segunda-feira, 10 de julho de 2017

Outras igrejas, abandono e urbanização levaram à derrubada da Igreja do Rosário



83 anos – 1841-1927

*Luiz Alberto Molinar

            Escadaria de acesso à Igreja do Rosário, fundada em 1841 e derrubada em 1924       
      
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Uberaba foi derrubada, em 1924, por não haver manutenção por parte da Cúria Metropolitana. Estava em ruínas. Uma restauração seria dispendiosa. A demolição ocorreu a pedido do então agente executivo (prefeito à época),o progressista Leopoldino de Oliveira (Coligação Uberabense), também deputado federal no período. Nos últimos anos de sua existência, se realizava na igreja somente a comemoração do Dia da Abolição, o 13 de Maio, relatou o memorialista e religioso católico Carlos Pedroso.

Era usual, durante o Império, ao se iniciar um vilarejo a construção de duas igrejas: uma para brancos e outra para negros. Portanto, a principal foi erguida no Largo da Matriz, a pç. Rui Barbosa na atualidade, onde surgiu o primeiro povoamento do lugar e se concentrou comércio, prestadores de serviço e moradias.

As ruas Coronel Manoel Borges e Vigário Silva, que eram a mesma via e conhecidas como rua Grande por se iniciarem próximo da av. Deputado Marcus Cherém e ir até a av. Alexandre Barbosa. A r. do Commercio, hoje Artur Machado, existia, por volta de 1880, até seu terceiro quarteirão. Dali em diante era deserto.

A “Igreja dos Pretos” localizava-se três quadras à frente em área afastada do burburinho da vila. Sua construção realizou-se com mão-de-obra escrava, como era comum em relação aos santuários de devoção de negros, aberta em 1841. Era no Alto do Rosário, agora bairro Estados Unidos, no Largo do Rosário, atualmente av. Presidente Vargas, no meio do morro, com sua frente direcionada para o então final da r. do Commercio.

                             Foto do final do século 19, do alto do Morro da Onça, autoria de José Severino Soares                                

Santa Rita, São Domingos e Mogiana “ajudaram” a derrubar Rosário

Com o surgimento da Igreja Santa Rita em 1854, a três quarteirões da do Rosário, e da São Domingos 50 anos depois, a duas quadras, o santuário do povo negro foi perdendo frequentadores. Por isso, a Cúria deixou de mantê-lo, provocando sua decadência.

O início da operação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em Uberaba a partir de 1889, com a estação instalada no alto da r. do Commercio, provocou a urbanização no entorno da Igreja do Rosário, que se encontrava em ruínas. Consequentemente, o então “prefeito” Leopoldino de Oliveira se viu obrigado a propor a demolição do templo. A via, portanto, passou a ter passeios largos. Em meados do século 20, uma ilha foi construída com jardim e palmeiras imperiais. Desde 2006 há no local monumento de reverência a Zumbi dos Palmares, importante líder negro abolicionista.

Imigrantes sírios e libaneses ajudaram a erguer a Igreja São Benedito

As comunidades síria e libanesa, nos anos 1930 e 1940, concentravam suas atividades comerciais no bairro Estados Unidos, na r. Padre Zeferino, desde seu início até a r. Artur Machado. Era conhecida como a “Rua dos Turcos”.

Por utilizarem, praticamente, somente o idioma árabe, esses imigrantes se fecharam e havia dificuldade em se relacionar com a sociedade. Além disso, sírios e libaneses eram falados na cidade por moças: elas tinham medo deles. Diziam que presenteavam suas namoradas e esposas com joias caras, mas que batiam nelas, revelou o memorialista Pedroso.

Como forma de romper o isolamento, propuseram à Cúria Metropolitana ajudar a edificar a Igreja São Benedito, outro santo de devoção por povos de descendência africana. Seria uma forma de compensar a demolição da igreja do Rosário. A pç. da Bandeira, que depois denominou-se Dr. Jorge Frange, foi o local escolhido. A inauguração se deu em 1961, 34 anos após a derrubada da do Rosário. Nova basílica foi implantada no local em 1978, em formato circular, em substituição à primeira que tinha arquitetura tradicional.

O bairro, que passaria a levar o nome da igreja, já era reduto das duas nacionalidades e de seus descendentes. Até então a região era conhecida por Colina da Matriz. No local também estava instalada, na r. Major Eustáquio, desde 1927, a Sociedade Sírio Libanesa, que passaria, nos anos de 1990, a denominar-se Clube Sírio-libanês.


*Luiz Alberto Molinar é jornalista e coautor da biografia Lucilia – Rosa Vermelha.
  
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