quarta-feira, 9 de agosto de 2017

“Causos” do sargento Jacintho Sacramento

PAGUEI, NÃO PAGUEI...

Ficaram famosos os “causos” do sargento Jacintho Sacramento, o mais temperamental e enérgico Delegado de Policia que a terrinha conheceu.Os que privaram da sua intimidade (aliás,muito poucos...),afirmavam que o “hominho era fogo na roupa”.De costumes rígidos,conduta militarista, porte físico avantajado( embora haja controvérsia, pois, dizem outros, era franzino,rosto miúdo), era o que se conhecia: “milico linha dura”...

Com ele, diziam os mais velhos, “escreveu não leu, o pau comeu”. A verdade é que o sargento Sacramento marcou época, no inicio do século passado, em Uberaba.Historiadores uberabenses ao deixarem grandes legados literários sobre a cidade, citam em suas memórias, as peripécias do sargento Sacramento.

Mário Palmério, o imortal escritor de “Vila dos Confins “ e “Chapadão do Bugre”, mesmo sem citar-lhe o nome, numa de suas gostosas narrativas descreve de forma peculiar, a maneira autoritária de agir do lendário delegado.Conta num dos seus livros que Sacramento,chamado à separar uma briga na praça Rui Barbosa, entre dois contendores, apareceu o eterno “puxa-saco”que, ao cumprimentá-lo, teria dito:-Parabéns!Mas que calor, hein chefe?”.Foi o bastante.O truculento policial ,mais que um azougue, ordenou aos seus soldados que enchesse uma “tina d’água” e para espanto dos presentes, debelado o conflito, obrigou o “puxa” atirar a roupa e o colocou na vasilha para “refrescar-se”...Não é preciso dizer que o infeliz contraiu uma forte gripe e dias depois, transformou-se numa pesada e perigosa pneumonia.

As histórias do sargento Sacramento rodaram Brasil afora,tendo como palco central,Uberaba, antigamente conhecida como “Princesa do Sertão”. Uberlândia era tão somente São Pedro do Uberabinha e nada mais!...Voltemos às historinhas do Sacramento.Corria à boca pequena na cidade , que ninguém se atrevia a escrever uma linha sequer contra o sargento-machão. É aquele ditado, “ quem tem... tem medo”...

Certa ocasião, depois de trabalhar um bom tempo para um rico fazendeiro da região, o “peão” não recebera o que lhe era devido.Tentativas e trativas para o acerto, não deram em nada. O coitado do braçal estava sem acertar as contas com o ex-patrão. Condoído com a situação, amigo do “peão”tomou uma decisão:iria levar a pendenga para o sargento Sacramento. Dito e feito.O delegado intimou o fazendeiro, que conhecendo a fama de Sacramento, atendeu de pronto.Frente a frente,patrão e empregado,o patrão não teve como negar a dívida.

-“Toma”, disse indignado, o mau patrão. “-Fica de esmola”!

Humildemente , o pobre homem pegou o dinheiro. O fazendeiro ia saindo, quando Sacramento puxou-lhe pelo braço.-“Vai ou não vai pagar o moço?”, perguntou-lhe. Sem olhar no rosto do delegado, o fazendeiro retrucou:-‘Já paguei.O senhor não viu?”.”Não!”, gritou o sargento Sacramento:-“O que o senhor deu a ele foi uma esmola. Agora trate de pagar o que deve, senão...”

O fazendeiro,mau patrão, não teve outro recurso senão pagar outra vez...Quem paga mal ...

Luiz Gonzaga de Oliveira