido do Santos)”.A rima, as vezes “quebrada” era a que ele mais gostava...Foi nada não.Ao passar pela torcida do Santos,desfilando sua propaganda”Hoje tem Uberaba...” foi a gota d’água.Furiosos,torcedores santistas partiram pra cima do indefeso “Fumanchu”, aos socos,pontapés e empurrões.

A revolta no “Buraco a Onça”,foi instantânea.Walter Bruce Fonseca,advogado conceituado no nosso foro,interveio,pedindo calma aos santistas.Ao dialogar,ganhou uma estrepitosa vaia.A “fala” mais bonita que ouviu foi:”vai à puta que pariu!”. Bruce, encostou na parede do antigo Banco Real,mangas arregaçadas,lançou o ultimato:-“Vagabundos,façam fila que vou bater em cada um de vocês”.Sem se intimidarem,os santistas partiram prá cima do então jovem, Bruce.A surpresa veio na hora.Um a um, foram, ficando pela calçada, devido as “pancadas” do nosso herói.Muitos sangrando, foram se afastando..eles não sabiam que Walter Bruce, moço,foi campeão de judô...Até hoje, vivo e são, conta a história.-“Bati nuns 15 torcedores, até que a Policia chegasse”...

Sem ligar para o “rififi” que estava acontecendo,”Fumanchu” seguiu avenida afora, andando em cambaleio, anunciando”hoje tem futebol no Uberabão.O Uberaba vai comer o Peixão”...À tarde, no jogo, não deu outra.Vitória do Uberaba 4x1 ! e delírio da torcida e do “Fumanchu”...


Luiz Gonzaga de Oliveira

QUEM SOU EU ?

Quando se casaram,Odone,costureira por profissão,saía de uma tuberculose na pleura e 38 anos de idade. Segismundo, que todos conheciam como Dondico, trabalhador têxtil na fábrica de tecidos no povoado do Cassú,barranca do rio Uberaba,completara 34 anos.Odone, pela doença, nem pensava em casar-se.Dondico,solteiro de nove irmãos, era o esteio da família e cuidava dos pais, pobres e doentes.Flordalisa,casada com João “Catoco”,figura conhecida nas Mercês,afilhada de Odone e amiga de Dondico, virou o “anjo casamenteiro”. Dessa união,gerado no Cassú,vindo à luz,na rua Bento Ferreira,cá estou há 82 anos.Idade que não me avexo em revelar. Homens e mulheres vaidosos(as)evitam declarar idade.Prá que mentir idade?Aprendi e lhes digo:o tempo, grande parceiro,nos melhores momentos de aventura,me ensinou as coisas do futuro..

A cada momento que vivo no presente, considero sublime o meu valioso passado.Hoje, me pergunto:seria o que sou, se não tivesse vivido a experiência do passado ? Pensadores famosos escreveram “ o que seria do futuro,sem a perspectiva do passado?”Se não soubermos construir um bom futuro, como consertar um bom passado ? O passado é ápice de todas as etapas da vida. Vivenciá-la com proveito, tudo que o futuro possa propiciar, saiba revertê-lo num ato risonho e franco...

Filho único de um casal de semi-idosos,aprendi com eles, a conhecer histórias e estórias, principalmente da vida uberabense.Familias virtuosas e outras, nem tanto. De religião e religiosos, de homens pobres e figuras impuras, de ladrões, assassinos e “trambiqueiros”, de putas e virgens, uma percentagem maior de gente honesta, ilibada e trabalhadora.

Desde cedo,convivi,mercê a vocação que já em criança,me empolgou, a comunicação.Trabalho desde os 15 anos; inicio em alto falante de rua, o ASA(Abel dos Santos Anjo),depois rádio,jornal,revista, televisão. 67 anos de profissão e muita fé no que faço. Pia e cristãmente.Hoje, as redes sociais me empolga. Estou “banido” da mídia.Por ser autêntico ?..

O tempo tem sido pródigo comigo.Não me deu dinheiro,fortuna.Amizades ricas, família feliz, respeito da sociedade a terrinha?Muito me compraz.Ao colocar a cabeça no travesseiro, rezo para os amigos e perdôo os que me desejam mal.Folheando as páginas da minha existência,modesta,felizmente,quero sempre renovar o meu passado,o baú da minha vida ,pedindo a Deus que os que procuram me ver,o façam com bons olhos...Tenho um lema: do meu futuro cuida o inexorável destino ; do meu passado, cuido eu ...

Amo de paixão,minha terra-mãe.Propostas de trabalho fora da terrinha,até hoje.Pacto ou não,um grupo de jornalistas(Ataliba Guaritá Neto(Netinho),Raul Jardim,Ramon Rodrigues,Jorge e Farah Zaidan ,Geraldo Barbosa),rejeitou todos os convites.O acendrado amor a Uberaba,não os deixou partir.Os cavalos passavam arreados, sem que nos déssemos conta e desejo de montá-los...Último dos moicanos?Talvez...

O tempo sempre foi meu grande aliado,embora maltratasse o corpo, alquebrado pelos anos. As rugas que fizeram ruas e avenidas pelo meu rosto,caminho da nossa velha existência, os cabelos brancos, insistam em aumentar.Mas, o que vale para a eternidade , é a alma/espírito.Ela não enruga jamais,não nos coloca no cadafalso e nem se importa com a cor dos cabelos. A alma/espírito, não envelhece! Nunca !

Tancredo Neves,eleito Presidente da República,foi taxado de “velho”.O excelente humor que o acompanhava,respondeu ,de pronto, que não se preocupassem com a sua idade( 76 anos) e disse uma frase lapidar:- “Churchill,aos 71 anos,venceu uma guerra para a Humanidade, enquanto Nero, aos 27 anos, incendiou Roma “...

Enquanto vida e força tiver,estarei lembrando de “memória, histórias e causos de Uberaba-bão”. Vocês alimentam o meu trabalho.

Luiz Gonzaga de Oliveira

O ASSALTO

A “evolução de 64”, estava no auge. Prisões, “caça às bruxas”, fugas, perda de mandato e o” escambau”. Quase em 69, veio o famigerado”Ato Institucional-no.5”, o célebre A.I-5, temido,substituindo, por largo período,a nossa combalida democracia vigiada. Perda de liberdades individuais, supressão do habeas-corpus”, fechamento do Congresso, prisões por todas as partes do País .Instalou-se um verdadeiro pânico no território nacional.

Os jovens, principalmente os alinhados com UNE- União Nacional dos Estudantes-, rebelou-se de vez. Aliados aos comunistas e ou adeptos da doutrina, partiram para as escaramuças, os atentados às repartições públicas, as expropriações ( roubos para arrecadar dinheiro para a “resistência”...), assaltos a bancos e o terrorismo campeando pelo Brasil afora...

Uberaba,por um grupo dito “socialista”, aderiu ao movimento. A imprensa amordaçada, os “agentes da repressão” atentos, esses jovens da terrinha (comunistas? Sei lá...)reuniam-se, clandestinamente, visando uma “ação contra-revolucionária”...Meia dúzia de moças e rapazes, sob o comando de um conhecido empresário local, tido como ideais socialistas, faziam “ponto”, ou “aparelho?” na sua chácara. Além do manjado proselitismo marxista, começaram planejar um grande assalto “a um estabelecimento bancário da cidade”. Visava à obtenção de recursos para a “grande causa por que lutavam”...

De comparsas ( ou “companheiros?”) de outras regiões, receberam armas e munições.A chegada de grande carga de bananas de dinamite, foi motivo de grande alegria para os jovens...O objetivo traçado estava definido:- “ com o apoio de um “colega” que trabalhava no Banco, tomariam de assalto o cofre forte e teriam o dinheiro suficiente para prosseguir nas ações expropriatórias”, diziam todos em voz uníssona.

Tudo preparado,chegou o “grande dia”.Trajeto traçado,condução preparada, mapa pronto, as armas nas mãos de cada participante; era apenas aguardar o encerramento do expediente bancário para que a ação fosse desencadeada.Todos a postos,embora nervosos, o “deslocamento” do grupo definido após o assalto, as bananas de dinamite “ no ponto”, o local previamente estudado e o roteiro da “fuga”, desenhado...

Ansiosos, esperaram pelo “sinal” do “companheiro’ na parte interna do banco. Seis e meia e nada do “sinal”.Com o coração na garganta,continuavam esperando.Sete horas ! Nada ! Sete e meia ! Também não ! Ás oito da noite, desistiram da “ação”.Retornaram,frustrados, ao sitio do “comandante”. Decepcionados, “fulos” da vida, aguardaram a chegada do “companheiro bancário”. Em vão.

No outro dia, a noticia:o bancário fora preso ao final da tarde prevista para o assalto...As reuniões clandestinas não mais aconteceram, o “grupo” esfacelou-se a terrinha, felizmente, não assistiu a “expropriação”de um banco e os nossos jovens idealistas não foram presos...

Conto o “milagre”, mas não conto os “santos”,pois,alguns deles estão vivos.. dever de oficio de um veterano jornalista que soube do episódio naquele tempo e só agora, faz a revelação...


Luiz Gonzaga de Oliveira                                             

OS TEMPOS SÃO OUTROS...

Os leitores perceberam que, quando conto “ estórias e histórias da nossa Uberaba-bão”, não me preocupo com datas. Lembro, mais ou menos, o ano do fato focado. Nada mais. Se fosse me ater em coletar datas, dias e meses, acabaria incorrendo em erros palmares. A proposta dos meus “causos” não é dar “datas” e sim, relembrar fatos.

A primavera, a cada que passa,está mais quente, bem mais tórrida, mostrando o pleno calor do verão.Hoje, confesso-lhes, estou suando em “bicas”.Antigamente, dizíamos “ primavera- estação das flores !”, etc. etc.Agora, as flores aparecem em qualquer época do ano...Pudera ! A quantidade de adubos, agrotóxicos, fertilizantes, provocadores e agentes da natureza que existem, difícil se torna distinguir s as estações do ano. Em outro tempos, verão era verão, primavera era primavera, outono, outono e inverno era inverno...Ah! hoje, está tudo mudado!...

Dizem os mais antigos, que depois que o homem foi à Lua (será?), satélites de todos os tamanhos, redondos, quadrados,elicoidais, rodando, rondando,passeando pela abóboda celeste, “discos-voadores” ( alô,César Vanucci !)sendo avistados e contactados em todas as partes do globo, não há mais estações nesse nosso ínfimo planeta...Está tudo “virado”...

Teimosamente, volto à primavera, estação das flores...Até por volta de 1970, do século passado, pululavam as festas alegres de uma juventude super animada.O Jockey Club, de tantas tradições, nessa época, realizava uma das mais badaladas festas do seu calendário social, o “Baile da Primavera”, tão aguardado pela mocidade.Escolha da rainha, das princesas, da “glamour”, ouriçando as moçoilas jockeanas...Orquestra do Rosseti, salão ornamentado, os homens devidamente trajados, paletós e gravatas;as meninas se esmeravam em bem vestir..Era uma festa bonita, ninguém entrava no baile com calça rasgada no joelho, saiinha mostrando a bunda...nada ! Era puro “charme!”. A rapaziada de tênis “furado”, calça apertadinha...qual o quê! A elegância entre os jovens , era de causar inveja “...

O diretor social, o saudoso Laerte Borges, escolhia, “à dedo” os diretores do clube que iriam compor o júri para a escolha a “rainha”.A coluna”Observatório” do “Galileu”(Netinho Guaritá), era super esperada na segunda-feira... Tempos e estações que já se foram...

O Sírio-libanês, não ficava nada devendo ao Jockey.Michel Abud,entusiasmo que só ele tinha, esmerava,desde a decoração do clube, até a escolha das “turquinhas” que iriam concorrer ao título de “mais bela da colônia”...era um desfilar de tanta menina que nem ouso citar ou lembrar nomes...Hoje, todas casadas, são vovós requisitadas.

O Paulo Silva, através a sua coluna social no “Correio Católico”, dominava a região. Promovia a festa “Brotos do Ano”, repetida em cidades do Triângulo. Cada cidade que recebia o concurso, o sucesso era comentado por semanas e semanas, pois era o acontecimento social do ano...

O Uberaba Tênis, não ficava atrás. Quem não era sócio do Jockey ou do Sírio, promovia o seu chamado “Grande Baile da Primavera” e a escolha da “soberana” que iria”reinar” até na outra primavera...Na Associação Esportiva e Cultural, a festa também não era menor...

Hoje, lamentavelmente, a primavera para a juventude ,nem é lembrada como estação do ano.As outras,verão,outono e inverno, passam despercebidas. Festas? Acontecem todos os dias, de segunda à segunda , a qualquer hora e não importa o lugar .Com “jeans” rasgadas na coxa e no joelho e camiseta com o sovaco de fora...Não se faz mais primavera como antigamente....

Luiz Gonzaga de Oliveira

O POLÍTICO “NENÊ MAMÁ”...

Waldomiro Campos, o eterno “Nenê Mamá”,figura folclórica do esporte uberabense, era de uma fidelidade canina aos seus amigos.”Amigo meu não tem defeito”,dizia.Em antiga eleição,atendendo pedido do seu fraternal amigo,Artur Teixeira,candidato à prefeito de Uberaba,”entrou de corpo e alma” na campanha eleitoral do Partido Social Democrático,o PSD “véio de guerra”,segundo o saudoso Álvaro Barra Pontes.Distribuia planfetos,visitava amigos e fazia discurso em cima de caixote em qualquer lugar onde juntasse um”tiquinho” de gente.

João Adalberto de Andrade e Waldomiro Campos, o eterno “Nenê Mamá”

A campanha eleitoral na terrinha,”pegava fogo”.Celso Rodrigues da Cunha,pela UDN, Jorge Furtado,pelo PTB,disputavam com Artur,palmo a palmo a preferência do eleitorado local.Campanha acirrada,xingatório por todos os lados,denúncia de cá, revide de lá, “coisas”,aliás, próprias das disputas políticas desde antanho.Uberaba tinha na ocasião,perto 50.000 eleitores, se tanto.A tradição familiar de um grupo da UDN, o discurso progressista do PTB e a”maneira mineira” do PSD, davam a tônica da campanha.

Oradores brilhantes faziam a festa nos palanques.Desde a “fala erudita” dos partidários da UDN,passando pelo tom agressivo dos trabalhistas ,ao discurso moderador pessedista.Dr.José Humberto,Celso Rodrigues a Cunha,Amilcar Decina,Ataliba Guaritá Neto,eram as “estrelas” udenistas.MárioPalmério,Hélio Angotti,Ivo Monti,Jorge Furtado,pontificavam entre os petebistas.Porém, o “time organizado”era o das velhas raposas pessedistas...

Final de campanha,um grande comício foi anunciado pelo PSD,para o “Abadião”,naquela época, o mais carente da cidade.Poucas ruas calçadas, esgoto à céu aberto, iluminação precária,água de cisterna e o” falta tudo”de uma periferia urbana. O PSD, em peso,no caminhão.Artur Teixeira,Dr.Bilharinho,Bolão,Nagib Cecilio,Lauro Fontoura,”Coronel” Ranulfo Borges,João Henrique,Jão Laterza e outros “caciques” do partido. A praça,sem calçamento,apinhada de gente.

Os primeiros a discursar são sempre os candidatos à vereador.Entre eles, “Nenê Mamá”,que,para ajudar o amigo Artur Teixeira,aceitara o sacrifício de candidatar-se.Treis ou quatro candidatos, o antecederam. Quando Aráudio Pereira Melo,o saudoso e sempre simpático”Xim”,locutor oficial dos comícios do PSD,preparava para anunciá-lo, Nenê,cochicou no ouvido do amigo:

-“Capricha na minha apresentação,Xim, olha que somos parceiros no Uberaba Sport”...

“Xim”,caprichou.Falou do “grande desportista”, uberabense por adoção,do amor que dedicava ao clube querido da cidade,o amigo de todas as horas” e outros adjetivos mais. Muito aplaudido, “Nenê Mamá” começou o seu discurso:

-“Povo querido do meu bairro da Abadia!Quero ajudar a acabar com o sofrimento de vocês !Vou fazer algumas perguntas e quero respostas sinceras dos meus amados eleitores:

-“Vocês tem água encanada nas suas casas ?

O povão a uma só voz: Não !

-“Vocês tem energia elétrica para iluminar suas casas?”

O povão: Não

-“Tem rua calçada por aqui ?”

A mesma resposta dos moradores: Não !

-“Vocês tem rede de esgoto nas suas casas ?”

Outra resposta negativa dos populares:Não !

Aí “Nenê Mamá” não agüentou e soltou a frase mais lapidar da sua curta vida política:

-“ Com essa falta de tudo, porque “oceis” “num muda daqui, cambada ?”

Na mesma hora,a turma do PSD, retirou a candidatura de “Nenê”,pois, se continuasse,Artur Teixeira não seria eleito prefeito de Uberaba.....Coisas da política..


Luiz Gonzaga de Oliveira