sexta-feira, 8 de março de 2019

Joubert de Carvalho

Biografia

Joubert Gontijo de Carvalho (Uberaba MG 1900 - Rio de Janeiro RJ 1977). Compositor e médico. É o segundo dos dez filhos de um fazendeiro mineiro. Desde criança toca piano e se interessa pelas bandas locais. Em 1913, muda-se com a família para São Paulo, onde estuda no tradicional Ginásio São Bento. Tem aulas de música com uma tia pianista e compõe sua primeira canção, Cruz Vermelha, inspirada no hospital infantil homônimo. Conclui os estudos no Colégio Osvaldo Cruz e, em 1920, influenciado pelo pai, vai para o Rio de Janeiro para cursar a faculdade de medicina. Em 1925, defende a tese de conclusão do curso Sopros Musicais do Coração, e passa a conciliar a carreira de médico com a de compositor.

Em 1922, grava o foxtrote Príncipe, pela Orquestra Augusto Lima (Francisco Alves a grava em 1931 e o violonista Garoto, em 1954). Em seguida, Gastão Formenti grava Canarinho e Rolinha (ambas de 1927) e Casinha do Meu Bem (1928); e Francisco Alves, Traição e Castelo de Luar, parceria com Catulo da Paixão Cearense (ambas de 1928), e Dor de Recordar (1929). Nesse período, conhece o poeta Olegário Mariano (1889 - 1958), com quem compõe Zíngara (1931), Tutu Marambá, Hula (ambas de 1929) e De Papo pro Ar (1931), iniciando uma produtiva parceria. Em 1930, compõe para Carmen Miranda a canção Pra Você Gostar de Mim, seu primeiro grande sucesso, que se torna conhecida popularmente como Taí. Carmen grava 28 canções do compositor. Nessa década, Carvalho compõe Pierrot, interpretada por Jorge Fernandes, escrita para a peça homônima de Paschoal Carlos Magno, e Maringá, feita para os flagelados da seca nordestina e gravada por Gastão Formenti, em 1932, com o objetivo de agradar José Américo de Almeida, tendo em vista uma nomeação no Instituto dos Marítimos. Em 1933, Carvalho é nomeado médico do instituto, torna-se diretor e lá se aposenta.

Na década seguinte, suas canções são gravadas por Orlando Silva (Em Pleno Luar, Maria, Maria) e Silvio Caldas (Minha Casa, Nunca Soubeste Me Amar). Nos anos 1950, torna-se membro e diretor da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (Sbacem) e membro do Conselho Federal da Ordem dos Músicos. Participa, em 1969, do 4º Festival Internacional da Canção (FIC), com Fragrância (parceria com Mario Rossi), interpretada por Francisco Petrônio. Em 1970, a canção A Flor e a Vida vence o 2° Festival da Seresta na voz de Antônio João. Carvalho a registra em piano em gravação de 1971 para o fascículo História da MPB, da Editora Abril. É autor do romance Espírito e Sexo.

Paulo Tapajós grava o disco 10 polegadas Melodias Imortais de Joubert de Carvalho, com arranjos de Léo Peracchi, em 1956. No ano seguinte, Alexandre Gnattali lança outro 10 polegadas, A Música de Joubert de Carvalho. Em 1959, o maestro Carlos Monteiro de Souza grava com orquestra e coro o LP Olegário Mariano (o Príncipe dos Poetas) e a Música de Joubert de Carvalho, um songbook dessa parceria. Carlos Galhardo grava em 1962 Joias Musicais de Joubert de Carvalho. Dez anos depois, é lançado o LP Maringá, a Cidade que Nasceu de uma Canção, no jubileu de prata da cidade paranaense, só com composições de Joubert, nas vozes de Agnaldo Rayol, Jairo Aguiar, Ângela Maria, Cyro Monteiro, Ataíde Beck e Silvio Caldas. Dentro da série Grandes Autores, Grandes Intérpretes, a Copacabana lança em LP, em 1978, só composições de Joubert cantadas por José Tobias.


Comentário Crítico


Joubert de Carvalho é um daqueles casos em que se consegue conciliar produção musical com outra profissão. Conclui curso universitário, situação rara entre os artistas populares da primeira metade do século XX, forma-se em medicina e exerce a profissão, até se aposentar, simultaneamente à vida artística. Apesar da formação educacional formal, não estuda música de maneira regular. Tem aulas em São Paulo com sua tia, a pianista e compositora Dinorah de Carvalho, e, no Rio de Janeiro, estuda com o maestro Paulo Silva. Suas composições obedecem à intuição presente nos músicos populares, que o próprio compositor identifica como "escutar o ouvido interno". Acompanhado desse tipo de experiência intuitiva, Carvalho cria vários sucessos. Pode-se dizer que ele soube operar com essa realidade ao compor, por exemplo, o foxtrotePríncipe. De relativo sucesso no Brasil em 1922, ele é musicado em francês e apresentado em Paris, é gravado na Europa, circula em diversos países a ponto de, segundo o autor, ser considerada música originária da Tchecoslováquia. Também compõe tangos, como Zezé e Agonia, este gravado, em 1926, por Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino.

Mas as criações que recebem mais reconhecimento do público e da crítica são as identificadas com os chamados "gêneros nacionais". Com o poeta Olegário Mariano, ele forma inventiva dupla que compõe uma série de canções de sabor sertanejo, entre elas Cai, Cai Balão, Zíngara, Tutu Marambá e De Papo pro Ar. Estas duas integram definitivamente o imaginário sonoro brasileiro, chegando algumas vezes a ser confundidas com o folclore. Ainda nesse universo, compõe outra música importante, a toada Maringá. A canção tem história complexa e curiosa. Ela expõe ao mesmo tempo as relações clientelistas existentes na sociedade brasileira, a eficácia de penetração dos meios de comunicação no período e a força criativa da canção de Carvalho. Ambicionando um posto de médico no Instituto dos Marítimos, recomendam-lhe que faça uma música com o objetivo de agradar o poeta e político paraibano José Américo de Almeida. O resultado é a composição que conta a história da migrante paraibana Maria do Ingá (cidade paraibana), que foge da seca, e a consequente nomeação de Carvalho no posto pretendido. A fusão dos nomes, Maringá, batiza a canção, que fica famosa. Ela alcança tamanho sucesso que por vias oblíquas acaba influenciando na decisão do nome de uma cidade recém-inaugurada no norte do Paraná.

Há duas versões que procuram apresentar as razões para sua escolha. A primeira diz que a esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Paraná, responsável pela construção da cidade, teria sugerido o nome Maringá, pois é fã da música. A outra variante defende que os pedreiros que trabalhavam na construção da cidade cantavam permanentemente a canção e, por isso, o município teria sido batizado com seu nome. Não resta dúvida de que a música é a inspiração para o nome da cidade e pouco importa a veracidade das versões. O importante, nesse caso, é perceber o alcance da canção de Carvalho, que posteriormente compõe A Cidade que Nasceu de uma Canção, na qual conta essa trajetória.

Compõe inúmeras músicas líricas como Dor, Olha-Me Bem nos Olhos, Nunca Soubeste Me Amar, Não Me Abandones Nunca e, por isso, também é identificado como compositor romântico e seresteiro. Porém, seu maior êxito da carreira é a brejeira e animada marchinha carnavalesca Pra Você Gostar de Mim, gravada por Carmen Miranda, quando a cantora ainda é desconhecida. A canção fica conhecida popularmente como Taí, já que a letra da canção inicia com "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim". A marchinha é um dos maiores sucessos da época, vende aproximadamente 40 mil cópias e se torna uma referência de marchinha de Carnaval. O compositor cria ainda outros sucessos desse gênero, como Coco Pelado (1929), com Sadi Fonseca, interpretado por Artur Castro; É com Você que Eu Queria (1930), com Carmen Miranda; e Juriti, gravada por Francisco Alves e Ana S. Cabrera, em 1927.

A produção de Carvalho cresce consistentemente até o fim da década de 1940. Em razão de sua capacidade de acumular êxitos, suas canções são gravadas por inúmeros intérpretes, como Francisco Alves, Gastão Formenti, Jorge Fernandes, Carlos Galhardo, Alda Verona e Silvio Caldas. Em sua carreira, faz parcerias com Olegário Mariano, Paulo Roberto, J. Távora, David Nasser e Osvaldo Orico, além de um número surpreendente de colaboradoras - Ana Amélia Carneiro de Mendonça, Ieda Fonseca (A Flor e a Vida, 1967) e Maria Eugênia Celso (C'Est Toi l'Amour e N'Aimez que Moi, ambas de 1932). A música De Papo pro Ar é gravada por Suzana Salles (1994), Inezita Barroso (1998), Ney Matogrosso (2001) e Maria Bethânia (2006 e 2007).


Itaú Cultural