segunda-feira, 21 de junho de 2021

REYNALDO DE MELO REZENDE.

Não foi possível dormir. A excitação era muito grande. Às quatro horas da madrugada eu já estava de pé. Que emoção. Pela primeira vez, aos 8 anos de idade, em 1941, ia ter a oportunidade de ser ajudante de candieiro.

A velha caseira Colodina acabava de fazer o café. No curral, o carreiro Benedito já com as quatro juntas de boi na canga, ultimava as providências para a viagem. Divaldo, filho do meio da Estorgilda e neto da Colodina, era o candieiro. As 40 sacas de fubá garantiam os gemidos dos mancais que iriam atravessar a madrugada.

  
   Reynaldo Rezende de Melo -
 Foto: Reprodução.

Apesar de ponteiro, teria que ajudar da guia ao cabeçalho, mas na realidade, ficava em cima da carga ou enganchado nos fueiros já que a esteira de proteção me impedia de ficar escarrapachado no carro.
Não obstante a curta distância, oito quilômetros, a viagem demorava quase três horas, passando pelo córrego dos Carneiros e entrando pelo bairro da Abadia. Aliás, o tempo não tinha a menor importância. Ouvindo as toadas do carreiro, o cantar do carro e curtindo o raiar do dia, não poderia desejar felicidade maior.

Estas viagens eram uma rotina na fazenda São José de propriedade de meu avô Manoel Gonçalves de Rezende. Desde 1914, data da compra do moinho de meu bisavô Antônio Vallim de Mello, que a fazenda vinha produzindo fubá.

Sem concorrência no mercado, no decorrer dos anos foram instalados mais dois moinhos para garantir uma produção de 50 toneladas/ano.
Os córregos Quati, Três Córregos e Conquistinha abasteciam os moinhos. Contrariando o provérbio de que “águas passadas não tocam moinhos”, a mesma água que passava em um moinho, passava nos demais.

Os fregueses eram cativos. José Mateus, Tufy José Elias, Artur Amâncio, Manoel Alfredo Freire, Antônio Carrilho, José Rufino, José Benito Naves, Armazém Central, Casa Carvalho, Adalberto Pena e Irmãos Almeida se destacavam pela quantidade comprada.
As vendas já haviam sido efetuadas pelo meu tio Reynaldo Rezende, que a exemplo de seu pai, corria o comércio a cavalo. O pagamento era a prazo, 14 dias. O preço oscilava entre 12 e 16 mil réis o saco de 50 quilos de fubá, equivalente ao dobro do preço do saco de milho. O salário mínimo era de 3 mil réis/dia.

A lucratividade era pequena por isso a maioria da produção era de responsabilidade de alguns dos treze irmãos. Ajudava o fato de não haver impostos sobre o produto e nem ônus sobre a folha de pagamento.
No início, o plantio de 15 alqueires, era suficiente para a produção de 150 carros de milho de 5 jacás cada. Eram suficientes também para os 3 moinhos que levavam 24 horas para produzir 250 quilos de fubá.

O dia da viagem foi divertido. No retorno para a fazenda nada poderia ser melhor. Enquanto os bois descansavam na porta da venda do sr. Tufy, o carreiro comprava as encomendas. Deu tempo suficiente para comer um pão com salame e tomar um gole de capilé. Se houvesse chuva no retorno, teria direito a um dedal de pinga na fazenda para evitar resfriado, dosado pela minha avó Idalina.

Foi minha primeira e única viagem nesta experiência como candieiro. As férias escolares terminaram e o retorno para o colégio desmanchou meus sonhos de viver na fazenda.

Foi também uma das últimas viagens do carro de boi com carregamento de fubá. Doravante, a carga seria de milho em grãos.

Os moinhos de água pararam, mas durante 27 anos, de 1914 a 1941, eles transformaram a fazenda São José numa das pioneiras na Agroindústria.

A fazenda foi se esvaziando ano após ano pois os filhos, doze homens e uma mulher, Maria Rezende, foram se afastando. Vinham para a cidade para estudar e depois tomavam outros rumos. Alguns seguindo o exemplo do pai, como o Romeu, o Randolfo, o Antônio e o Raymundo, compraram fazendas. Outros como o Raul, (meu pai), o Mário, o Orlando e o Gentil, preferiram seguir a carreira bancária. O Manoel (Nequinha) faleceu prematuramente. Somente o avô Manoel Gonçalves e os filhos João e Álvaro de Melo Rezende permaneceram.
 
Já o Reynaldo Rezende, conhecendo a potencialidade do comércio de produtos do milho, tomou a iniciativa de construir uma fábrica de moagem e torra de milho para produção de produtos empacotados de fubá e farinha, no fim da década de 1940.
 
A indústria foi instalada em um terreno localizado entre as ruas Barão da Ponte Alta e Maestro José Maria, bairro da Abadia. Nessa época o município de Uberaba, incluindo diversos distritos ainda não emancipados e a zona rural, já se aproximava dos 60 mil habitantes.

Seu início foi muito difícil. Em plena 2ª. Guerra Mundial, havia dificuldade de energia. Não havia motores a diesel. O gasogênio era o combustível dos carros e também das indústrias. Só com a intermediação de Thomaz Bawden é que se conseguiu energia da usina “Pai Joaquim”.

A capacidade de produção foi multiplicada por vinte, graças a uma peneira inventada pelo primo Silvio, filho de Romeu Rezende, alçando a produção de fubá a 200 quilos/hora. As vendas passaram a ser feitas em pacotes de pesos variados.

Consolidada a fábrica de produtos derivados do milho, Reynaldo implantou também, no mesmo local, uma indústria de torrefação, moagem e empacotamento de café, batizando todos os seus produtos com a marca “REYNA” que por seis décadas tiveram a preferência do mercado.

Nessa mesma época adquiriu as cotas de capital de seus irmãos em uma máquina de beneficiamento de arroz, “Rezende & Cia Ltda”, implantada na rua São Benedito e a transferiu para um novo endereço, em sede própria, no bairro do Fabrício.
 
Foi nesta empresa que ele, na década de 1950, como pioneiro, lançou no mercado nacional o empacotamento de arroz de sequeiro, com pesos de 2 e 5 quilos com a marca “Rezende”, abarrotando por muitos anos os mercados do Rio de Janeiro e São Paulo o que motivou outras empesas brasileiras a seguir o exemplo. Na década de 1970, a máquina de arroz foi alienada para a empresa de José Miguel Árabe.

Em 1948, aos 15 anos eu já era funcionário de escritório das “Indústrias Alimentícias REYNA” Ltda., pioneira no Triângulo Mineiro. Uma das características do Reynaldo Rezende era dar oportunidades para seus familiares. Os irmãos Maria, Orlando, Gentil, Manoel (Nequinha) e Orlando Rezende, enquanto estudantes, trabalhavam na fábrica. Também os sobrinhos Paulo Rezende, Dário e Djalma Batista, deram sua contribuição por muitos anos. Já os cunhados, Honório (Dico), faleceu em serviço e José Batista de Carvalho, seu principal gerente, foi o primeiro a entrar e o último a sair.

As famílias italianas, Faina, Dellalíbera, Faquinelli e Arduini bem como os Arruda originários da fazenda São José, foram as que por mais tempo permaneceram na indústria.
 
O movimento era intenso no grande pátio da fábrica. Registrava-se a chegada de caminhões abarrotados de milho ou café em grão e a saída de peruas carregadas de café em pó e produtos derivados de milho, para distribuição no comércio de Uberaba e região.
 
Por lá passavam também os vendedores, compradores, funcionários, fiscais e visitantes. Era grande o burburinho. Transações gerando riquezas, criando e resguardando empregos e dando vida econômica e social ao bairro e à cidade.

Todas as tardes, horário de torra, levado pelas brisas, as casas do bairro eram inundadas pelo gostoso aroma do café. Os relógios eram acertados pelas sirenes da fábrica que marcavam os horários de entrada e saída dos grupos de trabalho.

As dificuldades eram parceiras constantes no desenrolar das atividades empresariais do Reynaldo e provavelmente de milhares de empresas brasileiras. Deposição do presidente Getúlio Vargas em 1945, as agruras do pós guerra onde o Brasil perde importantes mercados, o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, o êxodo rural a partir de 1960, a renúncia de Jânio Quadros em 1961, as agitações políticas de 1963 no governo de Jango Goulart, a revolução militar de 1964, o AI5 de 1968, o plano Cruzado de José Sarney e os planos “Verão” dos ministros Bresser (1987) e Maílson da Nóbrega (1989), a rapinagem da poupança de Fernando Collor em 1990, o congelamento do dólar em 1997 no governo Fernando Henrique e outros atos, nem sempre republicanos, desses e outros governos, causaram grandes estragos na economia. Os bancos fechavam suas carteiras de créditos, os juros escorchantes e a inflação desenfreada faziam com que os empresários vislumbrassem, como a única forma de salvar sua empresa e o seu patrimônio, a adoção de medidas legais, chamadas atualmente de recuperação judicial como a que a Indústria “REYNA” teve que recorrer em um desses momentos.
 
Apesar dos destemperos e rebuliços, Reynaldo, dotado de espírito filantrópico, encontrava tempo de participar das confrarias dos asilos São Vicente e Santo Antônio e de outras instituições beneficentes, sempre participando com generosas contribuições financeiras ou com permanente fornecimento de alimentos de sua fábrica.
 
Também no associativismo, fazia questão de se reunir com seus companheiros empresários tendo participados por alguns anos da diretoria da ACIU na década de 1950. Em reconhecimento ao seu pioneirismo, por duas vezes foi “Industrial do Ano” em promoção do Estado de Minas Gerais.

Permaneci por 20 anos na empresa “REYNA” de 1948 a1967, mesmo tendo outros empregos e outros empreendimentos próprios para administrar. A partir de 1968 continuei como seu conselheiro por quase trinta anos, até que ele, já com a idade de 90 anos, transferiu o empreendimento para o seu filho mais novo, Reynaldo Luiz Oliveira Rezende, um renomado oftalmologista, residente em Ribeirão Preto.
 
A fábrica continuou funcionando até o ano de 2002, quando paralisou todas as suas atividades. Por 60 anos foi sustento de centenas de famílias, foi uma das bases da economia da cidade, foi um refúgio para os necessitados e foi símbolo de produtos de qualidade.
 
Em 09 de março de 2004, em uma fatalidade decorrente de um acidente caseiro, fecharam-se as cortinas do teatro da vida para o principal e único ator, Reynaldo de Melo Rezende. Numa peça escrita pelo destino, é contada a história de um ser humano extraordinário que, vindo de uma roça, se lança no mundo do empreendedorismo confiado apenas em seu próprio instinto, tendo por capital a sua coragem e que, depois de 80 anos de trabalho duro, sem direito a férias, o ato é encerrado. Deixa para a posteridade, em pleito de reconhecimento, a magnitude de seu exemplo, gravados na memória de todos os que o conheceram, com o direito a registro permanente de sua obra, escrita em belas letras douradas nas páginas da história do desenvolvimento econômico de Uberaba.

Reynaldo deixou viúva Nazareth de Oliveira Rezende (Tita) e cinco filhos – João Carlos, Maria Regina, Manoel Afonso, Reynaldo Luiz e Maria Angélica.

Não se ouve mais o apito das sirenes. Não se sente mais o odor das torras. O movimento que dava vida na rua, parou. Os prédios da fábrica e a casa de morada foram demolidos. A história ficou soterrada nos escombros. Resta um terreno vazio. Resta um vazio na alma. Resta uma grande lembrança e uma doída saudade.

 – Membro da Academia de Letras – Ex-presidente e Conselheiro da ACIU e do CIGRA. Ex-funcionário das “Indústrias Alimentícias REYNA Ltda.”

Velharias e velhacarias

Outro dia, conversei com um velho conhecido da época em que eu comercializava bezerros. Relembramos o que as pessoas chamam de “no nosso tempo”: o passado. A atividade pecuária mudou bastante nesse período; muita água passou por debaixo da ponte. Apareceram tecnologias inovadoras e diferentes práticas de manejo. Antes, tudo era primitivo, rudimentar.

Meu negócio era comprar e vender: comprava bezerros e vendia depois de uns meses, um ano. Os animais ganhavam peso, cresciam, mostravam suas potencialidades ou defeitos. Eram tratados, vermifugados, separados em lotes e postos à venda. Era assim que funcionava.

A rotina consistia em acordar cedo, percorrer uma extensa região, estradinhas precárias, na maioria das vezes sem sinalização, atravessar pontes, mata-burros, me perder em entroncamentos, rodar bastante até encontrar o vendedor. Aí, começavam as negociações – a parte mais importante da atividade –, não sendo raro durarem um dia inteiro. Pechinchar, regatear, reprovar e elogiar; o principal era tirar proveito das oportunidades. O pessoal dizia: “o negócio tem de ser bom para os dois”. Só não podia ofender o camarada. Negócio fechado, o caminhão viria buscar dali a uns dias. E se trocarem algum animal? O jeito era cortar a vassoura do rabo dos bezerros para evitar velhacarias.

Muitos bezerros recém-desmamados chegavam ao curral berrando, chamando a mãe, chorando o desmame precoce. Tentavam escapar, passar nas cercas de arame farpado e sumir nas capoeiras. Devidamente marcados, recebiam cuidados, definia-se quem era “cabeceira” e “fundo”, isto é, os melhores, os mais promissores, e os refugos. Nessa hora, falavam os vaqueiros mais experientes.

Após a marcação a ferro quente, era preciso matar carrapatos, extrair os bernes e colocar esterco ou chumaços de pano velho embebidos em preparados à base de cresóis nas feridas. O ferrão, vara comprida com ponta de metal, intimidava, direcionando o fluxo dos animais nos currais.

Periodicamente, eram reunidos para conferências e apartações. Uma prática comum consistia em passar óleo queimado – óleo usado de motor –, misturado com um inseticida qualquer, bastante tóxico e utilizado com pouco zelo, nas bicheiras. Cada um com seu galão e pincel artesanal, feito com crina de cavalo, espalhava a mistura nas feridas dos bezerros.

Se fosse necessário, realizavam-se intervenções cirúrgicas. Feitas a canivete, sem assepsia ou anestesia, consistia em jogar o animal no chão, amarrar bem forte e executar o serviço. Às vezes, a depender do diagnóstico, faziam-se sangrias, “para purificar o sangue”. A impressão que se dava era de estarmos na Idade Média. Se deixassem, alguns fariam o mesmo com as pessoas.

Um dia, muita coisa mudou, não necessariamente para melhor: aumentou o desmatamento e o uso de agrotóxicos; a burocracia foi informatizada, esperteza virou informação falsa, e a ciência não venceu os preconceitos e a estupidez. Apesar dos avanços, é estranho ver muita gente fazendo e pensando as mesmas coisas de cinquenta anos atrás, na roça e na cidade; ficaram presos no passado?

Renato Muniz B. Carvalho

A propósito de um aniversário

“Grande Hotel e Cine Metrópole: o maior edifício do Brasil Central.” Essa é uma das legendas encontradas no Álbum de Uberaba, publicado por Gabriel Toti em 1956

“Grande Hotel e Cine Metrópole: o maior edifício do Brasil Central.” Essa é uma das legendas encontradas no Álbum de Uberaba, publicado por Gabriel Toti em 1956, ano em que Uberaba completou 100 anos como cidade. Outros destaques eram o Cine Vera Cruz e o Cine Royal.

Toti mostra uma pujante cidade, com a economia exercendo intensa influência nas localidades próximas, graças à sua força no comércio, indústria e pecuária. A prova disso é que, então, a cidade possuía 215 ruas, 16 praças, duas travessas e dez avenidas.

As muitas fotos que ilustram a obra mostram o desenvolvimento estrondoso por que o município tinha passado nesse primeiro século de vida. Frondosas palmeiras decoravam a praça Rui Barbosa. O fórum estava em construção. Os Correios e Telégrafos inauguravam seu prédio. Foi fundada a Associação Comercial e Industrial de Uberaba, cuja sede fora construída por Santos Guido, na gestão de Fidélis Reis.

Essa época dourada também repercutia nos anúncios de lojas e fábricas que fazem parte da memória afetiva do uberabense: Casa Aliança, Hawai Café, Casa Guimarães, Casa Molinar, Barros & Borges (com quatro lojas), Farmácia Cruzeiro, Notre Dame de Paris, Produtos Espéria, Relojoaria Gaia, Relojoaria Cardoso, Companhia Têxtil, Banco do Triângulo Mineiro, Casa Victor (discos, rádios, vitrolas), Loja São Geraldo, A Futurista, Fábrica de Cigarros Pachola, Livraria e Papelaria A Escolar, Lojas Riachuelo, Drogasil, Casas Pernambucanas, Sociedade Derenusson, Livraria ABC Papelaria, Loja Síria, Minerva, Joalheria Mundim, Casa de Couros Irmãos Dornfeld, Comércio João Scussel & Filhos, A Nova Ótica, Confeitaria Vasques, Casa da Sogra, Casa das Meias, Casa do Pintor, A Noiva, Sapataria Mirandinha e tantas outras...

Além desse rol, Toti fez um esboço histórico do município, computou dados geográficos, divisão judiciária e divisão eclesiástica. Também enumerou todos os jornais que circularam no município, num total de 234 publicações, como o Lavoura e Comércio, fundado em 1899, e o Correio Católico, de 1897, que se tornou este Jornal da Manhã.

Fidélis Reis, Nicanor de Sousa, Frei Eugênio de Gênova, Coronel Antônio Borges Sampaio e Hildebrando Pontes são alguns dos nomes enumerados na lista Homens de Uberaba, um dos pontos altos do álbum.

Uma das histórias mais curiosas do centenário, no entanto, foi passada apenas oralmente: Na noite do centenário, o prefeito Artur de Mello Teixeira, cujo mandato iria de 1955 a 1959, pretendia ler o discurso feito pelo secretário Lúcio Mendonça de Azevedo. Porém caiu uma tempestade na cidade e a festa foi remarcada para o dia seguinte. Dizem que, ao meio-dia, na praça central, o prefeito começou a ler o discurso: “Nesta noite memorável...”

Mario Salvador / Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal da Manhã em 02/03/2010)

Uberaba está em todas` também com Paulo Mesquita

A célebre frase "Uberaba está em todas", atribuída ao jornalista e radialista Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, me causa indignação por estar sempre diretamente ligada atualmente a todo tipo de escândalo nacional em que aparece o nome de um uberabense. Sou do tempo em que a frase era usada pelos titulares das colunas Observatório (Netinho) ou Escutando e Divulgando, jornalista Raul Jardim, diretor do vespertino extinto Lavoura e Comércio para referenciar grandes feitos de uberabenses em território nacional ou até no exterior, como, por exemplo, os títulos conquistados pelo atleta Alaor Vilela, o Peixinho, ou mesmo o sucesso alcançado pelo compositor Joubert de Carvalho.

Dr. Paulo Mesquita. Foto/Divulgação. 

Nos primeiros anos de exercício de minha profissão, quando também dava os meus primeiros passos com reportagens publicadas em veículo de comunicação com circulação em todo território brasileiro, encontrei na pessoa do médico Paulo Miguel de Mesquita, o verdadeiro representante de Uberaba na contribuição para estudos sobre diagnóstico da Aids voltados à ciência no país e no mundo. Ao me conceder entrevistas entre os anos de 1984 e1985, em seu consultório, instalado no edifício Chapadão, permitiu-me enviar por longo período suas experiências às páginas de O Globo, matérias sobre o atendimento e estudos do caso de um também ilustre paciente. Dr. Paulo Mesquita havia publicado em julho de 1983, na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, aquele que seria o primeiro relato de um caso de Aids diagnosticado no Brasil. O estilista, figurinista dos mais influentes da moda brasileira, Markito Resende, o havia procurado em seu consultório, em fevereiro daquele ano com queixas de sintomas relacionados à doença. A partir de meu primeiro encontro com o médico e a publicação em O Globo de apenas uma nota de coluna de dez ou 15 linhas, seguiu-se uma série de reportagens, incluídas na pauta diária do jornal, sempre que algo novo era revelado por pesquisadores mundiais sobre a síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids. O médico nascido em Três Pontas, Sul de Minas Gerais, que aqui em Uberaba formou-se na antiga FMTM e constituiu família, casando-se com Sonia Vilela, também do Sul do estado, cuja união nasceram cinco filhos (Paulo Vinícius, Luiz Flávio (também hoje renomado médico), Claudia (em memória), Marcus Vinícius e Renata, levava para entre cientistas do país e do mundo o nome dessas terras de Major Eustáquio.

No início de 1983 instalou-se o pânico em todo o mundo quando cogitou- se que o vírus HIV poderia ser transmitido através da água, ar e utensílios domésticos. A infecção por HIV só foi diagnosticada em 1981, mas pesquisadores acreditam que a transmissão do macaco para o homem tenha ocorrido na década de 1930. De 1960 a 1980 começaram a surgir casos e sintomas da doença que os médicos não sabiam explicar. Dr, Paulo Mesquita trouxe para a publicação na revista especializada, com circulação nacional, seus estudos e pesquisas mostrando a combinação da doença com o já conhecido sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer, com erupções na pele, como sintoma e mais uma consequência do mal que abalava o mundo da ciência e trazia também pânico entre os povos, sobretudo com o rótulo de "a peste gay".

( Jornalista Walter Farnezi / Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal de Uberaba em 07/04/2020)

HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA

Um velho e querido amigo que, usando sua prodigiosa memória, vivia contando a história de nossa terra, acaba de entrar para as páginas da história de Uberaba. Um valoroso companheiro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro que enriqueceu com sua vasta cultura, lacunas históricas de nosso cotidiano, usando apenas o seu grande talento, foi o último dos jornalistas da velha guarda.

Gonzaga - Divulgação.

Deixa como legado, não apenas o amor que tinha pela cidade, não apenas o exemplo de dedicação à sua terra, mas um acervo imenso construído através de seus livros, de suas manifestações na rádio 7 Colinas, nas colunas do jornal “A Cidade”, nas suas manifestações na TV Uberaba, e agora, principalmente, através de suas páginas na rede social.

Luiz Gonzaga de Oliveira foi, reconhecidamente, um dos grandes comunicadores que já passou por Uberaba, reverenciado por diversas gerações.

Foi um dos mais atuantes presidentes que já passou pela Fundação Cultural de Uberaba.
A sua partida consternou a todos seus amigos, familiares e admiradores. Dá a impressão, contudo, de que apenas partiu primeiro deixando imensos sentimentos e muitas saudades, mas com a certeza de que todos nós ainda vamos nos reunir na eternidade.

(Gilberto Rezende)

domingo, 20 de junho de 2021

POETAS DO TRIGO

“Os poetas com a pureza que têm n’alma, sempre são chamados a expressar seus versos  nos momentos cruciais da humanidade”. Não me lembro qual foi o feliz autor da frase acima, porém que é verdade não tenhamos a menor dúvida.

Foto -  João Eurípedes Sabino.

No dia 17/06/2021, tive a honra de, representando a Academia de Letras do Triângulo Mineiro, integrar a Comissão Julgadora do Concurso de Poesias “Pão nosso de Cada Dia: POETAS DO TRIGO”, promovido pela Secretaria de Educação de Uberaba/ FIEMG Social e Sindicato das Panificadoras. Concorreram cerca de 120 alunos adolescentes da Rede Municipal de Ensino. 

Quatro concorrentes sagraram-se vencedores! Desnecessário é pontuar que: fica patente o quanto a juventude tem a oferecer nesse momento delicado -pandemia-pelo qual está passando a humanidade.  

Versos extraídos do coração, formam poesias,  rimadas ou não,  que penetram nos arcanos da sensibilidade muito além do alcance da mão... Rimou? Não era esta a intenção. 

Nós os jurados ficamos deslumbrados com o talento dos jovens, ao construírem poesias (autênticas obras de arte), 

que nos levaram às lágrimas. O PÃO, primoroso alimento, foi o foco. Impressionante foi o valor expresso pelos jovens ao trigo, ao pão, ao padeiro, etc., que muitas vezes não lhes damos a importância merecida... 

Que venham outros Concursos!

A Academia apoiará sempre. 

João Eurípedes Sabino. 

Presidente da ALTM. 

Uberaba, 20/06/2021. 

Obs: breve divulgaremos os nomes dos vencedores e seus poemas.


terça-feira, 15 de junho de 2021

Calou-se o marquês do Cassu

QUE TRISTE TARDE

 Tomei conhecimento de sua partida meu amigo irmão.

A nossa cidade que vc tanto amou perde hoje o seu defensor.

Quis o cruel destino (maktub) que fosse vc acometido desse mau terrível junto com Marilia, a filha que sempre esteve ao seu lado.

Walter Bruce da Fonseca e Luiz Gonzaga de Oliveira.
 (Foto do acervo pessoal de Walter B.da Fonseca)

Internados os dois ela foi embora antes para enfeitar a sua chegada, ornamentando com abraços enternecidos o seu novo lar.

Felizmente quis a sorte benfazeja que ela foi sem você saber para a surpresa de abraça-lo na chegada.

Você foi a voz de Uberaba com seus arroubos de amor e a sua lembrança viva em seus escritos, onde se lia como se fosse ao vivo e a cores, personagens que por essas ruas perambulavam, hoje e antigamente, ressuscitados por sua memoria prodigiosa.

Lembro-me do seu inicio na antiga igrejinha de São Benedito no serviço de alto falantes na praça da velha rodoviária.

Era você e o Vicente Paula oliveira (o maior declamador de Catulo da Paixão Cearense) sendo que o Vicente já se foi de há muito e estará também presente na sua chegada.

As quermesses com seus correios elegantes faziam a alegria de nosso povo.

Lembro-me de quando você leu o correio elegante de um poeta desconhecido que respondendo a uma gentil e linda senhorita lascou: “eu quisera ser uma lagrima para em seus olhos nascer, por sua face correr, e em sua boca morrer”.

Você falou que o poeta casou e não mais fez versos!

Dai você foi galgando os degraus da trajetória iluminada que o traria ate hoje, passando por radio, televisão e jornais. 

Quando quiseram por motivos outros, mudar a data de nascimento de sua terra amada o mundo veio abaixo.

Veio á tona uma sua faceta por nós desconhecida, de um denodado e valente defensor do berço.

 O brilhante lutador fez de sua pena espada, e partiu para o confronto.

Essa peleja açodada pela peça teatral de Luigi Pirandello ”ASSIM E SE LHE PARECE” iria chegar a lugar nenhum, mas ficou no limbo para ser interpretada de acordo com a ideologia ou conveniência de cada um.

Você Gonzaga foi um grande amigo e ser amigo é muito difícil, e a gente quando encontra um, tem que dar valor, e quando estamos juntos jamais dar motivos para sair da roda e ir embora e você se foi.

Mas esse adeus provocado por essa maldita síndrome não irá impedir um reencontro no andar de cima.

 A nossa cumplicidade em somar tristezas e dividir alegrias com o nosso Botafogo expulsava os resquícios de quaisquer malsinados pensamentos de que um dia haveria essa dolorosa despedida

A dor do amigo que perde um companheiro não é pouca.

 As tardes no Filó para espancar a solidão e nunca acreditar que um dia haveria essa triste separação.

Disse-lhe eu uma vez que os personagens da terra que não eram ficção, e sim protagonistas viventes como Dora Doida, Maria Boneca, Maria Carrapata, Coronel Delcides e Alicate que se dizia filho de Heleno de Freitas do nosso Botafogo, que poderiam ser figuras de um romance regional que nos levaria a viver de novo emoções passadas e a vc a gloria nacional na literatura, já que aqui vc e exponencial.

Você lutou para vencer a Covid, mas vencido fez uma cidade inteira chorar, e foi sem se despedir, mas deixou pra todos: o testemunho de seu grande amor por UBERABA!

A Vânia com certeza devia  sentir-se enciumada por tanto amor a nossa Uberaba, mas ela tinha o coração nas alturas e jamais deixaria de incentivar tão extremada paixão pela nossa terra.

Terra que hoje se sentirá agradecida por servir de agasalho pro seu corpo frio.

O seu corpo Gonzaga hoje volta ao ventre amado, feliz pelo fruto tão produtivo em versos e prosas que você nos legou.

Nosso rincão amado jamais será o mesmo sem a presença pujante de sua pena-espada valente a nos defender.

 Somos todos órfãos de sua presença física, mas temos a certeza inexorável de que você onde estiver com a força da experiência de vida que teve jamais nos esquecera na morte.

Siga com Deus nobre MARQUE DO CASSU!

* Walter Bruce da Fonseca, 14/06/2021




BANDEIRA A MEIO MASTRO

Sim, Bandeira a Meio Mastro.

Ontem -14/06/2021- no início da noite cumpri a mais árdua missão: subi as escadarias da sede do nosso Sodalício Triangulino de Letras e, lá encima, baixei o Pavilhão Nacional deixando-o a meio mastro. 

A tristeza invadiu-me e tive que ampliar minhas  forças para materializar o meu intento: homenagear nosso  herói que de nós se despediu para sempre, vítima da Covid-19, deixando vazia a Cadeira número 15.

A missão do presidente é extremamente árdua  quando se trata de comunicar à sociedade que a Academia de Letras do Triângulo Mineiro perde um de seus diletos  membros. Aí se apresenta o Pavilhão Nacional com seu silêncio mudo e, literalmente imóvel, emite a mensagem que vale por milhares de palavras: “Aqui estou para representar o luto. Minhas quatro cores (verde, amarelo, azul e branco) se transformam numa só; o preto, cor que traduz o luto”.

LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA faz as cortinas do show se fecharem e o ciclo dos combatentes por Uberaba se encerra. Quem lutou tanto por sua terra quanto ele? Nenhum outro filho, se buscarmos em nossa história que começa oficialmente no século XIX.

De Borges Sampaio, passando por Hildebrando Pontes, José Mendonça e outros autores até os dias de hoje, todos escreveram bem a história das Sete Colinas, mas LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA vestiu uma nova roupagem na história e a contou de forma a despertar no uberabense o amor pela sua terra e inadmitir a sua classificação em 

lugares longe do primeiro.

Aí está o tributo que sempre estaremos em débito com LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA. 

Segue amigo Gonzaga. A sua imortalidade se inicia agora e nós aqui ficamos para consagrar o seu bendito nome.

Abraço fraterno.

João Eurípedes Sabino. 

Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. 

Uberaba/MG/Brasil 

15/06/2021



segunda-feira, 14 de junho de 2021

Grande perda para nossa cidade, o Gonzaga era parte da memória viva de Uberaba.

Uberaba perde uma de suas mais ilustres figuras do jornalismo e um dos pioneiros das transmissões de televisão em nossa cidade – famoso criador do bordão "Oi Turma", com o qual começava seus programas no rádio e na TV. Grande memorialista da região do Triângulo, escrevia artigos bem humorados com o pseudônimo "Marques do Cassú", contando "causos" da cidade, dos quais se recordava com memória prodigiosa.

É com profunda tristeza e uma dor imensa no coração que comunicamos o falecimento do jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira, aos 85 anos. Luiz Gonzaga esteve internado no Hospital São Domingos durante quase um mês, onde lutou bravamente contra a Covid-19. Infelizmente, a doença o venceu na manhã desta segunda-feira, 14 de junho.

 Luiz Gonzaga de Oliveira- Foto/Divulgação.

Seu exemplo de ética, de profissionalismo, de dedicação ao jornalismo e de amor à família e à vida nos enchem de orgulho e nos guiarão a partir de agora. Que Deus conforte a família e os amigos, e lhes dê a força e união necessárias para superar esse momento.

Por outro lado, já tendo visto a situação lastimável em que retornaram para casa alguns conhecidos (bem mais jovens que o Gonzaga) após ficarem semanas entubados em hospitais com Covid, eu fico em dúvida se, para os mais idosos acometidos pelo quadro grave da doença, a morte não é por vezes uma benção. No caso dele, agravado pela situação de ter que lidar com a morte da filha, que é daquelas dores inimagináveis.

Que descanse em paz. Viveu uma vida plena.

O sepultamento ocorrerá às 09h do dia 15/06/2021, no Cemitério Memorial Parque. Rua João Batista Ribeiro, 2555 - Distrito Industrial I. Uberaba - MG.

sábado, 5 de junho de 2021

O cabeleireiro que encantou os jovens e irritou os coronéis

Como em um jogo de cartaz marcadas, o destino preparou para Ronaldo exatamente o local onde anos antes dera início ao exercício de sua profissão

O jornalista e radialista Ataliba Guaritá Neto, o Netinho, titular na coluna Observatório, no extinto centenário Lavoura e Comércio tentou por três vezes cortar o cabelo no novo e já badalado salão, instalado no recém inaugurado Edifício Rio Negro, ocupando uma sala na galeria comercial mais charmosa de Uberaba e região, entregue à comunidade entre o final de 1969 e início de 1970. Depois de três tentativas frustradas, Netinho aceitou então a norma estabelecida pelo cabeleireiro Ronaldo Perfeito da Cunha e agendou dia e hora para que fosse atendido. No procedimento, ouviu de Ronaldo a garantia de que quando chegasse, a cadeira estaria livre para se sentar.

O jornalista gostou do atendimento, do corte e ainda do bate-papo com o jovem Ronaldo. Para a surpresa do cabeleireiro, na edição do dia seguinte, ao foliar o vespertino, deparou-se com nota de abertura na coluna Observatório, onde o ilustre cliente do dia anterior tecia elogiosos comentários ao seu trabalho e ao formato de seu micro empreendimento, o Salão Ronaldo Cabeleireiro. "Para evitar espera, o cabeleireiro Ronaldo, instalado na Galeria do Edifício Rio Negro, trabalha no estilo dos grandes salões do eixo Rio-São Paulo. Devido ao elevado número de clientes e para evitar a espera, o profissional abriu seu salão para trabalhar nos moldes dos grandes cabeleireiros brasileiros, ou seja, com hora marcada para o corte de seu cabelo", assinalou o colunista na nota.

Ronaldo Perfeito da Cunha - Foto Antonio Carlos Prata.


Ronaldo iniciou-se ainda muito jovem na profissão. Nascido em 1943, em Uberaba, aos 13 anos de idade teve sua primeira experiência em salão de cabeleireiro, porém, em Uberlândia, onde esteve uma temporada morando e trabalhando de engraxate no salão do tio. Dali, foi um passo para rapidamente aprender a cortar cabelo. De volta a Uberaba, o adolescente Ronaldo teve o incentivo de uma namoradinha para que procurasse um salão para trabalhar. Quem sabe, pesou ele, ao ouvir a sugestão da namorada, que trazia no detalhe o fato de ser quatro anos mais velha que ele. Sua primeira experiência foi exatamente onde seria erguido o edifício Rio Negro, onde no futuro se instalaria em uma sala na charmosa galeria. Era 1961 e o Salão Avenida, na av. Leopoldino de Oliveira, onde ele havia se iniciado, deu lugar a um canteiro, após a demolição do antigo prédio para início das obras de fundação do arranha-céu. Seu espaço para trabalhar, no entanto, limitava-se aos sábados ou aos horários em que o proprietários lhe disponibilizava a cadeira e instrumentos.

Jamais ele imaginaria, no entanto, que sua mudança para um outro salão, no ano seguinte, onde conseguiu vaga para trabalhar de segunda a sexta-feira, em horário comercial, o traria problemas com grandes pecuaristas de Uberaba (coronéis como eram tratados à época}, já em projeção por todo o país pela excelência na seleção do gado Zebu. Propriedade de Geraldo Luiz da Silva, o Salão Lord, instalado no hall de entrada do edifício onde funcionava o Palace Hotel, na praça Rui Barbosa, esquina da Rua São Sebastião, em frente a residência do pecuarista Cel. Manoel Mendes. Elvis Presley já era sucesso pelo mundo todo e os Beatles também já embalavam a juventude em todo o mundo rock and Roll, no ritmo do iê iê iê. Cabelos longos, cobrindo a orelha e a nuca, franja, enlouqueciam sobretudo as meninas. O jovem cabeleireiro Ronaldo, roqueiro assumido, usava corte de cabelo da moda, com formato extravagante para a época, sobretudo para sociedade conservadora em terra dominada pelos coronéis do Zebu. Seu comportamento, sua maneira de se vestir, seu gosto musical aguçaram a preferência dos filhos dos pecuaristas para a contrariedade dos pais. Diziam que até seu corte de cabelo influenciava seus filhos

Um grupo de pais, procurou então o proprietário do Salão Lord para exigir que o jovem cabeleireiro voltasse a usar corte de cabelo denominado à época americano, como usara no período em que esteve alistado ao Serviço Militar, encerrado no ano anterior. Ronaldo não acatou a ordem vinda do pais de seus clientes, através do proprietário do salão e "o tempo fechou". Uma campanha entre famílias fora desencadeada para mudar o comportamento do jovem cabeleireiro, que na opinião dos conservadores influenciava seus filhos a aderir à moda dos cabelos longos. Veio o Golpe Militar em 1964 e com ele duros ataques a opositores e aos jovens com comportamento considerado subversivo à ordem e a tradições. Ronaldo ainda fazia uso de lança-perfume, comum à época, sobretudo nos bailes de carnaval, até esta ter seu uso proibido, em 1966. Nesse período, como todo jovem considerado fora dos padrões sociais da época, Ronaldo recebeu o rótulo de comunista e pagou alto preço por teimar em usar cabelos longos e curtir rock and. Roll. Um processo e a ausência dos clientes, sobretudo os filhos dos pecuaristas, esvaziou seu salão e pôs fim, aparentemente, a um futuro promissor para ao jovem profissional. Deixou o Salão Lord e moveu ação trabalhista contra o proprietário Geraldo Luiz da Silva. Perdeu a causa, pois não havia vínculo empregatício, alegou o reclamado e o Juiz do Trabalho arquivou o processo.

Salão Novo, vida nova

Como em um jogo de cartaz marcadas, o destino preparou para Ronaldo exatamente o local onde anos antes dera início ao exercício de sua profissão (Salão Avenida), mais ainda em antigo prédio onde no futuro próximo seria instalado o seu exuberante salão, acomodado na charmosa galeria, no novo edifício Rio Negro, onde atendeu o badalado jornalista, já em 1970. Ronaldo acertou a vida com mais essa oportunidade e abriu o reinicio de suas atividades profissionais. Em negociação com diretores da empreendedora, responsável pelo projeto de construção do Rio Negro, o cabeleireiro aguardou somente o término das obras, uma vez que já havia assegurado com o proprietário da empresa a locação de uma sala para instalar seu salão, o primeiro somente seu. Enquanto aguardava a entrega da sala, com a obra em fase final, se mandou para São Paulo para escolher a sua cadeira nova, a primeira sob sua aquisição e usada até hoje, porém, em outro espaço, no Edifício Chapadão, à rua Major Eustáquio. Era 1968, anos de mudanças na vida social e política do país, com a edição do Ato Institucional 5, o AI-5, e Ronaldo cuidou primeiro de atender a sua nova clientela. Tudo diferente e usual para a época em se tratando de salão de cabeleireiro em Uberaba: sem espera e com hora marcada, ar condicionado, tapete, sofá, revistas à disposição em uma mesinha se centro e, claro, o garoto engraxate. Sucesso total e o mais procurado da cidade.

De volta à política

O cabeleireiro Ronaldo deu sequência à sua profissão, com salão lotado diariamente, já casado com Neusa Ribeiro da Cunha, pai de três filhas (Patrícia, Débora e Taciana) no início dos anos de 1970, acumulando respeito entre clientes, simpatia, popularidade, mantendo-se longe da política, já que o próprio regime Militar impedia atuação democrática, pois foi adotado a partir de 1965 pelos militares o bipartidarismo, com apenas Arena(situação) e MDB(oposição).

De volta aos estudos

Na década de 1970, Ronaldo voltou à escola que havia abandonado ainda na adolescência para se dedicar ao trabalho. Formou-se em direito em 1979, colando grau em janeiro de 1980. Um ano antes, no entanto, aceitou convite do amigo, também advogado Vicente Paulo Oliveira e com ele fundou o diretório municipal do Partido Democrático Trabalhista PDT, logo após o início do processo de abertura democrática do pais, quando a sigla teve como fundador Leonel Brizola, ainda no exilio, quando promoveu o primeiro congresso dos trabalhistas em Lisboa, Portugal. Hoje Ronaldo Perfeito da Cunha conta que passou a admirar Leonel Brizola, quando tomou conhecimento de que o gaúcho havia doado terras de sua propriedade para um programa de Reforma Agraria no Rio grande do Sul. A sigla PDT também serviram de iniciais para os nomes das filhas, Patrícia, Débora e Taciana. Montou seu escritório para advogar junto ao seu novo salão, pois havia se transferido em 1978 para o Edifício Chapadão, onde está até hoje, em sala adquirida por ele com tudo que ganhara trabalhando no estabelecimento da av. Leopoldino de Oliveira, na charmosa galeria. Filiado ao PDT, com cargo de vice-presidente na Executiva do Diretório Municipal da agremiação, Ronaldo engajou-se na luta pela anistia e no processo de redemocratização do país, exercendo a advocacia e a profissão de cabeleireiro. Candidatou-se a vereador em 1982, primeiras eleições democráticas, mas só alcançou 29 nove votos. "Não havia tempo e muito menos dinheiro para a campanha", conta.

Advogou por dois anos, voltou a se candidatar a vereador seis anos depois, em 1988, mas desistiu da campanha a uma semana do pleito por discordar de negociatas e conchavos, segundo ele, da direção da sigla com os interesses que elegeriam Hugo Rodrigues da Cunha(PFL) prefeito de Uberaba. Mesmo assim, embora tenha abandonado a campanha obteve 299 votos. A advocacia deixou quando teve negado na Justiça a seu acompanhamento à Ação Popular contra Wagner do Nascimento, no processo conhecido como "Escândalo da Amgra". Ao tentar protocolar petição na tentativa de ter acesso aos autos, foi barrado pelo Juiz Márcio Antônio Correa, sob a justificativa de que o processo corria em segredo de Justiça. "Como em segredo de Justiça se é uma ação popular". Indagou em seu desentendimento com o magistrado. Ele diz não se conformar até hoje com o ocorrido. Contudo, à época, preferiu deixar a advocacia e voltar-se tão somente à profissão de origem.

Perseguição e rótulo de comunista

Mais uma vez, agora no final da década de 1980, Ronaldo sofre perseguições da elite conservadora devido a seu comportamento e desta vez por militância política, sobretudo por se alinhar às fileiras formadas por um ex-exilado que voltara ao pais com a anistia, trazendo na bagagem suas velhas teses socialistas. Para seu espanto a campanha contra ele não era liderada pelos coronéis, mas pelos filhos destes, os mesmos jovens clientes do passado que lhe acompanhavam no modelo do corte de cabelo quando foi perseguido, no início da década de 1960, levando a irritação os pais coronéis, no início de carreira. Mais uma vez rotulado como comunista, agora pela sua adesão ao movimento socialista de Leonel Brizola e o seu discurso contra a candidatura conservadora de Hugo Rodrigues da Cunha. Tudo isso justamente no bate-papo estabelecido quando cortava o cabelo do velhos clientes, agora na faixa de quarenta anos e que no passado também lhe rendera popularidade e a fama, aliadas a simpatia.

A partir daí, nunca mais seu salão de cabeleireiros apresentou filas, formatadas em sua agenda de papel, ainda sobre a mesa de trabalho com uma caneta e um telefone fixo. Nunca mais sua clientela foi a mesma em volume e numerário, embora até hoje ainda atenda à terceira e quarta gerações de alguns poucos clientes do passado. Na década de 1990, viu sua clientela ser reduzida ainda mais, devido suas opiniões sobre os destinos da Nação, embora desta feita somente como cidadão e eleitor. Nunca mais desde que desistiu de sua candidatura a vereador, em 1988, militou em política partidária, embora mantenha a sua filiação ao PDT.

Novo Golpe, novas perdas

Mais uma vez, seus comentários nos bate-papos com clientes, mesmo procurando reserva para se resguardar de perseguições o cabeleireiro Ronaldo viu acentuar ainda mais a queda da clientela. Hoje ele ainda trabalha, aos quase 77 anos a completar em julho próximo, mas com agenda de papel em páginas quase vazias, atendendo um ou outro cliente ou descendentes de alguns daqueles dos bons tempos. Para Ronaldo, sua posição ao desenrolar de um planejamento pela direita que culminou com a queda do governo Dilma Rousseff, com o retrocesso, que levou ao poder novamente os conservadores, sob a liderança de Jair Bolsonaro, de certa forma, coloca a si e seu salão em situação de esvaziamento como tudo que ocorreu em toda a Nação em se tratando de extinção dos avanços alcançados a duras penas nos anos sucedidos pela abertura democrática. "Não me arrependo, faria tudo de novo, hoje pelo futuro de meus seis netos e a construção de um país melhor para as gerações que virão, certamente após a minha partida deste mundo", garante ele.


(Walter Farnezi / Uma primeira versão desse texto foi publicada no Jornal de Uberaba em 28/03/2020)

terça-feira, 1 de junho de 2021

Dra. Gisele Paulette Remy Rodrigues da Cunha.

Médica pediatra e sanitarista, muito fez pela saúde pública e região. Brava guerreira Se vai aos 83 anos deixando edificado um caminho brilhante e cheio de luz.

Dra. Gisele Paulette Remy.
 Foto/Divulgação.

Seus três filhos seus netos e familiares deixam registrado seu amor eterno e gratidão por tudo que fez e pelo que representa
Embora com pesar e um tanto de dor, reconhecemos ser este o fluxo natural da vida.

Velório 01/06 das 7h à 09h30 na Live sepultamento às 10h
 



domingo, 30 de maio de 2021

AOS FAMILIARES DO AMIGO LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA

A  Academia de Letras do Triângulo Mineiro desde os primeiros instantes em que tomou conhecimento das dificuldades pelas quais vem passando o nosso confrade LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA e sua família, está em vigília na esperança de vê-los vivendo dias melhores.

O passamento da filha Marília nos comoveu a todos e tenham a certeza de que estamos irmanados no mesmo sentimento de união, fator esse de extrema importância para todos nós.

Deus como sempre faz, há de conceder forças à estimada família Gonzaga de Oliveira e assim, poderão superar esse momento tão delicado.

Esta Academia está e estará sempre pronta, a qualquer hora do dia ou da noite, não obstante exista a pandemia do Coronavírus, para atuar de forma solidária junto à esposa de Luiz Gonzaga, D. Vânia, às filhas Adriana e Joice, bem como somar forças com os demais familiares. – 28/05/2021.

João Eurípedes Sabino. 

Presidente da ALTM.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

PROFETA

Nunca soube seu nome de pia, todos o conheciam assim: Profeta.

Altura mediana, cabelo cheio bem cortado, barba feita, bigode aparado, roupa clara, folgada no corpo (por vezes, cerzida nas pontas). O cinto escuro e largo marcava a silhueta. E sapatos bem engraxados.  Circunspecto, não esboçava o mínimo sorriso. Respondia aos cumprimentos com breve aceno da cabeça, nunca se adiantava no reconhecimento. Unia o indicador ao polegar quando discorria sobre um assunto, pausado, de arranque, concluindo sem reticências.

Portava uma pasta com jornais, recortes, e seus escritos em letra de forma, grande, vírgulas e pontos bem colocados, suas reflexões de fatos e outros assuntos. Circulava próximo ao Fórum quando funcionou na Rua Coronel Manoel Borges, vi por vezes em balcões dos Cartórios.
Modesto, não mendigava. Aceitava quando conhecia o interlocutor, se muito uma lata de óleo, um pó de café, uma lata de sardinha.

Previdente tinha uma casa. Pré-moldada em madeira aparada e folha de flandres, que pelas estampas esmaecidas identificava-se produtos fora de linha. Tinha, admito que uns nove metros quadrados, elevada do chão, desmontável, e assim mutável no endereço.

Levado pelo meu irmão eu o conheci na Rua Afonso Teixeira, um trecho sem saída na Barão de Ituberaba paralelo à Rua dos Andradas. Muitos anos depois estava instalado na Rua Lauriston Prata (defronte à flora de Dona Geralda do Capitão), que é outro trecho sem saída da Rua Coronel José Ferreira, agora paralela à Rua Major Eustáquio. Soube que esteve nos fundos do Fórum noutra ocasião.

Fica aqui meu registro, sua imagem guardada na retina, d’o Profeta.

(Leonardo José R.Teixeira)


terça-feira, 25 de maio de 2021

13 DE MAIO IGNORADO(⁎)

Quando Tiradentes foi implacavelmente executado, nós triangulinos não éramos mineiros e sim goianos. Só a partir de 04 de abril de 1816 é que passamos a existir como sendo o “nariz de Minas”. Saber por aqui da atrocidade capital feita ao nosso alferes deve ter demorado um bom tempo devido à falta de comunicação. Passados 72 anos, ou seja, em 1888, aconteceu aqui um fato quhoje, 126 anos depois, merece a devida reparação pela nossa Egrégia Câmara Municipal: trata-se da omissão institucional do Município relativa à abolição da escravatura. Nosso governo municipal, dirigido pelo agente executivo Joaquim José de Oliveira Teixeira (1887/1890), não fez qualquer referência à entrada em vigor da Lei Imperial no 3.353 de 13/05/1888. Ou seja; o dia “13 de maio” foi ignorado.

Pesquisando nos alfarrábios oficiais, constatei que o assunto libertação dos escravos, ou Lei Áurea, não entrou em pauta na nossa Casa Municipal de Leis naquele ano e evaporou como se não tivesse ocorrido. Em contrapartida, no ano seguinte quando o Império foi derrubado em 15/11/1889; cinco dias depois se fez constar na ata da Câmara de 20/11/1889, o texto: “ A 15 do corrente foi declarada e proclamada na Capital do Brasil a República Federativa Brasileira. Reconhecendo Câmara o Governo Provizório Republicano, como consta na ata da sessão de hoje Pede aos seus concidadãos a maior circunspeção em todos os seus atos e todo obediência as autoridades hoje legalmente constituídas”.

Por que esse jogo de informação e desinformação? Vivíamos num Brasil de maioria analfabeta, em que a “leitura” era coisa rara e de acesso dificílimo aos menos aquinhoados. Portanto, era de se esperar que, enquanto o povo simples tinha os olhos vendados com a desinformação, os coronéis nadavam em privilégios. E o maior dos seus privilégios era a informação.


Câmara Municipal de Uberaba fez uma retratação pública
com escritura lavrada em Cartório.

Que Rui Barbosa, o nosso ícone do Direito, sugeriu fossem queimados documentos comprobatórios da transação de escravos, não é mais segredo. Que a província do Ceará foi a primeira a abolir o regime escravocrata em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea e que, Francisco José do Nascimento (o Dragão do Mar) foi o grande lider daquela conquista, isso hoje eu sei. A essas informações só chegamos graças à democracia, daí a sua importância para a nossa formação cívica.

Estamos vendo pipocar país afora, movimentos a favor da mudança de nomes de logradouros públicos que homenageiam patrocinadores de regimes totalitários. Nada mais insano a meu ver. Os que foram tiranos enquanto no poder, precisam ter os nomes na história para nunca ser esquecidos. E, sendo lembrados, sejam motivos de reflexões.

(⁎) - João Eurípedes Sabino -Uberaba/MG/Brasil.

Publicado no Jornal da Manhã-16/05/2014-Enviado à revista Veja-09/02/2015.

Republicado atendendo a pedidos- 13/05/2021

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sábado, 22 de maio de 2021

5ª RPM COMEMORA 35 ANOS DE INSTALAÇÃO EM UBERABA

Em Uberaba, 22 de maio de 2021

Ocorreu nesta manhã do dia 22 de maio, na sede do 67° Batalhão da  Polícia Militar, o lançamento da Operação Fecha Região, em comemoração aos 35 anos de criação e instalação da 5ª Região da Polícia Miliar (5a RPM) em Uberaba.

Ao longo deste dia serão realizadas ações e operações nas 30 cidades afetas ao Comando da 5a RPM, com a finalidade de prevenir e fazer frente ao cometimento do crime em suas várias modalidades. Todo o efetivo está sendo empregado, incrementado ainda com os Policiais Militares da Administração, a Banda de Música realizará tocatas em diferentes pontos da cidade, a aeronave realizará operações nas cidades da região bem como o Policiamento Rodoviário está desencadeando operações e os profissionais da aérea de saúde estão prestando seus serviços neste dia.

A 5a RPM foi instalada em 22 de maio de 1986, tendo como área de responsabilidade a Região Sul do Triângulo Mineiro. Nossos nobres Policiais Militares levam proteção a população dos 30 municípios e 04 distritos afetos ao Comando Regional.

Subordinados à 5ª RPM temos o 4º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Uberaba; 37º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Araxá; 67º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Uberaba; 3ª Companhia de Polícia Militar Independente, com Sede em Iturama; 4ª Companhia de Polícia Militar Independente, com Sede em Frutal; e o Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais, Unidade Uberaba. 

A 5ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais foi criada pelo Decreto nº 25.381, de 27 de janeiro de 1986, e sua Sede está instalada em Uberaba, com prédio próprio situado na rua Inspetor Izidro Ferreira Filho, 55, bairro Fabrício. 

A criação da 5ª RPM marcou uma nova era na história da Polícia Militar de Minas Gerais, com a criação de um escalão intermediário entre o Alto Comando da PMMG e as Unidades Operacionais, o que possibilitou a celeridade na tomada de decisões, gestão qualificada do trabalho Policial Militar e uma eficaz prestação de serviços de segurança pública à população Sul Triangulina.

A 5ª RPM teve um total de 18 comandantes, sendo atualmente comandada pelo Coronel PM Juliano Fábio Lemos Dias.

A  Polícia Militar de Minas Gerais permanece trabalhando para melhorar a qualidade de vida das pessoas na área da segurança pública.

*Agência Regional de Comunicação Organizacional da 5a RPM*


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História da Instalação em Uberaba

A 5ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais foi criada pelo Decreto nº 25.381, de 27 de janeiro de 1986, e sua Sede está instalada em Uberaba, com prédio próprio situado na rua Inspetor Izidro Ferreira Filho, 55, bairro Fabrício.

A Unidade foi instalada em 22 de maio de 1986, tendo como área de responsabilidade a Região Sul do Triângulo Mineiro, sendo que hoje os homens e mulheres da 5ª RPM, com suas ações diárias, levam proteção e socorro a uma população estimada em 872 mil habitantes nos 30 municípios e 04 distritos sob sua responsabilidade. Articulados à 5ª RPM estão o 4º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Uberaba; 37º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Araxá; 67º Batalhão de Polícia Militar, com Sede em Uberaba; 3ª Companhia de Polícia Militar Independente, com Sede em Iturama; 4ª Companhia de Polícia Militar Independente, com Sede em Frutal; e o Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais, Unidade Uberaba.

O ato solene de inauguração da 5ª RPM marcou uma nova era na história da Polícia Militar de Minas Gerais, com a criação de um escalão intermediário entre o Alto Comando da PMMG e as Unidades Operacionais, o que possibilitou a celeridade na tomada de decisões, interligando as mesmas com o nível estratégico para uma melhor e mais eficaz prestação de serviços de segurança pública à população Sul Triangulina.

A atuação da 5ª Região da Polícia Militar, embasada nas diretrizes da Corporação, é focada em duas direções distintas: proativa, que consiste na intervenção, junto à sociedade, nas causas imediatas e primárias dos crimes e da violência; e reativa, caracterizada pelo atendimento pós-crime. (PMMG)

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quinta-feira, 6 de maio de 2021

Parque Fernando Costa, 80 anos!

Estamos em plena semana de comemoração dos 80 anos do Parque Fernando Costa, aberto em 1º de maio de 1941 e inaugurado no dia 10 pelo presidente Getúlio Vargas. Presidia a então Sociedade Rural do Triângulo Mineiro o advogado e pecuarista Dr. José de Sousa Prata.

Min. Fernando Costa, Pres. da República Getúlio Vargas, Pres. da SRTM José de Souza Prata e Gov. de Minas Gerais Benedito Valadares
 na inauguração Parque Fernando Costa. Acervo: MZ

Cravamos um marco em nossa história também com as presenças, dentre outras, do governador de Minas Gerais, Benedito Valadares, com secretários, e do ministro da Agricultura, Fernando de Sousa Costa. Whady José Nassif era o prefeito de Uberaba. A missão de orador oficial fora confiada ao advogado Dr. José Mendonça.

Falar sobre o Parque Fernando Costa é me referir ao grande clarão que revelou Uberaba ao mundo como ponto de encontro da pecuária nacional e internacional. Daqui o zebu se espalhou Brasil afora e extrapolou fronteiras. A longa série de Presidentes da República, Chefes de Estado e Governadores que o visitaram comprova o prestígio da classe pecuarista.  

Acompanho de perto as suas evoluções há mais de seis décadas. Já o citei em livro, poemas, crônicas e artigos. Rendo-lhe hoje as minhas homenagens no seu 80º aniversário e confesso: sem você, Parque Fernando Costa, Uberaba não teria recebido tantas visitas ilustres e quiçá Chico Xavier tivesse escolhido outra cidade para exercer o seu mister. De suas entranhas saíram grandes decisões no cenário político brasileiro.

No seu seio está o Museu do Zebu, grande repositório da história de heróis que arriscaram suas vidas cruzando mares, para termos hoje a hegemonia das raças que fizeram do Brasil o grande alimentador do mundo. Não consigo caminhar em suas vias sem reverenciar dois símbolos do seu verde: as árvores sapucaia e sete-cascas (esta, imune de cortes).

 Roberto Carlos, no Galpão Multiuso, apresentou-se em Uberaba pela última vez. Lembro-me que voei alguns metros para apanhar uma rosa vermelha, lançada por ele ao público. Quantos astros também em seus palcos se apresentaram! Justas homenagens vi serem prestadas aos benfeitores da agricultura e pecuária, cujos feitos estão gravados na história.

Por que você permanece incólume apesar das 80 primaveras? É porque os que lhe cuidam o fazem com o mesmo carinho dos antecessores. Salta aos nossos olhos a sua supremacia por sediar a entidade brasileira, referência do setor, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. Aplausos a você, Parque Fernando Costa!

(*) - João Eurípedes Sabino.
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Uberaba/MG/Brasil.

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sábado, 1 de maio de 2021

DR. PAULO MESQUITA

Uberaba perde mais um dos seus ilustres benfeitores, Dr. Paulo Miguel de Mesquita. Triste data é 30/04/2021...

Do esposo, pai, irmão, filho, avô cheio de virtudes é desnecessário falar porque todos o conhecem e o têm como referência. Do político, cujas mãos manteve sempre limpas do início ao fim da sua trajetória não direi porque todos sabem da sua lisura incomum.  

Do padrão de homem nem se fala...

Tive várias passagens com o meu médico , amigo e vizinho profissional. Para não me alongar direi que uma vez ele me contou emocionado o seguinte episódio: “Na alta madrugada uma voz feminina e aflita ao telefone me  pediu que eu salvasse o seu pai, meu amigo,  que estava desfalecido. Orientei-lhe que fizesse alguns procedimentos e o levasse incontinenti ao hospital São Marcos que eu também iria para lá. Acionei a equipe para receber o paciente. 

Quando lá cheguei vi que o amigo estava em parada cardíaca e sem chances de sobreviver. Ao sair da UTI e já no corredor, eis que me deparo com um colega, meu ex-aluno e excelente especialista para o caso. Ele vinha a Uberaba uma vez por mês para dar curso e só estava ali porque havia perdido o sono no hotel. Pedi-lhe que me auxiliasse e, resultado: TROUXEMOS O AMIGO DE VOLTA  À VIDA! “

Emocionado também, depois de ouvir a narrativa de Dr. Paulo Miguel de Mesquita, lhe dediquei esta frase:”AS PESSOAS CERTAS, NAS HORAS CERTAS E NOS LUGARES CERTOS; SÓ SE ENCONTRAM POR OBRA DE DEUS”. Concebi-lhe  também uma crônica. 

E ele, num gesto de extrema cortesia e amizade, colocou a frase no seu consultório no Edifício Chapadão em Uberaba/MG. 

Esse é o grande homem que Uberaba, à maneira de outros valorosos irmãos, está vendo partir e deixando em nós profunda tristeza. A saudade ocupará os seus lugares...

Adeus Dr. Paulo. Que o nosso reencontro seja na hora certa e no lugar certo, sob a Presidência de Deus! 

João Eurípedes Sabino.

Uberaba/MG/Brasil.

domingo, 14 de março de 2021

Solenidade de reinauguração do Ambulatório "Maria da Glória" na época, final dos anos 70

Solenidade de reinauguração do Ambulatório "Maria da Glória." (Foto Paulo Nogueira)

Presentes, o saudoso Dr. João Francisco Naves Junqueira, então Diretor da Faculdade, discursava, tendo a seu lado a partir da esquerda, o Dr. Jorge Chiree Jardim, o então prefeito, Silvério Cartafina, o radialista Geraldo Barbosa, o Dr. Jorge Furtado, de camisa vermelha e atrás do prefeito, o médico ortopedista Álvaro Lopes Cançado. 

domingo, 10 de janeiro de 2021

AFRÂNIO FRANCISCO DE AZEVEDO NO ORIENTE DE UBERABA

Feito Maçônicos do Irmão 

Criação do Culto de Saudade 

Criação do Colégio Triangulo Mineiro
 
Construção do hospital da Criança de Uberaba


Alunos do Colégio Triângulo Mineiro, em desfile de 07 Setembro no ano de 1957.

Esse Colégio,foi idealizado pelo irmão Antônio Francisco de Azevedo. Era destinado a filhos de operários em forma de Bolsas de Estudos. Funcionava nas Instituições da estão Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro, hoje UNIUBE.

CRIAÇÃO DO CULTO DE SAUDADE

Era uma forma de se homenagear a passagem dos irmãos Maçons em seus retorno ao Oriente Eterno.Era colocado na sala ,onde eram velados os corpos dos irmãos ,que em muita das vezes eram velados em seus lares.O resultado das medalhas cunhadas ,eram em concordância com os desejos do então irmão,deixado em Testamento,e e ou a critérios de seus familiares.

CRIAÇÃO DO COLÉGIO TRIÂNGULO MINEIRO

Criado a partir da ideia e de doação de área ao então Professor Mário Palmério no Oriente de Uberaba,área essa onde esta o Centro Cultural Cecília Palmério, se destinou a criação de uma escola que contemplaria aos filhos de operários ,negros e desvalidos de Uberaba ,principalmente aos filhos de espíritas e de religiões de matrizes africanas ,filhos de membros do Partido Comunista local,porque eram impedidos de serem matriculados em escolas regulares.

Esta pesquisa está vinculada a Linha de História e Historiografia da Educação tem o objetivo de investigar o processo de criação e instalação do Colégio Triângulo Mineiro, localizado em Uberaba-MG, e identificar algumas práticas pedagógicas vivenciadas na instituição. Trata-se de estabelecimento privado, fundado nos anos de 1940 pelo professor Mário de Ascenção Palmério.

 A instituição que era conhecida como Liceu Triângulo Mineiro iniciou suas atividades oferecendo cursos de admissão, madureza, preparatório, pré-primário e primário e, em 1941, requereu verificação prévia para a oferta do 1º Ciclo do Ensino Secundário o Curso Ginasial. Em 9 de abril de 1943, foi concedida a inspeção preliminar e recebeu a denominação de Ginásio Triângulo Mineiro, mas, somente em 7 de outubro de 1946, obteve o reconhecimento do Curso Ginasial.

 Em 27 de janeiro de 1947, conseguiu autorização para funcionar como colégio. A princípio, o fundador dizia que o estabelecimento tinha sido criado para atender aos menos favorecidos, no entanto, a problemática levantada nesta pesquisa aponta uma contradição: nos anos em que foi fundado, o Colégio Triângulo Mineiro implantou o 1º e 2º Ciclo do Ensino Secundário, níveis de ensino destinados a uma minoria. Como a instituição conseguiu oferecer esses dois ciclos a uma população menos favorecida , uma vez que o ensino secundário, naquele contexto, era destinado a poucos? Para investigar essa problemática, o recorte temporal delimitado para o estudo foi de 1940 a 1960.

 Os procedimentos metodológicos utilizados incluem a consulta e análise de jornais locais, documentos do Centro de Documentação Mário Palmério e Superintendência Regional de Ensino, além de outros materiais correspondentes ao período delimitado. A partir dessas fontes e utilizando referenciais teóricos como Nosella e Buffa (2009); Magalhães (1998; 1999; 2004); Nunes (2000); Silva (1969) e outros voltados para a análise das instituições escolares e o ensino secundário, buscou-se compreender dialeticamente as relações políticas, econômicas, sociais e culturais que interferem nas questões educacionais.

 Foi dada atenção especial para compreender como o Colégio Triângulo Mineiro, ofertando ensino secundário, em um período em que esse era destinado a minoria, conseguiu atender aos menos favorecidos . Constatou-se que a legislação educacional vigente, principalmente os Decretos-Lei nº 7.637 de 12 de junho de 1945 e o de nº 7.795 de 30 de julho do mesmo ano, assim como a Portaria nº 583 de 27 de outubro de 1948 corroboraram para o ingresso das camadas populares no ensino secundário. Concluiu-se que, entre 1942 a 1956, o Colégio Triângulo Mineiro obteve um número significativo de alunos matriculados no 1º Ciclo do Ensino Secundário Curso Ginasial.

 Verificou-se a importância que se dava à conduta moral e disciplinar dos discentes e docentes; evidenciou-se que havia pouca rotatividade de professores e que eles lecionavam mais de uma disciplina, desempenhavam papel essencial para a construção da identidade educativa e destacavam-se em eventos cívicos e esportivos para a sociedade.


CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL DA CRIANÇA DE UBERABA

Indignado por ver a dificuldade de se concluir a Obra desse Hospital,o então irmão Afrânio Francisco de Azevedo,contratou um Mestre de Obras e Maçonicamente concluiu essa edificação que funciona ainda nos nossos dias _ Hospital da Criança de Uberaba
Perfil biográfico de
Afrânio Francisco de Azevedo - ARENA

Estudos: Técnico em Contabilidade.
Profissão: Comerciante e Fazendeiro.

Nascimento: 07 de julho de 1910, Uberaba, MG.
Residência: Uberlândia, MG.

Filiação: José Marciliano de Azevedo e Maria Rodrigues de Azevedo.
Cônjuge: Joaninha de Freitas Azevedo.
Filhos: José Olympio, Mário Augusto, Martha, Afrânio Marciliano, Francisco Humberto e Marcos.


Vida Política e Parlamentar


Deputado Estadual, PCB, Constituinte e 1.ª Legislatura. Compôs a Mesa Diretora: 2.ª Vice-Presidência, 22.03.1947 a 20.07.1947 – Período da Constituinte.
A 21 de janeiro de 1948, tendo por base a Lei n.º 211 e o cancelamento pelo TSE do registro do Partido Comunista do Brasil – PCB, a Mesa Diretora da Assembléia Legislativa declara extinto o seu mandato.

Outras Informações:

Comunista de tendência stalinista.

Proprietário da fazenda Sibéria, em Uberlândia, onde foi pioneiro da plantação de soja e café. Conforme sua filha Martha de Freitas Azevedo Pannunzio, fez reforma agrária por conta própria, repartindo sua fazenda para interessados.

Pecuarista forte em Uberaba, criador de gado indiano, que exportava para o Peru.
Proprietário de casa bancária Lopes de Azevedo, em Uberlândia.
Após 1964, perseguido, asilou-se na Embaixada Peruana.
Espírita, religião de seu pai, de tendência kardecista.
Falecimento: 22 de junho de 1976.

Foi exilado no Chile e acolhido pelos irmãos Maçons chilenos .Em seu depoimento na cidade de Juiz de Fora ,estiveram em sua defesa ,Bispos ,Rabinos ,e dentre as sua falas como depoentes ,destacaram as Doações de áreas para o Estado do Vaticano(Igreja Católica de Uberaba e Região)

PROMOVEU EM SUAS TERRAS A PRIMEIRA REFORMA AGRÁRIA DE QUE SE TEM NOTÍCIA DESSE GÊNERO




quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

UM SÉCULO DO JORNAL LAVOURA & COMÉRCIO (1899 -1999) - UBERABA - MINAS GERAIS - BRASIL

Fundado no ano de 1.899 em Uberaba, o jornal Lavoura e Comércio teve sua primeira edição impressa em 06 de julho de 1899; criado por um grupo de produtores rurais insatisfeitos com a política fiscal do estado perdurou até 27 de outubro de 2.003 quando foi impressa sua ultima edição.



Antônio Garcia Adjuto foi o primeiro diretor do jornal, em 1906 a administração passou para a família Jardim. administrou e ampliou a abrangência do jornal, que se tornou o diário oficial de vários municípios da região. Em 1966 com a morte de Quintiliano a administração passou para seus filhos George de Chirée, Raul e Murilo Jardim.O jornal sucumbiu diante de uma grave crise econômica e financeira após 104 anos de atividade ininterrupta.

Durante todos estes anos os uberabenses se reuniam na frente da sede do jornal, na rua Vigário Silva nº 45 no centro da cidade, para lerem as últimas noticias que eram escritas a mão e expostas em um quadro. O lema do jornal era “se o Lavoura não deu, em Uberaba não aconteceu”. Quem viveu durante o período de existência do jornal deve se lembrar de andar pelas ruas de Uberaba e ouvir os garotos vendedores do jornal gritando, “Lavooooora”.

A Codiub e a Prefeitura Municipal de Uberaba disponibilizam aqui os primeiros exemplares digitalizados, extraídos de microfilmagem realizada pela Codiub; são 7.917 edições que foram microfilmadas no ano de 1.988 e permaneceram sob a guarda da Codiub durante esses 26 anos.

Com a aquisição do acervo do Jornal Lavoura e Comércio pelo Município de Uberaba em 26 de novembro de 2013, a Codiub transferiu a guarda dos microfilmes para o Arquivo Público Municipal. Em breve, com a digitalização das edições do jornal em papel, serão disponibilizadas todas as outras edições do edições do Lavoura e Comércio para o público. (Arquivo Público de Uberaba)

Crédito: locução Antenor Cruvinel/áudio do acervo pessoal de Reinaldo Santos)

Crédito do vídeo: Antônio Carlos Prata


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O homem bomba

As pescarias da turma do meu pai eram famosas entre a comunidade pesqueira de Uberaba.
Pelo menos duas vezes por ano a turma se reunia e iam pescar no rio Paranaíba, que era famoso por ser extremamente piscoso.

Naquela época, não havia conscientização alguma e todo peixe pescado era embarcado, independentemente de tamanho. Não existia cota pra trazer peixes, muito menos período de piracema, onde se proíbe a pesca.

Jaús de mais de 50kg era uma constante nessas pescarias, bem como dourados, pacus, piaparas e piracanjubas.

A única regra para os pescadores era de que os peixes só poderiam ser pegos usando varas de carretilhas ou molinetes.

Armadilhas não eram toleradas e redes eram usadas somente para pegar iscas, que seriam os lambaris.
Nessas pescarias que reuniam de 10 a 15 pescadores, era imperioso que houvesse alguma pegadinha com algum dos pescadores. Geralmente essa pegadinha recaia sobre o novato da turma como em todo lugar.

Nessa pescaria que eu passo a relatar agora, foram reunidos doze pescadores sendo oito assíduos da turma.

Também fez parte da comitiva, um cozinheiro, que também pescava, mas não pagava e um convidado que às vezes ia com a turma, pois a turma frequente dele era outra.

Esse um era o Tonico Correia, famoso por suas pegadinhas, acompanhado por um sobrinho que nunca havia participado da turma do Caparelli.

O transporte era feito em dois veículos, sendo que um caminhãozinho levava a tralha toda da pescaria na carroceria e na “boléia” iam um pescador dirigindo, tendo ao seu lado o cozinheiro.
O outro veículo era um caminhão de transporte de soldados utilizados na segunda guerra que era coberto por lona removível para ser retirada quando em dias quentes o ambiente ficasse abafado demais.
Os assentos eram dois bancos de madeira acolchoados e contínuos, afixados de um lado e de outro da carroceria.
Esse caminhão, que foi adquirido pela turma, só era utilizado para esse fim e quando a turma não o estivesse usando, ele era alugado para outras turmas, rendendo algum para o caixa da próxima pescaria.
Depois de todos aboletados na carroceria, uns 30 km de viagem, o papo entre eles ia animado até que o sobrinho do Tonico resolve participar da conversa e para indignação geral diz que não gostava de pescar de vara e molinete.

O Sr. Adib, muito do meticuloso e assumindo a posição de advogado da turma dá uma lição de moral no sobrinho:

- Aqui, não! Aqui ninguém pesca de rede. Só anzol. Se você não trouxe vara, o Tonico que te trouxe, te empresta uma das dele.

Meio que constrangido, o sobrinho retruca:

-Não, “seu Adib” eu não pesco com rede não, e para piorar a explicação, saiu-se com essa:

- Eu pesco é com bomba, é só soltar ela no rio e vocês vão ver o que é pegar peixes, enche uma caixa daquelas grandonas em dez minutos.

-Olha ela aqui, continuou ele.

Disse isso e abriu sua sacola, tirando de lá um artefato parecido com uma granada, só que maior, e com um pavio bem curto.

Dentro do caminhão o alarido foi grande. Todos execrando a atitude do moço e o Tonico que ia na boléia junto com o Adalgiso, que era o motorista, ficou indiferente ao movimento lá atrás.

Muito vermelho e sem graça, o sobrinho guardou a bomba, pediu desculpas e disse que nas outras turmas eles sempre levavam uma bomba, para garantir que trouxessem peixes se a pescaria não fosse proveitosa.

Parecia que ele estava prevendo: chegando já de tardinha no Paranaíba, acomodaram-se no rancho do Zé Faustino e o tempo que já estava nublado, fechou de vez. A chuva começou fraquinha e foi aumentando aos poucos até se tornar uma tempestade que durou até às duas da manhã, quando por fim cessou.

A conversa rolou sobre se o rio ficaria barrento, coisa que atrapalharia demais a captura de peixes e todos torcendo para a tempestade não ter caído nos afluentes que desaguam no Paranaíba, pois isso faz com que os pequenos ribeirões derramem muita água barrenta no rio principal.

Parece que as preces não foram atendidas, pois pela manhã, encontraram um rio muito sujo, tanto na margem mineira, quanto na margem goiana.

A pescaria estava programada para 5 dias e nos quatro primeiros dias, a contabilidade dos peixes ia bem abaixo do esperado e pelo pique da remada, a divisão dos peixes não contemplaria nem 1 kg para cada pescador.

Na reunião da tarde, quando todos estavam reunidos na mesa grande esperando o jantar, o sobrinho volta ao assunto e comenta com meu pai:

- Caparelli, naquele remanso ali em baixo onde estou pescando com meu tio, é só soltar a bomba que dá pra encher as duas caixas térmicas.

Quem estava mais perto era o Otacílio Martins que escutando a conversa repreendeu novamente o soltador de bomba.

- Aqui não! E em alto e bom som completou: se não pegarmos mais nada manhã, dividiremos o que foi pescado.

Meu pai então fez o advogado do diabo e passou a defender o sobrinho.

- Deixa ele, Otacílio, se ele pesca assim, é problema dele, não nosso.

- Deixa nada, interrompeu o “Prego” (Jair Padeiro), ele é um moleque, isso que ele é, nem devia ter vindo.

-Também não precisa ofender, né, Prego? O rapaz é novo, deixa ele.

E o Tonico, só de cabeça baixa, carregando a culpa de ter levado o sobrinho inconveniente.

O clima ficou pesado e poucos ficaram para a roda de conversa noturna, sendo que os poucos que ficaram, prosearam por poucos minutos e também foram dormir.

O ultimo dia foi ainda pior. Apesar do sol ter dado o ar da graça há dois dias, o rio continuava bem barrento e só uma dupla voltou com um dourado de uns 9 kg que foi consumido assado sem tempero, enrolado na folha de bananeira e servido com molho à parte no jantar.

De manhã, depois de acomodadas as tralhas, repetiram as disposições nos caminhões e levantaram acampamento.
Como fazia muito calor, a lona da carroceria foi retirada e a viagem de volta se iniciou e o sobrinho que estava sentado na ponta do banco, falou pro meu pai que estava sentado no mesmo banco, mas lá no fundo (nessas alturas, só meu pai dava bola pra ele):

- Caparelli, eu não posso voltar com essa bomba prá casa, é perigoso guardar isso; já que não soltei no rio tenho que explodir ela em um pasto qualquer aí; pede pro Adalgiso parar em um descampado pra eu soltar ela.

Meu pai avisou o Adalgiso que querendo ficar livre daquilo rápido, parou o caminhão.

- Solta aí, disse ele.

- Não dá Adalgiso, disse meu pai, tá muito perto do rancho e o Zé Faustino pode achar ruim.
Seguiram em frente, e alguns quilômetros depois, o Adalgiso para novamente o caminhão.

- Também não dá, disse o sobrinho, muito perto de arbustos, pode pegar fogo.

Aquilo se repetiu mais umas quatro vezes e os companheiros todos de cara amarrada, quando ele finalmente mandou parar caminhão.

- É aqui. Disse ele e tirando a bomba da sacola.
– Caparelli, me passa o fósforo.

Meu pai lá do fundo, tira a caixa de fósforos do bolso da camisa e joga pra ele.

Pessoal apreensivo com o desenrolar do ato, não tira os olhos da mão do homem bomba.

Ele, nervoso e tremendo muito, risca uns quatro palitos antes de conseguir acender o pavio, que como eu disse lá no começo, era bem curto.

Finalmente o pavio acendeu e ele querendo se ver livre da bomba rapidamente e todo atrapalhado, ao invés de atirar a bomba no mato e devolver a caixa de fósforo para meu pai, fez exatamente o contrário:

Com toda a força do braço atirou a caixa de fósforos no mato e displicentemente, rolou a bomba no chão da carroceria para no rumo do meu pai e gritou:

- Toma o fósforo Caparelli!

Nem é preciso dizer que não sobrou um pescador na carroceria.

Todos se atropelaram pulando o gradil que servia de encosto e em um átimo de segundo eles já estavam a uns 100m de distância, deitados no mato e esperando a explosão.

Minto; ficaram no caminhão os que sabiam da pegadinha, ou seja, meu pai, o sobrinho e o Tonico Correia na boléia que rindo muito escutaram a bomba fazer um silvo comprido tipo shshshshshshshsshshshshshiuuuuuuu e apagar.

Meu pai nunca me contou como eles saíram vivos depois dessa, o certo é que o sobrinho nunca mais pescou com a turma. Porem ele nem era pescador. Foi arrumado pelo Tonico, que armou essa com o meu pai, só para esse fim.

Marcelo Caparelli