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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

MEMORIAL DO COMÉRCIO


Em maio de 2012 foi inaugurado oficialmente pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberaba o memorial do Comércio, visando reunir, conservar e catalogar a infinidade de objetos utilizados nas diversas práticas comerciais.
                   Assim, desde logo o museu passou a contar por meio de doações com caixas registradoras, máquinas de somar, balanças, bicicletas de entrega, tesouras, cédulas, moedas, fotografias, aparelhos telefônicos, máquinas de escrever, fitas métricas, entre outros objetos.
                   Uma das aquisições mais importantes em 2013 consistiu no painel referente à 1ª marcenaria do Triângulo e à loja Americana de Donato Cicci, inauguradas em 1911, painel montado e doado por Dorival Cicci, filho de Donato.
                   O memorial ocupa dependências na própria sede da CDL, na rua Luís Soares [Pinheiro], 520 – vila Olímpica.
(do livro recém-lançado Informação Sobre Uberaba,
editado com recursos do Fundo Municipal de Cultura)
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

FILMES DO IRÃ


A MAÇÃ


As Situações e Suas Circunstâncias


Guido Bilharinho
FILMES DO IRÃ



Uma das particularidades mais acentuadas, senão a mais reiterada de todos os possíveis e variáveis aspectos a serem considerados no cinema iraniano contemporâneo, é a eleição da temática familiar.


A abordagem das situações e suas circunstâncias concentra-se geralmente num acontecimento específico, problematizado ficcionalmente. Essa orientação possibilita extremada contenção fática, redundando em decorrente economia de meios e modos.


Se a primeira condição permite a viabilização cinematográfica dados seus baixos custos, a segunda restringe seu alcance formal e também técnico, embora este, do ponto de vista cultural e artístico, seja secundário, por instrumental.


Já no que tange à forma, a limitação atinge o cerne do fazer artístico, daí decorrendo, como vem acontecendo nessa filmografia, com algumas exceções, a prevalência da estória sobre a elaboração artística, em descumprimento à sua regra básica, que é sua razão de ser, isto é, a produção de beleza para atendimento do prazer estético, a mais alta consecução da inteligência e sensibilidade humanas.


Na ficção, que é o caso, sobreleva ainda seu urdimento, conteúdo e desdobramento, na apreensão e respeito às verdades da natureza humana.


Se no primeiro caso, o filme A Maçã (Sib, Irã, 1998), de Samira Makhmalbaf (1980-), deixa de atender aos requisitos mais imperativos da formalização artística, no segundo alcança o desiderato a que se propôs de construção e exposição de situação humana e familiar específica.


Se essa característica impõe-se desde logo e em todo seu decorrer, não é ela propriamente que deve ser notada e realçada, mas, sim, o depuramento com que se desenvolve e a espontaneidade e autenticidade demonstradas, que emocionam e encantam.


O drama familiar focalizado forma cosmologia peculiar, em que seus elementos constitutivos (casal e duas filhas gêmeas), orbitam em coordenadas próprias, perfeitamente entrosadas, até que a interferência do mundo exterior denuncia sua anormalidade.


A partir daí, a ação reparte-se em pelo menos dois níveis distintos, que se comunicam e se influenciam, determinando alteração no conspecto sedimentado. O núcleo familiar sofre, pois, acentuada mutação sob a ação externa, obrigando-o a sair de seu enclausuramento e a contactar e relacionar-se com o mundo, o outro elemento dessa confluência de situações e ações.


Além da delicadeza e sutileza com que se processa essa etapa da ação fílmica, ressalta-se a poetização de atos, gestos e do descarnado décor, em procedimento imagético que os valoriza para além da vizualização direta e imediata.


À frente da imagem não está somente o olhar mecânico da câmera, porém, o olhar humano e sensível do artista, atingindo o clímax na cena final, emblemática, que se descurada da estetização da imagem e da composição de sua sucessividade, não olvida a elaboração dos conteúdos que viabiliza.



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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).

OBRAS-PRIMAS DO CINEMA BRASILEIRO






TODA   SEMANA,   A   PARTIR   DE   CADA   SEGUNDA-FEIRA,   JÁ   NO PRÓXIMO DIA 07, ARTIGOS SOBRE AS OBRAS-PRIMAS DO CINEMA BRASILEIRO POR ORDEM CRONOLÓGICA DA REALIZAÇÃO DOS FILMES.
ESSE LEVANTAMENTO VAI REVELAR UMA DAS MAIS TALENTOSAS E CONSISTENTES FILMOGRAFIAS DO MUNDO.
NFACEBOOK DE GUIDO BILHARINHO: 

A RECEPÇÃO - PARTICIPAÇÃO NO CINEMA


A RECEPÇÃO -PARTICIPAÇÃO NO CINEMA


Guido Bilharinho


Muito já se escreveu - embora pouco se leu - sobre o papel antropológico da experiência cinematográfica na órbita de sua recepção-participação psíquica e afetiva. Edgar Morin é incisivo nessa questão, ao afirmar que “não podendo exprimir-se por atos, a participação do espectador interioriza-se. A cinestesia do espetáculo escoa-se na coenestesia do espetáculo, isto é, na sua subjetividade, arrastando consigo as projeções-identificações. A ausência de participação prática determina portanto uma participação afetiva intensa: operam-se verdadeiras transferências entre a alma do espectador e o espetáculo da tela” (“A Alma do Cinema”, in A Experiência do Cinema, antologia de textos teóricos organizada por Ismail Xavier. 2ª ed. Rio de Janeiro, Edições Graal/Embrafilme, 1991, p. 154).


Isso explica muito o sucesso do espetáculo cinematográfico quando consegue galvanizar a emoção do público. Explica e até justifica, mas, nada tem a ver com o aspecto artístico. Arte é uma coisa e espetáculo outra, no só totalmente diversas como antinômicas.


A arte dirige-se à inteligência e à sensibilidade, exigindo espectador intelectualmente armado, vigilantemente atento, autonomamente crítico, que não se deixa envolver pela emoção destilada pela realização cinematográfica. Ao invés de a ela se render e se subordinar emocionalmente, a submete racionalmente, tendo muitas vezes, nesse processo, de vencer manifestações de empatia provocadas pelo poder exercido pela imagem em movimento.


Nesse caso, a passividade que caracteriza o espectador em geral é substituída pela participação, que equivale e muitas vezes suplanta os limites da realização fílmica. Esta, depois de terminada, pronta e acabada, no mais pode ter ampliados ou aprofundados seus significados e implicações. Já o espectador consciente possui durante - e principalmente após a projeção - amplo campo de manobras para exercício de análise, comparações e avaliações.


Claro que para atingir esse grau de independência e percepção o espectador deve ser intelectualmente ativo, tendo interesse em compreender para ter condições de entender o mecanismo ora negativo ora, muito raramente, positivo que está na base da obra cinematográfica e permeia sua própria origem, condicionando-a e determinando sua natureza.


Se anteriormente o público era envolvido pelo isolamento e pela penumbra do ambiente das casas de exibição (cinemas de rua) em que até sua disposição de ir e o respectivo deslocamento até elas já o afetavam, provocando o que Hugo Maueshofer, no ensaio Psychology of Film Experience, diagnostica como "mudança psicológica da consciência que acompanha automaticamente o simples ato de ir ao cinema" (op. cit., p. 375), hoje, o vídeo, o dvd e a divulgação televisiva antepõem-se ou pelo menos atenuam esse encapsulamento uterino.


A sala residencial iluminada e as interrupções ou sua possibilidade real e concreta - intervalos comerciais, telefonemas, movimentação de circunstantes - não mais permitem o isolamento, propiciando, pois, relativa libertação do espectador que automaticamente torna mais objetiva sua convivência com o filme assistido, facultando-lhe distanciamento e liberdade que, no entanto, necessitam ser aproveitados e explorados em prol de sua independência intelectual, que, no entanto, só será efetiva se respaldada por consciência do mundo adquirida pelo estudo e reflexão.


(do livro inédito Ficção e Cinema)






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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de Literatura (poesia, ficção e crítica literária), Cinema (história e crítica), História (do Brasil e regional).