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quinta-feira, 26 de abril de 2018

UM PRATA PARA SANEAR O RIO

      Durante anos, o governo federal e a prefeitura do Rio de Janeiro torraram dinheiro público para embelezar a cidade, fazer obras controversas de grande impacto visual e preparar a capital para um evento internacional. Terminado esse período, a cidade do Rio passava por uma crise financeira que colocava em risco o funcionamento dos seus serviços. Foi quando um presidente da República, impopular e com a legitimidade questionada, decidiu colocar no comando da cidade um administrador de pulso firme, homem da sua estrita confiança.

      Essa história lhe parece familiar? Pois saiba que ela aconteceu no Rio de Janeiro há quase cem anos. Nessa época, o Rio era Capital Federal e o prefeito era nomeado diretamente pelo Presidente. Entre 1918 e 1922, o presidente Epitácio Pessoa e o prefeito Carlos Sampaio deram início a um arrojado programa de reformulação do centro antigo da cidade. A reforma incluía a remoção do Morro do Castelo – na época decadente e ocupado pela população pobre – para construção de uma enorme esplanada onde, durante o anos de 1921 e 1922 , foram construídos os palacetes cenográficos “Exposição Internacional do Centenário da Independência”.

      Essa fabulosa exposição tinha estandes de todos os estados da federação e de diversos outros países. Era coisa mais faraônica e suntuosa que o Brasil já havia visto em toda sua história. Um evento “padrão FIFA”, para usar um termo da moda. No final de 1922 chegou a hora de pagar a conta da festa. Para piorar, a situação econômica do Brasil não andava boa em função de uma crise persistente nos preços internacionais do café. Boa parte dos recursos federais haviam sido comprometidos por Epitácio Pessoa para garantir os interesses dos cafeicultores, o que lhe permitiu eleger seu sucessor – o mineiro Artur Bernardes – apesar de uma forte oposição dos militares e das classes médias urbanas, insatisfeitas com a situação. 

     A velha política do “café com leite” começava a desmoronar, e isso só iria piorar nos anos seguintes. Artur Bernardes, ex-governador de Minas Gerais, assumiu em 15 de novembro de 1922. Um mês depois nomeou para o cargo de prefeito da maior cidade do País o deputado federal Alaor Prata Soares, seu amigo pessoal e aliado fiel. Quase desconhecido para a população carioca, Alaor Prata tinha 40 anos e era uberabense. Havia se formado engenheiro na conceituada Escola Politécnica de São Paulo, mas se destacara como político e homem de imprensa no Triângulo Mineiro. Fora diretor dos jornais O Triângulo e Gazeta de Uberaba e colaborador do Lavoura e Comércio.


      Começou a carreira como vereador em Uberaba e, em 1909 elegeu-se deputado federal. Para os cariocas a nomeação foi um choque. A situação piorou quando Alaor anunciou, já no discurso de posse, que o principal objetivo da sua gestão era o de sanear as finanças do município, com um corte profundo nos gastos públicos. Para os uberabenses, nenhuma surpresa: a família Prata era conhecida na cidade pelos hábitos econômicos controlados e uma folclórica avareza. Sua primeira providência foi suspender todo o programa de reformas urbanas em andamento na capital (deixando muitas obras inacabadas) cancelar contratos com empresas fornecedoras e demitir um grande número de funcionários municipais. 

Alaor Prata Soares

     A insatisfação foi imediata, e agravou-se por conta do autoritarismo do presidente Artur Bernardes, que governou quatro anos sob estado de sítio e reprimiu com mão de ferro as diversas revoltas tenentistas que explodiram durante seu mandato. A imprensa oposicionista não perdia uma chance de castigar o prefeito, como forma de atingir o presidente. Alaor Prata era acusado de ser um interiorano caipira, que odiava o Rio de Janeiro. Há uma certa injustiça nas acusações. Na falta de recursos para obras, Alaor concentrou-se em elaborar projetos, legislações urbanas e códigos de obras que, mais tarde, foram importantes para o desenvolvimento do Rio. No final do seu mandato, já com as finanças em melhores condições, chegou a fazer até algumas obras de vulto, como a reconstrução da orla marítima (destruída por uma tempestade em 1925) e a duplicação do Túnel Velho, ligando Botafogo e Copacabana, que hoje leva o seu nome. Em 1926, deixou a prefeitura e retornou ao Congresso. 



(André Borges Lopes)