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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Crispiniano Tavares, primeiro proprietário da famosa chácara, conhecida como Quinta da Boa Esperança

Quinta da Boa Esperança

Localizada na Rua João Modesto dos Santos – Bairro Estados Unidos.

Crispiniano Tavares, primeiro proprietário da famosa chácara, conhecida como Quinta da Boa Esperança, localizada no Bairro Estados Unidos, em Uberaba, nasceu em Ilhéus, na Bahia, em 28 de outubro de 1885. Fez seus estudos iniciais no Rio de Janeiro e diplomou-se como engenheiro pela Escola de Minas de Ouro Preto. 

     Casou-se com Antônia Paula Felicíssimo e, em viagem de núpcias ao Rio de Janeiro, visitou o Imperador D. Pedro II e o agradeceu pelo custeio de seus estudos. 

Profissionalmente redigiu relatórios técnicos sobre riquezas minerais e tipos humanos e de animais. Foi agrimensor, topógrafo, fiscal da empresa Catalão, conhecida como Estrada de Ferro Mogiana, em Uberaba. Escreveu contos e retratos do homem sertanejo. Realizou experiências no campo da fitologia e da zoologia, além de estudos de geologia e mineração no Estado de Goiás. Professor de física e química agrícola no Instituto Zootécnico, de Uberaba, primeira escola de ensino superior no Brasil Central. Combateu as queimadas dos campos. Publicou artigos na revista de Engenharia do Rio de Janeiro. Seus trabalhos serviram de modelo ao geógrafo norte-americano Orvilhe A. Derby, ao tratar dos picos mais altos do Brasil. Editou o jornal Minas Ativa. Foi poeta e primeiro contista do Brasil Central. Estudou folclore, exerceu o jornalismo e era um administrador capacitado. 


Em Uberaba, sob o auspício de amigos locais, a Livraria Século XXeditou sua obra Contos Inéditos. Seus contos abordam temas regionais, narrativas de fatos reais, autobiográficos, temáticos de nítida produção e inspiração religiosa. 

Em sua homenagem foi editado o livro Crispiniano Tavares, por Basileu Toledo França, na cidade de Goiânia. 


Em 1900, foi eleito como 2º secretário do Partido Monarquista de Uberaba. 

Crispiniano residiu muitos anos em Uberaba, exercendo o cargo de engenheiro fiscal da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. 


Contribuiu com seus conhecimentos técnicos e atuação profissional para o progresso geral da cidade, tanto no Instituto Zootécnico de Uberaba, onde foi professor, quanto como proprietário rural da Quinta da Boa Esperança. Esta era considerada modelo em Minas Gerais, pela sistemática avançada no tempo, tanto pela criação do empreendimento quanto pela administração adotada. 


Em 1887, Crispiniano Tavares iniciou a construção da chácara Quinta da Boa Esperança, situada nas nascentes de um dos córregos que banham Uberaba e à margem do traçado da via férrea Mogiana, distante 1.500 m do centro da cidade. 


A chácara era de grandes dimensões, cujo embrião ficava no final da Rua Marquês do Paraná, descendo, contornava a pequena chácara de Carlos Carrara, atualmente Instituto de Cegos do Brasil Central, descia a rua até a Praça da Gameleira e contornava a antiga chácara do Padre Zeferino – esquina da Rua Artur Machado com Odilon Fernandes – e chegava até a Rua da Pinga – atual Rua João Pinheiro –, depois subia até a atual Mogiana, dobrava a direita, contornava a Chácara dos Eucaliptos, que também a integrava, e finalmente, em direção a Rua Professor Terra e voltava ao ponto de saída. 


O projeto da Quinta da Boa Esperança foi elaborado pelo proprietário Crispiniano Tavares, seguindo rigorosas normas técnicas conhecidas por ele. Traçou intermináveis avenidas de mangueiras, que se estendiam até a Rua Marquês do Paraná, onde se localizava a entrada social e comercial. A outra entrada da chácara era perto da Gameleira, utilizada pelos carros de bois e carroças. 


O construtor responsável pela edificação do chalé foi o italiano João Magne. 


Mais tarde, Manoel Marinho, português, artista que construiu muitos passeios e edifícios da cidade, modificou o chalé dos Tavares. 


Para combater as erosões na propriedade, Crispiniano Tavares construiu muros de arrimo de pedra tapiocanga por toda a extensão das áreas cultivadas, que iam da chácara de Miguel Laterza e Carlos Carrara até o estradão que hoje é a Rua Professor Terra. 


Em seu vasto pomar que formava um bosque, continha uma infinidade de espécies de árvores frutíferas como mangueiras, laranjeiras, jabuticabeiras, cajueiros, pessegueiros, damasqueiros, pinheiras, figueiras, abacaxizais, etc. Destacavam-se as plantações de vinheiras que permitiram a produção de grande quantidade de suco de uva; havia quarenta e quatro qualidades de parreiras, inclusive as enxertadas, como Moscatel Preta de Alexandria, a melhor de todas; a Chasselat Dorée; a Franquenthal; a Sabacknskoy, e muitas outras, excelentes para mesa. Para o vinho cultivavam as Delaware, Cynthiara, Tenerou, Olivette, Fernando Lesseps, Niágara, Colden Queen, Grass Colman e muitas outras. A qualidade da uva Isabela era a mais apreciada para a mesa, de sabor agradabilíssimo e o vinho se igualava aos melhores estrangeiros que existiam no comércio. As videiras recebiam tratamento especial. Em pequena escala fabricavam o vinho de caju, considerado delicioso. 


Além das frutas, cultivava cana-de-açúcar, arroz, algodão e café. O cafezal se destacava com muitos pés, cuja safra era muito produtiva. Produzia-se também grande variedade de horticultura. 


A pastagem abrigava muitos animais e o engenho de ferro era movido à tração animal e não utilizava a água como força motriz. Ali fabricavam pinga, rapadura e açúcar redondo. 


A Quinta da Boa Esperança faz parte dos elementos que muito têm concorrido para o progresso e desenvolvimento da Nossa Princeza do Sertaneja. (...) tem crescido e desenvolvido extraordinariamente, tanto em produção agrícola como industriais, conquistou devido aos esforços e a inteligência de seus ilustres e dignos proprietários, um logar saliente entre os estabelecimentos agrícolas do nosso Estado.[1]


Crispiniano Tavares aproveitou as três nascentes d’água e edificou a fábrica de farinha, de vinho, a sede da chácara e a casa dos funcionários. 


Havia um grande manancial de água que gerava a vida na chácara e irrigava as jabuticabeiras, as hortas e jardins. As minas de água forneciam água para moradores do Alto dos Estados Unidos. 


O jardim da frente do requintado chalé em que habitavam Crispiniano Tavares e sua família era pequeno, porém lindo, composto de variadas flores, sobressaindo as camélias, os belíssimos cravos, os ranúnculos, as anêmonas, os crisântemos, as magnólias, as tulipas e diversas espécies de rosas e palmeiras. As paineiras enfeitavam a avenida principal da chácara que era considerada uma maravilha e valorizada como um dos mais luxuosos jardins de Uberaba. 


Os leões, estátuas que guardavam a entrava da casa foram esculpidos por Crispiniano Tavares e as colunas do chalé foram feitas de ferro fundido na fábrica de Sorocaba, no Estado de São Paulo. 


Na chácara se localizava o campo de futebol dos ferroviários da Mogiana. 

A serraria denominada Santos Guido se localizava onde hoje é o Jardim Sete Colinas, isto porque, Jesuíno cedera o terreno a Santos Guido e a Gustavo Rodrigues da Cunha. 


O interior da casa era muito requintado e utilizavam porcelana francesa. 

O chalé recebeu homens ilustres da época, como: conde D’Eu, Dr. Rebouças, Afonso Rato, João Teixeira, conde Afonso Celso e outros. 


Os primeiros loteamentos em Uberaba foram feitos por Crispiniano Tavares nos terrenos da chácara, seguindo as normas técnicas exigidas. 


Na chácara havia três casas de funcionários. Uma ficava perto da porteira da atual Avenida Jesuíno Felicíssimo. A outra, um barracão que era um rancho muito grande que abrigava em torno de dez famílias, parecia uma senzala; e a outra casa ficava perto de um bosque. 



Os empregados da chácara, em sua maioria, eram imigrantes italianos, muitos baianos e poucos negros. Estes trabalhavam uma jornada em torno de onze horas por dia. 


Os trilhos da Mogiana cortavam pelo interior da chácara em longo trecho, pois saíam da atual Rua Menelick de Carvalho em direção da Estação Amoroso Costa. 


A chácara era administrada e seguia um projeto técnico, o que resultou em enorme produção e fama. A produção agrícola foi muito significativa, com hortas, pomares, enormes cafezais e vinhedos. A produção industrial era de grandes variedades de vinho e doce, pingas, rapadura e laticínios. Dessa forma, conquistaram um lugar de destaque entre os estabelecimentos agrícolas do Estado de Minas Gerais. Os vinhos produzidos na Quinta da Boa Esperança tornaram-se famosos em grandes centros, como o Rio de Janeiro, São Paulo e demais lugares. Também produziam álcool para o consumo. 


Margeando o córrego da chácara encontrava-se espesso bambuzal, contendo magníficas espécies: comuns, indiano, imperial e africano. 


Havia dois bosques de árvores de lei, como jequitibás, aroeiras, cedros, amburanas, todos formando um pequeno patrimônio ecológico. 


Após a morte de Crispiniano Tavares, em Rio Verde, Goiás, no ano de 1910, ficaram muitas dívidas em Minas Gerais e Goiás e sob a ameaça de insolvência, a chácara foi a leilão por volta de 1910. Entretanto, o cunhado Jesuíno de Paulo Felicíssimo a arrematou e permitiu que a viúva de Tavares, Antonia Paula Felicíssimo, continuasse a administrar a famosa Quinta, onde impôs um regime matriarcal continuando a funcionar como no tempo do seu marido, isto é, a mesma estrutura administrativa, as produções caseiras e industriais. 


Após a morte da viúva de Crispiniano Tavares, se extinguiu o período de esplendor de uma época com requintes, o gosto por hábitos nobres e o modismo da Corte. 


A Quinta continuou a ser administrada por seu proprietário Jesuíno de Paulo Felicíssimo, que aproveitou os recursos das fontes d’água, dinamizando o abastecimento de água na cidade, construindo tanques e caixas d’água em níveis que permitam o abastecimento em bairros distantes. Depois a Prefeitura montou seu serviço de água e não quis aproveitar a tubulação de ferro. Consequentemente, Jesuíno arrancou-a e a vendeu em São Paulo. 


Em 1936, Jesuíno faleceu na cidade de São Paulo. 



Assumiu a direção da Quinta, José Crispiniano Pupo Felicíssimo, conhecido popularmente como “Bacuri”. Este apelido ganhara quando era jogador de futebol. Fez demolir o engenho, a fábrica de vinho, a casa de farinha; perderam-se as videiras e um dos bosques naturais desapareceu. Os loteamentos idealizados por Crispiniano Tavares, no Alto da Boa Vista, se intensificaram, entre pastos, capinzal, bosque e área cultivada. 

Com o falecimento de “Bacuri” os herdeiros da chácara transfere o imóvel para dois dos dez irmãos de Felicíssimo. Um deles foi Jesuíno Felicíssimo Júnior, geólogo, ex-presidente do Instituto de Geologia de São Paulo, autor de obras importantes. 


Depois a chácara foi vendida para José Elias que faleceu no ano de 2002 e atualmente os herdeiros são os proprietários. 



OS ANTIGOS VINHEDOS DE UBERABA 



Segundo Hildebrando Pontes, Uberaba foi um centro viticultor bastante adiantado. 



Inicialmente, as vinhas foram cultivadas na antiga vila de Desemboque, onde cultivou a casta “Izabel”. 



Em 1828 ou 1830 o padre Zeferino Batista plantou em sua chácara as primeiras mudas de vinha cuja sede ficava na antiga Rua do Comércio – atual Rua Arthur Machado, João Pinheiro, Praça da República – atual Praça Afonso Pena, Estação da Mogiana e Quinta da Boa Esperança. Foram fabricados milhares de litros de vinho tinto, do qual algumas garrafas foram levadas à Corte Imperial, onde era muito apreciado. 


Posteriormente, o capitão Thomaz José de Miranda Porto e, depois, sua viúva Sebastiana Maria do Espírito Santo, cultivaram vinhedos na Rua Major Estáquio. 


Também era cultivada pelo alferes Marinho da Silva Oliveira na chácara Marinhão, depois Dore, e finalmente, Manteiga. 



Em 1877, era raro o quintal em Uberaba em que não houvesse um plantio de vinhedos. 


O major Joaquim José de Souza Maurício transferiu-se para Uberaba e iniciou o seu vinhedo na Rua Direita, hoje Rua Vigário Silva, e industrialmente iniciou a fabricação de vinho e fornecimento das frutas aos vinicultores que produziam superior vinho comparado ao nacional. 


Um fato interessante ocorreu em 1895, quando um inseto, ophilloxera vastatrix acometeu as paineiras e só foi exterminado após destruir as vinheiras de fraca resistência, só salvando as parreiras da espécie Isabel, mais resistentes a philloxera. Após isso, muitos viticultores desanimaram e abandonaram por completo esse lucrativo ramo da agricultura. 


Pesquisa e texto: 

Marta Zednik Casanova 

Superintendente do Arquivo Público de Uberaba 




BIBLIOGRAFIA 


ALMANAQUE UBERABENSE. Uberaba, 1903. Livraria século XX, Uberaba, organização: Diocléciano Vieira e Arédio de Sousa. 

ALMANAQUE UBERABENSE. Uberaba, 1904. Livraria século XX, Uberaba, organização: Diocléciano Vieira e Arédio de Sousa. 

JORNAL LAVOURA E COMÉRCIO. Uberaba, 07/03/1985, p. 5. 

JORNAL LAVOURA E COMÉRCIO. Uberaba, 08/03/1985, p. 5. 

PONTES, Hildebrando. Manuscritos. Departamento Privado. Arquivo Público de Uberaba. Pasta nº- 101. 

PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central. Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970. 


[1] Almanaque Uberabense. 1904, p.171.