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domingo, 20 de fevereiro de 2022

PERDI MINHA NAMORADA

Foi um namoro longo, terno e apaixonado, constante, perseverante, fiel, sincero e construído com muito carinho. Quando começou? Quando nasci. Portanto ela foi a minha primeira namorada e eterna namorada.
Certa vez fiz uma crônica sobre minhas quatro namoradas. Ela ficou toda orgulhosa de ter sido citada em primeiro lugar. E as namoradas – com a chegada das netas – têm aumentado. Mas a Marqueza, - como carinhosamente a chamávamos desde os tempos de meu pai, devido ao seu sobrenome Marquez – sempre aceitou o namoro do filho único que passou a ocupar, na sua viuvez, o coração inteiro da mulher amada.

 Niza Marquez Guaritá com seu
 bisneto Marcelo (Foto álbum de família)

Apesar de tê-la amado muito, fiquei em dívida. Fiquei devendo muito na conta-corrente de nossas vidas. Ela me amou muito mais. O amor de mãe, infinitamente maior. O carinho de mãe, a proteção de mãe, a orientação de mãe – os degraus da escada que subi para chegar onde cheguei. Sem ela teria tropeçado no meio do caminho...
E agora? Vivo das imagens que nunca vão desaparecer. Viverei da saudade que não morre. Saudade de vê-la na janela de sua casa, aguardando meu carro, vigiando meus passos, escondendo o rosto para não ser vista e mostrar-se surpresa quando entrava em sua casa para o beijo diário e pontual. Saudade do seu telefonema todas as manhãs aqui na redação, para saber como passei a noite... Saudade do café na hora certa, do “encontro combinado pelo rádio... minha primeira namorada, minha eterna namorada... vamos acertar nossos relógios, velhinha bonita e elegante com seus 86 anos amando e sendo amada”.
Perdi a namorada. Mas não perdi o amor. O amor que ela me deu sempre, o amor que ela pediu e recebeu até o último dia, um domingo de mãos dadas para ver televisão e torcer no futebol... Já escolhi a frase para a estampa com sua foto:

MARQUEZA,
só a nossa saudade
será maior do que você.
Ataliba Guaritá Neto

(Observatório – Lavoura e Comércio, 7/8/1988)