segunda-feira, 1 de julho de 2019

Maria Boneca e Chico Xavier

No início da década de 70, Chico Xavier saboreava um cafezinho em conhecido estabelecimento comercial, na Praça Rui Barbosa, em Uberaba, em companhia do Dr. Jarbas Varanda e de seu filho Luciano Varanda, quando eles percebem a aproximação de uma senhora, conhecida sob a alcunha de Maria Boneca, vivendo no clima de uma loucura pacífica, mas que chamava a atenção de toda a comunidade. Muitas pessoas a ridicularizavam e brincavam com sua insanidade, já que Maria Boneca retinha, entre os braços, uma boneca que considerava como filha.


Chico Xavier saboreando um cafezinho na praça Rui Barbosa.

Maria Boneca, ao perceber a presença de Chico no interior do estabelecimento afasta-se daqueles que a ridicularizam e dirige-se ao seu encontro. E, fato inusitado, ao se aproximar de Chico, ela recupera temporariamente sua lucidez e conversa com o Chico naturalmente, como se fossem grandes amigos. Ao se despedir, abraça o inesquecível amigo, beija-lhe as mãos e se afasta. Do lado de fora do estabelecimento, ela volta a ser a Maria Boneca de sempre, vivendo em suas próprias imagens mentais.

Chico, com toda a espontaneidade, relata ao Dr. Jarbas:
- Como somos abençoados, acabo de ser abraçado por uma rainha de França.

Algum tempo depois, o livro intitulado “Mãe” traz um poema do Espírito de Epiphanio Leite, em mensagem psicografado por Chico Xavier, retratando o drama de Maria Boneca cujo conteúdo retratamos abaixo:


MARIA BONECA

Epiphanio Leite



(Versos dedicados à dama feudal que abraçamos por devotada amiga, há três séculos, e que hoje expia, na via pública, sob a alcunha de Maria Boneca, o delito de haver exterminado o filho jovem que lhe estorvava a existência de irresponsabilidade e prazer.)


Reencontrei-te, por fim, esmolando na rua.
Nada recorda em ti a dama do castelo.
Lembro-me!... Dás à fossa o filho louro e belo.
Esqueces, gozas, ris... E a festa continua...

Depois, a morte vem... A memória recua...
Escutas em ti mesma o trágico libelo.
Choras, nasces de novo e trazes por flagelo
A sede de ser mãe que a demência acentua!...

Como dói ver-te agora os tristes olhos baços!
Guardas, louca de amor, um boneco nos braços.
Em torno, há quem te apupe a trilha merencória...

Mas bendize, senhora, a lei piedosa e austera.
Alguém vela por ti: o filho que te espera
E há-de levar-te aos Céus em cânticos de glória!...



Epifânio Leite de Albuquerque nasceu e morreu em Fortaleza, Ceará (1891-1942). Autor do livro de poesias “Escada de Jacó”, membro da Academia Cearense de Letras, foi juiz de Direito em Baturité, no mesmo Estado. 


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