quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

JOSÉ MENDONÇA


Dr.José Mendonça


Nasceu José Mendonça aos 19 de março de 1904, em Uberaba (MG), na Ladeira Brasil, hoje Rua Segismundo Mendes, casa número 42, então propriedade de sua tia e madrinha Ana Joaquina da Silva.

Seus pais, Mário de Mendonça Bueno de Azevedo e Tertuliana Cristina de Azevedo, casaram-se em Patrocínio (MG), onde ele exerceu a profissão de Promotor. Advogado provisionado, transferiu-se para Uberaba, exercendo aqui a profissão por mais de vinte anos.

Mário de Mendonça Bueno de Azevedo era natural de Cristina (MG). Era de nobre e distinta ascendência. Por parte de sua mãe, D. Júlia Drummond Furtado de Mendonça, descendia diretamente da preclara família Drummond, da Escócia, que deu reis ao país e pertencia a sua alta nobreza. Um dos seus membros veio para a Ilha da Madeira, onde se casou na família Furtado de Mendonça, uma das mais antigas e ilustres da Espanha e de Portugal, da qual provieram prelados, magistrados, homens de guerra, políticos, administradores, professores, homens de ciência, jornalistas. E estão no Brasil há mais de quatro séculos.

Pelo lado de seu pai, Francisco de Paula Bueno de Azevedo – administrador dos Correios de Minas, em Ouro Preto, pertencia Mário de Mendonça Bueno de Azevedo, aos Buenos, intrépidos bandeirantes paulistas, do tronco de Amador Bueno.

Entre os mais próximos parentes de Francisco de Paula Bueno de Azevedo, podemos citar Hipólito José da Costa Furtado de Mendonça, o fundador do famoso “Correio Brasiliense”, que se editou em Londres, para pugnar pela causa da nossa independência; os seus tios Lúcio de Mendonça, fundador da Academia Brasileira de Letras e Ministro do Supremo Tribunal; Salvador de Mendonça, também da Academia e nosso embaixador em Washington, os seus primos Jorge de Mendonça, conhecido pintor, Carlos Sussekind de Mendonça e Frederico Sussekind de Mendonça, professores e magistrados no Rio de Janeiro.

Tertuliana Cristina de Azevedo era de humilde família de Patrocínio, no Triângulo Mineiro – Marques Ferreira. Entre os parentes de Tertuliana Cristina, podemos citar os Drs. José Maria dos Reis e Fidélis Reis (filhos da tia avó Escolástica Marques Ferreira e do denodado bandeirante Fidélis Gonçalves dos Reis); Dom Almir Marques Ferreira, bispo; Frei Henrique Marques da Silva, dominicano; Dr. Obregon de Carvalho, professor de direito em Belo Horizonte; Cel. Emídio Marques Ferreira, advogado e uma das mais ilustres personalidades do Triângulo Mineiro e Desidério de Melo, que foi famoso jornalista e deputado estadual por esta região.

Jose Mendonça frequentou a escola do professor Joaquim Flávio de Lima, na praça Comendador Quintino e o Grupo Escolar Brasil.

Concluiu o curso primário na escola de D. Maria Áurea de Faria.

Em 1913, foi estudar no Ginásio Diocesano. Em 1920 e 1921 em São Paulo, no Ginásio Osvaldo Cruz, preparou-se para o ensino superior.

Em 1922, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1926.
Foi sócio Fundador da Academia de Letras da Faculdade e, foi sempre, representante da turma no diretório acadêmico.
Casou-se em 1930 com Maria Cunha Campos, tendo quatro filhos.

Iniciou sua carreira de advogado na cidade do Prata (MG), transferindo-se para Uberaba após 4 anos (1930), onde atuou com presteza como advogado e jurista, professor, historiador, jornalista, crítico literário, escritor, político, músico e servidor da comunidade.

Deixou duas obras inéditas: História das Américas e Ação Declaratória.

José Mendonça era irmão de Lúcio Mendonça de Azevedo, advogado, escritor e letrista que empresta seu nome ao “Palácio da Cultura Dr. Lúcio Mendonça de Azevedo.

Integrava na singular personalidade de Dr. José Mendonça a sabedoria do coração e da mente. Era dotado de inteligência rara, cultura incomum e alma extremamente sensível, que empregava na realização dos valores que considerava essenciais, como o trabalho, a retidão, a justiça individual e social, a promoção do homem e do meio social em que vive, o aperfeiçoamento pessoal, a humildade, a bondade, o desapego aos bens materiais, a solidariedade e o espírito de serviço.
Revelou toda a imensa sensibilidade de sua alma, ao escrever: “Só têm êxito, realmente, só triunfam na vida, os que são úteis aos seus semelhantes, os que contribuem pelo seu trabalho, pelos seus esforços, por sua generosidade, pelo seu idealismo, para a felicidade e o bom estar do seu próximo, os que cooperam para o aprimoramento espiritual, moral e material da humanidade, os que lutam pela paz, pela fraternidade, pelo direito, pela justiça. Assim, maior êxito tem o que mais serve. Só não vive em vão aquele que é útil ao seu próximo e à humanidade. Os homens mais nobres, os que em verdade vencem nesta vida, são os bons servidores.”

Sempre foi imparcial nos julgamentos e apreciações que fazia. Sua cultura histórica e seu discernimento crítico permitiam-lhe enxergar e sentir os fatos além das simples aparências e exterioridades, pelo que nunca adotou a posição cômoda das generalizações fáceis e precipitadas, considerando o mundo de sua época simplesmente atrasado ou avançado, bom ou ruim. Distinguindo o certo e o errado, aplaudia e estimulava o primeiro, condenava e censurava o segundo. Mas, dotado do profundo espírito construtivo, suas censuras e condenações eram invariavelmente acompanhadas de apelos e sugestões práticas, visando o abandono do erro, a correção das falhas, a mudança de idéias e de atitudes que estavam a comprometer o progresso e o bem estar da humanidade.

Apresentava inúmeras soluções, dependendo do setor de atividade que estava a examinar, o que torna impossível até mesmo a sua simples enumeração. Possível, contudo, apontar uma de suas sugestões básicas, um dos pontos de partida que reputava essencial na árdua caminhada dos homens em busca da paz e da felicidade.

Empolgado com a criação, na época, da Comunidade Européia do “Carvão e do Aço”, do “Mercado Comum”, e do “Euraton”, previa, a partir daí, a formação de “uma só Europa” e acenava, com esse acontecimento histórico, para que todos os povos lutassem sem trégua, sem descanso, obstinadamente, em busca da organização de “um mundo só”.
Muito escreveu sobre este ideal, enfatizando certa vez:

“E, porque não teremos também um mundo só? Hoje, as comunicações econômicas, sociais, culturais entre todos os povos são tão intensas e se fazem com tanta celeridade, que já podemos dizer que constituímos uma única família, a família humana. Por isso, as fronteiras deverão ser consideradas como comunicações e indicações de divisões administrativas. Não devem separar povos que não se compreendem, que não se auxiliem mutuamente, que tenham prevenções uns dos outros, que não se amam.

Como constituir “um mundo só”?

Todos os países abdicarão parte da sua soberania para a organização de um “Governo Mundial” que assegure a paz entre os povos, que resolva, em última instância, as divergências entre as nações, que promova a cooperação de todos, nos domínios da inteligência, da cultura, do trabalho, da economia. Esse “Governo Mundial” conseguirá, sem dúvida, transformar a terra num planeta livre de ódios, de intranqüilidades, de terrores, de angústia. Banirá a guerra, definitivamente.”
Amava a vida e satisfazia-se com pouco. Era trabalhador incansável, que pouquíssimas vezes saiu de férias, pequenas viagens pelo interior ou ao Rio de Janeiro e a São Paulo.

Alegre, expansivo, comunicativo, mas dentro dos limites da sobriedade.

Eram-lhe essenciais o convívio diuturno com sua esposa, que sempre teve como parte integrante e indissociável dele, o contato permanente com os filhos, o remanso do lar e a leitura.

Causavam-lhe viva alegria os encontros com os amigos que eram muitos. Apreciava a boa mesa e o bom vinho. Em tudo, era um simples.

Faleceu no dia 04 de junho de 1968, aos 64 anos de idade, em conseqüência de um enfarte do miocárdio.
Silenciou José Mendonça, mas permaneceu na saudade e no reconhecimento daqueles que o conheceram.
Foi um simples, humilde, teve o coração puro, possuiu a terra e chegou a Deus.


Fonte: Paolinelli, Sônia Maria Rezende. Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses. Uberaba (MG): Sociedade Amigos da Biblioteca Pública Municipal “Bernardo Guimarães”, 2009. 121 p