segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

HISTÓRIAS DA REVOLUÇÃO/64

Ainda naquela dura e cruel “ caça aos comunistas” da santa terrinha, as reuniões clandestinas continuavam sendo realizadas. Uma chácara nos arredores do córrego do Lageado, era a “toca” dos descontentes com a “revolução”. Uberabenses dos mais variados segmentos da sociedade, advogados, empresários, comerciantes, bancários e uma grande dose de estudantes universitários. Infiltrados entre eles, “ um observador militar” que ninguém pudesse desconfiar da sua missão. Era o “cabo Anselmo” das reuniões...

Certa feita, quando se planejava uma “expropriação” (roubo ) da única agência do Banco do Brasil, na terrinha, a “ reunião” foi cercada por “ milicos” ( como eram chamados os militares), abortaram os preparativos da tentativa... Quase todos os participantes foram presos. Menos um, o “observador militar” que fugiu antes do cerco”. Passados muitos anos, regime militar chegando ao fim, estudantes que se tornaram profissionais, empresários falecidos e outros participantes, “ fora de combate”, num encontro social, lá estávamos nós, o jornalista que conhecia a história e o militar, cuja patente era bem alta. “Papo” vai, “papo vem”, depois de seguidos uísques, na ousadia, perguntei-lhe como conseguiu fugir daquela terrível noite !...

-“O senhor foi o único que escapou!”, perguntei-lhe. Ele, mais que depressa, foi rápido no gatilho e não deixou por menos:- “Meu filho, nunca mais repita essa pergunta tão tola! Um bom militar como eu, não foge à luta. Apenas naquele dia, bati em retirada, entendeu ?” Mudamos de assunto e continuamos “ uiscando”...

Outro episódio daqueles tempos, me aflora à memória. Dois comerciantes conceituados na terrinha, pais de família, altamente caridosos, Euclides Brandão e “Babá da Farmácia”, com suspeitas de “ comunistas”, foram presos, vítimas da sanha dos “dedo-duros” da revolução. As famílias, perplexas com a arbitrariedade cometida, procuraram o mais famoso advogado de Uberaba e um dos mais conceituados de Minas, dr.Aristides Cunha Campos. Explicações de praxe, nervoso com a situação dos amigos, dr. Aristides, preparava a procuração à defesa dos presos. – “ Quem vai assinar a procuração? “ perguntou a um dos filhos de Euclides.

-“Eu!”, respondeu o mais velho.- “ O seu nome, por favor!”
-“Lenine !” falou alto e bom som.

-“Ah! meu filho, com esse nome, seu pai não sai da cadeia, tão cedo !...”respondeu o advogado. O outro filho, o saudoso Aristides Cunha Campos assinou a procuração...

Naquela tarde, Euclides Brandão estava em casa com a família e o “Babá da Farmácia”, foi no “vácuo” e também liberado da prisão...

Fatos verídicos acontecidos há 55 anos na sagrada terrinha . Bom inicio de semana. “Marquez do Cassú”.


Luiz Gonzaga de Oliveira


Cidade de Uberaba