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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

MÁ ESCOLHA

Conversando domingo no zap com uma amiga, surgiu uma conversa sobre a escolha do nome do filho de outra amiga dela. A amiga estava indecisa entre Salomão e Joaquim.

Quando ela me perguntou o que eu achava, optei por Salomão e imediatamente me veio a lembrança de um fato acontecido com um “cambista” cego que se chamava Salomão.

Cambista é um vendedor ambulante de loterias e naquela época - década de 80 – sem a inclusão que existe hoje, as oportunidades para um cego trabalhar eram pouquíssimas e uma dessas atividades consistia justamente em ser vendedor ambulante de bilhetes ou “cambista”, como são chamados.

Grande parte dos cegos adultos internados no Instituto dos cegos de Uberaba trabalhavam como cambistas na nossa loteria, comprando os bilhetes com algum deságio e revendendo-os por um preço acima do estampado na face dos mesmos, auferindo assim um bom rendimento semanal.

Me recordo ainda de alguns deles, tais como o Inocêncio, jogador de truco, (isso mesmo; jogava com amigos no Bar do Lara com baralho em Braile) que vendeu o bilhete Nº 00389 premiado com o primeiro prêmio em um sorteio de fim de ano.

O Antônio Marcos que volta e meia era atropelado, o Darcy e o Zé Augusto que vendiam seus bilhetes nas cidades vizinhas do estado de São Paulo, e o Pula-pula, que não é cego, porem deficiente e que até hoje vende seus bilhetes na porta do Banco do Brasil.

Além desses, tinha um cambista do Abelzinho Toledo, cego também e que foi namorado de uma amiga da minha esposa. Consta que esse tal era muito paquerador e mesmo namorando, se engraçava com outras mulheres; porem dadas as dificuldades de esconder as escapadas em virtude de não saber se a namorada ou alguma amiga dela estivesse no barzinho do encontro com a “filial”, foi flagrado pela “matriz” em uma dessas escapadas furtivas, onde levou, além do fora das duas, uma descompostura monumental. Da matriz e da filial.

Voltando ao Salomão, ele era um dos bons vendedores de bilhetes, vendendo mais de cinquenta bilhetes inteiros por extração, porem às vezes não conseguia vende-los todos e quando isso acontecia era obrigado a concorrer com as sobras, que normalmente, seguindo a Lei de Murphy, raramente eram premiados.

Os bilhetes mais fáceis de vender eram os bichos chamados de “escolhidos”, tais como Cobra, Borboleta e Vaca, e os piores eram Avestruz, Veado, Peru, nessa ordem. As extrações, como é ainda hoje, aconteciam às Quartas-Feiras e Sábados e o grande prêmio era para quem comprasse a quina fechada (que consistia em cinco bilhetes com o mesmo número) e acertasse o numero correspondente ao primeiro prêmio.

Pois bem, em um sábado bem já de tardinha, perto da hora de correr a extração, o Salomão estava amargando um encalhe de duas quinas, ou seja, dez bilhetes, e para piorar, duas quinas do mesmo bicho, justamente o bicho que ninguém comprava. 

As duas quinas eram do bicho “Avestruz”; uma com o final 04 e a outra com o final 01 (a pior delas para vender).

Já desanimado, subindo a Rua Padre Zeferino, rumando para a pensão da Serginha e do Emílio, na Martim Francisco ao lado da “Farmácia do Babá”, onde morava também a Núbia de Oliveira, parou em frente ao consultório do meu amigo dentista Além Mar Paranhos, que era a sua última esperança de desencalhar pelo menos uma das quinas.

Do alpendre do consultório ele gritou o “Mazinho” (apelido do Alem Mar) que saiu na porta e depois de alguma negociação o Mazinho combinou que pagava na lista, isto é: depois que o Salomão levasse a lista com os resultados e conferissem. Era comum esse procedimento.
Fechada a negociação o Mazinho não quis ficar com as duas quinas e passou para a fase de escolher a quina com a qual concorreria.

Quando olhou as duas Avestruzes, o Alem Mar fez cara feia, mas como já tinha combinado, escolheu os bilhetes terminados em 04 e voltou para seus afazeres no consultório.

Meio aliviado por ter diminuído o prejuízo, o Salomão atravessou a rua batendo a bengala no meio fio e assim que subiu na calçada, uma caminhonete encostou ao seu lado e o motorista perguntou para o Salomão se ele ainda tinha bilhete para o sorteio da tarde.

Ele assentiu e o freguês perguntou:

-Tem Avestruz? Quero uma quina do Avestruz com o final 01!!!!

O Salomão pensou: meu Deus, é muita sorte!

Seguindo a lei de mercado, tendo procura, aumenta-se o preço e o Salomão vendeu a quina com um belo ágio, e foi feliz bebericar uma cerveja no “Cacique”, onde ficou até tarde da noite.

Chegando na pensão, o Emílio abre a porta para ele e diz que o Mazinho o esteve procurando e como ele não estava, resolveu deixar uns bilhetes para que o Emílio lhe entregasse.

A Serginha ao lado comentou que o Mazinho estava com cara de desolado e pediu ao entregar os bilhetes para que dessem os parabéns pra ele, que ele merecia.

- Deu o final, pensou o Salomão, sendo assim o bilhete havia sido premiado com o mesmo dinheiro que custou e a dívida estava quitada.


Mas parabéns por que? O Salomão ficou sem saber até no outro dia quando os dois se encontraram na missa da igreja São Domingos.


Explico: a quina terminada com o final 01 foi contemplado com o primeiro prêmio daquele sábado e o Mazinho achava que o Salomão não conseguira vender os bilhetes, tendo por consequência ganhado a bolada e ficado rico.

Foi isso que havia acontecido.
Rezaram e choraram bastante juntos.


Marcelo Caparelli

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

JOAQUIM DOS SANTOS MARTINS - A SAGA DOS MARTINS

Em 1909, a família de Manoel Maria Martins, fugindo da miséria reinante em grande parte de Portugal, escolheu o Brasil como porta da esperança de uma nova vida. O vasto oceano em que navegava só não era maior do que a saudade do que ficava.

Quando Manoel Maria desembarcou no Rio de Janeiro, tinha apenas 13 anos. Todavia, dotado de grande talento para negócios, aos 20 anos já era importador de gado holandês para revenda em Minas Gerais.

Em Guaxupé, se casou com Cândida Ribeiro do Vale, herdeira de uma das mais tradicionais famílias de cafeicultores da região. Desta união nasceram Joaquim, Luiz, José, Maria Delfina, César Sebastião e Manoel.
Joaquim Martins - Foto/Divulgação.

Manoel Maria era o próprio símbolo do empreendedorismo. Sempre dizia que dinheiro mal ganho, é dinheiro malgasto.

Durante a 2ª guerra mundial comprou um navio inteiro de sal para suprir demandas impostas pelas dificuldades de época. Em Guaxupé implantou uma indústria de beneficiamento de café, garantindo o abastecimento com pagamento antecipado de colheitas cafeicultores. Em São Paulo construiu dois supermercados e um cinema no bairro do Ipiranga.

Em 1961 chega à Uberaba acompanhado da esposa e dos filhos, José, Maria Delfina e César Sebastião.

Joaquim, o filho mais velho já se encontrava em Uberaba quando Manoel Maria adquiriu o controle da SOMIL, concessionária de veículos Volkswagen, localizada na Av. Fernando Costa.

Fundada em 1959 por Silvio Mendonça, a revenda muda o nome em 1961 para “DISTRIVE”.

Os filhos, por sua vez, se lançam nas atividades comerciais, criando raízes na cidade.

José Ribeiro Martins, cafeicultor em Guaxupé, co-fundador do Lions Uberaba, diretor da ACIU, pescador e amante da música sertaneja, criou uma empresa de móveis e uma revenda de gás na rua Artur Machado que o tornou mais conhecido como “Zé do Gás”.

Casado com Orminda Ribeiro do Vale, viu sua família se consolidar com o nascimento dos filhos José (Zezinho), Inês, Marisa, Marília e Ana Lia.

Maria Delfina ampliou o número de netos de Manoel Maria com as meninas Maria Cândida e Lúcia.

César Sebastião Martins, casado em segundas núpcias com Kely Rosa, por muitos anos foi diretor de outra distribuidora de carros – DISAUTO - do grupo da família, localizada na confluência das Avenidas Leopoldino de Oliveira com a Santos Dumont. Foi também cafeicultor e produtor de semente de soja. Atualmente é produtor de cana-de-açúcar.

Associativista por natureza, César Sebastião assumiu a presidência da ACIU nos anos 1990/1991. Em uma gestão profícua, entre outras atividades, criou o Balcão de Negócios. Em sua gestão a Faculdade de Ciências Econômicas se transferiu para o novo Campus. Foi o primeiro presidente a admitir mulheres em sua diretoria.

De seus dois filhos do seu primeiro casamento, apenas Letícia sobreviveu.

Joaquim dos Santos Martins, nos primeiros anos em Uberaba, associou-se aos irmãos Morethson – Caio e Audley – na Casa das Máquinas, estabelecida na rua Artur Machado, esquina com a Avenida Getúlio Vargas.

Com o falecimento do pai, Joaquim assumiu a direção da DISTRIVE que, ao longo do tempo, se transformou na empresa líder em vendas de veículos da cidade e da região.

Sempre contou com o apoio do tio Alfredo, irmão e sócio de Manoel Maria em uma concessionária de veículos em São Paulo.

Empreendedor nato, Joaquim, que herdou o pendor do pai para os negócios, se lançou como empresário em vários segmentos da economia de Uberaba e região.

Em 1968 nos tornamos sócios através da empresa de reflorestamento TRIFLORA e percorremos o mesmo caminho por cerca de trinta anos deixando pelos caminhos da vida, um bom rastro de empresas.

São destaques deste tempo, entre outras, a fábrica de plásticos, PLASTIMINAS, indústria de balas ORIENTE, indústrias de Óleos Essenciais, fazenda de gado leiteiro – SINOS DE BELÉM, a “TRIFLORA TRATORES” em Paracatu, a “MINASFLORA”, a CONSTRUTORA CHAPADÃO, as fazendas com lavouras de café, soja e arroz, indústria de madeiras MINASPLAC (DURATEX), em sociedade com José Alencar Gomes da Silva, carvoeiras, loteamentos urbanos e o JORNAL DA MANHÃ, do qual foi Presidente por dez anos, tendo ao seu lado o Diretor Tesoureiro Edson Prata e Gilberto Rezende como Diretor Administrativo.

Além de participar da administração das inúmeras empresas correlatas ao Reflorestamento como a AGROMEC, TERRA, AGRO-INDÚSTRIA TRIÂNGULO, UBERFLORA, PLANTIL e FLORYL, (associada à SHELL), Joaquim encontrava tempo para adquirir e plantar diversas fazendas desta região, transformando os “MARTINS” num dos maiores produtores de soja e milho de Minas Gerais, ao lado das expressões do agronegócio como os Guidi, Fuzaro, Detoni e outros.

Esparramou suas raízes através de seu casamento com Ivonete Cortes Martins, (hoje com 95 anos), gerando os filhos Paulo Tadeu, André e Loló, da terceira geração.

Paulo Tadeu, o mais velho, casado com Sandra Mendes Martins, médico e empresário através da criação da “CRU”- Clínica Radiológica de Uberaba, passou a se dedicar posteriormente à produção de cana-de-açúcar. Foi ele que deu início à 4ª geração dos Martins com o filho Fernando e as filhas Paula e Mônica.

André Martins, casado com Cristina Duarte Martins, é o Diretor Presidente da DISTRIVE e implantou uma rede de Postos de Combustíveis. Joaquim Neto, André Filho e Marcela são os seus filhos que já transformaram o pai em avô.

Loló, casada com Cláudio de Castro Cunha, agricultor e pecuarista, é mãe de três filhas -Andreia, Silvia e Manuela – e avó de três netos.

Fernando, produtor rural é o filho mais velho de Paulo Tadeu, e o responsável pelo início da 5ª geração, com seus cinco filhos – Maria, Pedro, José, Tereza e Francisco.

Esta é a saga de uma família de imigrantes que, em pouco mais de 100 anos, deixa exemplos de trabalho para as futuras gerações.

É a história de pessoas determinadas que o destino trouxe para Uberaba a 57 anos e que desde estão vêm contribuindo para reforçar os pilares de nossa economia.

Maria Delfina, José e Joaquim já faleceram. Os dois irmãos, por coincidência, no mesmo ano, em 2003. Por uma fatalidade, Paulo Tadeu, filho mais velho de Joaquim, veio a falecer em 2019.

O que não pode morrer é a o exemplo dado pelos que são hoje, apenas saudades. Há que se registrar o amor e o apego à família. Da garra dedicada ao trabalho em prol da comunidade.

Falta erigir um marco que possa resgatar esta memória. Eles fizeram a sua parte. Cabe a nós fazer a nossa.

Gilberto de Andrade Rezende – Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-Presidente da ACIU e do CIGRA e ex-diretor do Grupo TRIFLORA.



Cidade de Uberaba