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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Trajetória poética de Jorge Alberto Nabut



Guido Bilharinho - 18/02/2011


Nos fins da década de 1960, ainda estudante secundarista, Jorge Alberto Nabut (Uberaba, 1947) inicia percurso poético que o levaria nos anos e décadas seguintes a construir considerável e valiosa obra, vincada pelo inconformismo com o formulário gasto do fazer poético e caracterizada por forte poder criativo e vigorosa força expressional, contemplando variada e variável temática, submetida a processos inovadores.

O grande escritor, como todo grande artista, é aquele que instaura processo pessoal de expressão, contribuindo para enriquecer o patrimônio artístico universal e não se limitando, como é costume, a apenas utilizar e palmilhar as vias artísticas abertas e percorridas por outros, sendo, pois, não seguidor, mas inaugurador de caminhos.

É o caso de Nabut, que baliza sua performance poética por informação, consciência artística, esforço e persistência, logrando atingir estádio superior de inventividade e expressão e incidindo em pelos menos (e principalmente) quatro vertentes, desde o experimental e o visual aos textos poéticos, infletindo, no intermédio, pelo neobarroco, estendendo no tempo e no espaço criativos sua faculdade conceptiva libertária e inventiva, aduzindo à poética – aqui tomada em seu âmbito universal, e não apenas nacional ou local – modos procedimentais inéditos e distintos de experiências e experimentos de outros artistas, nacionais ou estrangeiros, constituindo criação e contribuição próprias para ampliação do fazer artístico.

Por volta de 1969, num primeiro momento, não meramente cronológico, que se entrecruza e, frequentemente, se mescla à enunciação articulada, elabora a série iniciada por Well-Gin x Ultra-M-Atic, que se distende por variada tematização integrada num corpus singularizado, demonstrando simultaneamente capacidade criadora aliada à utilização e síntese de vários elementos composicionais, a exemplo de fatos e pessoas da história local (“Almanaque-Gazeta” e “Historiador Kreponz”) e das estórias em quadrinhos, neste caso o próprio fio condutor da obra.

No desdobramento e amplificação dessa vertente, revelando flexibilidade mental e metodológica, concebe a obra-prima Branco em Fundo Ocre: Desemboque, poderosa síntese de inúmeras variáveis sistêmicas e autonomia formulativa, arrojada e amplamente exercitadas.

A partir do dado concreto, do itinerário-viajante ao próprio arraial, Nabut evoca e imprime poeticidade aos arcanos mais profundos que formam e informam toda a saga do histórico povoado, matriz da civilização regional.

E faz isso com surpreendentes e inéditas variabilidade e flexibilidade expressional e rítmica.

Num outro momento, após exploradas e formatadas as possibilidades gerativas experimentais e visuais até então utilizadas, inflete pelas sendas inesgotáveis de neobarroco mesclado de elementos variados, hauridos nas fontes puras de impressões pautadas e conduzidas pela sensibilidade e racionalidade.

No entanto, não foram essas manifestações suficientes a capitalizar e preencher talento inventivo inquieto e em permanente ebulição, sob cuja pressão vão-se quebrando as amarras e afastados os limites que costumam cercear os processos artísticos.

Nessa fase, expande-se por textos poéticos de considerável vigor expressional e complexa tessitura verbal, nos quais conteúdo, sentido e formulação atingem novo patamar conceptivo e expressional.

Toda essa riqueza poética construída em décadas de trabalho consciencioso e responsável, alicerçado no indispensável trinômio de informação, sensibilidade e criatividade, está, finalmente, reunida na requintada Geografia da Palavra, sua obra completa.


(*) Advogado atuante em Uberaba; editor da revista internacional de poesia Dimensão, de 1980 a 2000 (revistadepoesiadimensao.blogspot.com.br), e autor de livros de literatura, cinema e história do Brasil e regional, publicando desde setembro último um livro por mês no blog guidobilharinho.blogspot.com.br