quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A FAMA DO ZÉ GORDO


Seu nome de batismo poucos amigos sabem, mas, se falar “Zé Gordo”, a fazendeirama sabe quem é. “Zé Gordo” trabalhou para quase todos os fazendeiros da região e alhures. Depois de cometer um assassinato lá pros lados da “Melancia”, escondeu-se em fazendas do Mato Grosso (dizem que do coronel Cacildo Arantes e do genro, Mário Palmério...)e, não se soube mais o seu paradeiro. Porém, que deixou história, deixou...
A fama de bom peão sempre o acompanhou. O apelido até que não condizia bem com o moço, apesar de ligeiramente obeso, mas com uma agilidade ímpar. Excelente tirador de leite, vaqueiro de primeira, entendia de tudo na roça. Asseado, corajoso, amansava burro e cavalo bravos com uma valentia de fazer inveja. Tinha uma “vista” espetacular. As cercas que alinhava e mandava construir, eram uma verdadeira linha reta se medida com régua e compasso, tamanha a precisão de um poste ao outro... Asseio era com ele, quintal, casa sede da fazenda, a casinha em que morava com a Maria Rita, estavam sempre tinindo de limpos.
Curral bem tratado era o que mais caprichava. Arreata dos animais sempre em ordem, a vacinação do gado em dia, “Zé Gordo” era o peão que todo fazendeiro queria ter. Além do mais...tinha a Maria Rita, moça mais nova que ele, como a gente fala na roça, era também muito “boa de serviço”. Morena clara, limpa e perfumada, peitinho duro ( não usava sutiã, a danada...),nem alta, nem baixa, corpinho de “violão”, cintura fina, cabelos lisos bem penteados, olhar matreiro, era a cobiça dos patrões.
Na última fazenda que “Zé Gordo” trabalhou , à margem direita da rodovia 050, entre o córrego “Laranjeira” e o “Tejuco”, o dono das terras, conhecido fazendeiro na terrinha, andava de “olho “na mulher do empregado. Aliás, fato muito comum naqueles tempos de 1940 e quebrada...”Virava e mexia”, estava ele a levar uns “presentinhos” pra mulher do vaqueiro...O patrão sabia também que, além de bom empregado, “Zé Gordo”, era melhor na pontaria...Todo mundo sabia que voltara à região, fugido do interior de S.Paulo, onde andou “aprontando”. 
Uma tarde, o fazendeiro, depois de vistoriar o gado e visitar a mulher do “Zé Gordo”, viu, lá no alto do morro, encostado na porteira de entrada da fazenda, a figura forte e robusta do peão. Logo, pensou:- “Pronto!será que ele tá desconfiado?”. Engatou a “primeira” na caminhonete e seja o que Deus quiser...”Zé Gordo”, antes de abrir a porteira, aproximou-se e-“Patrão, tenho um assunto muito sério a tratar com o senhor. Pode ser agora?” O fazendeiro gelo da cabeça aos pés. Arrepiou até os cabelinhos íntimos.
-“Não, Zé, agora não. Tenho um compromisso político na cidade e estou atrasado. Fica pra outro dia”... acelerou a F-100 e “se mandou”. Nem olhou prá traz.
Só depois de uns 3 meses, voltou à fazenda, atendendo as insistentes chamadas do “Zé Gordo”. Afinal , a fazenda era dele...Verdade: foi bem recebido pelo casal, tomou café, comeu biscoito de polvilho feito na hora , esperou “Zé Gordo sair da casa , deu “aquele olhar na empregada”, ligou o carro e viu, lá em cima, na porteira, o peão.-“Hoje não tem jeito. Vou ter que enfrentá-lo”. O revolver à curta distância. “Zé Gordo” aproximou-se pelo lado da direção:-“Patrão, o assunto é sério. Não pode passar de agora? “Sem desculpa, sem encontro político, o fazendeiro só pensou:” seja lá o que Deus quiser”. – Fala, Zé. O que está acontecendo?”
-“Sabe, patrão, o que está acontecendo é grave e o senhor precisa saber. É com relação a Ritinha, minha mulher...”
O fazendeirão tremeu nas bases. Criou coragem e disse:- “Desembucha, homem!” falou bravo.
-“Sabe, patrão, a Ritinha tá traindo nóis dois...vê se pode. O senhor é tão bom”....
Esses episódios acontecem até nos dias atuais...


Luiz Gonzaga de Oliveira