quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA DA ABADIA EM UBERABA





  
A história de Devoção à Nossa Senhora da Abadia em Uberaba se iniciou no ano de 883, em Braga (Portugal). Abadia é uma palavra originária de abade, a principal autoridade de comunidade de monges, e significa grupo religioso ou moradia de padres. No Brasil, a devoção à santa chegou por meio de portugueses e começou em 1750 no distrito de Muquém, de Niquelândia (GO).


Nos municípios de Uberaba e Romaria se realizam as principais festas à Abadia no Triângulo Mineiro, onde é considerada a padroeira, com feriados nas duas principais cidades: Uberlândia e Uberaba. Além de Goiás e Minas, a santa é festejada, principalmente, em Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.


O santuário de Nossa Senhora da Abadia, de Uberaba, faz 134 anos em 2016. Sua história se iniciou em maio de 1881, com o capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga, após participar de uma missa na então igreja de Santo Antônio e São Sebastião, depois denominada Adoração Perpétua, na pç. Dom Eduardo, Mercês.


Em conversa com seu compadre, o major Ananias Ferreira de Andrade, disse-lhe do seu desejo de construir uma capela dedicada a Nossa Senhora d’Abadia, no bairro denominado Alto da Misericórdia, que era conhecido assim por abrigar hospital com esse nome na pç. Tomaz Ulhoa, e que integra, atualmente, o complexo de saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Cerca de vinte anos depois, com o crescimento da popularidade da santa, o bairro o passou a levar o seu nome.


Ainda em 1881, a Câmara Municipal concedeu ao capitão Formiga a licença para erguer a capela. Ele mesmo ficou encarregado das obras. Quatro dias depois o cônego Santo celebrou, no local da futura igreja, uma missa após a qual foi bento e levantado um cruzeiro para marcar o lugar da construção. No ano seguinte, em 15 de agosto, realizou-se a primeira festa de Nossa Senhora d’Abadia e benzida a imagem da santa que se tornaria a padroeira da cidade.


A capela precisava de água para as obras. Foi então furada uma cisterna, ao lado do cruzeiro, e a água jorrou com fartura. Houve até mesmo quem a considerasse milagrosa por seu líquido curar enfermidades. No entanto, espalhou-se que um indivíduo portador de doença venérea, numa madrugada, tomou banho no poço. Daquela data em diante a água secou e logo depois o reservatório foi aterrado.


Mantida pelo capitão Formiga, a igrejinha ficou pronta. Considerava-se dono do templo, não prestava contas a ninguém de sua administração. Após reclamações, suspeitas e denúncias, o bispo interditou a igreja. Com isto, Formiga trancou o santuário e levou consigo as chaves e a imagem da santa. Em sua casa fazia novenas, rezas e organizava procissões. Depois de disputa judicial, em sentença favorável à Cúria Diocesana, o capitão foi notificado a devolver os objetos retirados da capela.


Fiéis da Abadia adoram estátua de N. S. Auxiliadora


Segundo o memorialista e teólogo Carlos Pedroso, em seu recém-lançado livro intitulado “Padroeira Principal, Tratando da Devoção e da História de Nossa Senhora da Abadia”, a imagem da santa na igreja de Uberaba é de Nossa Senhora Auxiliadora. A estátua adquirida em São Paulo (SP), numa livraria de padres salesianos, não tem as três crianças aos seus pés como a original da Abadia. A diferença foi reconhecida por fiéis que frequentavam o santuário de Romaria, a 130km de Uberaba. Entretanto, devotos locais decidiram manter Auxiliadora em sua igreja.


Em 1899, padres da ordem religiosa portuguesa de Santo Agostinho, que chegavam ao Brasil oriundo das Filipinas, assumiram a paróquia e imediatamente começaram a construir uma igreja ao lado da capela. Próximo dali ergueu-se uma casa que serviria de morada para os sacerdotes.


Os agostinianos, anos depois, se retiraram da Diocese de Uberaba e o santuário foi entregue ao cônego César Borges. Em 1921, o bispo dom Eduardo Duarte e Silva, nascido em Florianópolis (SC) e oriundo da diocese de Goiás Velho, criou a Paróquia de Nossa Senhora d’Abadia, desmembrado-a da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião, que coordenava a ação da igreja no município.


Posteriormente, o bispo, oriundo de São Paulo (SP), frei capuchinho Luís Maria de Santana, italiano de Verona, entregou a paróquia à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo, ordem religiosa originária da Itália. Procedentes de Rio Claro (SP), os padres Albino Sella, estadunidense, e João Consolaro e o irmão Pedro Bianconi fundaram em Uberaba a nova comunidade dos estigmatinos e assumiram a paróquia d’Abadia, que contava então com 15 mil fieis.


Imagem da torre tem 4,4m de sino pesa 800kg


Os projetos da torre e da nova fachada da igreja estavam concluídos em 1937. O padre José Tondin administrava a obra em 1939, quando o sino maior, com 800kg e confecionado pela paulistana Casa Angeli, chegou a Uberaba. Porém, somente em 1941 suas badaladas ressoaram pelo bairro.


A imagem d’Abadia instalada acima da torre da igreja, com 4,4m e dividida em três partes, foi inaugurada em 1940 sob o comando do novo bispo, dom Alexandre Gonçalves do Amaral, que assumira o posto há quatro meses. Os anjos da fachada do templo, esculpidos em São Paulo, no entanto, foram instalados em 1945, juntamente com as imagens de São Pedro e de São Paulo, produzidas em Campinas (SP), e colocadas no frontispício do templo.


Iniciou-se em 1946 a construção da abóboda, coordenada pelo padre João Missoni, que se transferiu em seguida para a cidade de Magda (SP). Dois anos depois a cobertura da nave central era revestida com telhas modelo francesa. Dom Alexandre desentendeu-se com a prefeitura e a festa da padroeira não se realizou em 1948. Em protesto, a igreja permaneceu fechada durante os dias destinados à festa e reabriu somente no dia 22 de agosto.


O padre italianoÂngelo Pozzani passou a administrar a paróquia a partir de 1949. Estavam terminados, em 1954, o revestimento interno, as molduras dos arcos, os capitéis – ornamento de gesso no alto das colunas – e suas bases cobertas com granito preto. A pintura da cúpula foi concluída após três anos e o altar-mor inaugurado.


Entre 1968 e 1969 assentou-se o piso de cerâmica, foram realizados acabamentos de mármore e de granito no presbitério, fixou-se os vitrais e a cobriu-se as naves laterais. Montaram-se também as três portas da fachada e o altar, trabalho realizado pelo artista Ammeletto Belloni, de Ribeirão Preto (SP).


Dois sinos eletrônicos passaram a integrar o carrilhão da igreja em 1975, um com 380kg e o outro de 240kg, que se juntaram ao antigo de meia tonelada. Os novos foram fabricados pela Fundição Crespi, de São Paulo. A partir de 1977 o santuário passou a contar com um órgão eletrônico.


O padre Vicente Ruy Marot promoveu durante sua gestão, entre 1994 e 2001, a remodelação do santuário que incluiu a colocação de cruz pendente sobre o altar da imagem da padroeira e, em outro, a de São Gaspar Bertoni. A instalação de grandes lustres no vão central da igreja constituiu-se na inovação mais importante, além de pinturas artísticas imitando mármore e granito nas colunas e paredes no entorno, conforme projetos do arquiteto Demilton Dib.


O quarto sino da torre foi inaugurado em comemoração à passagem ao novo milênio. Vitrais reformados, bancos de madeira substituídos, remodelação da entrada do santuário e colocação de grades para segurança foram afixadas à frente da igreja. Com o galpão para abrigar a festa da padroeira e eventos, ao lado do templo, padre Marot encerrou suas ações na direção da paróquia.


Embora Nossa Senhora d’Abadia fosse conhecida como padroeira de Uberaba desde o início do século 20, inclusive sua data comemorada com feriado municipal, oficialmente somente em 14 de agosto de 2007 que a lei 10.196 a reconheceu como patrona.


Fontes: Santuário Abadia/Demilton Dib.