quinta-feira, 14 de agosto de 2025

HOMENAGEM AO SR BENEDITO "PELÉ", O CICLISTA, ARTISTA E PATRIMÔNIO VIVO DO MERCADÃO

 Benedito Sebastião de Souza Coelho. Foto Antônio Carlos Prata.

Benedito Sebastião de Souza Coelho, mais conhecido por todos como Pelé, nasceu em 24 de junho de 1950, no pequeno distrito de Água Branca, em São Paulo. Filho de Washington de Souza Coelho da Fonseca e Doraci Zacarias Borges, cresceu em uma família numerosa, com seis irmãos: dois homens e quatro mulheres. Uma das irmãs faleceu em 5 de setembro de 2022, deixando um vazio, mas os laços familiares seguem firmes com os cinco irmãos que permanecem vivos. Hoje, Pelé divide a casa com o irmão Luiz Humberto Souza Coelho, a quem chama carinhosamente de “gente boa”. “Amo todos os meus irmãos”, afirma com um sorriso sereno.

Seu pai, Washington, trabalhava na Companhia de Estradas (DER-MG).
Homem de coragem e muito esforço, viu sua vida ser abreviada pelo alcoolismo, falecendo em 1967, aos 47 anos. Naquele tempo, Pelé tinha apenas 17 anos e estudava na Escola Dom Alexandre, localizada na Praça Frei Eugênio. Ele ainda guarda na memória, com nitidez, aquela sexta-feira de despedida, quando acompanhou o cortejo até o Cemitério São João Batista.

A jornada da família em Uberaba teve início em 1961, mas não foi fácil. Entre 1961 e 1963, viveram dias de fome e incertezas, dormindo sob as mangueiras e marquises do bairro da Abadia, sem teto nem rumo. “Era muita, muita dificuldade”, lembra Pelé, com os olhos distantes. Foi então que a bondade se manifestou na figura do Sr. Bento Valim, morador em frente ao Grupo América, que não apenas ofereceu ajuda, mas providenciou uma casa para que a família pudesse se reerguer. “A esse homem devemos muito”, diz Pelé, com gratidão que o tempo não apaga.

Aos 15 anos, Pelé começou a frequentar o Mercado Municipal de Uberaba. Fez amizade com os comerciantes das bancas e com os fregueses, passando a fazer entregas a pé. Desde o nascimento, convive com uma lesão traumática nos pés, mas isso nunca o impediu de trabalhar. Com o tempo, decidiu modernizar seu serviço de entregas e procurou ajuda do colunista e radialista Ataliba Guaritá, o Netinho e de sua esposa, Dona Cornélia, conhecida pela generosidade. Eles organizaram uma lista de arrecadação e conseguiram reunir 1.040 cruzeiros. A primeira bicicleta, que custou 340 cruzeiros, foi comprada em Ribeirão Preto, graças ao pedido feito ao amigo Wilson de Oliveira, "Chibiu" açougueiro conhecido na cidade. O restante do valor foi guardado na poupança.
Com a bicicleta, Pelé ganhou agilidade e conseguiu ampliar o número de entregas, tornando-se uma figura cada vez mais presente nas ruas e no Mercado. A relação de Pelé com a bicicleta é tão marcante que hoje duas delas estão em exposição. Uma no CDL e outra no Shopping Uberaba. “Sou importante”, brinca ele, com seu bom humor habitual.

Nem tudo, porém, foi pedal tranquilo. Ao longo dos anos, já teve duas bicicletas roubadas, uma delas recentemente. Mas a solidariedade sempre cruzou seu caminho: amigos lhe presentearam com novas magrelas para que pudesse seguir trabalhando.

Aos 23 anos, Pelé descobriu uma outra paixão, que floresceu lado a lado com o seu amor pelas bicicletas: a arte de desenhar. Exímio caricaturista e talentoso retratista de paisagens, ele transforma traços e cores em memórias vivas, capturando a alma das pessoas e da natureza ao seu redor. Seus desenhos são um reflexo sensível do cotidiano do Mercado e das ruas de Uberaba, uma arte simples, verdadeira e profundamente humana.

Reconhecido por sua dedicação, força e talento, Pelé já foi homenageado por diversos segmentos da sociedade uberabense, que veem nele não apenas um entregador ou artista, mas um símbolo vivo de resistência, esperança e amor à cidade.
A vida de Pelé é feita de lutas, quedas e recomeços, mas também de generosidade, amizade e gratidão. Do menino que chegou a Uberaba passando fome ao homem que se tornou parte da identidade do Mercado Municipal, sua trajetória é prova de que a força não vem apenas das pernas que pedalam, mas do coração que nunca desiste.
Hoje, Pelé é mais do que um entregador ou um personagem conhecido da cidade - é um exemplo vivo de resistência, alegria e talento. Pelas ruas de Uberaba, entre risos, histórias, pedaladas e traços, ele continua a construir um legado simples e valioso: o de fazer o bem, cultivar amizades, criar arte e seguir adiante, sempre com um sorriso no rosto.

Sr. Benedito “Pelé”, o senhor é mais do que entregador. É memória viva, é artista, é exemplo, é coração que pedala e desenha entre nós.
Obrigado, Pelé. Por cada entrega, cada traço, cada tombo superado, e por tudo que representa para Uberaba.
(Antonio Carlos Prata)