sexta-feira, 14 de julho de 2017

Terra Madrasta - Orlando Ferreira

Orlando Ferreira (Doca)
Orlando Ferreira (Doca), era filho do negociante Bento José Ferreira e nasceu em 1887, em Uberaba. Foi seminarista, recenseador, escritor e crítico ferrenho dos maus políticos, da igreja católica e de algumas famílias tradicionais da cidade. Faleceu 1957, aos setenta anos. O livro Terra Madrasta (1928?), tece críticas à política mineira, afirmando que ela é a responsável pelo atraso do estado e exemplifica, com dados dos recenseamentos de 1872, no qual a população mineira era maior que a paulista, e de 1920, quando São Paulo já alcançava Minas em número de habitantes.

Critica também o governo político de Uberaba, qualificada como “…uma obra de liliputianos.”[1] e afirma que as forças oponentes ao progresso do município são: a administração, a política, o clero, a empresa Força e Luz e algumas famílias tradicionais.

Afirma que, embora houvesse na cidade uma razoável arrecadação – mostrada por meio de quadros estatísticos da receita e da despesa, de 1836 a 1925 – ela não era bem aplicada e as ações dos prefeitos não iam além de tapar buracos com terra, capinar ruas, construir pinguelas, matar cachorros, nomear e demitir funcionários e arrecadar impostos. Questiona porque em um século, das 155 ruas da cidade, apenas 11 foram pessimamente calçadas e 3 praças, das 19 existentes, estão em bom estado. Ironicamente, aponta a falta de seriedade nos critérios para se classificar as cidades mineiras no ranking do desenvolvimento, pois, apesar de todo o retrocesso, Uberaba ainda conseguiu ocupar o terceiro lugar na classificação.

Apresenta como entraves do progresso municipal: uma gestão destrói as realizações da outra; administra-se a esmo, sem uma diretriz segura; emprega-se material barato nas construções; trabalha-se às pressas e falta espírito cívico aos administradores. Afirma ainda que edifício da Câmara é novíssimo e já apresenta “assoalho em falso que estremece e sacode os móveis.”

Descreve positivamente a administração do Dr. Leopoldino de Oliveira, apontando-o como o prefeito que não deixou dívidas para a gestão seguinte, exonerou funcionários inúteis, prestou assistência técnica às escolas, apoiado por Alceu Novaes, e elaborou um novo programa de ensino municipal que previa o aumento no salário dos professores, a realização de concursos e a seleção de pessoas habilitadas para o exercício do magistério.

Confronta por meio de quadros demonstrativos, a taxa de mortalidade de Uberaba com a de outras cidades, no período de 1908 a 1920, e expõe as péssimas condições de higiene da cidade devido à falta de água.

Assegura que havia corrupção, assassinatos, espancamentos, compra de votos, suborno e registros em atas falsas, nos pleitos eleitorais na cidade.

Dedica uma parte a criticar a empresa Força e Luz e a atuação política de seus proprietários e o clero uberabense.

Registra os nomes das ruas do município, em 1923, e relatos sobre as fotografias usadas na edição.
A obra é um rico conjunto de dados relacionados à trajetória dos prefeitos da época vivida por Orlando Ferreira que, além de reunir fotos, documentos de jornais e estatísticas do município, importantes para a visão da cidade como um todo, também desperta no leitor o pensamento crítico.

Marise Soares Diniz

Outras obras do acervo: Forja de Anões (1940) e Pântano Sagrado (1948)


 Arquivo Público de Uberaba

TANQUE DE GUERRA QUE CONTRIBUIU MUITO NA LUTA ENTRE PAULISTAS E MINEIROS

Carro de Guerra

Tanque de Guerra que contribuiu muito na luta entre Paulistas e Mineiros, em 1930, quando os paulistas tentaram entrar em Minas, pela Ponte de Delta, divisa de Minas e São Paulo.

“O carro blindado, criação de Ângelo Zappelli, ex-soldado combatente da Legião Fiume, Itália, sob o comando de Gabriel D’Annuazio, era um automóvel que sofreu necessária adaptação nas oficinas mecânicas do Sr. Alessandro Boscolo, desta cidade. Fora armado com duas metralhadoras e tripulado por cinco pessoas, isto é, dois fuzileiros encarregados das metralhadoras, um carregador, um mecânico e um condutor”. (SILVEIRA, 1991, p.87).Foto: Autoria desconhecida.


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Revolta de 32 – isso mesmo 1932, aonde Uberaba minha cidade natal, lutou contra São Paulo!
Nesta foto podemos observar os soldados que passavam com esse carro de guerra em frente à casa dos meus bisavós, que por acaso se encontravam na janela observando tudo que acontecia!

Bisavô Francisco e Madaglena Riccioppo, primos e depois se casaram após chegarem da Itália ao Brasil!

Esse casarão de 1900, mais conhecido como Notre Dame de Paris, tem grandes histórias, onde minhas Irmãs, Sandra Riccioppo Coelho,Sandra e Vandinha Riccioppo chegaram a morar e que eu cheguei a brincar quando pequena!

Mas brasileiro não gosta de proteger patrimônios e demoliram descaracterizando uma das principais praças da cidade!

Linda foto! Grandes memórias!

(Victória Rossetti)

CASA NOTRE DAME DE PARIS

                                              Notre Dame de Paris
Década:1980


Notre Dame de Paris

Praça Rui Barbosa com a Rua Artur Machado.

Foto: Autoria desconhecida


Arquivo Público de Uberaba

PRAÇA RUI BARBOSA E ALHURES

Carros de boi defronte ao armazém do” Fernando Sabino”
Praça Afonso Pena - atual Praça Rui Barbosa  
    
Praça Rui Barbosa
                                                                         
Praça Rui Barbosa

                                                                           
Jockey Club de Uberaba

Casa do Coronel Geraldino Rodrigues da Cunha

Casa Caldeira    


“Choferes de praça” 
                                                                       
Notre Dame de Paris
                                                                          
A “revitalização” da praça Rui Barbosa começou na fundação da terrinha.Desde os carros de boi defronte ao armazém do” Fernando Sabino”, passando pelas charretes de passeio, o paço municipal, os choferes da praça (os irmãos Roil e Jorginho Cussi,Rôla,Zezeca Mateus,Ninío,Zé Gasolina,Bahia,Loreto Paglioti,Olimpio Fonseca ( quem o assassinou?, entre outros),até chegar as lindas palmeiras imperiais que davam um tom majestoso à praça e que,segundo alguns historiadores, foram arrancadas na gestão do prefeito Whady Nassif (1937/41), pois que estavam criando “mandruvás”que assustavam as moças que passavam pela praça...

Praça do cine S.Luis,casarões dos “barões-coronéis”,Geraldino Rodrigues da Cunha,os Castro Cunha,Rodolfo Machado Borges,Ronan Marquez,Casa Caldeira,Santos Guido e outras edificações de saudosa memória...Depois dessa fase, a cada prefeito que tomava posse, a primeira medida era “revitalizar” a Rui Barbosa.Aquilo virava obsessão para os alcaides...construir mictórios,desmanchar mictórios à construir sanitários ...edificar coreto, tombar coreto, mais tarde, construir novo coreto, “cortar” a praça no meio para abrigar parada de ônibus urbano, depois, “tira” o estacionamento interno e privilegia os táxis...depois “fecha” a praça e os taxistas vão para as laterais...

Aproveitando”espaços ociosos” como noticiou o lendário “Lavoura e Comércio”, outro prefeito construiu uma “galeria de artes” na parte superior da praça.Só que, quando “entrou” um novo prefeito, demoliu a”galeria”.-“Alí não é lugar para artes”, justificou. Até 1964 ( lembram-se da “redentora?”) a praça era do povo...os grandes comícios eram ali realizados...Hoje...bem....As procissões religiosas terminavam à porta da Catedral Metropolitana e a concentração de fíéis na parte alta da praça acomodava todo mundo católico.

Na praça Rui Barbosa,existia o mais sofisticado clube social da região, o Jockey, freqüentado pela abastada sociedade local.Hoje, o imponente prédio está locado para terceiros...Igreja evangélica? Nem sei... A praça tinha bancos limpos,flores,jardins,ar romântico.Sempre que assume um novo prefeito, vem a promessa :- “ vamos revitalizar a praça Rui Barbosa !” o que me faz lembrar, com enorme saudade do Ronnie Von, cantando a “Praça”:

“Hoje eu acordei com saudade de você/Beijei aquela foto que você me ofertou/sentei naquele banco da pracinha; foi lá que começou o nosso amor/senti que os passarinhos me reconheceram/ entenderam a minha solidão. Ficaram tristonhos e emudeceram/ e aí então fiz essa canção/ A mesma praça ,o mesmo banco,as mesmas flores, o mesmo jardim/ tudo é igual mas estou triste,pois,não tenho você perto de mim/Beijei aquela árvore tão linda,onde um coração desenhei/escrevi seu nome junto ao meu, ser seu grande amor então jurei/ o guarda ainda é o mesmo que nos pegou roubando uma rosa amarela para você/ tinha balanço,gangorra,meu amor/ crianças que não paravam de correr/a mesma praça, o mesmo banco...é ! já não se fazem praças como antigamente....


” Marquez do Cassú”.


UBERABA CRÔNICA FOTOGRÁFICA IX POR IARA FERNANDES.

Praça Afonso Pena - atual Praça Rui Barbosa

No começo do século XX, o paisagismo tímido da Praça Afonso Pena que comportava frondosas árvores e pequenos arbustos, não expressava a ironia popular que considerava o local uma espécie de bosque municipal.
Vegetação à parte, o terrapleno que abrigava charmosas charretes e seus bem trajados condutores, de terno, chapéu e pé no chão, acolhera – quase meio século antes – o prédio administrativo de maior monta da cidade, a Câmara Municipal. Posicionado na confluência da praça, com a rua Municipal (atual rua Manoel Borges), a edificação que se via, com suas janelas em ângulos retos acimando aberturas em arcos, fora ali erguida, em 1900, e era a segunda versão da Casa das Leis.
Os esguios postes que margeavam a praça indicavam que o serviço de luz elétrica, inaugurado – com pompa e circunstância – em 1905, mantinha sua eficácia. Se durante o dia, o tom claro dos trajes e o burburinho do transporte davam cor e vida à praça, depois do anoitecer, quem saía de sua residência para se revigorar nos ares noturnos, ao redor da fonte, poderia encontrar alguma luz pelo caminho.
Fotógrafo: Inácio Penha Paes Leme

Data da fotografia: 1909

Local: atual Praça Rui Barbosa

Acervo do Arquivo Público de Uberaba

Crônica : IARA FERNANDES

(Gentilmente doada por Guido Bilharinho.)

Acervo do Arquivo Público de Uberaba                

RUA ARTUR MACHADO - UBERABA


Atual rua Artur Machado (primeiro quarteirão)

Desde as primeiras décadas do século XX, com seus restaurantes, cinemas, bares, cafés, armazéns, bancas de jornal, escritórios e bancos, a principal via de comércio da cidade, estendia seu tapete de paralelepípedos, a toda sorte de gente: negociantes, assalariados, proprietários, empregados, estudantes ou turistas.

Sob as alcunhas de rua do Comércio, do Fogo – ambas ainda sem o calçamento – e Barão de Ataliba, adquiriu fama pelo intenso movimento de pessoas que bem usufruíam de suas diferentes atrações comerciais e também por manter “o povo farrista, separado do povo da rua Grande, de viver pacato”.
Deram-lhe, por fim, o nome de ilustre político uberabense e se os prédios da ala esquerda, mais altos, parecem abrigar bancos e lojas refinadas, os da ala direita, provavelmente, revezavam-se entre armarinhos e cafés. Em meio ao burburinho de andares apressados, ofertas irresistíveis e tilintar de moedas, também testemunhou, emocionada, momentos solenes como o da chegada dos últimos pracinhas combatentes de Uberaba, nossos heróis da Segunda Guerra Mundial.

Texto: Iara Fernandes

Fotógrafo: não identificado

Data da fotografia: década de 1930

Local: atual rua Artur Machado (primeiro quarteirão)


Acervo do Arquivo Público de Uberaba    

quarta-feira, 12 de julho de 2017

A MENTIRA TEM PERNAS CURTAS ONDE QUER QUE SE INSTALE

Demorei algum tempo para comentar sobre Antusa Ferreira Martins, venerável figura do espiritismo local. Valho-me novamente do prof. Carlos Bacelli. No seu livro “O Espiritismo em Uberaba”. Sem medo de errar, digo-lhes que Antusa representou uma das páginas mais fulgurantes da doutrina espírita não só de Uberaba, mas em toda a região. Aos 4 anos, sofreu meningite, desenganada pelos médicos. Ficando surda , não conseguiu desenvolver a fala. Desde pequenina , segundo depoimento de familiares, era vidente. 

Mocinha, a família mudou-se para a cidade, pois nascera na zona rural. Ao completar 15 anos, os pais, Manoel Ferreira Martins e dona Júlia Maria do Espirito Santo, mudaram-se para Sacramento (MG), mercê trabalho desenvolvido naquela cidade, pelo líder Eurípedes Barsanulfo. 

Ao olhar pela primeira vez a figura franzina de Antusa, vaticinou a grande tarefa que a menina iria desenvolver no campo da mediunidade. Durante 2 anos, ou pouco mais, Antusa trabalhou com Eurípedes Barsanulfo, auxiliando-o na limpeza da sua farmácia, lavando vidros e em outras vezes, na manipulação de remédios homeopáticos. Quando Eurípedes desencarnou , a família voltou para Uberaba. Antusa sentiu muito a morte do grande missionário da caridade. 

Através da mímica e algumas palavras que balbuciava com dificuldade, ainda assim, Antusa conseguia comunicar-se. Na terrinha, a família passou a frequentar o centro”Bezerra de Menezes”, instalado na casa de dona Maria Modesto Cravo, excelente “médium” que tinha sido curada por Eurípedes Barsanulfo de uma terrível obsessão. Maria Modesto, para os que não sabem, foi uma das fundadoras do Sanatório Espírita, do Lar Espírita e incentivou sempre as campanhas assistenciais em favor das famílias carentes.

Em pouco tempo, Antusa começou a transmitir passes, cuja faculdade, ajudada pela vidência, audição, desdobramento e efeitos físicos, desempenhava com raro discernimento evangélico. “Deu” passes muitos anos na Comunhão Espírita, no Sanatório Espírita e Grupo da Prece, de Chico Xavier.

 Mais tarde, passou a atender em sua casa, rua Monte Alverne, quase defronte à pracinha Afonso Teixeira, no bairro Estados Unidos. Há algum tempo, seus seguidores construíram um confortável galpão nos fundos, à atender a todos que procuram o conforto espiritual. Chico Xavier, certa vez, homenageado em Belo Horizonte, no auge do seu discurso declarou: -“Existe em Uberaba uma senhora que, no anonimato do seu trabalho em favor dos que sofrem, deveria ser alvo de homenagens que a mim são prestadas”.

Durante mais de 70 anos , Antusa exerceu seu mandato mediúnico e, mesmo não estando presente, o seu espírito gigante na seara evangélica, olha por todos nós. Tenho comigo que Uberaba deve uma grande homenagem à Antusa Martins, um exemplo a ser seguido.
                                                                  

Luiz Gonzaga de Oliveira                                             

Maria Modesto Cravo


Maria Modesto Cravo

Maria Modesto Cravo nasceu na cidade de Uberaba-MG, em 1899.
Teve formação católica e casou-se aos 17 anos com Nestor Cravo fixando residência em Belo Horizonte onde nasceram os seis filhos do casal.
Sentindo os primeiros fenômenos de desiquilíbrio físico-mental em sua esposa, seu marido recebeu orientação para que levasse sua esposa ao encontro de Eurípedes Barsanulfo, na cidade de Sacramento-MG.
Lá, Eurípedes, constatando a existência de suas faculdades mediúnicas, submete-a de imediato a tratamento físico-espiritual através da fluidoterapia pois seu organismo achava-se muito debilitado, em função de grave quadro obsessivo.
Em poucos dias, Maria Modesto apresentava significativa melhora, sendo convidada a trabalhar na equipe mediúnica. Passado pouco tempo, já recuperada, Maria Modesto é orientada por Eurípedes Barsanulfo a mudar-se para Uberaba para desenvolver importante trabalho espiritual a que já estava destinada.
Em janeiro de 1919, funda com outros abnegados servidores, o Ponto Bezerra de Menezes, onde passa a servir a enfermos e necessitados. Surge assim, oficialmente, o primeiro núcleo do Espiritismo aberto ao público em Uberaba.
A sua assistência não se limitaria ao intercâmbio espiritual. Em 1922 inicia a realização do Natal dos Pobres, beneficiando os necessitados que ali buscavam o amparo, além da assistência prestada aos cegos, presidiários e outras instituições.
No Ponto, recebe do Dr. Bezerra de Menezes (1831/1900) a incumbência de criar uma nova instituição, o Sanatório Espírita de Uberaba. A planta arquitetônica do Sanatório é recebida mediunicamente por Maria Modesto.
Em 1928, a pedra fundamental é lançada pelo presidente do Centro Espírita Uberabense, médico sanitarista Henrique von Krugger Schroeder.
Em 1933 o Sanatório é inaugurado, sendo contratado para o cargo de primeiro diretor clínico, Dr. Inácio Ferreira, jovem psiquiatra formado pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Junto ao Sanatório Espírita, o trabalho de Maria Modesto foi constante, tendo a benfeitora encontrado ainda tempo para auxiliar na fundação da União da Mocidade Espírita de Uberaba (UMEU) e do Lar Espírita para Moças em 1949, este juntamente com o Dr. Inácio que doa o terreno.
É importante lembrar que Chico Xavier, quando ainda morador de Pedro Leopoldo, costumava vir a Uberaba à serviço para participar anualmente da Exposição Agropecuária. Nessas oportunidades era sempre acolhido por Dona Modesta que o levava para participar das atividades do Centro Espírita Uberabense e às sessões noturnas no Sanatório Espírita.
Dona Modesta, como era carinhosamente chamada, considerada a Grande Dama da Caridade de Uberaba, manteve durante toda a sua vida incansável trabalho em prol de todos os necessitados da região.
Em julho de 1963, já com sérios problemas de saúde, transfere-se para Belo Horizonte, onde vem a falecer em 1964, após prolongada enfermidade.


(Sanatório Espírita de Uberaba)                                                              

TRANSFERÊNCIA DE LEPROSOS DO ASILO DE ABADIA, EM UBERABA, PARA O LEPROSÁRIO DE SANTA ISABEL

Transferência de leprosos do Asilo de Abadia

Transferência de, leprosos do Asilo de Abadia em Uberaba, para o Leprosário de Santa Isabel, em junho de 1942. O Estado de Minas Gerais possuía a Rede Mineira de Viação para Leprosos, composta de três vagões sanitários que fazia este transporte nos limites do Estado.

 Souza Araújo

UBERABA TÊNIS CLUBE – PISCINA E SEDE

Uberaba Tênis Clube – Vista da piscina e sede                  


                                                           Ano:1948
Uberaba Tênis Clube – Vista da piscina e sede - Foto de Henriot Cherulli

Década: 1960


Uberaba Tênis Clube – Vista da piscina e sede

Presidente: Valdir Rodrigues Vilela

Editor da foto: Marcellino Guimarães

(Foto do Acervo pessoal de Valdir Rodrigues Vilela)       

TRAGÉDIA NO “BAR DO ANTERO” - UBERABA

Bar do Antero
10 de abril de 1969. 4 da tarde, mais ou menos. Fazia a programação da 7 Colinas. O barulho foi ensurdecedor, como uma bomba de alto efeito explosivo. Um cogumelo de fumaça preta pelo bairro Estados Unidos. Gritei a plenos pulmões para o repórter Paulo Nogueira, na redação. Paulinho, num pé cá outro lá, “voando” pelas escadarias da rádio, instalada na avenida Fidélis Reis, gravador às mãos, subiu, como foguete, a avenida Presidente Vargas, cruzou a praça Comendador Quintino e, em minutos, esta defronte a horrenda tragédia. O vai e vem das pessoas, gritos lancinantes ecoavam na esquina das ruas Martim Francisco e Padre Zeferino.

 Em meio a fumaça preta, poeira por todos os lados, telhas e tijolos amontoados, pedaços de madeira, vidros estilhaçados, gente trombando em gente, pessoas gritando a procura de corpos dilacerados; o desespero tomou conta dos vizinhos e pessoas que passavam pelo local. Na esquina, um buraco enorme, causado pela explosão, uma fumaceira e inócuo de fogo que a todos assustava. Paulo Nogueira, no centro da tragédia, transmitia a noticia.

 Policia e bombeiros, logo chegaram. Uberaba entrou em pânico. Nunca acontecera tragédia de tamanha proporção. O estrondo foi ouvido em quase todos os bairros. O “bar do Antero”, tradição na cidade, ponto preferido de uma maioria boêmia da cidade, fora pelos ares. A explosão foi tão violenta que, além do “Antero”, completamente destruído. Foram também atingidos o “Bazar Dominique”, a “Barbearia Colares”, o armarinho “Amigos da Época” e uma casa comercial de cereais e transportes.

 Nas imediações foram parcialmente atingidos, a “Farmácia Globo”, “Calçados Colombo”, o bazar das”Miudezas”, bazar “São Geraldo” e algumas residências da rua Martim Francisco. Faleceram no local, José Cussi Neto(26). Lauro Lombardi(25), Ivone Alves(28). Gilberto Colares (25), Isaura Soares (25) e os garotos Douglas Cruz(11) e Mário Edson Cury(5). No dia seguinte, faleceu a oitava vítima, Antônio Cury. O “Lavoura e Comércio” relatou: “ indescritível o quadro após a explosão.

 Centenas de pessoas desesperadas à procura de seus entes queridos, rompendo cordões de isolamento, tentando localizar parentes sob os escombros. Gemidos, choro, apelos angustiantes , embaralhadas com a segurança militar”. Ainda do “Lavoura”, edição do dia 12,4.” A explosão, segundo Éden Borges, auxiliar da farmácia do Babá, à época noivo de Ivone Borges, uma das vitimas fatais, teria ocorrido no transporte de uma caixa de pólvora para fabricar bombinhas, pois, um dos transportadores estava fumando”. Outra versão corrente na ocasião é que, nos fundos do bar, havia um depósito de bananas de dinamite…

O certo é que, passados quase meio século da tragédia, apesar de minuciosas investigações policiais e técnicas, não se chegou ao laudo definitivo que motivou a tragédia.


Luiz Gonzaga de Oliveira 

Questões de Nosso Tempo

A INSATISFAÇÃO NAS RUAS -OS MANIFESTANTES AINDA NÃO VIRAM TUDO


*GUIDO BILHARINHO

   O Brasil foi tomado no mês de junho último por manifestações de insatisfação, protesto e reivindicações de proporções inéditas até então.

      A palavra chave do fenômeno é insatisfação. Insatisfação generalizada contra o estado das coisas no país. Se há (e há) progressos, instalações e condições inimagináveis até mesmo há trinta ou quarenta anos atrás (imagine-se antes!), os desmandos, a incompetência, a desonestidade, o oportunismo, a falta de caráter, a carga tributária, a burocracia, a violência e a insegurança também multiplicaram-se, permeando e afetando o tecido social.

    Os manifestantes que foram às ruas para expor essa legítima insatisfação, além de merecerem todos os elogios, exceto, obviamente, os baderneiros, os vândalos e os meliantes, nem sentiram ainda, pela idade da maioria, a tragédia de um país injusto e engessado.

       Se percebem que, com exceção de poucas e sofridas entidades culturais e assistenciais privadas, a maioria absoluta das organizações partidárias, sindicais e ongs de diversas matizes pautam-se por interesses particulares de seus dirigentes, ou, quando menos, por ideologia, não representando senão a si mesmas, ainda não enfrentaram as angustiantes filas dos atendimentos públicos. Se acham absurdos os gastos com estádios, futuros elefantes brancos a darem só despesas (mas, contraditoriamente, muitos são contra seu arrendamento a particulares), não tiveram de amargar meses para simples averbação em registro público e nem pagar taxas exorbitantes só para registrar mera ata de eleição de diretoria de entidade cultural absolutamente destituída de finalidade lucrativa.

    Se, com sobeja razão, repudiam a maioria dos candidatos e dos eleitos pela sociedade (e não políticos, que são outra coisa, rara no Brasil atual) para os executivos e legislativos, nunca atentaram que eles têm de gastar fortunas nas campanhas eleitorais (talvez, em média, uns três milhões de reais para deputado federal), ainda correndo o risco (certo para a maioria) de não serem eleitos. Então, como candidamente pretender que só idealistas se candidatem e como exigir que quem paga ou tem de obter meios de custear os gastos de sua eleição vá representar o “povo”? Sobre isso, aliás, ninguém fala! Por quê? Como também pouco se fala e se escreve contra os excrescentes fundo partidário e imposto sindical.

     Ao contrário, investem até contra o fundo público eleitoral, que deverá ser gerido e aplicado pela Justiça Eleitoral e não pelos partidos, proibidas totalmente outras fontes de custeio e outros gastos, oriundos até mesmo dos próprios candidatos, com o que, e só assim, haverá a decantada democracia no país, possibilitando a candidatura de todo cidadão no gozo de seus direitos e a ser exercitada em campanhas eleitorais regulamentadas.
    Se os manifestantes externam legítima insatisfação contra a corrupção, o sobrefaturamento e os desvios de recursos em obras públicas e contra os gastos estatais com a Copa, não atentaram, ainda, para os permanentes, inconstitucionais e fabulosos gastos publicitários das administrações e dos legislativos federais, estaduais e municipais em rádios, TVs, internet, jornais, folhetos e catálogos para se autoelogiarem.

     Essa juventude tão justamente insatisfeita nem ainda enfrentou o engessamento do país em todas as áreas, com multiplicidade de exigências formais e burocráticas de toda ordem e espécie, como, por exemplo, em relação ao meio ambiente, a respeito do qual o Brasil tem a legislação mais draconiana do mundo, com imposições cerceadoras que nenhuma outra nação tem, desequilibrando os índices de custos e produtividade e enfraquecendo o país na competição internacional, quando o correto e cientifico é se ter legislação uniforme para todos os países, visto que a questão ambiental é planetária.

    Além de tantos outros descabimentos, distorções e deturpações, essa juventude ainda nem enfrentou o confisco representado pela alta carga de impostos do país, a ponto de um profissional autônomo pagar, só do soi-disant imposto “de renda” e sofismaticamente “outros proventos”, praticamente um terço de seu ganho bruto, nem atentou, também, para a imensa injustiça tributária que obriga o assalariado do mínimo pagar, de imposto de consumo, a mesma percentagem de um milionário.

      E, ainda, nem conhece a sangria a que é submetido o país com a absurda remessa às matrizes das multinacionais de lucros, royalties, dividendos e rendimentos diversos. Como demonstrado pelo departamento (ministério) de Comércio dos E.E.U.U., de 1990 a 2000 a América Latina enviou para aquele país a esses títulos nada menos de UM TRILHÃO DE DÓLARES (Folha de S. Paulo, de 10/02/2003), fora o que remeteu para a Europa, Coreia do Sul e Japão.

     Nada há, no momento, mais autêntica, legítima e motivada do que a insatisfação generalizada no país com o estado (geral e particular) das coisas (de todas as coisas), como, por exemplo, o aposentado pelo INSS não poder auferir mais do que R$4.150,00 (que é o teto fixado), enquanto os servidores públicos aposentam-se com vencimentos integrais, de R$ 12.000,00, R$ 15.000,00 ou mais de R$ 20.000,00, havendo, pois, defasagem absurda entre esses regimes de aposentadoria, que alguns querem uniformizar, mas, para baixo, já que necessário sobrar recursos para as mordomias oficiais, os palácios luxuosos, as viagens, nacionais e internacionais, constantes e caríssimas, a maioria delas, notadamente de congressistas, meras (não inúteis, mas, nocivas) vilegiaturas turísticas, enquanto o povo aufere o mínimo (e é o mínimo mesmo) e rala nos ônibus precários e nos metrôs e trens suburbanos superlotados das grandes cidades.

    Por isso e por muito mais, o Brasil necessita ser passado a limpo, reorganizado de cima a baixo, para que suas instituições públicas (e as privadas também) passem efetivamente a contribuir para o progresso e bem-estar dos brasileiros e não sejam entraves à boa administração e ao desenvolvimento do país, como o é o caótico sistema político organizado, dirigido e mantido por grandes conglomerados empresariais, diretamente ou por meio de representantes.

    Por fim, é de se observar e atentar que a causa maior, se não a única, de toda a precariedade (e ponha precariedade nisso) das instituições públicas e privadas brasileiras decorre, fundamental e principalmente, da permanente abstenção da sociedade, de sua não participação, de sua carência de espírito crítico, combativo, organizacional e, em decorrência, de sua falta de exigência, de seu alheamento, descaso, comodismo e abulia.

   Por isso, alvíssaras para as manifestações. Mas que não se fique só nelas e que tenham, sempre, espírito crítico e combativo, mas, construtivo, escoimados das manifestações, os recalques, as invejas e as abomináveis unilateralidades ideológicas, sempre obnubiladoras da mente e limitadoras do raciocínio e da percepção da realidade.

Segunda-feira, 5 de agosto de 2013   

Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, foi candidato ao Senado Federal e editor da revista internacional de poesia Dimensão, de 1980 a 2000, sendo autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional.

                                                     

Vista aérea da avenida Doutor Fidelis Reis

Vista aérea da avenida Doutor Fidelis Reis
Na imagem de 1966, descortinava-se um momento de grande desenvolvimento urbanístico em Uberaba para os padrões da época. No primeiro plano da fotografia, observa-se a base da construção do Edifício Abadia Salomão; à direita vemos a construção dos primeiros pavimentos do Banco do Brasil. No centro da imagem, verifica-se a construção do edifício da Equitativa dos Estados Unidos do Brasil (atual edifício Everest). Segundo o processo para construção deste prédio, que está sob salvaguarda da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba, o projeto da obra foi aprovado em 1952. Contudo, este documento demonstra que o edifício foi concluído apenas em 1977, quando recebeu o "habite-se" da Prefeitura de Uberaba.

Texto: Thiago Riccioppo


Fonte: Arquivo Público de Uberaba.                      

Arquivo Público de Uberaba digitalizará originais de Carolina Maria de Jesus

Nesta quarta-feira, 28 de junho de 2017, o Arquivo Público de Uberaba recebeu o secretário de Cultura e Turismo de Sacramento, que disponibilizou a coleção de obras originais da escritora Carolina de Maria de Jesus para ser digitalizados. A ação é fruto de uma parceria firmada entre a Prefeitura de Uberaba/Secretaria de Governo por meio do Arquivo Público, com a Prefeitura de Sacramento, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/Arquivo Público Municipal Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswik.

O pesquisador do Arquivo Público de Uberaba, Miguel Jacob Neto, destacou a importância de poder digitalizar esse material que será disponibilizado para os interessados em pesquisar sobre a obra da escritora e também poderá ser utilizado para pesquisas internas do arquivo. “É muito importante essa parceria entre os municípios para que haja o estreitamento entre os Arquivos Públicos que só tem a se facilitar o acesso a informações e o desenvolvimento de pesquisas”, pontua Miguel.

De acordo com o Secretário de Cultura e Turismo de Sacramento, Carlos Alberto Cerchi, o material está no arquivo de Sacramento desde 1990, doado pela filha da Carolina. “Com a digitalização esperamos socializar o trabalho da Carolina Maria de Jesus, que é uma autora muito conhecida internacionalmente tendo suas obras traduzidas em mais de 15 idiomas e comercializada em mais de 60 países”, destaca Cerchi.

Estão sendo digitalizados 37 cadernos brochura, que foram manuscritos por Carolina, onde estão obras inéditas contendo peças teatrais, romances, diários, composições de musica, poemas, enfim, uma gama de trabalhos não publicados. Também serão digitalizados os originais dos livros, Pedaço da Fome e Casa de Alvenaria, que não são mais encontrados no mercado.

A responsável pelo Arquivo Público de Sacramento, Eliana Garcia Vilas Boas, pontuou ainda a importância desse material, como um arquivo pessoal físico, onde inclusive os rascunhos estão preservados para análise da obra da autora. “Hoje com os arquivos digitais, na maioria das vezes você apaga o rascunho sobrando apenas o produto final. Já nos arquivos físicos, temos o rascunho e original, o que é uma fonte muito rica para os pesquisadores”, ressalta Boas.

Esse trabalho está sendo realizado para democratizar o acervo de Carolina Maria de Jesus, uma vez que, desde seu centenário em 2014, uma corrente de pesquisadores tem defendido que a autora seja pesquisada em suas obras inéditas, até mesmo para que eles possam desvendar novas facetas de Carolina.


Jorn. Natália Melo

Comunicação PMU

Fórum Melo Viana

Fórum Melo Viana - Década de 1940

 Fórum Melo Viana inaugurado em 1916 – Rua Lauro Borges - demolido. Atualmente existe na localidade um prédio de um pavimento e funciona o Cartório Eleitoral.

 (Arquivo Público de Uberaba) 

Correios de Uberaba

                                                                                             

             Correio Geral de Uberaba - Década de 1930              
   Correio Geral de Uberaba, localizava-se na rua Manoel Borges, antiga Farmácia São Sebastião, com algumas pessoas na fachada da frente do prédio.    

 (Arquivo Público de Uberaba)                                                                 
                         

Bloco Carnavalesco – Os Lampeões

Bloco Carnavalesco – Os Lampeões - Data: 1949
Bloco Carnavalesco – Os Lampeões na sede do Independente Atlético Clube, à rua Padre Zeferino esquina com a rua Martins Francisco, bairro Estados Unidos. Terceiro agachado: Domingos Gomes dos Santos, diretor social do Clube.

 (Arquivo Público de Uberaba) 

Banco Hypotecario de Uberaba

Banco Hypotecario 

   Banco Hypotecario de Uberaba, localizado a rua Artur Machado. Foi fundado em 1858 e demolido na década de 1960.

(Arquivo Público de Uberaba)

Banda do 4º Batalhão da Polícia Militar

Banda do 4º Batalhão da Polícia Militar - Data - 24 de julho de 1952
Foto:Akira
Banda do 4º Batalhão aguardando a chegada do Governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, na praça Santa Terezinha no bairro Fabrício. A Banda estava sob a regência do Sub-Tenente Mestre Júlio Martins Teixeira.    
   

(Arquivo Público de Uberaba)

Grupo Escolar Uberaba

Grupo Escolar Uberaba
Década de 1950

Fotógrafo: Prieto

  Grupo Escolar Uberaba, localizado na praça Estevão Pucci, bairro Fabrício. Inaugurado em 1946 e atualmente é denominada Escola Municipal Uberaba. 

(Arquivo Público de Uberaba) 

Devotos d’Abadia veneram imagem de Nossa S. Auxiliadora



Desde 1881 em Uberaba


* Luiz Alberto Molinar


A história de Nossa Senhora da Abadia se iniciou no ano de 883, em Braga (Portugal). Abadia é uma palavra originária de abade, a principal autoridade de comunidade de monges, e significa grupo religioso ou moradia de padres. No Brasil, a devoção à santa chegou por meio de portugueses e começou em 1750 no distrito de Muquém, de Niquelândia (GO).

Nos municípios de Uberaba e Romaria se realizaram as principais festas à Abadia no Triângulo Mineiro, onde é considerada a padroeira, com feriados nas duas principais cidades: Uberlândia e Uberaba. Além de Goiás e Minas, a santa é festejada, principalmente, em Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

O santuário de Nossa Senhora da Abadia, de Uberaba, se iniciou em maio de 1881, com o capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga, após participar de uma missa na então igreja de Santo Antônio e São Sebastião, depois denominada Adoração Perpétua, na pç. Dom Eduardo, Mercês.

Em conversa com amigo, o major Ananias Ferreira de Andrade disse-lhe do seu desejo de construir uma capela dedicada à Nossa Senhora d’Abadia, no bairro então denominado Alto da Misericórdia, que era conhecido assim por abrigar hospital com esse nome na pç. Tomaz Ulhoa, e que integra, atualmente, o complexo de saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Cerca de vinte anos depois, com o crescimento da popularidade da santa, o bairro passou a levar o seu nome.

Ainda em 1881, a Câmara Municipal concedeu ao capitão Formiga a licença para erguer a capela. Ele mesmo ficou encarregado das obras. Quatro dias depois o cônego Santos celebrou, no local da futura igreja, uma missa após a qual foi bento e levantado um cruzeiro para marcar o lugar da construção. No ano seguinte, em 15 de agosto, realizou-se a primeira festa de Nossa Senhora d’Abadia e benzida a imagem da santa que se tornaria a padroeira da cidade.

A capela precisava de água para as obras. Foi então furada uma cisterna, ao lado do cruzeiro, e a água jorrou com fartura. Houve até mesmo quem a considerasse milagrosa por seu líquido curar enfermidades. No entanto, espalhou-se que um indivíduo portador de doença venérea, numa madrugada, tomou banho no poço. Daquela data em diante a água secou e logo depois o reservatório foi aterrado.

Mantida pelo capitão Formiga, a igrejinha ficou pronta. Considerava-se dono do templo, não prestava contas a ninguém de sua administração. Após reclamações, suspeitas e denúncias, o bispo interditou a igreja. Com isto, Formiga trancou o santuário e levou consigo as chaves e a imagem da santa. Em sua casa fazia novenas, rezas e organizava procissões. Depois de disputa judicial, em sentença favorável à Cúria Diocesana, o capitão foi notificado a devolver os objetos retirados da capela.

Fieis d’Abadia em Uberaba vereram N. S. Auxiliadora

Segundo o memorialista e teólogo paulistano e residente em Uberaba desde a década de 1950, Carlos Pedroso, em seu livro intitulado “Padroeira Principal, Tratando da Devoção e da História de Nossa Senhora da Abadia”, a imagem da santa na igreja de Uberaba é de Nossa Senhora Auxiliadora. A diferença foi reconhecida por fiéis que frequentavam o santuário de Romaria, a 130km de Uberaba. Entretanto, devotos locais decidiram manter Auxiliadora em sua igreja. Haviam acostumado com ela...

O motivo da confusão se deu a partir da ida de uma comissão de devotos que foi a São Paulo (SP) para adquirir, na virada dos séculos 19 para 20, a estátua para adornar o altar da igreja. Numa livraria de padres salesianos, a réplica da santa Abadia não foi encontrada. O atendente sugeriu ao grupo que levasse a representação de Auxiliadora por ter, também, manto azul e crianças. A diferença é que enquanto a Abadia tem três crianças na base e uma no colo, a outra possuiu apenas uma no colo.

Padres passam a administrar a igreja

Em 1899, padres da ordem religiosa portuguesa de Santo Agostinho, que chegavam ao Brasil oriundos das Filipinas, assumiram a paróquia e imediatamente começaram a construir uma igreja ao lado da capela. Próximo dali ergueu-se uma casa que serviria de morada para os sacerdotes.
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Os agostinianos, anos depois, se retiraram da Diocese de Uberaba e o santuário passou ao cônego César Borges. Em 1921, o bispo dom Eduardo Duarte e Silva, nascido em Florianópolis (SC) e procedente da diocese de Goiás Velho, criou a Paróquia de Nossa Senhora d’Abadia, desmembrando-a da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião, que coordenava a ação da igreja no município.
Posteriormente, o bispo, transferido de São Paulo (SP), frei capuchinho Luís Maria de Santana, italiano de Verona, entregou a paróquia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo, ordem religiosa originária da Itália. Procedentes de Rio Claro (SP), os padres Albino Sella, estadunidense, e João Consolaro e o irmão Pedro Bianconi fundaram em Uberaba a nova comunidade dos estigmatinos e assumiram a paróquia d’Abadia, que contava então com 15 mil fieis.

Imagem da torre tem 4,4m e sino de tem 800kg

Os projetos da torre e da nova fachada da igreja estavam concluídos em 1937. O padre José Tondin administrava a obra em 1939, quando o sino maior, com 800kg e confeccionado pela paulistana Casa Angeli, chegou a Uberaba. Porém, somente em 1941 suas badaladas ressoaram pelo bairro.

A imagem d’Abadia instalada acima da torre da igreja, com 4,4m e dividida em três partes, foi inaugurada em 1940 sob o comando do novo bispo, dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que assumira o posto há quatro meses. Os anjos da fachada do templo, esculpidos em São Paulo, no entanto, foram instalados em 1945, juntamente com as imagens de São Pedro e de São Paulo, produzidas em Campinas (SP), e colocadas no frontispício do templo.

Iniciou-se em 1946 a construção da abóboda, coordenada pelo padre João Missoni, que se transferiu em seguida para a cidade de Magda (SP). Dois anos depois a cobertura da nave central era revestida com telhas modelo francesa. Dom Alexandre desentendeu-se com a prefeitura e a festa da padroeira não se realizou em 1948. Em protesto, a igreja permaneceu fechada durante os dias destinados à festa e reabriu somente no dia 22 de agosto.

O padre italiano Ângelo Pozzani passou a administrar a paróquia a partir de 1949. Estavam terminados, em 1954, o revestimento interno, as molduras dos arcos, os capitéis - ornamento de gesso no alto das colunas - e suas bases cobertas com granito preto. A pintura da cúpula foi concluída após três anos e o altar-mor inaugurado.

Entre 1968 e 1969 assentou-se o piso de cerâmica, foram realizados acabamentos de mármore e de granito no presbitério, fixou-se os vitrais e cobriu-se as naves laterais. Montaram-se também as três portas da fachada e o altar, trabalho realizado pelo artista Ammeletto Belloni, de Ribeirão Preto (SP).
Dois sinos eletrônicos passaram a integrar o carrilhão da igreja em 1975: um com 380kg e o outro de 240kg, que se juntaram ao antigo de meia tonelada. Os novos foram fabricados pela paulistana Fundição Crespi. A partir de 1977 o santuário passou a contar com um órgão eletrônico.

O padre Vicente Ruy Marot promoveu durante sua gestão, entre 1994 e 2001, a remodelação do santuário que incluiu a colocação de cruz pendente sobre o altar da imagem da padroeira e, em outro, a de São Gaspar Bertoni. A instalação de grandes lustres no vão central da igreja constituiu-se na inovação mais importante, além de pinturas artísticas imitando mármore e granito nas colunas e paredes no entorno, conforme projetos do arquiteto Demilton Dib.

A virada do milênio foi comemorada com a inauguração do quarto sino. Vitrais reformados, bancos de madeira substituídos, remodelação da entrada do santuário e grades para segurança foram afixadas à frente da igreja. Com o galpão para abrigar a festa da padroeira e eventos, ao lado do templo, padre Marot encerrou suas ações na direção da paróquia.

Embora Nossa Senhora d’Abadia fosse conhecida como padroeira de Uberaba desde o início do século 20, inclusive sua data comemorada com feriado municipal, oficialmente somente em 14 de agosto de 2007 que a lei 10.196 a reconheceu como patrona.  

Fontes: santuarioabadia.com.br e Wikipédia

*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia www.luciliarosavermelha.blogspot.com,da Editora Bertolucci.

Nossa Senhora d’Abadia de Romaria tem três crianças na base e uma no colo 
     Primeira igreja d’Abadia sem a torre e os anjos no frontispício, nos anos de 1920 
                                   

            O segundo santuário na década de 1960, com a imagem de 4,4m na torre


Nossa S. Auxiliadora no santuário de Uberaba, com apenas uma criança no colo