terça-feira, 2 de julho de 2019

VIDA E MORTE DE JOÃO PEDRO

João Pedro, era um homem alegre, risonho e franco. Alfaiate de mão cheia, um dos preferidos pelos ricaços da terrinha, no tempo em que “ terno” era feito pelas mãos, tesoura e agulhas milagrosas de grandes profissionais. Hoje, a profissão está escasseando. As máquinas modernas se encarregam de confeccionar as roupas da moda. De repente, João Pedro, contente na sua tenda de trabalho, ouve o chamado de um amigo: -“Você seria um excelente Prefeito de Uberaba !”. João “bobo”, perdão, João Pedro, acreditou no “ canto da sereia”...

Inicio da década de 70 do século passado, Uberaba vivia um clima de esplendor! Nossa auto – estima, lá em cima “. Rosa Prata, o prefeito, canalizava os córregos do centro d cidade, a plástica urbana, linda. Inaugurava-se,”meia boca”, o “Uberabão”, com jogo da seleção tri- campeã do mundo; a TV-Uberaba, inaugurada, ruas e avenidas, eram asfaltadas, um novo Terminal Rodoviário, construído. A turma da ARENA 1, se deliciava na mais plena euforia!

-“Quem o Arnaldo indicar, pode mandar fazer o terno de posse”, afirmavam os amigos aos quão cantos da cidade. A ARENA, segundo o governador de Minas, Francelino Pereira, “ era o maior partido do Ocidente”. Só que tinha defecções na terrinha. Um grupo de empresários , tendo à frente Gilberto Rezende, Joaquim da “Distrive”, Marcelo Palmério, entre outros, não pensava assim. 

Meio “ na moita”, lançaram Hugo Rodrigues da Cunha, à enfrentar Fúlvio Fontoura, cujo pai, Lauro, houvera sido Prefeito em épocas passadas. Fúlvio, era o preferido da “situação” e do “Lavoura e Comércio”, o jornal mais tradicional da cidade. Os “manda-chuvas” não se incomodaram. “-Vamos dar uma surra neles”, apregoavam. Em 15 de novembro/72, abertas as urnas, Hugo, deu “ um banho de votos”, em Fúlvio. Eleitores da ARENA 2, gritavam nas ruas da cidade “ nunca menosprezem o adversário”...

O PMDB, coitado, esfacelado com a morte do seu principal líder, Chico Veludo, lançou João Pedro de Souza. Poucos amigos leais a ele e ao partido, o acompanharam. Meu respeito, caro Paulo Afonso Silveira... Na TV- Uberaba, pela primeira vez, o palanque eletrônico. Fulvio e Hugo, esmeraram-se nas produções televisivas. João Pedro, com a “ cara e a coragem”, varinha de bambu às mãos, mostrava com resolver o problema da falta d’água na cidade. Transportaria do rio Grande, o precioso líquido que iria abastecer a cidade.

Foi uma gozação generalizada.-“Só se for com cano de bambu”, diziam às gargalhadas o pessoal das ARENAS 1 e 2. –“Esse homem é louco. Tem que internar no hospício do dr.Inácio”, referiam-se ao Hospital Espirita... João Pedro, era de se esperar, não teve mil votos e virou motivo de chacota na cidade. Triste, aborrecido, com vergonha, viu seus falsos amigos sumirem. Endividado na campanha política, entrou na mais terrível das doenças, a depressão ! Não suportava tamanha difamação, desprezo, abandono. Por onde andava, só ouvia risos...

Um belo dia, a mirar-se nas águas do rio Grande, em cima da ponte de ferro que liga Minas- São Paulo, a tentação do demônio foi maior e invencível. João Pedro, num gesto tresloucado, se atirou nas águas caudalosas do grande rio, que queria abastecer as torneiras da terrinha . Sua morte, pouco comentada. Nem sei se é nome de rua em Uberaba. Nem missa de 7º. dia, foi celebrada. Anos depois, aqueles mesmo políticos que tanto menosprezaram a campanha de João Pedro, foram aos órgãos internacionais, pedindo empréstimos para trazer água do rio Grande para abastecer a nossa Uberaba. Triste ironia do destino, não ?...


Luiz Gonzaga de Oliveira

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