quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

PRATINHA E O FESTIVAL DO CHAPADÃO

Pratinha
Levanto cedo. Seis da manhã, estou aceso. Roupa trocada. Rosto lavado e destes escovados. Samos, Wania e eu, para a costumeira e saudável caminha matinal. Praça da Mojiana, o destino.Há mais de 20 anos. Ainda encontro, quase todos os dias, bêbados que vararam a madrugada, moradores de rua dormindo na platibanda da estação e os costumeiros companheiros de caminhada. Sábado e domingo, não.

Quase sempre vou pra roça ouvir o canto dos pássaros, o mugir do gado, o piar das siriemas , o cacarejar das galinhas e o sonoro cantar do único galo do terreiro. Aliado a tudo isso uma moda de viola da raiz, Tião Carrero e Pardinho, Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin, Sérgio Reis, Silveira e Barrinha, Lio e Léo e outros mais expoentes do gênero sertanejo.O tempo passa. Rapidinho…

Hoje, levantei com vontade de ouvir rádio. Liguei numa, evangélica. Outra, um barulhão “toc, toc, toc” e não entendia nada. Outra, o noticiário falava em acidente, roubo,morte, arrombamento, assassinatos e outras desgraças mais. Na outra, um noticiário local só de elogios à administração municipal e na última AM que tentei, só propaganda… Sintonizei a FM. Outro desprazer. Músicas da pior qualidade dessas “sertacamas” modernas… Mudo o dial, a oração de S. Francisco. Insisto, aí vem uma mensagem de um locutor otimista. Quase na “ponta”, uma universitária e músicas de gosto duvidoso. Desliguei o rádio. Pesaroso.

Fiquei a pensar com meus botões: ”cadê a música boa?” A verdadeira música popular brasileira? Cadê as músicas com sentido e cantores de voz afinada? Será que tudo acabou?

Lembrei-me do Pratinha (Jorge Henrique Prata Soares) e o seu “Festival do Chapadão”. Festivais memoráveis, diga-se, que não se ouve e nem vê falar mais. Começou em 1968, durou 25 anos, com pequenos intervalos, mercê a burrice de alguns prefeitos que não ajudavam o sonhador (além de competente) Pratinha, na realização do festival.

Ah! foram anos inesquecíveis! Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, apresentou os três primeiros: 68, 69 e 70. Depois a voz bonita, postura de grande apresentador, de Romeu Sérgio Meneghelo, médico conceituado em S. Paulo. Em seguida, a elegância de Reinaldo Rodrigues, engenheiro por esses Brasís afora…

As músicas? Letras de “babar” e que marcaram época. “Sarrafo”, ganhou o Festival primeiro. Falava da morte do estudante Edson Luis, no “Calabouço”, restaurante estudantil no Rio de Janeiro. A censura “bobeou” com a letra e… pimba! Lembram-se do Pedro Ernesto, da Engenharia? Pois é, ele foi o grande vencedor.

Em anos seguintes, vieram grandes “clássicos”que só não foram tocados pelas rádios brasileiras pela incompetência, ignorância e falta de conhecimento dos discotecários e donos de emissoras… Outra notável composição vencedora: “Pirulito”, do Marival, contando e cantando a vida dos vendedores da guloseima pelas ruas da cidade…

Outra, linda ! “Reencontro”, do Andre Luiz Borges Novaes, músico exuberante. “De Metal”, de Paulo Edson e Xico Chaves (mais de duzentas letras de músicas gravadas pelos principais cantores brasileiros).

Em 71, foi sensacional empate de três músicas: ”Mensagem”, de Miguel Carlos, “Flores”, de Elias Jabour, de Jardinópolis e “Camila”, interpretada pela Rosana Zaidan (filha do meu saudoso amigo João), de Ribeirão Preto. Até 1993, o Festival do Chapadão monopolizou as atenções do meio artístico interiorano.

Infelizmente, por falta de apoio, aconteceu um enorme espaço de sua realização. Apenas mais uma vez, o Festival foi realizado em 2006. Não mais.
O patrono, cujo nome foi dado ao troféu do vencedor, disse no primeiro ano de sua realização, ter sido a mais gostosa homenagem que poderia esperar:Joubert de Carvalho, um dos uberabenses mais ilustres que esta santa terrinha viu nascer !

Hoje, para tristeza geral, ninguém sabe ou fala o que foi, o que representou para Uberaba o Festival do Chapadão, o seu idealizador e produtor, recentemente falecido em Uberlândia, Jorge Henrique Prata Soares, o Pratinha, e – pasmem! – muito menos Joubert de Carvalho…


 Luiz Gonzaga de Oliveira