sábado, 26 de agosto de 2017

Marco em comemoração ao centenário da elevação do Arraial

Marco em comemoração ao centenário da elevação do Arraial
Lei 28, de 22.02.1836, criou o município de Santo Antônio de Uberaba. No centro -   22.02.1936 - 100 pessoas, em estrada ruim e condução difícil, compareceram ao local, onde Jose Francisco de Azevedo construiu o Arraial da Capelina – a Uberaba - onde o padre José Morais entronizou Santo Antônio e São Sebastiao, padroeiros de Uberaba. A Prefeitura até ergueu um marco comemorativo. Presenças: dom Luiz Sant’Anna, prefeito Paulo Andrade Costa, Juiz Josaphat Dantas, professor Hildebrando Pontes. O José Mendonça foi o orador oficial. O seu discurso foi publicado no Minas Gerais, órgão do Governo, que considera o 22 de fevereiro, Dia do Município de Uberaba”. 


(Arquivo Público Mineiro)

A verdadeira história do Desemboque


Edição nº 1394 - 27 Dezembro 2013

A arquiteta e pesquisadora Virgínia Dolabela 
A arquiteta e pesquisadora Virgínia Dolabela (foto) vem desenvolvendo há alguns anos o projeto 'Caminhos do Desemboque - Notas Históricas do antigo Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas, depois Julgado do Desemboque, atual distrito do Desemboque'. Ela mostra em sua pesquisa, através de documentos de fonte primária, isto é, da época dos fatos, que a história do Desemboque não é bem aquela que nos chegou, principalmente, após a publicação dos livros: PONTES, Hildebrando de Araújo – História de Uberaba e a civilização do Brasil Central – Edição Academia de Letras do Triângulo Mineiro – 1970 e SAMPAIO, Antonio Borges – Uberaba: História, fatos e homens volume 1 – Edição Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Bolsa de Publicações do Município de Uberaba –1971. Em entrevista ao ET, Virgínia contou uma história um pouco modificada da que  normalmente conhecemos.
Fontes de pesquisa

Pesquisas em documentos e mapas depositados em diversos locais como: Biblioteca Nacional, Arquivo Público Mineiro, Arquivo Histórico de São Paulo, Arquivo do Exército, e outros, principalmente documentos do Arquivo Ultramarino da época do Brasil Colônia, que estão depositados em Portugal, hoje disponibilizados pelo Projeto Resgate da Universidade de Brasília, atestam a história real do distrito de Desemboque.

Referências do Projeto Resgate como: AHU-ACL-N- Goias -Documentos: nº. 2586 e 2038 – registram que o arraial do Rio das Velhas foi fundado pelo Capitão Pedro Franco Quaresma e tomado posse pelo oficial coronel José Velho Barreto em 3 de janeiro de 1752, a mando “Ilmo. Exmo. Snr. D. Marcos, Governador e Capitão-General da Capitania de Goiás”.



Fato confirmado pelos documentos:

 Notícia Geral da Capitania de Goiás em 1783 (publicada in Notícia geral da Capitania de Goiás , BERTRAN, Paulo (org) -   Brasília: Solo Editores 1996).

Requerimento dos moradores de S. Domingos do Araxá pedindo sua passagem para a Capitania de Minas em 1815, publicado na revista do Arquivo Público Mineiro (págs875 a 882).



Data de fundação do Desemboque

O arraial do Rio das Velhas, sede do Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas, da Capitania de Goiás, foi fundado em 3 de janeiro de 1752, por Pedro Franco Quaresma e dado posse da região para a dita capitania pelo oficial coronel José Velho Barreto, a mando “Ilmo. Exmo. Snr. D. Marcos, Governador e Capitão-General da Capitania de Goiás”. A capitania de Goiás foi criada em 1748 e o então governador para conhecimento e posse de toda a área da capitania toma diversas providências, como levantamentos geográficos, arraiais existentes, população, etc. São diversos documentos que retratam os fatos e a cartografia oficial de Goiás dos anos de 1750 e 1751, mostram claramente que não existia nenhuma povoação na região das cabeceiras do Rio das Velhas, mas somente na antiga estrada para Goiás, passando pelo Porto da Espinha (ou do Anhanguera).

Em diversos documentos cartográficos do século XVIII, existia só a povoação “Desemboque” no Rio Grande, assim como em muitas referências cartográficas os dois aparecem conjuntamente, principalmente  nos mapas dos últimos trinta anos dos setecentos.



O atual Desemboque começa em 1761

O povoamento do pequeno Arraial do Rio das Velhas se deu depois de passados alguns anos, em 1761, quando de Minas Gerais vieram: Manoel Álvares Gondim, Luis Alves Ribeiro, José Rolim, João Fernandes, Manoel Fernandes Prado e outros que abriram as lavras de ouro e se fixaram em toda a região entre o rio Grande e o rio das Velhas. Na igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro a data de 1762 no altar mor é a referência da consolidação do povoado. Em 2 de março de 1766, o Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas foi instituído oficialmente pela Capitania de Goiás para consolidar a posse da região, já em conflito com a Capitania de Minas.

A toponímia “Desemboque” no século XVIII era relativa a um povoado no Rio Grande, na região da atual Usina Mascarenhas de Morais (Peixotos). Fato confirmado por inúmeros documentos, mapas e estudos sobre os conflitos de divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Também confirmado pelo requerimento dos moradores de Araxá de 1815.  O Auto de posse de Desemboque em 1861, citado por diversos autores é relativo ao povoado do rio Grande e não do rio das Velhas.

As controvérsias históricas publicadas são consequências das várias tentativas dos governos da Capitania de Minas para a conquista de mais territórios, principalmente para os lados das capitanias de Goiás e de São Paulo, como nas regiões dos rios São Marcos, Paranaíba, Grande e das Velhas. Documentos eram distorcidos de propósito para forçar o governo português a modificar divisas, dar posse de sesmarias, etc. As pesquisas que servem de base para a história que vem sendo contada do atual Desemboque foram feitas basicamente em arquivos mineiros e não levando em conta a existência do povoado no Rio Grande, misturando locais, fatos e datas.

Dos locais das lavras de ouro citados em diversos documentos sobre o Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas, um chama a atenção: a serra do Funil, no atual município de Delfinópolis, que tem o formato de um tabuleiro, contrastando com a então conhecida “Serra do Desemboque” (Peixotos), local de disputas e guerras até a destruição do povoamento nos fins do século XVIII.

O Julgado do Desemboque é criado em 04 de abril de 1816, quando a região é anexada a Minas Gerais e se acredita que foram dois os motivos da mudança do nome: primeiro que na Capitania de Minas já existia um rio das Velhas e uma povoação com esse nome, na Comarca de Sabará. E segundo que a região conhecida como Desemboque, no Rio Grande, era de conflito entre as três capitanias (São Paulo, Minas e Goiás) e o antigo povoado havia sido destruído e os antigos moradores “subiram” para os Arraiais do Rio das Velhas e do Barreiro do Araxá.


Igreja Matriz de Na. Sra. do Desterro

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro foi construída entre 1761 e 1762, e a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos recebe provisão em 1820, fatos já comprovados por documentos do Arquivo Nacional e Arquivo Mineiro, assim como os documentos citados anteriormente.

Em 1820 a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (já constituída) pede a provisão para erguer a capela, o que nos confirma que existiam os cultos e festejos anteriormente, como o congado, e a data da imagem de Nossa Senhora do Rosário dos fins dos oitocentos, com todas as características do estilo barroco, contrastando com a simplicidade da Igreja.

No Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas existiam guardas, alfândegas, juiz e todas as formas oficiais de controle da extração do ouro, do trânsito nas estradas, da ordem social, etc. Alguns fatos esporádicos levaram ao Desemboque a fama de local de ladrões e malfeitores o que não é verdade, pois é só estudar um pouco a história da colonização do Brasil e perceber que em várias regiões havia conflitos pelos altos impostos, como o “quinto”, cobrados por Portugal e pela posse de terras.

Como nota, vale ressaltar que em todos os documentos e mapas consultados, dos séculos XVII, XVIII e XIX, o atual Rio Araguari está denominado como Rio das Velhas. A referência de que se chamaria Rio das Abelhas começa em alguns documentos tardios da chamada “Conquista” do mestre de Campo “Ignácio Correya Pamplona” (Expedição em 1769) o que de acordo com alguns pesquisadores, já era para provocar conflito e conquistas para a capitania de Minas. Documentos e mapas publicados nos anais da Biblioteca Nacional, do escriba que o acompanhava, confirmam o nome Rio das Velhas e de que a expedição não chegou ao Arraial do Rio das Velhas, que pertencia a Goiás.

Pesquisas sobre a história do Desemboque e sua importância como polo de desenvolvimento do Triângulo Mineiro, como sede de Julgado, de riquezas e conquistas, como rota comercial de Goiás para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, merecem maior atenção das universidades, dos administradores públicos e da população de Sacramento.


Fonte: O Estado do Triângulo                                                   

Câmara faz documentário sobre o Desemboque

 Documentário busca resgatar a história de Desemboque
Nesta sexta-feira (8) o Canal Câmara exibe documentário sobre o valor cultural e histórico do Desemboque, situado no município de Sacramento, a cerca de 100 quilômetros de Uberaba, próximo do Parque Nacional da Canastra. São 22 minutos de informações, entrevistas com historiadores da cidade e fatos históricos sobre o local. A proposta partiu de requerimento do vereador Samir Cecílio (PR), solicitando a parceria da Câmara Municipal de Uberaba para a produção do documentário.

O trabalho de pesquisa teve início com visita técnica ao chamado Marco Zero, local que demarca o início da civilização na região, organizada pelo vereador Samir. A visita contou com a presença do professor e historiador Pedro Coutinho, bem como dos professores Carlos Pedroso e Carlos Sechi, além do ex-vereador José Severino e da jornalista Evacira Coraspe, produtora do material.

Samir destacou a importância do documentário, que resgata a história do desemboque, berço do povoamento do município de Uberaba. “É importante procurarmos conhecer mais, divulgar e despertar interesse nas pessoas, principalmente nos mais jovens”, disse Samir.

No documentário, o vereador ressaltou que, dentro das limitações do seu mandato, vai manter viva a história do distrito, começando por este vídeo, considerado por ele uma medida eficaz para revitalizar o povoado e inseri-lo no circuito de turismo. “Na região já existe uma rota turística, que é a Serra da Canastra, onde existe a nascente do Rio São Francisco e a Gruta dos Palhares, em Sacramento. Então, não é difícil incluir o Desemboque, que tem história para sustentar esse projeto”, justificou.

O documentário será exibido nesta sexta-feira a partir das 15h30, dentro do programa Movimento, simultaneamente na TV Universitária e no Canal Câmara (canal digital 61.1). O programa tem reprise no mesmo dia às 21h na TV Universitária e às terças-feiras, às 13h30, no Canal Câmara.

História - Há 206 anos, no dia 27 de abril de 1807, iniciou-se o povoamento de Uberaba. As primeiras casas de madeira foram erguidas próximo à nascente do ribeirão “Lageado dos Ribeiro”, em terras do sesmeiro e rábula José Francisco Azevedo, oriundo do julgado do Desemboque. O lugar tornou-se conhecido como arraial do Lageado ou arraial da Capelinha, onde havia altares com Santo Antônio e São Sebastião.

O distrito de Desemboque é o berço da civilização do Triângulo Mineiro. No início do século 19, cerca de duas mil pessoas residiam no julgado, que era o lugar mais importante do Oeste de Minas e do Sul de Goiás. Cem arrobas de ouro foram retiradas de suas minas, decadentes por volta de 1810. Havia no lugarejo vereadores, juiz e cartório. Atualmente, cerca 50 pessoas moram na localidade.


Jornal de Uberaba - 07/11/2013

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Filmes de Hitchcock dos Anos 40


QUANDO FALA O CORAÇÃO
A Análise Psicanalítica



Guido Bilharinho

Filmes de Hitchcock dos Anos 40
Ao tempo em que realiza Quando Fala o Coração (Spellbound,
EE. UU., 1945), Alfred Hitchcock já havia feito pelo menos seis
outros filmes nos Estados Unidos.

Essa sua primeira fase estadunidense, finalizada em Agonia de
Amor (The Paradine Case, 1947), possui características diferentes
daquela iniciada com Festim Diabólico (Rope, 1948), que inaugura
seu período áureo, terminado com Os Pássaros (The Birds, 1962),
período, contudo, entremeado de filmes destituídos de valor, a
exemplo do frustrado e frustrante A Tortura do Silêncio (I Confess,
1952) e do muito pior ainda Sob o Signo do Capricórnio (Under
Capricorn, 1949).

A mencionada primeira fase singulariza-se pela utilização do
preto e branco, recursos financeiros e técnicos acanhados, forte
influência da produção, e, principalmente, procura e preparo de
caminho para pleno amadurecimento e domínio da arte
cinematográfica.

Com tudo isso, a maioria de seus filmes dessa época já apresenta
bom cinema conquanto ainda não contenha a malícia, a complexidade
e o requinte temático e formal que caracterizam as obras posteriores.
Se em seus mais importantes filmes o tema não é propriamente o
objeto da ação, não passando esta de veículo ou de ilustração para
assunto mais importante, atinente à condição humana, em Quando
Fala o Coração a proposição é a própria estória. Ou seja, o cineasta
elege e contextualiza determinada problemática, sem prejuízo de
também atingir outras questões.

A questão, no caso, constitui o bloqueio que o consciente
estabelece por meio da amnésia como proteção do indivíduo contra
fato ou acontecimento profundamente traumático. A ação é a
exaustiva análise a que o protagonista é submetido em todo o decorrer
do filme para furar esse bloqueio e restabelecer a plena consciência e
purgação da memória.

Hitchcock desenvolve convencionalmente esse processo, porém,
de maneira segura, objetiva e técnica, sendo até criticado,
improcedentemente, por essa última particularidade. É que o cineasta
equilibra a terapia psicanalítica com outros elementos dramáticos, a
fim de não restringir o filme à pura sessão de análise.
Assim, em primeiro lugar e cinematograficamente, mistura-a
com as vicissitudes dos protagonistas passando por diversos lugares e
situações.

Enfatizando, pois, a particular situação do indivíduo
traumatizado na infância por episódio chocante e terrível, a ação
calcada no processo de sua análise psicanalítica revela o drama
subjacente.

Assinale-se que se o cinema mostra frequentemente fatos de
incrível e cruel violência, talvez nenhuma - nem mesmo a pungente
cena protagonizada pelo arquicriminoso de Os Suspeitos (The Usual
Suspects, EE.UU., 1995), de Bryan Singer - seja tão funesta e trágica
como a que, quase ao final do filme, ressuscita na obstruída memória
do protagonista o acontecimento que o traumatiza, marca e fragiliza
daí em diante.

Se o referido incidente, por todos os elementos que o compõem
e pela maneira contida e competente como é conduzido, provoca no
espectador considerável impacto, imagine-se sua intensidade no ânimo
de quem não só o presencia como, principalmente, o protagoniza!
Além desses temas centrais, que se fundem, como dito
(obliteração emocional e o processo de sua análise), o cineasta ainda
aborda duas outras questões também umbilicalmente ligadas à ação: o
amor e sua força como motivação e mola propulsora da ação, antes,
ainda, elemento propiciador de compreensão e confiança humana e,
finalmente, a ambição.

O amor permeia todo o filme, constituindo um do fios
condutores do enredo, o que se materializa no título brasileiro e,
possivelmente, no título original, que significa “encantado (a),
enfeitiçado (a)”, que, dada sua ambiguidade, tanto pode se referir ao
amor da heroína quanto ao trauma do protagonista, tudo indicando,
porém, concernir a este último.

A ambição desenfreada mostra a feia face do ser humano levado
por ela até mesmo a crime hediondo.

Assim, Quando Fala o Coração enfoca drama de amor e o
exercício de atividade que compartilha, por sua abrangência, dos
gêneros romance, policial e, ainda timidamente, do suspense. Sua
estruturação, condução da linha narrativa, enquadramentos, direção e
desempenho dos atores, segurança direcional geral e adequação
rítmica fazem com que o interesse do espectador mantenha-se
permanentemente desperto, não obstante a tecnicidade (conquanto
interessante) da dialogação dos acontecimentos desenrolada no
sanatório.

A salientar, ainda, os eventos ocorridos no saguão de grande
hotel novaiorquiano e a recorrente, e algumas vezes poeticamente
realizada, cena no trem. Como sempre, nos melhores filmes de
Hitchcock, feita apenas com os elementos e duração indispensáveis,
uma de suas características mais importantes.
(do livro O Cinema de Hitchcock e Woody Allen.
Uberaba, Revista Dimensão Edições, 2017)
______________
Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de
poesia Dimensão de 1980 a 2000 (https://revistadepoesiadimensao.blogspot.com) e
autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando
atualmente no Facebook os livros Obras-Primas do Cinema Brasileiro e Brasil: Cinco
Séculos de História.

A TERRA DO ZEBU E A CASA DO CARALHO

Na terra do zebu perdura, há muitos anos, um mito que diz: “o zebu e suas dinastias castram e castrarão toda produção, bem como todas as formas de criação e expressão artísticas, especialmente, aquelas que não lhe prestarem culto, louvor ou homenagem”.

Sabemos que os mitos são mais que histórias mentirosas ou absurdas contadas por pessoas ignorantes, na falta de explicações racionais. O mito organiza, sedimenta e dá sentido ao modo de organização social e ao modo de vida de uma determinada cultura (Lévi-Strauss). Assim, o mito tem a função de educar para a vida em sociedade, porém mais do que isso, o mito traz lições de sabedoria e propõe enigmas de superação. “Decifra-me ou te devoro”, dizia a esfinge de pedra aos aventureiros desejantes do trono de Tebas, que foi vencida pelo valente e sábio Édipo, por trágico destino, tornado rei parricida e incestuoso.

Para crescer e atingir a maioridade esclarecida kantiana é preciso enfrentar e superar medos e mitos que povoam a minoridade dependente. Depois de enfrentar o boi da cara preta, Fábio Baroli se vê diante da moderna esfinge e seu enigma: “Decifra-me ou devoro teu desejo de arte”, diz o mito da terra do zebu. A resposta ao enigma que devorou tantos desejos se materializa na série que ora se apresenta. O que Fábio Baroli descobriu e compreendeu é que, para superar o mito, fazer arte na terra do zebu e fugir às castrações, é preciso ir até a casa do caralho.

O termo “casa do caralho” não é (apenas) uma licenciosidade indecente gratuita, é uma expressão popular para designar lugar distante e ermo que não se sabe bem onde fica; expressão usada para dizer que algo está muito longe, ou para onde alguém indesejável deveria ir, ou quando se diz que alguém foi fazer algo e está demorando a voltar. E eis que em frente estamos (enfrentamos) de um políptico do impensável, atraídos por um fogo esplêndido terrível que paira acima dos acontecimentos e, ao mesmo tempo, se espalha pela cena iluminando e sombreando os elementos, as personagens e as ações. Então, quando os olhos percorrem a cena, somos atingidos pela ousadia combatente do artista da Intifada, que escolheu como local da batalha um ícone da terra, um patrimônio tombado que é uma quase-unanimidade entre as várias tribos e os vários reinados.

O pátio da igreja São Domingos demarca a presença secular de uma ordem milenar e testemunha a vida de gerações que por ali passam para rezar, para manter a ordem, para pedir votos, para namorar, estudar, cantar, fumar maconha, ou simplesmente admirar. Campo de batalha que já recebeu fugitivos do regime militar, “Romeu e Julieta” com o grupo Galpão, Mundo Livre S/A, Os Tribais, Movimento Desemboque, Ternos de Congada e Moçambique, orquestras sinfônicas e companhias de dança.

Na cena esparramada pelo pátio, ritos e rituais giram em torno de fogueiras e braseiros das comemorações e celebrações pelas dádivas do animal de antigas linhagens sagradas, que veio lá da casa do caralho para encontrar aqui a terra prometida de seus sacerdotes mercadores. Ao lado, num diálogo do artista com a atualidade, uma batalha incendiária desencadeando ataques para destruir símbolos do poder econômico compõe a cena num misto de continuidade e ruptura, alternando tensões e alianças. Imponente, a construção neogótica de pedras avermelhadas observa com gentileza, irradiando impecabilidade. Bonita como jamais vista.

As labaredas crepitando do telhado ou no telhado da igreja nos faz vacilar por um instante denunciando nosso apego, quando num lampejo nos pegamos ponderando sobre a extensão da destruição e o que poderia ser salvo. Mas, quando os olhos alcançam a luminosidade da tela, percebemos que existe mistério neste fogo, e somos apanhados pelo seu encantamento. Então compreendemos que é do fogo que se trata, onde tudo começa.

De onde vem este fogo que se eleva com vida própria e já não sabemos dizer se vem do telhado, se queima o telhado ou se flutua impassível como mensagem e mensageiro?

Fogo de beleza poética e sabedoria trágica que ilumina, orienta e julga; das carruagens de Apolo, o deus oráculo das formas perfeitas, que Prometeu foi até o Olimpo roubar para dar a vida ao homem. Princípio primeiro de tudo que existe, a vida é fogo que arde gerada e mantida pela morte do que queima, na harmonia dos contrários que governa o cosmos, como nos ensina o longínquo Heráclito. Fogo que impulsiona o grande salto cultural da humanidade do cru ao cozido, do qual é herdeira a tradição do zebu e os rituais da carne. Fogo que vence muralhas e que revelou a Moisés o seu Deus.

À primeira vista, pensamos que o fogo vem dos coquetéis de black blocks saídos das redes sociais e dos noticiários da TV. Mas, o dito popular dá a resposta: “Ele foi buscar fogo lá na casa do caralho”.
Pelos matizes dessa iluminação, o olhar sem mácula da mão do artista reveste a igreja São Domingos de uma dignidade imperceptível a olho nu, e impossível às restaurações do patrimônio histórico. Dignidade serena de réu confesso em paz com seus crimes e exultante em expiá-los, que, na iminência da destruição, se revela aos que já estão cegos de tanto ver. A bicentenária neogótica da terra do zebu se projeta da tela com a plasticidade do renascimento da casa do caralho.

O que se apresenta, agora, no pátio da São Domingos é o espetáculo da vida vivida entre a terra do zebu e a casa do caralho, possibilitada, mediada e assistida pelo fogo que anuncia a queda. As chamas das fogueiras que aquecem os acampamentos, as rodas de conversa e as cantorias, e o calor dos braseiros que churrasqueiam a carne dos castrados para o abate acendem as chamas e o calor dos coquetéis molotov que condensam o furor das manifestações de protesto que tomam as ruas. Arma de combate dos que não têm armas; poder de fogo dos que não têm poder.

Fábio Baroli se apropria das imagens atuais para colocar em cena as lutas populares de camponeses e trabalhadores rurais que perpassam a história da terra do zebu e de todas as terras do mundo, daqui até a casa do caralho. (Incluindo-se aquele grupo de ingênuos ou de radicais que se apossaram de uma vaca profanada e, movidos pelos ditames da saciedade imediata ou da afronta desmedida, se precipitaram ao churrasco, sem saber ou sabendo que se tratava de uma matriz premiada, de valor milionário). Ou talvez, um Black block formado por tipos nativos descobertos ou inventados pela antropologia do Movimento Desemboque, na década de 1990 – os cyberjecas.
O zebu é um ser peculiar, como também sua história no Brasil. Ele não foi criado como tal no Gênesis inaugural da criação divina. Se foi causado por Deus, isto se deu através de um artifício humano, como várias raças caninas, por exemplo, ou os frangos de granja, e tornou-se um acontecimento de dimensão planetária, que se diferencia, sobretudo, pela voracidade com que avança na conquista de territórios da bovinocultura e da tecnologia, destituindo outras raças, melhorando sua performance genética e inovando sua reprodutibilidade; tudo isso acompanhado de longos registros de genealogias, que garantem a qualidade genética não só de matrizes e reprodutores, mas também das ampolas de sêmen.

Antes mesmo que Hitler lançasse seu delírio ariano da superioridade genética no ar do seu tempo, criadores de gado do interior de Minas, atravessaram o oceano até a Índia, e conseguiram sair de lá trazendo alguns espécimes do animal considerado sagrado,para remanejá-los geneticamente em animais de corte e produção leiteira. Hoje quando vemos um reprodutor ou uma matriz posando para a foto, temos uma ligeira sensação de que estão orgulhosos de si mesmos, como se pertencessem a uma linhagem sagrada ou a uma genealogia poderosa.

Uma empresa que, convenhamos, foi uma façanha inédita. Porém a vaidade do exclusivismo e a ordem econômica ofuscaram a façanha, o resultado ofuscou o processo, a criatura ofuscou a criação. Assim, aquela que poderia se tornar “terra das façanhas inéditas” tornou-se terra do zebu, envolvendo e organizando os regimes de produção econômica, cultural e de subjetividaddes tanto das massas quanto das elites. Toda criação e/ou ensaio de façanhas inéditas foram perdendo interesse e encanto perto do orgulho zebuíno; ou buscaram refúgio na casa do caralho.


Surgiram, então, as lendas que sustentam mitos, impondo a cada geração novos enigmas de superação na busca de sua própria criação.

E, se a arte não tem a função de narrar ou documentar histórias pessoais ou nacionais, o artista tem que enfrentar seu próprio tempo. A arte projeta na tela as potências do imperceptível e do impensado, enquanto o artista traça linhas de experimentações para fora dos territórios ocupados, sejam eles sociais, subjetivos, ou estéticos. A linha que Baroli traça da terra do zebu à casa do caralho nos chama a perceber entre luzes e sombras, justamente, o que está “além do que possa parecer”. Faz passar pela atualidade de seu tempo o atemporal, o intempestivo, o extemporâneo.

Então, a figura dançando com uma cabeça de boi em torno da fogueira apresenta uma expressão multifacetada do imaginário e do simbólico inconscientes que é, ao mesmo tempo, uma brincadeira em torno da fogueira, uma dança do bumba-meu-boi, e um ritual de adoração do bezerro de ouro que se atualizam, pelo traço, a cor e a composição do ritmo, no modo de vida do povo da terra do zebu. E no seu “por vir”.

A cabeça do padroeiro decepada pelas sombras revela a intensidade do combate travado no jogo de luz e sombra em que o artista se move, com a mesma audácia com que incendeia monumentos e ícones. O padroeiro, por seu lado, parece enfiar, ele mesmo, a cabeça na escuridão, como um avestruz celeste que se alheia dos acontecimentos.

A grande faixa branca (ou em branco) no canto inferior esquerdo é entrada para uma grande invasão, uma via que liga com a casa do caralho, e a necessidade da obra de não se fechar sobre si mesma.
Seus temas e o modo como os descreve nos títulos dão sinais de sua determinação para o combate; mostra que sua arte não se furta a abrir as feridas necessárias na carne de seu tempo. Mas é um combate sem rancor, sem ressentimentos, que procura o ultrapassamento mais que lutar contra, sem buscar vingança, sem desejar ocupar o lugar daquilo que combate. Como nômade, quer percorrer o território ignorando as fronteiras do império, sem se preocupar em tomar o lugar do imperador.


Não se trata, pois, de localizá-lo em alguma escola ou tendência da arte contemporânea, ou de situá-lo em um embate pessoal; tampouco, de decretar a queda de mitos. Trata-se da materialidade da cena em que ideias, afetos e perceptos nos fazem despertar de um sono iconoclasta, recriando, da terra do zebu à casa do caralho, o inconsciente do mundo.

Órfilo Rodrigues Fraga Júnior
Professor mestre em filosofia

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Manhattan Flat sobre o último sábado à noite – Uberaba - Minas Gerais - Brasil.

Manhattan Flat terraço Uberaba

 Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)     

Manhattan Flat terraço Uberaba 

Coquetel e Trilha sonora com DJ Julinho Oliveira.

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)     
Uberaba tem mais de 330 mil habitantes, conforme o último censo do IBGE - Foto: Neto Talmeli/Prefeitura de Uberaba

Manhattan Flat terraço Uberaba 

Coquetel e Trilha sonora com DJ Julinho Oliveira.

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)      
Manhattan Flat terraço Uberaba 

Coquetel e Trilha sonora com DJ Julinho Oliveira.

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)   
 







Cidade de Uberaba

Santuário de Nossa Senhora da Abadia Uberaba

Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)


Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)


Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)

Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)

Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva) 
Santuário de Nossa Senhora da Abadia

Cobertura Aérea: Show Drone (Adriano Silva)

A festa religiosa de Nossa Senhora da Abadia reflete a devoção popular a essa Santa, padroeira de Uberaba, e protetora do povo. A religiosidade do uberabense também se encontra expressa nessa manifestação fervorosa. O culto a Nossa Senhora da Abadia teve origem nas imediações da cidade de Braga, Portugal e remonta ao século XII. No século XVI, no início da expansão colonial portuguesa foi difundido nas regiões colonizadas. No Brasil, o culto aos santos é uma tradição trazida de Portugal.

Segundo escritores uberabenses, a devoção popular a Nossa Senhora da Abadia iniciou-se, em Uberaba, em 1881 e perdura na contemporaneidade.

Por intermédio do Capitão Eduardo José de Alvarenga Formiga e com o aval da Câmara Municipal, em 11 de agosto de 1881, foi concedida a licença para erigir a capela no Alto da Misericórdia.

A primeira missa, em 15 de agosto do mesmo ano, foi celebrada pelo Cônego Santos, diante de um cruzeiro, levantado no local onde, futuramente, seria construída a capela. Um ano após, em 15 de agosto de 1882, a imagem da Santa foi benta e realizou-se a primeira festa, em homenagem a Nossa Senhora da Abadia.
A capela foi entregue, em 1899, aos padres Agostinianos Recoletos que permaneceram no Santuário até 1915. No dia 16 de julho de 1921, por meio de um decreto de Dom Eduardo Duarte e Silva foi criada a paróquia de Nossa Senhora da Abadia, desmembrada da paróquia primeva de Santo Antônio e São Sebastião.

Desejoso de entregar o Alto da Abadia a um Instituto Religioso, o sr Bispo Dom Frei Luiz Maria Santana convidou os Padres Estigmatinos a aceitarem a missão. Convite aceito, o “Bispo confiou à Congregação dos Padres Estigmatinos a paróquia da Abadia pleno jure” (PRATA, 1987) e, em 1935, o Santuário recebeu os Padres Albino Sella, João B. Consolaro e o Irmão Pedro Bianconi. Atualmente, os padres Estgmatinos continuam à frente do Santuário.

A Lei Municipal 10.196, de 14 de agosto de 2007, instituiu Nossa Senhora da Abadia como padroeira de Uberaba.


(Superintendência do Arquivo Público de Uberaba)

Time do Uberaba Sport Club

Time do Uberaba Sport Club

“A elegância do escrete Colorado na década de 1920. Defronte à bela arquibancada original do estádio Boulanger Pucci, apresenta-se o time do Uberaba Sport Club tendo ao centro (com a cabeça entre as duas bandeiras no fundo) o ídolo Walfredo Vieira – El Príncipe – avô da nossa amiga e conterrânea Beatriz Trezzi Vieira. No seu falecimento, em maio de 1980, Walfredo recebeu uma homenagem do cronista Ataliba Guaritá Neto, no jornal Lavoura e Comércio.
                                                                                                                               
 (André Borges Lopes)    

MAPA DO MUNICÍPIO DE UBERABA NO ANO DE 1922

Mapa do município de Uberaba 
Mapa do município de Uberaba no ano de 1922, elaborado pela Comissão Mineira do Centenário e impresso em Juiz de Fora. Ainda eram parte de Uberaba os atuais municípios de Campo Florido (na época “Campo Formoso”), Conceição das Alagoas, Veríssimo e Delta. A população total alcançava 59.807 almas, mais de 40 mil em Uberaba.

Ladeando o mapa, reproduções em bico de pena de vistas da cidade e de seus prédios mais imponentes. Encontrei esse mapa em um sebo, em São Paulo, há alguns anos.


(André Borges Lopes)

Atletas do Uberaba Tênis Clube

  Atletas do Uberaba Tênis Clube de Uberaba

Quadro do UTC,identificamos alguns como, Luiz Barsan, Nuncio,Birita,Ely,Rossi,Gilberto,Luiz e Deleu.

Foto:Prieto

(Acervo pessoal de Raimundo Sarkis)

Atletas da Associação Esportiva e Cultural de Uberaba

Atletas - Vanda e Norma
Vôlei e Natação


Atletas da Associação Esportiva e Cultural de Uberaba

Atletas - Vanda e Norma.

Foto: Autoria desconhecida


(Acervo pessoal de Raimundo Sarkis)

Governador Antônio Aureliano Chaves em visita da Exposição de Gado Zebu em Uberaba

Governador Antônio Aureliano Chaves e Raimundo Sarkis
Maio de 1985

Governador Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, Raimundo Sarkis, vice-prefeito.Paulo Miguel de Mesquita - em visita por ocasião da Exposição de Gado Zebu - Uberaba - Minas Gerais.

Foto: Autoria desconhecida


(Acervo pessoal de Raimundo Sarkis) 

Vereador Reynildo Chaves Mendes e o professor Hildo Totti

      Vereador Reynildo Chaves Mendes e o professor Hildo Totti

Década:1970


 Foto: Nau Mendes                                                                                                                                                                                                                                                                          
Vereador Reynildo Chaves Mendes e o presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, professor Hildo Totti - Uberaba - Minas Gerais.


(Acervo pessoal da família Chaves  Mendes)                                                                                                                                                   

FACHADA DO GRUPO ESCOLAR DE UBERABA

FACHADA DO GRUPO ESCOLAR DE UBERABA
História de uma Escola Centenária

A Escola Estadual Brasil comemorou o seu centenário no dia 3 de outubro deste ano. Podemos dizer que tudo começou mesmo em 1908, embora criada oficialmente em 1909. Após negociações entre a Câmara de Vereadores e o Executivo Estadual, temperadas com ameaças de separatismo do Triângulo Mineiro, ficou acertado que o Estado emprestaria o montante de 52:000$000 (cinquenta e dois Contos de Réis) para a construção de um Grupo Escolar em Uberaba. Este Grupo deveria seguir as plantas e orçamentos da Secretaria de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais. Ao final do primeiro semestre de 1909, a edificação foi concluída, os primeiros professores começaram a ser nomeados, os alunos matriculados e foi assinada a lei de criação da escola, em 29 de julho de 1909, oficialmente denominada: Grupo Escolar de Uberaba, sem mais complementos, uma vez que era o único Grupo. Mas, em 1927, diante da decisão do governador mineiro, Antônio Carlos de Andrada, de se criar um segundo grupo, que seria denominado “Minas Gerais”, este primeiro então deveria passar a ser “Grupo Escolar Brasil”. Sobre a solenidade de inauguração, a Gazeta de Uberaba, em seu editorial registrou: “Esteve simplesmente deslumbrante a festa da instrucção […]. A inauguração desse verdadeiro Templo do bem foi soleníssima”, estando presente “o melhor da sociedade uberabense: senhoras, cavalheiros, representantes de todas as classes sociais”.

A localização e o espaço físico – Sua localização é peculiar, no meio de uma praça pública. Isso demonstrava a visibilidade que os governantes queriam conferir a esta edificação, mas revelava também a importância do papel atribuído à educação. Esse prédio é o exemplo vivo de que patrimônio cultural material quando amado e cuidado permanece como testemunho da história.

Os primeiros alunos – No ano de sua inauguração foram matriculados mais de 600 alunos, distribuídos em onze classes. Daí em diante as matrículas tenderam sempre a crescer. Anexa ao grupo havia a “Caixa Escolar João Pinheiro”, com diretoria independente e tendo por finalidade arrecadar recursos para ajudar os alunos carentes a se manterem na escola, doando-lhes: cortes de tecidos para o uniforme, calçado e materiais escolares. Mas o Grupo Escolar de Uberaba sempre esteve aberto aos alunos de todas as classes sociais, desde os mais humildes até os filhos das famílias abastadas que, em geral, após cursarem o primário davam continuidade aos estudos nas escolas particulares da cidade. A disciplina era um grande valor na época. O primeiro diretor efetivo, Francisco de Melo Franco, afirmava: “Na escola, a disciplina é tão indispensável quanto o bom ensino”. Ao que parece, esse objetivo era perseguido e alcançado, pois em um Termo de Visita (24/09/1913) o inspetor municipal Tancredo Martins escreveu: “Crianças estudiosas, trabalhadoras e atentas às explicações das professoras e professores operosos e enérgicos e ao mesmo tempo amigos de seus alunos”.

Os primeiros professores – O Grupo iniciou seu funcionamento com oito professores regentes: Arlindo Costa, João Augusto Chaves, Bertholina dos Santos, Francisco de Mello Franco, Alcina Maria Coutinho, Maria Julieta Campos, Maria Carmilieta Campos e Marcilieta Campos. Havia ainda: Arnold Magalhães, homem de muitas habilidades, professor do Ensino Técnico. Inúmeros outros professores vieram depois. O primeiro diretor foi o inspetor regional Ernesto de Melo Brandão. Em 1910, a direção efetiva passou às mãos de Francisco de Melo Franco que dirigiu a instituição até 1918. Os outros diretores a seguir foram: Athanásio Saltão, Eurico Silva, Fernando Vaz de Melo, Corina de Oliveira, Hilda N. Martins, Therezinha P. Valle, Norma Moisés, Nilda G. Abdala Miguel, Fernanda A. S. Santos, Maria Helena Angotti, Edna Márquez Luz.

O cotidiano escolar – Durante uma festa de conclusão do 4º ano primário, o diretor proferiu um discurso que nos dá certa idéia sobre como era o dia a dia naquele educandário: ”Haveis de convir comigo em que, de fato, a vossa vida e os vossos trabalhos escolares obedeceram a um sistema disciplinador, embora suave. Em hora determinada, devíeis estar presentes; para as aulas entraveis e delas saíeis em forma e atitudes corretas, […]; havia um horário, rigorosamente observado, pelo qual se davam as lições e se faziam os exercícios; a fim de que vos habituásseis ao trabalho e vos acostumásseis a contar com o esforço próprio; os professores empregavam processos didáticos que induziam cada um de vós a fazer por si mesmo […] procuravam por outro lado, facilitar o ensino tornando-o quanto possível, intuitivo e prático. Todo o prédio escolar vos oferecia um exemplo de ordem e asseio […]. A vossa sala de aula se amenizava pelas flores […]. Eu atribuo a tudo isso, […] – a beleza da ordem, à fisionomia alegre, hospitaleira […], aliadas ao carinho das professoras, a atração que nosso Grupo exerceu sobre vós”. (LAVOURA E COMMERCIO, 14/12/1916).

Atualmente, a Escola Estadual Brasil atende a 864 crianças, matriculadas no 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Esta Escola é um símbolo de um tempo na educação que se foi deixando saudades e continua sendo motivo de orgulho para os uberabenses. Ao completar cem anos de funcionamento ininterrupto, estão de parabéns todos aqueles que fizeram e fazem parte desta história. Com os olhos no futuro que se almeja construir e sem esquecer os exemplos do passado, cabe àqueles que darão continuidade a essa marcante trajetória, viver o tempo presente mantendo o bom conceito conquistado e essa identidade peculiar que só possui quem tem uma história; uma bela história!

Década: 1950

Fonte: Texto e fotos enviados pela direção da E.E. Brasil e pela Superintendência Regional de Ensino de Uberaba.

Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais

Centro de Referência Virtual do Professor

Solenidade na Câmara Municipal de Uberaba

Solenidade na Câmara Municipal de Uberaba
Década de 1970

Solenidade na Câmara Municipal de Uberaba. Contou com a presença de várias autoridades, entre elas Dr. Fúlvio Márcio Fontoura (Presidente do Jockey Club)Dr. Antônio Sabino (Médico) e Reynildo Chaves Mendes (Vereador/Secretário)

Foto: Nau Mendes


(Acervo pessoal da família Chaves Mendes)

Baile de Debutantes no Uberaba Tênis Clube

Baile de Debutantes no Uberaba Tênis Clube.
 Década de 1970.


O jornalista e colunista social Ataliba Guaritá Neto entrevista, o galã e ator Paulo Figueiredo que ganhou fama de galã em novelas da TV Tupi nas década de 1960/70. Com as presenças de radialistas, Além Mar Paranhos, Paulo Silva e o vereador Reynildo Chaves Mendes, presidente do Uberaba do Tênis Clube.

Foto: Nau Mendes


(Acervo pessoal da família Chaves Mendes)

MACAQUICE DO ALEIXO

      A história que contei ontem do Serafim Thomé e sua mulher Marcela,não acabou.Fiel empregado do Natal Borges na “Casa de Tábua”, Serafim ficou, anos a fio, “entalado” com a história do “Moconhó”. Vivia a escutar um timbre de voz que pudesse lembrar-lhe quem o havia xingado naquela terrível noite que caiu no “valo”. Nada, porém, a detalhar qualquer sintoma que pudesse levá-lo ao maldito gozador. Trabalhava amargurado por não poder “pegar aquele infeliz” que, na calada da noite, sabendo que não era lua cheia e que tinha a”vista fraca”, chamou-lhe pelo apelido que odiava: “Moconhó”...

O tempo passa rápido. Cumprindo o mesmo trajeto da fazenda do Natal Borges a do Otaviano Borges, estava o nosso “Moconhó” digo, Serafim Thomé, a carrear o carro de boi da fazenda, com dois pares de canga, varais nos trinques, fueiros bem azeitados e o “Zonzo”, “Malhado”, “Ruão” e “Fazendeiro”, os bois amestrados do carro, tranquilos e bem preparados para a viagem. Um inicio de tarde apreciada, , inicio do mês de outubro, calor forte e o sol, como de ocasião, prá lá de quente. A viagem era rotina entre as fazendas. Aquela seria mais uma. De vez em quando, uma “pancada” de chuva que dava mal e mal para molhar a terra. Logo, logo, o poeirão subia novamente. No carro de boi, Serafim Thomé ajeitou as sacas d e arroz, as latas de banha de porco, as latas menores de manteiga de leite que a Marcela, com muito carinho preparara, as oiteiras de feijão roxinho e o açúcar “moreno”, fabricado no engenho da fazenda. Tudo ajeitado no leito do carro de boi, como pretendia dormir na fazenda do Otaviano, Serafim para que Marcela não ficasse sozinha, tratou logo de pedir à mulher que tomasse o seu banho de final de semana , pois ela iria acompanhá-lo.

À noite”, pensou ele, “jogo um truquinho com o Louro, Zé Bento e o Mané Capeta” (empregados do Otaviano) e, amanhã cedo, quando o sol começar a raiar, volto prá casa”.Dito e feito. Banho tomado, vestido limpo trocado, cabelo penteado e aquele “cheiro” no pescoço... Só que Marcela cismou de levar o Aleixo...macaco de estimação da Marcela e também do Serafim. – “Ah! ele não ocupa lugar e não vai atrapalhar ninguém”, concordou o Serafim. Assim foi feito. Iniciada a viagem de poucas léguas, os bois tranquilos, ele sentado à frente da canga, Marcela atrás com “Aleixo” no ombro a fazer-lhe carinhos. Não se sabe por que “cargas d’água”, o “Aleixo” pula nas costas do Serafim e dalí para a carcaça dos bois! Pula num, pula no outro, o “Malhado” , assustado, “ muda a marcha” do andar, espantado a todo vapor, sai em disparada, levando com ele os demais bois da canga. Sem poder deter os animais, o carro de boi balança prá lá e prá cá, de um lado para o outro, quase caindo. As sacas de arroz misturavam-se com a banha de porco, o querosene misturado com a manteiga de leite, o feijão todo esparramado caindo pelas beiradas do carro, misturado com o açúcar “moreno”...Serafim tenta controlar o desastre...em vão...Olhou para ver a Marcela, está ela a debandar com o macaco “Aleixo” e, por um triz, não caiu do carro de boi...- “Pula Marcela, pula! Senão ocê morre cedo”, gritava, desesperado, o Serafim ...

Foi aquele pandemônio.Com os fueiros quebrados,bois cada um por seu lado, roda rachada, Serafim, Marcela e o “Aleixo”, só chegaram, noite entrada na fazenda do Otaviano Borges.
No outro dia, aquele trabalhão prá consertar os estragos do carro de boi. Suando por todos os poros, nem percebeu que o “Aleixo” teimava em encarapitar no seu ombro. Movido por um instinto momentâneo de raiva , Serafim pegou o “Aleixo” pelo rabo, rodopiou, rodopiou uma meia dúzia e vezes e,”zás”!”chapeou” o macaco para bem longe...

Sacudindo os ombros, limpando com as costas das mãos o suor que escorria pelo rosto, desabafou: - “ Isso é procê não misturar mais comida dos outros, seu sem-vergonha !”... 


Luiz Gonzaga de Oliveira                             

MOCONHÓ, MOCONHÓ

Durante essa semana meu devaneio vai um pouco para a nossa zona rural, detentora de “causos” engraçados e verdadeiros que precisam ser contados. Felizmente, “causos” que não tem nenhum parentesco com aqueles episódios horripilantes de Brasilia e seus políticos podres e mal cheirosos...
O repertório de “causos” e histórias acontecidos na zona rural da região dariam, só eles, um livro bem grosso tamanha as situações engraçadas acontecidas na nossa saudosa roça...

Sabem todos o quanto é simplório o nosso homem do campo, mormente quando os “causos” que vou contar-lhes, remontam há 50/60 anos , época que a luz era lamparina e lampião; rádio, numa ou noutra fazenda, quase não existia, jornal nem chegava lá e televisão era “coisa” da cabeça do Júlio Verne...

Com o progresso no campo,as fazendas são verdadeiras obras arquitetônicas , casas projetadas por arquitetos, decoração primorosa e o bom gosto imperando. A piscina olímpica tomou lugar dos pequenos poços e riachos onde a meninada nadava pelada ... a sauna é parte integrante do conforto da roça, a antena parabólica liga o campo ao resto do mundo; a casa do vaqueiro de ontem, “bau-bau”, não existe mais. Hoje, tem geladeira, fogão à gás, televisão “grandona”, 40 polegadas, radinho de pilha ligado na rádio sertaneja, leite, aliás, não mais tirado pelas mãos do vaqueiro, pois que, as ordenhadeiras fazem o serviço e as vacas, já acostumadas ao novo processo, ouvindo ora o Leonardo, ou então o Daniel e quase sempre Chitãozinho e Xoróró... Vida no campo pouco difere da cidade. As peruas levam e trazem os meninos na escola , onde aprendem tanto quanto os meninos da cidade.

O homem do campo sabe tudo. É muito bem informado... em questão trabalhista, nem se fala! Fim da jornada, não tem que “pegar” ônibus lotado, as vezes até duas conduções, enfrentar aquela enorme fila, o “busão” que atrasa (quando não quebra...), chegar em casa depois do “Jornal Nacional”... Na roça, não. Tudo é mais fácil. Assiste com a família, a novela das 7, vê o William Bonner dar as noticias do dia do Brasil e do mundo , torce no jogo de futebol, ao vivo, acompanha a novela das 9 e os artistas são todos familiares da “patroa” e dos filhos... Os salários? Compensam. Se na cidade, o trabalhador recebe 2 salários, na roça, ganha 2 também. Só que não paga aluguel de casa, nem água, luz, esgoto, nem ônibus e nem bate “ponto”..

Voltemos aos anos 40 do século XX. Serafim Thomé trabalhava na fazenda do Natal Borges, na “casa de Tábua”, indo para Uberlândia. Certa tarde, foi visitar um amigo na fazenda do Otaviano Borges e acabou se perdendo na noite escura a lua nova. Sem “binga”,não fumava, sem óculos, apesar de enxergar pouco, estava “perdidinho da silva”. Lábios leporinos, ficava uma “arara” quando o chamavam “Moconhó”. Lá pelas tantas, avista, mal e mal, uma lamparina perto de 100 metros de distância. De longe, foi gritando:

-“Ô morador, me ensina como eu posso voltar para a casa de Tábua?”
Seu Otaviano ,vendo de quem se tratava, conhecendo bem o empregado do parente, logo gritou:
-“Arrodeia a trilha,por cima ou por baixo,que ocê chega lá.Nego vagabundo,tá atrás da Marcela ,aquela véia papuda, né malandro!..”

Quando Serafim quis responder, caiu dentro do”valo”.Quando conseguiu sair, xingou todo mundo, de Deus à Raimundo e Segismundo, jogando “praga” naquele maldito que lhe ofendeu.
Com o dia clareando, chegou em casa e , rápido, à procurar o patrão,Natal Borges:- “patrão, me empresta aquela carabina “papo amarelo”, sem falta!”

“Moconhó”, só não sabia que os primos já haviam se encontrado e relatada a brincadeira...
Serafim morreu sem ficar sabendo que foi o autor daquela tamanha ofensa.. ”  



Luiz Gonzaga de Oliveira