Quem viveu Uberaba nos anos 1970 e 1998, certamente lembra: era fim de tarde, o comércio fervilhando, e lá vinha ele pela calçada, passo tranquilo, bigode marcante, megafone na mão.
José Estanislau da Silva, Fumanchu.
Foto Acervo Uberaba em Fotos.
— “Atenção, desportistas! Hoje no Uberabão, Uberaba e Nacional!”
A voz metálica atravessava quarteirões. Crianças riam, comerciantes acenavam, torcedores já se imaginavam na arquibancada. Era José Estanislau da Silva, mas ninguém o chamava assim. Para a cidade, ele era simplesmente Fumanchu.
Morava no bairro Estados Unidos, em um barracão simples na Rua Pedro Floro. Tinha coração manso e sorriso fácil, mas carregava consigo o peso de dois velhos companheiros: o cigarro e a bebida. Ainda assim, era querido e respeitado por todos.
Quando deixou o álcool de lado por um tempo, abriu um ponto para engraxar sapatos na Rua Coronel Manoel Borges, bem em frente à extinta Sociedade Rural do Triângulo Mineiro. Pano na mão, graxa na lata e conversa na ponta da língua, recebia clientes e amigos como quem recebe parentes.
O destino, porém, o fez vender o ponto para o amigo “Batata”. Com o dinheiro, voltou ao velho vício. Foi então que contou com o apoio de Jesus Mazano e Dr. Antônio José de Barros, que o encaminharam a um centro de recuperação.
Depois dessa fase, Fumanchu se reinventou. Passou a morar nos fundos da Biblioteca Municipal, onde cuidava do jardim com esmero. Plantava flores, árvores frutíferas e, junto ao seu inseparável cachorro Brinquinho, parecia finalmente em paz.
Fumanchu partiu em 18 de janeiro de 1998. Mas, para quem viveu sua época, basta fechar os olhos e é possível ouvi-lo outra vez:
— “Atenção, desportistas! Hoje no Uberabão, Uberaba e Nacional!”
E lá vai ele, caminhando entre as ruas da memória, anunciando para sempre o próximo jogo, como se a vida fosse uma eterna tarde de domingo no estádio Uberabão. (Antônio Carlos Prata).