quinta-feira, 9 de novembro de 2023

A VELHA SALA DE CINEMA QUE RESISTE AO TEMPO

Muita gente que hoje passa pela praça do Grupo Brasil (Praça Comendador Quintino) ainda se lembra de que nesse prédio das fotos funcionou, por muitos anos, o Cine Royal. Até 1959, quando fechou as portas, ele foi a sala de cinema mais popular de Uberaba, cobrando ingressos bem mais baratos que os dos cines São Luís, Metrópole e Vera Cruz.O que pouca gente sabe é que, quando esse cinema foi inaugurado – em 11 de maio de 1929, pela empresa Damiani, Bossini e Cia – ele se chamava CINE TEATRO CAPITÓLIO e foi, por um breve tempo, uma das salas mais elegantes de Uberaba. O prédio havia sido especialmente construído por Antonio Sebastião da Costa, e estima-se que a obra tenha custado cerca de 100 contos de reis.

A fachada da sala de cinema, já renomeada Cine-Teatro Royal, 
em cartão postal de Marcelino Guimarães, publicado por volta de 1950.


Um centro de fisioterapia especializado em idosos funcionou no local no final da década de 2010.
Foto do Google Street View.

Uma foto recente do prédio, feita com drone, da página "Uberaba vista de cima".


A Damiani, Bossini e Cia – que também era dona dos cinemas Alhambra e São José – arrendou o prédio e gastou com a instalação dos equipamentos e dos 600 assentos mais de 30 contos. Na dia da estreia, aconteceu um programa em homenagem ao centenário de José de Alencar e ao América Futebol Clube de Belo Horizonte.

A notícia da inauguração do Cine-Theatro Capitólio, no jornal Lavoura e Comércio.


Dois anos depois, em 1931, a empresa Orlando Rodrigues da Cunha e Cia destronou os cinemas da Damiani e Bossini ao inaugurar o moderno e bem mais luxuoso Cine Teatro São Luís na praça Rui Barbosa. Para complicar ainda mais, entre julho e outubro do ano seguinte, a Revolução de 1932 no estado de São Paulo impediu a entrega dos filmes para o Capitólio e as outras salas da empresa, que teve que interromper as exibições. Em novembro, a Damiani e Bossini abriu falência.

A sala passou para administração da empresa de Orlando Rodrigues da Cunha que, um mês depois (26 de dezembro), reinaugurou o cinema com o nome Cine Teatro Royal, anunciando que passaria a exibir também filmes sonoros, com ingressos mais baratos que os do Cine Teatro São Luís. Durante algum tempo, as mesmas películas eram exibidas nas duas salas, com pequena diferença de horário. Quando o rolo de filme acabava de ser projetado no São Luís, era rapidamente rebobinado e um funcionário o levava correndo até a sala de projeção do Royal.

O fim das atividades ocorreu em fevereiro de 1959. A empresa alegou que a sala estava com instalações antigas e equipamentos defasados em relação às exigências dos novos filmes, e que não era economicamente viável fazer uma atualização. Desde então, o prédio teve diversos usos, mas permaneceu razoavelmente preservado. Hoje, funciona nele o salão de festas de uma igreja.



(André Borges Lopes)