domingo, 2 de julho de 2017

Sarrafo - Pedro Ernesto Nassif de Oliveira - Festival do Chapadão/1966-Uberaba/MG

     Pedro Ernesto Nassif de Oliveira "Nenete"

Pedro Ernesto Nassif de Oliveira "Nenete", natural de Conceição das Alagoas-MG, foi o vencedor do 1° Festival do Chapadão de Música Popular Brasileira, com a música SARRAFO, de sua autoria, tendo a participação do grupo Canto e Cor na interpretação. O festival foi realizado em Uberaba-MG no dia 19 de outubro de 1966, no Clube Sírio Libanês.

(Dina Bessa)


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“FESTIVAL DO CHAPADÃO”, O SEU IDEALIZADOR E PRODUTOR, RECENTEMENTE FALECIDO EM UBERLÂNDIA, JORGE HENRIQUE PRATA SOARES, O PRATINHA

Levanto cedo. Seis da manhã, estou aceso.Roupa trocada.Rosto lavado e destes escovados. Saimos, Wania e eu, para a costumeira e saudável caminha matinal. Praça da Mojiana, o destino.Ha mais de 20 anos. Ainda encontro, quase todos os dias, bêbados que vararam a madrugada, moradores de rua dormindo na platibanda da estação e os costumeiros companheiros de caminhada. Sábado e domingo, não. Quase sempre vou prá roça ouvir o canto dos pássaros, o mugir do gado, o piar das siriemas , o cacarejar das galinhas e o sonoro cantar do único galo do terreiro. Aliado a tudo isso uma moda de viola da raiz, Tião Carrero e Pardinho, Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin, Sérgio Reis, Silveira e Barrinha, Lio e Léo e outros mais expoentes do gênero sertanejo.O tempo passa. Rapidinho…

Hoje,levantei com vontade de ouvir rádio. Liguei numa, evangélica. Outra, um barulhão “toc, toc, toc” e não entendia nada. Outra, o noticiário falava em acidente, roubo,morte, arrombamento, assassinatos e outras desgraças mais. Na outra, um noticiário local só de elogios à administração municipal e na última AM que tentei, só propaganda…Sintonizei a FM. Outro desprazer. Músicas da pior qualidade dessas “sertacamas” modernas…Mudo o dial, a oração de S.Francisco. Insisto, aí vem uma mensagem de um locutor otimista. Quase na “ponta”, uma universitária e músicas de gosto duvidoso. Desliguei o rádio. Pesaroso..

Fiquei a pensar com meus botões:”cadê a música boa?”A verdadeira música popular brasileira?Cadê as músicas com sentido e cantores de voz afinada?Será que tudo acabou?

Lembrei-me do Pratinha (Jorge Henrique Prata Soares) e o seu “Festival do Chapadão”.Festivais memoráveis, diga-se, que não se ouve e nem vê falar mais. Começou em 1968, durou 25 anos, com pequenos intervalos, mercê a burrice de alguns prefeitos que não ajudavam o sonhador (além de competente) Pratinha, na realização do festival. Ah!foram anos inesquecíveis! Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, apresentou os três primeiros, 68,69 e 70. Depois a voz bonita, postura de grande apresentador, de Romeu Sérgio Meneghelo, médico conceituado em S.Paulo. Em seguida, a elegância de Reinaldo Rodrigues, engenheiro por esses Brasís afora… As músicas? Letras de “babar” e que marcaram época. “Sarrafo”, ganhou o Festival primeiro.Falava da morte do estudante Edson Luis, no “Calabouço”, restaurante estudantil no Rio de Janeiro. A censura “bobeou” com a letra e… pimba! Lembram-se do Pedro Ernesto, da Engenharia? Pois é, ele foi o grande vencedor.

Em anos seguintes, vieram grandes “clássicos”que só não foram tocados pelas rádios brasileiras pela incompetência, ignorância e falta de conhecimento dos discotecários e donos de emissoras… Outra notável composição vencedora: “Pirulito”, do Marival, contando e cantando a vida dos vendedores da guloseima pelas ruas da cidade… Outra, linda ! “Reencontro”, do Andrézinho Borges Novais, músico exuberante. “De Metal”, de Paulo Edson e Chico Chaves (mais de duzentas letras de músicas . gravadas pelos principais cantores brasileiros).Em 71, foi sensacional;empate de três músicas:”Mensagem”, de Miguel Carlos, “Flores”, de Elias Jabour, de Jardinópolis e “Camila”, interpretada pela Rosana Zaidan( filha do meu saudoso amigo João), de Ribeirão Preto. Até 1993, o Festival do Chapadão monopolizou as atenções do meio artístico interiorano. Infelizmente, por falta de apoio, aconteceu um enorme espaço de sua realização. Apenas mais uma vez, o Festival foi realizado,em 2006. Não mais.

O patrono, cujo nome foi dado ao troféu do vencedor, disse no primeiro ano de sua realização, ter sido a mais gostosa homenagem que poderia esperar:Joubert de Carvalho, um dos uberabenses mais ilustres que esta santa terrinha viu nascer !

Hoje, para tristeza geral, ninguém sabe ou fala o que foi, o que representou para Uberaba, o “Festival do Chapadão”, o seu idealizador e produtor, recentemente falecido em Uberlândia, Jorge Henrique Prata Soares, o Pratinha e- pasmem ! – muito menos Joubert de Carvalho…


 Luiz Gonzaga de Oliveira