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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SÓ QUEM VIVEU NO ABADIA SABE DO QUE ESTOU FALANDO


Agosto era o mês dos talentos. O som da festa da Abadia ficava a cargo de Abel dos Santos Anjo com seu serviço de alto-falantes, A.S.A., até por volta de 1952, passando daí a ser por conta de Tibúrcio dos Santos, com equipamento próprio da Paróquia. A geografia do bairro era interessante, e como era! Os nomes das ruas eram conhecidos pelas famílias. Assim, a Rodolfo Lírio – que antes se chamava Nunes Machado, era a rua do José Schiafino, da Branca do Simão, do Neném Farnesi, além dos que foram citados no artigo de Vera Dias, no agosto passado. A José de Alencar era a rua do Geraldo Bahia, da Venda do Buchinho, do João Doceiro, da Eliza dos Cachorros, da Venda do Ritirinho, da Bita do Oty Barão, do Jaime Pipoqueiro, do Alceu Guarda e dos Tonelli. Atividades financeiras e costumes dos moradores viravam sobrenome.

 O entorno da Praça da Abadia abrigava os inesquecíveis Braga, os Olegário (Ademar e Argemiro), os Modesto com Maura e seus irmãos, os Lemos da Carolina, Vicente, Téo e Bruno, o João Ezequiel com sua “Venda” e, ao fundo da Igreja, bem atrás da Santa, ficava o Grupo Escolar América e mais a morada dos Mendonça, já na linha da Campos Sales. A Getúlio Guaritá juntamente com a Castro Alves, foi palco de pioneirismo comercial com a instalação da primeira farmácia do bairro, a Santa Cecília, de Samuel Ribeiro e, no prolongamento da primeira, o Chico Carcereiro, a família da ex-primeira-dama Izabel do Nascimento, os Macedo, o Ico da Alvina, os Damas, o boteco do Gersino e até o movimento boêmio da Nair Campos que servia como referência para identificação da rua. Na Castro Alves havia os Veludo, os Nascimento, os Amâncio, a Fábrica do Caseca, o Jaime Fiscal, o Nenê do Clarindo e a Venda do Pikiu.

 Na Constituição, os Cunha da Farinha de Mandioca, os Nogueira e o Friacinha motorista de Táxi. Na Prudente de Morais, o Manoelzinho dos Santos, os Cruz, as vendas do Militino e do Sílvio Maia, indo a referida rua terminar na Fazenda do Antônio Alves Pinto, onde hoje é o frigorífico. Na Frei Paulino, o Necrotério, a Escola da Maria Catarina, a Escola de Enfermagem onde hoje está o Hospital São Domingos, o José Delfino e os Almeida. Na Capitão Domingos que ia terminar na Chácara da Dona Tomásia, os Sabino de Freitas, o Antônio Alberto no prédio que hoje abriga um comando da PM e mais, os Mariano de Almeida, a venda do Advan, os Delalíbera, os Rossi, os Vinagre, os Soares, os Fantoma, os Marega, os Helói, os Calegari e o João Minhoca. A Benjamin Constant era a Rua do Misseno, do Porfírio Castrador de Porcos, do Belmiro e, mais tarde dos Meneghello e da Dona Tuta com suas nove filhas que eram conhecidas como as nove irmãs.

 A Visconde do Abaeté iniciava-se com os Sales, o Zé da Pinga Garotinha, a chácara do Antônio Alberto e o Altino Padeiro. Na Vigário Carlos moravam os Roel Pintores. A Conde de Prados era a da Farmácia do Durval (provavelmente a segunda instalada no bairro), além dos Colmanetti e dos Zucarelli. A Barão da Ponte Alta tinha o seu destaque pelas Indústrias Reyna e a professora Elza Lima com seu irmão José, referência em coleção de discos. A Patrocínio teve sua peculiaridade com duas famílias que foram possivelmente seus primeiros habitantes: Rômulo Rocha e Conrado Vitorino Moreira que ainda contam com seus sucessores ali residindo.

 Depois foram seguidos dos Fortes e da Dona Ondina, além dos Severino, com Chico Bolacha e seu filhos Prego e Vicente Tachinha. Para a Campos Sales, o destaque era o Estádio do Sobradinho – Campo do Atlético – que ficava frente ao sobrado onde morava o Jonas Guarda e, mais à frente a Casa do Compadre, seguida da residência do inesquecível Alfeu Aparecido de Souza, motorista de Praça barbaramente assassinado no dia 24 de dezembro de 1957. Mais tarde recebeu o apelido de “Rua do Agradinho” pelo desvendar dos crimes por envenenamento praticados por Maria Francisca Coelho do Nascimento e Maria Eduarda Peixoto Costa que os confessou ao detetive Ernesto dos Santos (Guarda Ernesto) residente na mesma rua. 

 A Dominicanos abrigava o Antonio Tintureiro, o Durval, pai da Glorinha do Açougue que existiu na Praça da Abadia e o Gentil da Quinha, filha do Cincinato. Na Ismael Machado moravam os Tiveron, os Bertoldi, os Galdino e a Conceição do Guarda. Na Dr. Ludovice o destaque era a matriarca Maria Balduíno com seus filhos, o Zé Cuca, o Barsanulfo e seus filhos Helinho Tição e Confusa. Na Felipe dos Santos outra matriarca: Dona Veneranda Antonelli e seus filhos Primo, Amélio, Amália e Júlia, vizinhos do Zico Carroceiro. Na Inconfidentes, o Juca Pato e o Beijinho (Benjamim Bernardino da Costa). Na Tenente Venceslau de Oliveira, os Bananeira, o Chico Sapateiro o João Velho, pai do Geraldo Kelé e do Zé Pinha. Na Saldanha Marinho começava o famoso “Campo das Amoras” que se estendia com as ruas Dom Bosco (hoje Edson Quirino), Monsenhor Inácio, Aimorés, Padre Albino Sella, Montes Claros e São Mateus, entrecortadas pela Poços de Caldas, onde havia a pequena igreja de Nossa Senhora Aparecida, bem no centro do cruzamento com a Aimorés. Na Estrela do Sul, já nos “Olhos D’água”, o destaque era para a Venda do José Mateus, uma das primeiras instaladas naquele setor. Na Tobias Rosa, a Venda do Meninho e o Tonico Costa.

 Na João Alfredo a importância era, e ainda é, o Hospital do Pênfigo Foliáceo, hoje Lar da Caridade. O bairro Abadia também teve entre seus filhos, muitos personagens folclóricos menos felizes em suas vidas tragicômicas. Assim, o foram Capitêle, Cabo Antonio, Estiloso, Maria Carrapata, Amigo da Onça dentre outros, e Dora Doida que ainda está entre nós. O bairro foi, ainda, talvez o maior celeiro na revelação de jogadores por meio do Atlético. Alguns deles chegaram a ser profissionais como o Juca Pato, que jogou no Palmeiras; Zezé Calmom; Tiago Bazaga; Totonho Colmanetti, Rui Meneghello, Peru e Jardel no América Mineiro; Fio Bartonelli, no Flamengo; Valtinho, na Seleção Brasileira. Alguns não chegaram ao profissionalismo, mas deram muitas alegrias aos abadienses: Biguá, Teleleco, Ari Bonga, Ingronga, Nelson Freire, Barba, Capilé, Geraldo Kelé, Rubinho, Helinho Tição, Prego, Nonô Camilo, Barriga, Brauer, Maquinista e muitos outros. Tivemos muitas passagens alegres e outras tristes como por exemplo, no ano de 1948, se não me engano, em que ficamos sem a realização da Festa da Abadia por motivos nunca explicados. Foi nesse ano que Sinomar Formiga trancou seus balanços venezianos e os deixou apodrecendo ao ar livre sob os efeitos do sol e da chuva. Tudo isso, representa apenas uma pequena parcela das tantas pessoas que participaram, de forma anônima, na construção da História do nosso bairro. Por tudo o que aqui narramos, podemos dizer sem medo de errar, que apesar dos prós e dos contras, não deixa de ser motivo de orgulho para nós abadienses, viver no Bairro Abadia.



Bitencourt Godoy