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sábado, 8 de junho de 2019

Wilson Pinheiro


UM ASSOCIATIVISTA NATO


NÃO TINHA COMO ESCAPAR. UM SORRISO ABERTO ALIADO A UMA VOZ CATIVANTE DERRUBAVAM AS MURALHAS LEVANTADAS


Não tinha como escapar. Um sorriso aberto aliado a uma voz cativante derrubavam as muralhas levantadas pelos que o procuravam para ver, sem compromissos, um veículo. Sempre terminava em mais um negócio fechado. Mais um carro emplacado. Mais um amigo conquistado. 

Assim era a rotina de Wilson Pinheiro, das décadas de 1960 a 1980, enquanto diretor de vendas da empresa Distrive, maior concessionária de veículos desta região, sob a administração do grande empresário Joaquim dos Santos Martins.

Pragmático, Pinheiro criou o Consórcio Triângulo, que deu à empresa a condição de líder de vendas do setor de veículos e que o alçou, em 1979, à condição de presidente da Uniminas - Associação dos Revendedores de Volkswagen nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. 

Wilson Pinheiro. Foto: Acervo da família.

Nascido em 07/07/1941, em Uberaba, Pinheiro, que na juventude trabalhava na Brasil Companhia de Seguros, conseguiu, através de seus próprios méritos, galgar relevantes posições nas administrações pública e privada. 

Recebeu em 1966 o diploma de Bacharel em Direito através da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, hoje Uniube, e 1974, o diploma de Economista, através da FCETM – Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Segundo a viúva de Wilson, Bernadete Pinheiro, ele ainda cursou outras duas graduações, também pela FCETM: Contabilidade e Administração.

Em 1984, a convite do juiz federal Ari Rocha, Pinheiro assumiu o cargo de juiz classista dos empregadores/ empresas na Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho de Uberaba, oportunidade que seu espírito conciliador e com o dom de conversar e resolver na paz, contribuiu para solução amigável de centenas de processos reclamatórios.

Era filho de Orlando e Maria de Souza Pinheiro e irmão de Pedro Júlio, ex-gerente do Banco do Brasil e comerciante em Suzano (SP), Célia, viúva de Juarez Fortes e Aparecida Maria Pinheiro, hoje viúva de Aráudio Pereira Melo, ex-vereador em Uberaba.

Wilson Pinheiro era casado com Bernadete de Lourdes Prata Rocha Pinheiro, com quem teve três filhos: Adriana Maria Rocha Pinheiro, atualmente administradora de empresa e publicitária, casada com Marcello Frossard Duarte, advogado, pais de Marcella; Andréa Maria Rocha Pinheiro, advogada e corretora de imóveis, casada com Antônio Carlos Guimarães Júnior, promotor de Justiça em Rio Claro (SP), pais do casal Maria Luiza e Mateus; Christiano Rocha Pinheiro, engenheiro, advogado e auditor da Receita Federal em Belo Horizonte, casado com Sandra Mara Adjafre Sindeux, advogada, pais de Camila e Arthur.

Wilson Pinheiro é um dos mais belos e ilustres exemplos do associativismo. Grande parte de sua vida foi dedicada aos interesses comunitários, sempre participando dos movimentos sociais, artísticos e culturais. Entre as entidades que contaram com sua participação ativa e afetiva, podem ser destacadas: a presidência do Rotary Club Uberaba – Sul, em 1978/1979 e sua participação na fundação do Rotary Uberaba – Norte; a presidência da Feti – Fundação de Ensino Técnico Intensivo -, em 1976, onde teve destacada atuação no governo Hugo Rodrigues da Cunha; a presidência da Associação dos Surdos e Mudos; a participação como primeiro secretário e presidente do Sindicato Rural de Uberaba.

Idealizou e cofundou o Sinhores – Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes e Similares de Uberaba -, do qual assumiu a presidência por três gestões. Em sua administração, se criou o fundo para aquisição da sede própria bem como o Seguro de Vida dos Associados e Funcionários das Empresas vinculadas; a vice-presidência da Facemg – Federação das Associações Comerciais de Minas Gerais -, em 1977.

Participou em diversas diretorias da Aciu, da qual assumiu a presidência nas gestões de 1976/1977; foi nesse período que Wilson Pinheiro e sua diretoria se destacaram pelas suas atividades, entre elas a realização do IV Encontro Regional da Indústria com repercussão nacional; a transferência da FCETM do prédio da Aciu para o Colégio Nossa Senhora das Dores; a ampliação do SPC - Serviço de Proteção ao Crédito - e reforma geral da sede da Aciu; a participação ativa em 1976 na campanha para ampliação do Colégio Eleitoral de Uberaba. 

Foi também em sua gestão que a Aciu, após muitas lutas de gestões anteriores, conseguiu ser reconhecida através da Lei Estadual 7045 de 01/08/1977, governo Aureliano Chaves, o título de “Entidade de Utilidade Pública”. 

Tivemos o prazer de conhecer o Wilson Pinheiro na década de 1960 e estar ao seu lado na Aciu como conselheiro fiscal em sua gestão e conselheiro consultivo nos anos subsequentes bem como seu parceiro na criação e direção do Sinhores.

Foi na área empresarial que Wilson Pinheiro se revelou como um grande administrador, revolucionando o conceito de serviços em restaurantes através da empresa Solar 17 implantada no bonito e imponente casarão da rua São Sebastião, onde permaneceu à frente da administração até o seu falecimento.

Por muitos anos, só se conseguia reserva de mesas com bastante antecipação pela grande demanda da sociedade. Em respeito à arte e à cultura, Pinheiro contratou a renomada pianista Nininha Rocha para abrilhantar com seu piano as animadas noites no American Bar do Solar 17.

Nas palavras de Bernadete Pinheiro, “Wilson Pinheiro foi o melhor parceiro, marido e pai. Trabalhava incansavelmente sempre querendo ajudar os outros. Pessoa extremamente querida e solicitada perante a categoria e sociedade, isso devido ao seu espírito de paz e harmonia”.

A história do empreendimento é também contada por Bernadete: “A ideia da criação do Solar 17 surgiu durante um bate-papo entre amigos, entre eles Luís Carlos Souza Campos, que viria a ser o decorador e primeiro sócio, ficou no futuro com o comando do Wilson, pois ele gostava de festas, reuniões, pessoas felizes e amigos, era como ele mesmo, sempre comunicativo e entusiasmado. Durante 35 anos trabalhou como proprietário do restaurante, buffet e American Bar Solar 17 onde, com carinho, realizava jantares, reuniões, festas de casamento, aniversário, bodas e formaturas. Foi um dos pontos de reunião e jantares das famílias uberabenses. 

Por todos os caminhos percorridos por Wilson, sempre encontramos seriedade, companheirismo, transparência e paz”.

Wilson Pinheiro faleceu em 09 de fevereiro de 2012. É hoje nome de rua localizada no conjunto habitacional Rio de Janeiro. É também saudade eterna junto a seus familiares, amigos e parceiros que estiveram a seu lado na luta pelo desenvolvimento de Uberaba. 


Fontes: Aciu, Bernadete e Adriana Pinheiro 

Gilberto Andrade Rezende.
(*) Membro da Academia de Letras – Ex-presidente e conselheiro da Aciu e do Cigra.



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Cidade de Uberaba

domingo, 28 de abril de 2019

Renê Barsan – Um legado de realizações

Em plena madrugada de uma segunda-feira de outubro de 1982, recebo um telefonema de um amigo solicitando minha presença na residência de Renê Barsan para tratar de um assunto confidencial e urgente. 

O tema era política, pois estávamos a um mês das eleições municipais e Renê era um forte candidato a prefeito, pelo PMDB. Seus amigos diziam que já poderia mandar confeccionar o terno da posse.

De início, estranhei a solicitação, pois era então presidente do PDS. Partidarismo à parte, fui ouvir as razões desse inusitado convite.

Pelas suas pesquisas, era certa a vitória de Wagner do Nascimento. Renê, em segunda colocação, sugeriu que a única forma de modificar o resultado seria através da renúncia de Hugo, da qual seria o herdeiro natural, mesmo pertencendo a outro partido.

Quem conhecia Hugo Rodrigues da Cunha já sabia da impossibilidade dessa pretensão ser acolhida. Para não deixar dúvidas, ele declarou ao Jornal da Manhã que jamais renunciaria e que acreditava em sua vitória.

Na apuração dos votos, as previsões de Renê se confirmaram: o PMDB teve a preferência de 70% dos eleitores. Wagner, 37,37%; Renê, 22,66%; e Arnaldo, 10,07%. Já o PDS ficou com 29%; Hugo, 15,27%, e João Junqueira, 13,32%. Pouco mais de 1% tiveram os candidatos Henry e Victor.

Foi a primeira e última vez que Renê Barsan participou de um processo político partidário. Foi muito traumatizante o seu desapontamento. Ele se desencantou da política.

Família Taso ou Dasho em Harput: Elias Taso, Meryem Naman, Helani, Melek, Rahel, Aznif, Feride, Samuel e Sake.— Tradução: Rima Dilmener, Lisa Tigno, Nafi Donat,Maria Alice Barsam, Rene Barsam Júnior, Mark Willmann, Fabiana Barsam, Jen Siegelman eJoshua Crandall. Foto: Acervo da família.

Renê Barsan nasceu em 14 de junho de 1930 na cidade de Elasik, na Armênia, com o nome de Henna Barsamian. Fugindo do genocídio provocado pelos turcos e que dizimou mais de 70% da população, ele veio ainda criança com sua mãe, Aznif (Alice) Barsan, para Uberaba, onde, além de existir uma comunidade armênia, seu pai, Kavme Barsan, que já havia antecipado sua viagem, morava nas redondezas, em Uberlândia. Com a chegada da família, Kavme veio também para Uberaba e aqui se estabeleceu com o comércio de calçados e máquina de beneficiamento de arroz.

A família de Kavme residia à rua João Pinheiro, no bairro Boa Vista, e era constituída de cinco filhos: Renê, Henry, Ulisses, Nelson e Ailda (casada com José Bichuetti).

Ulisses, Nelson e Renê se formaram em Medicina. A formatura de Renê foi no início da década de 1950 e em 1956 graduou-se em ortopedia infantil na Europa. Ficou tentado a trabalhar na Legião Estrangeira, na África, mas foi demovido pelo pai. Dominava seis idiomas e fez inúmeros trabalhos acadêmicos publicados em vários países.

Médico por vocação, Renê instalou sua clínica na rua Olegário Maciel, no Centro, era exemplo de cidadão por devoção à cidade que o acolheu. Dedicava parte de seu tempo ao Hospital da Criança, ao lado dos médicos Humberto Ferreira e Ézio De Martino.

Dotado de espírito associativista, Renê se juntou com De Martino para criar a Sociedade de Medicina do Triângulo Mineiro (SMTM). Revezando-se na presidência e contando com o apoio de toda a classe, os dois conseguiram em quatro gestões entregar a sede própria da entidade.

Seu empenho em trabalhar por Uberaba não tinha limites. Desde 1966, a cidade tinha o sinal da TV Tupi. Todavia, não tinha emissora. Renê arregaçou as mangas para suprir essa lacuna. Como a concessão era dos Diários Associados, Renê, com captação de recursos junto à comunidade, criou uma empresa local para, em sociedade com a concessionária, implantar a emissora.

Em junho de 1972, em área doada pelo governo municipal Arnaldo Rosa Prata, foi inaugurada a TV Uberaba, com a presidência de Renê Barsan.

Renê nutria também um grande amor pelo Uberaba Sport Clube, no qual começou como assistente de jogadores com fraturas e acabou como presidente em 1978. Para dar sustentabilidade ao USC, criou o Cascata Club. Em sua gestão ficou registrada a façanha de ter sido o primeiro e único presidente do USC a vender um jogador para o exterior, Henrique Pires de Barros, que foi transferido para o Canadá.

Não era menor seu amor pelas crianças. Participou ativamente do Conselho do Bem-estar do Menor (Conbem), no qual os meninos trabalhavam fardados, por meio período, dedicando o outro intervalo para o estudo.

Sempre repetia que toda pessoa precisava exercer uma profissão, independentemente de sua renda. Sabendo das dificuldades de grande parte da população mais carente de ingressar nas poucas faculdades existentes, Renê estimulou o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha a criar, em 1975, a FETI – Fundação de Ensino Técnico Intensivo. Ele abriu um espaço na área pública para formação de profissionais técnicos em variadas atividades. Quando assumiu a sua presidência, fez toda uma reorganização, que provocou uma grande expansão da entidade, dentro dos moldes que preconizava.

Além de atuar na Medicina, ele também agiu no setor empresarial. Tinha expressiva participação nas empresas de ônibus Líder e São Geraldo. Criou também a Itemel, uma fábrica de para-raios que concorria com a Eletrotécnica.

Foi presidente da ACIU no período de 1980/1981. Conseguiu, em sua gestão, a aprovação do curso de Ciências Contábeis para a FCETM – Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro. Promoveu diversos cursos, seminários e palestras visando aquisição de novos conhecimentos técnicos para os associados. Participou da elaboração do projeto municipal de consolidação do novo Código Tributário. Informatizou o SPC para agilizar o atendimento. É também em sua gestão que a diretoria da entidade fez campanha para a instalação de um centro coletor para tancagem de álcool.

Renê, falecido em 22 de setembro de 1988, era casado com Maria Beatriz Furtado e teve 3 filhos - Marcelo, médico, casado com Fabiana; Renê Júnior, administrador, casado com Ana Lúcia; e Maria Alice, odontóloga.

Em suas declarações, o filho Marcelo disse que seu pai não admitia intolerância. “Na minha casa não tem isso, porque sofremos isso fora”, explica.

Intérprete fiel do que pensava a comunidade, Luiz Gonzaga de Oliveira, que o assessorou na TV e na ACIU, disse que Renê era, além da elegância e educação, um homem decente, um líder de caráter, de dignidade e de seriedade absoluta.

“Dr. Renê Barsam” é o nome da FETI (Fundação de Ensino Técnico Intensivo) e da Unidade Básica de Saúde instalada no bairro Santa Marta. 



Gilberto Rezende
Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro e ex-presidente e conselheiro da ACIU e do CIGRA
Fontes: ACIU, Marcelo Barsan e Luiz Gonzaga de Oliveira
Os dados eleitorais são de Tião Silva




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Cidade de Uberaba


domingo, 17 de março de 2019

Produtos Ceres e o empresário Edgar Rodrigues da Cunha

Nossa rica Uberaba


Louco. No fim da década de 1950, essa era a palavra que mais se ouvia entre os clientes da agência do Banco do Brasil (BB) na cidade quando deparavam com os folhetos de propaganda da empresa Produtos Ceres colados nas paredes. O objetivo era concitar os agricultores a plantar algodão com generosas ofertas de financiamentos a juros baixos e longos prazos.

Governador Juscelino Kubitschek e Edgar Rodrigues da Cunha.
(Foto do acervo pessoal da família)

Era mais uma ousadia do empresário Edgar Rodrigues da Cunha. Como não podia transportar sua fábrica para Ituverava, SP, um dos grandes centros de produção algodoeira do interior do Brasil, o mais econômico seria a introdução da nova cultura nas lavouras de Uberaba. Uma tentativa que contou com o apoio incondicional do BB. A economia prevista com o transporte dos caroços de algodão para a produção de óleo justificava a empreitada.
                                                                   
Juscelino Kubitschek inaugura a fábrica, em maio de 1956. (Foto do acervo pessoal da família)
Afinal, o Edgar que inicialmente participava de uma fábrica  de ração e derivados de milho (entre estes a famosa “Fubaína”) junto com o seu pai Gustavo Rodrigues da Cunha, aproveitou o terreno do bairro Boa Vista e, em 1952, iniciou-se a construção de um grande complexo industrial, captando recursos através da transformação da empresa em sociedade anônima, para a produção de óleos vegetais.

Edgar Rodrigues da Cunha e Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, bispo diocesano de Uberaba. (Foto do acervo pessoal da família)
Se atentar para o fato de que a economia da cidade era predominante de atividades voltadas para a agropecuária, precisava realmente de alguém com muita coragem para instalar uma fábrica de grande porte e ainda fabricar produtos para concorrer com os gigantes do mercado: Matarazzo, Anderson Clayton e Sanbra.

 Vultos históricos – Edgar Rodrigues da Cunha.
(Associação Cultural Casa do Folclore)

E Edgar conseguiu. Construiu a fábrica e obteve financiamento com o governo francês para aquisição de duas super prensas. Seus Produtos – Óleo Banquete de caroço de algodão e o Bem Bom de amendoim – fizeram sucesso. Foi a primeira empresa da América Latina a extrair óleo do farelinho de arroz. Dos resíduos se fazia o também famoso Sabão Brilhante.

Juscelino Kubitschek, ainda governador, foi o grande colaborador de Edgar para conseguir apoio do governo francês. Já eleito presidente da república. Juscelino veio em 1956 para prestigiar a inauguração da maior indústria de Uberaba, que já chegou a contar com 300 funcionários em sua folha de pagamento.

Vista aérea da Fábrica dos Produtos Ceres.  (Foto do acervo pessoal da família)
Seis anos após a inauguração de produtos Ceres, Edgar monta a TRILÃ – Indústria de Tecidos de Malhas e Confecções Ltda., importando máquinas de outras cidades brasileiras e da Itália, voltados para a confecção infantil.

A TRILÃ marcou época. Um novo nicho de mercado foi aberto e logo surgiram centenas de pequenas confecções que aquecem a economia de Uberaba até hoje.

O período revolucionário ocorrido em 1964 trouxe grandes desgostos para o arrojado empresário. Já com equipamentos adquiridos para a montagem de outra fábrica, dessa vez no Paraná, viu seus negócios frustrados pela recessão bancária. Foi necessário transferir o controle acionário da empresa Produtos Ceres S/A para Irmãos Pereira da cidade de Monte Alegre, MG.

O episódio não esmoreceu o empreendedor nato. Em 1980, Edgar Rodrigues da Cunha cria a TREBACE – Tecelagem Brasil Central Ltda. – Com máquinas importadas da Alemanha. Com apenas 10 meses de atividades, a empresa já havia conquistado uma significativa parcela do mercado de malhas.

Edgar nasceu em Uberaba em 18 de abril de 1911. Ele estudou no Colégio Diocesano e na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, de onde saiu diplomado em 1935.

De volta ao município, teve oportunidades de mostrar seu talento jurídico na defesa de pecuaristas vítimas da grande derrocada do Zebu, no final da década de 1940.

Foi um dos fundadores da Faculdade de Uberaba, local que foi professor por mais de 20 anos na disciplina de Direito Civil e sempre foi alvo de homenagens como patrono, paraninfo, entre outros. 

Além da família e o trabalho, sua paixão era o esporte. Foi eleito presidente do Uberaba Sport Club em 1959. Ele administrou o clube por quatro anos. Nesse período, reformou o estádio “Boulanger Pucci”, construindo o seu alambrado.

Edgar Rodrigues da Cunha, com engenheiros, operários nas obras do Uberabão na década de 1960. (Foto do acervo pessoal da família)
Proprietário da área onde está localizada a Vila Olímpica, Edgar idealizou e projetou a construção de um grande estádio que pudesse ser orgulho de Uberaba e região. O mesmo arquiteto do Mineirão foi encarregado do projeto.

Após seu mandato no USC em 1963, a obra do “Uberabão”, que já tinha iniciada em 1961, ficou paralisada. Na gestão do prefeito João Guido, (1967/1970) foi aceita a doação do terreno para a Prefeitura Municipal, que se encarregou de sua construção.

Inauguração em 1972 - “Uberabão” - Foto: Paulo Nogueira
Hoje “Engenheiro João Guido”, o estádio retratava no projeto a visão futurista do Edgar. Ele seria coberto e com capacidade para 45.000. Na administração pública, foi reduzido para 21.300 pessoas e inaugurado em 1972, na gestão de Arnaldo Rosa Prata.

Edgar Rodrigues da Cunha não contentou em ser apenas desportista, professor, advogado e industrial. Ele também participou ativamente no setor imobiliário. Ele loteou duas grandes áreas: a Vila Olímpica, no Fabrício, e Vila Ceres, no Boa Vista. Esses loteamentos tiveram significativas influências na expansão dos bairros e, consequentemente,, da cidade.

Empreendedor por natureza e empresário por vocação, Edgar atuou no ramo da agropecuária. Foi um primoroso cafeicultor e criador de gado leiteiro e pioneiro na implantação da ordenha mecânica alfa laval na região. Reconhecido pelo seu trabalho em prol do desenvolvimento de sua terra, Edgar foi alvo de inúmeras homenagens. Pela ACIU, recebeu o título de Industrial Modelo em 1964 e Industrial Tradição em 1991 Pela Assídua – Associaçao das Indústrias de Uberaba – recebeu o prêmio de Industrial do Ano também em 1991.

Edgar casou-se em 1942, aos 31 anos de idade, com Maria Júlia Junqueira,com a qual teve cinco filhos: Maria Carmelita, Claudio Marcelus, Elizabeth, Gustavo e Eduardo. Faleceu em 19 de maio de 2006, aos 95 anos de uma vida de trabalho e de uma dedicação sem limites em favor do desenvolvimento de Uberaba.

Que o seu exemplo possa servir de inspiração para todos os jovens empreendedores. A comunidade tem um dever de gratidão com o doutor Edgar Rodrigues da Cunha. É necessário preservar a memória de quem em toda sua vida carregou a bandeira do desenvolvimento. Que seu nome possa ser ostentado em monumentos para que possa ser sempre lembrado que foi um homem além do seu tempo.

Gilberto de Andrade Rezende

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ex-presidente da ACIU e do CIGRA


Fontes: Maria Carmelita Rodrigues da Cunha e Jornal da Manhã.


Cidade de Uberaba

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O FATO QUE VOU NARRAR, ACONTECEU NUMA ANTE VÉSPERA DE FIM DE ANO. 74|75, POR AÍ. LOCAL: BAR “TIP-TOP”

O fato que vou narrar, aconteceu numa ante véspera de fim de ano. 74|75, por aí. Local: bar “Tip-Top”,um dos mais tradicionais de Uberaba em todos os tempos, ficava no prédio da ACIU, na Leopoldino de Oliveira, quase ao lado do saudoso Grande Hotel. Ponto obrigatório dos uberabenses, o “Tip-Top”, abrigava também tipos populares. Um ficou famoso no “pedaço”: baixinho, falante, roupa limpa, embora não fosse muito amante de um bom banho, bebia como gente grande. Mãe, servente do “Grupo Brasil”. O pai, coitado, morreu cedo. Nasceu José Antônio Costa, “Totinho”, o apelido, pegou como visgo. Ligado aos meios de comunicação, os amigos eram da área. Trabalhou em rádio, depois TV, era um “faz tudo”. Baixinho de tambor grande, “Totinho” era bom de copo. Cerveja, uísque, cachaça, vinho, vodca, conhaque, rabo de galo, o que viesse, traça. Só não bebia “chumbo derretido”, avisava.

No pré-reveillon, sozinho, entrou no “Tip-Top”. Mais “prá lá do que prá cá”. O sempre lembrado, Quinzinho Maia, dono do bar, depois de um dia-noite estafante, fecha a casa e vai para o seu merecido descanso. 2 da manhã, tilinta o telefone na cabeceira da cama do Quinzinho. Sonolento, atende:- Alô”. Do outro lado da linha, uma voz pergunta:- “Aqui é o Totinho. A que horas V. vai abrir o bar amanhã?” Quinzinho, desesperou: -“Ah! Não Totinho, me amolando às 2 da manhã”…

Puft..bate o telefone e vira pro canto, “morto” de sono. 4 da madrugada, o telefone toca novamente. Desconfiado, Quinzinho, sai nos berros:-“Alô, não vai falar que é o Totinho novamente…”Era e pergunta, voz suplicante:- “Quinzinho, por favor, a que horas V. vai abrir o bar?”. Quinzinho, solta uma saraivada de palavrões e desliga o telefone. 7 da manhã, banho tomado, barba feita, café na mesa, toca o telefone. Mais calmo, atende:-“alô”. Voz rouquenha do outro lado:- “Quinzinho, me desculpe, a que horas V. vai abrir o bar?”. Segurando o riso, não se furta á clássica pergunta:”Totinho, não é possível. 7 da manhã e já querendo tomar a primeira do dia, faça-me o favor”…

Veio então a grande resposta- surpresa do Totinho:-“Não Quinzinho, não é isso não. Eu dormi debaixo da mesa, quando acordei, V. já tinha fechado o bar. Eu só quero ir embora prá casa”…
Quinzinho, correu pro “Tip-Top”, soltou o Totinho que, aliviado do susto que passou, correu prá casa para curtir a ressaca…


Luiz Gonzaga de Oliveira