quarta-feira, 4 de outubro de 2017

MARLI APAGA FOGO...

Romeu Borges de Araújo,meu sempre lembrado colega de Diocesano no final da década de 50, do século passado, sempre foi um fazendeiro evoluído,bom chefe de família, contador de “causos” engraçados,normalmente envolvendo a familia Borges e outros parentes, grandes “catireiros” que o Brasil inteiro conhece,aplaude e admira.Dançar catira, sapatear, bater palmas conjugadas,tudo ao mesmo tempo, não é obra prá qualquer um,não.É preciso fôlego,ginga,talento,ritmo,grande poder de improvisação e, acima de tudo, arte.A arte da dança da “catira”não é pra qualquer pessoa.É necessário habilidade, destreza, esperteza e uma coreografia espontânea.A dança da “catira” já correu mundo afora.Redes e televisão do Brasil, principalmente a mais poderosa delas, a Globo,gravou uma série de reportagens sobre a dança folclórica que a família Borges deu fama e tradição.

Em qualquer festa,sertaneja principalmente, em qualquer exibição na terrinha, em data especiais, as folias de Reis dos Mapuaba e do Labibe, aliadas às costumeiras “catira dos Borges”,não podem faltar. Até sérios estudos literários já foram escritos.Da “catira” em especial. Passos, modas, letras ,palmas,como dançar e outras “dicas”,viraram livros.Historiadores,pesquisadores,jornalistas ,apreciadores do gênero,debruçam em mostrar a folclórica manifestação popular.”Jornal Nacional”,”SBT”,”Record”,repetidas vezes mostram,na telinha,a “catira”,objetivo de matéria especial inclusive no “Fantástico”.

Entusiasmado do que viu , o repórter José Hamilton Ribeiro,que tem raízes familiares na terrinha,aliado a um produtor da Globo,tiveram a feliz ideia de associar a”catira”, com o balé.Depois de esforçados ensaios, Ana Maria Botafogo ,uma das maiores bailarinas do mundo,juntou-se a Romeu Borges,o maior “catireiro” do Brasil, deliciosamente,”duelaram”em ritmo de “catira”, os leves passos masculino e femininos. O quadro foi ao ar, no “Fantástico” e a repercussão tomou conta do Brasil. Sucesso de audiência e registro em toda imprensa nacional.

Romeuzinho,voltou para a terrinha feliz a vida pelo sucesso alcançado.Fez planos com Ana Botafogo de “correr mundo” com o novo quadro.Mostrariam a arte do balé com a simplicidade da dança caipira.”Seria um sucesso mundial”,começa a sonhar o nosso Romeu.-Quem sabe até eu mudo de nome ?”Regozijando com a conquista,chega em casa,joga a mala no quarto do casal e sai correndo para abraçar a esposa. Dona Marli,coitada,às voltas na máquina de lavar roupa, toda suada, sol a pino, pendurando calça,camisa e cueca d o Romeu no arame do quintal, é surpreendida pela voz firme do marido:”

-“Marli, Marli,meu amor, mudei de nome.Troquei Romeu Borges de Araújo para Romeu Botafogo, ‘cê acha bonito ?”

Ela parou de estender a roupa no varal, olhou bem no rosto do marido; séria,com voz firme, retrucou:
-“Eu também mudei de nome...”

Cumé que ‘cê chama agora, bem ?”
-“Maria Apaga Fogo,tá bom?””

P.S – Uberaba, que tem perdido tantas coisas boas nos últimos anos, perde o seu mais famoso” catireiro”, Romeu Borges de Araújo.A santa terrinha vai ficando mais pobre dos seus autênticos e legítimos valores humanos.


Luiz Gonzaga de Oliveira