Foto da década de 1970, de autoria desconhecida. O Bar Restaurante Pulenta, de propriedade de Jerônimo Beninato, apelido Pulenta, e sua esposa Dona Iolanda, ficava na esquina das ruas Padre Zeferino e João Pinheiro.
Bar e restaurante Pulenta. Foto: Autoria desconhecida. Década de 70.
Aos sábados e domingos, o movimento era intenso: o restaurante enchia rapidamente, e muitos fregueses corriam para garantir uma mesa. As filas eram enormes. O frango era abatido no próprio local e preparado de diferentes formas: frango ao molho pardo, frango assado com farofa, polenta frita, além das famosas coxinhas de frango.
O velho “Pulenta”, sempre gordo e bem-humorado, costumava ficar sentado perto da porta, ora de braços cruzados, ora com o braço apoiado sobre a mesa, aguardando os fregueses. Quando demorava a ajudar nas tarefas, Dona Iolanda não hesitava em "puxar-lhe a orelha" para que colaborasse. O frango, sempre caipira, era assado na brasa, o que garantia o sabor inesquecível.
Um detalhe marcante era o tambor cilíndrico verde, cortado ao meio e fixado na parede, com dois compartimentos. Ele ligava a cozinha ao salão, sem que ninguém tivesse acesso visual. O pedido era escrito, colocado no tambor e girado para a cozinha. Logo a comida vinha de volta pelo mesmo sistema. Quando demorava, a cena se transformava em diversão: Dona Iolanda ou Pulenta ou garçons batiam no tambor para apressar o pedido, arrancando risos de todos. Até Dona Iolanda e o Pulenta às vezes chegavam a colocar a boca perto do tambor para “reclamar” ou pedir algo mais. Não à toa, várias partes do tambor estavam amassadas de tanto tapa que levava. Coitados dos cozinheiros e cozinheiras, que do outro lado recebiam essa “pressão” com bom humor.
No caixa, havia uma máquina registradora com manivela, e ao lado dela um baleiro giratório cheio de balas sortidas, que fascinava a criançada. Eu mesmo, ainda menino nos anos 1960, ficava encantado com aquele baleiro colorido.
As mesas estavam sempre cobertas com toalhas brancas impecáveis. As pessoas podiam comer no local ou levar as refeições para casa e até mesmo para clubes.
Ativando mais minhas memórias das décadas de 1960 e 1970, recordo que havia sempre um grupo de amigos que se reunia religiosamente nos fins de semana. Não falhavam: emendavam mesas e faziam do Pulenta o ponto certo de encontro e alegria.
O restaurante fechou, os proprietários e muitos funcionários já não estão mais entre nós. Mas o Pulenta permanece, não apenas na memória, mas no jeito de contar histórias, de rir alto à mesa, de lembrar do frango caipira e da polenta dourada que nunca faltava.
Era italiano no nome e na alma: simples, barulhento, acolhedor. Ali, Uberaba aprendia que comida boa não é só para matar a fome, é para juntar gente, reforçar amizades, fazer família.
O Pulenta era isso: mais que um restaurante, um pedaço de herança italiana servida em travessas de alumínio, regada a vinho, risadas fartas e muita conversa atravessada.
Hoje restam apenas lembranças, mas lembranças tão vivas que ainda exalam o cheiro da brasa, o sabor da polenta frita e a alegria das mesas cheias.
(Antônio Carlos Prata).
