PAGUEI, NÃO PAGUEI...
Ficaram
famosos os “causos” do sargento Jacintho Sacramento, o mais temperamental e
enérgico Delegado de Policia que a terrinha conheceu.Os que privaram da sua
intimidade (aliás,muito poucos...),afirmavam que o “hominho era fogo na
roupa”.De costumes rígidos,conduta militarista, porte físico avantajado( embora
haja controvérsia, pois, dizem outros, era franzino,rosto miúdo), era o que se
conhecia: “milico linha dura”...
Com
ele, diziam os mais velhos, “escreveu não leu, o pau comeu”. A verdade é que o
sargento Sacramento marcou época, no inicio do século passado, em
Uberaba.Historiadores uberabenses ao deixarem grandes legados literários sobre
a cidade, citam em suas memórias, as peripécias do sargento Sacramento.
Mário
Palmério, o imortal escritor de “Vila dos Confins “ e “Chapadão do Bugre”,
mesmo sem citar-lhe o nome, numa de suas gostosas narrativas descreve de forma
peculiar, a maneira autoritária de agir do lendário delegado.Conta num dos seus
livros que Sacramento,chamado à separar uma briga na praça Rui Barbosa, entre
dois contendores, apareceu o eterno “puxa-saco”que, ao cumprimentá-lo, teria
dito:-Parabéns!Mas que calor, hein chefe?”.Foi o bastante.O truculento policial
,mais que um azougue, ordenou aos seus soldados que enchesse uma “tina d’água”
e para espanto dos presentes, debelado o conflito, obrigou o “puxa” atirar a roupa
e o colocou na vasilha para “refrescar-se”...Não é preciso dizer que o infeliz
contraiu uma forte gripe e dias depois, transformou-se numa pesada e perigosa
pneumonia.
As
histórias do sargento Sacramento rodaram Brasil afora,tendo como palco
central,Uberaba, antigamente conhecida como “Princesa do Sertão”. Uberlândia
era tão somente São Pedro do Uberabinha e nada mais!...Voltemos às historinhas
do Sacramento.Corria à boca pequena na cidade , que ninguém se atrevia a
escrever uma linha sequer contra o sargento-machão. É aquele ditado, “ quem
tem... tem medo”...
Certa
ocasião, depois de trabalhar um bom tempo para um rico fazendeiro da região, o
“peão” não recebera o que lhe era devido.Tentativas e trativas para o acerto,
não deram em nada. O coitado do braçal estava sem acertar as contas com o
ex-patrão. Condoído com a situação, amigo do “peão”tomou uma decisão:iria levar
a pendenga para o sargento Sacramento. Dito e feito.O delegado intimou o
fazendeiro, que conhecendo a fama de Sacramento, atendeu de pronto.Frente a
frente,patrão e empregado,o patrão não teve como negar a dívida.
-“Toma”,
disse indignado, o mau patrão. “-Fica de esmola”!
Humildemente
, o pobre homem pegou o dinheiro. O fazendeiro ia saindo, quando Sacramento
puxou-lhe pelo braço.-“Vai ou não vai pagar o moço?”, perguntou-lhe. Sem olhar
no rosto do delegado, o fazendeiro retrucou:-‘Já paguei.O senhor não
viu?”.”Não!”, gritou o sargento Sacramento:-“O que o senhor deu a ele foi uma
esmola. Agora trate de pagar o que deve, senão...”
O
fazendeiro,mau patrão, não teve outro recurso senão pagar outra vez...Quem paga
mal ...
Luiz
Gonzaga de Oliveira